Economia global em perigo

Por Assis Ribeiro

De The Wall Street Journal

Bancos centrais veem economia global em perigo

Depois de anos combatendo crises e despejando dinheiro no sistema financeiro, os presidentes dos bancos centrais internacionais estão finalmente aceitando a ideia de que a economia global ainda está numa posição muito perigosa.

O problema deles é ampliado pelo fato de que, para alguns — especialmente o Federal Reserve, ou Fed, o banco central dos Estados Unidos) —, não há muito mais o que possam fazer para estimular a economia. Eles já derrubaram a taxa de juros de curto prazo para próximo de zero e tentaram outras medidas, menos ortodoxas. Na Europa, três anos depois que a crise começou, o sistema bancário ainda está exposto a governos europeus altamente endividados, como o da Grécia, e continua com menos capital do que devia, dizem muitos.

Essa angústia ficou manifesta num discurso franco feito no sábado pela nova diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, no retiro anual do Fed nesta cidade.

“Corremos o risco de ver a frágil recuperação descarrilar”, disse a ex-ministra da Fazenda francesa. Esses riscos foram agravados, disse ela, pela sensação do público de que as altas autoridades econômicas não estão confrontando adequadamente os problemas que têm pela frente. “Estamos numa fase nova perigosa”, disse ela.

Lagarde, embora não seja nem presidente de banco central nem economista, verbalizou uma sensação de preocupação que representantes de muitos dos principais bancos centrais expressaram, em geral nos bastidores, durante os dois dias da conferência.

A diretora do FMI pediu incisivamente aos líderes dos principais bancos centrais que mantenham suas políticas de taxas de juros “altamente acomodativas”, uma referência ao Banco Central Europeu, que começou a elevar as taxas.

Ela dirigiu palavras mais duras aos políticos. A Europa precisa reforçar o capital de seus bancos e — junto com os EUA — promover o delicado equilíbrio de reduzir a dívida pública no longo prazo, sem cortá-la tão agressivamente no curto prazo que gere um prejuízo ao tênue crescimento econômico.

As observações dela podem pressagiar um esforço de líderes do Grupo de 20 países G-20 que se reúne em Cannes, na França, em novembro para criar respostas mais agressivas para crises fiscais e a fraca economia.

Os comentários de Lagarde amplificam um discurso feito pelo presidente do Fed, Ben Bernanke, que deu uma bronca nos políticos americanos por minarem a confiança do público durante o bagunçado debate sobre a elevação do teto de endividamento dos EUA. Ele também defendeu um aperto fiscal que não fosse tão agressivo a princípio, já que a economia está enfraquecida.

As próximas semanas apresentam desafios importantes para o mercado financeiro. “Estou preocupado com um risco de eventos neste fim de ano”, disse Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial.

Autoridades presentes ao retiro do Fed estavam especialmente preocupadas com várias negociações carregadas na Europa. Os parlamentos europeus precisam aprovar uma expansão dos poderes do Fundo de Estabilidade Financeira Europeia, que é vista como crítica para a estabilização das finanças governamentais fragilizadas da Grécia, Portugal e outros países. Líderes da Finlândia estão exigindo garantias consideráveis em troca de seu apoio financeiro à Grécia. Outros credores estão contemplando uma troca de dívidas com o governo grego que pode acarretar mais turbulências se a troca não acontecer.

O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, tentou desfazer as preocupações de que os bancos europeus possam estar ameaçados por uma perda de funding no curto prazo. Os bancos têm muitos ativos para tomar emprestado do BCE, disse. As preocupações de que eles vão ficar sem dinheiro são “simplesmente erradas”.

O Fed também está numa posição difícil. Bernanke não disse praticamente nada num discurso na sexta-feira sobre o que o Fed pode vir a fazer para ajudar o tépido crescimento americano. Ele apontou para uma reunião de política monetária em 21 e 22 de setembro em que as autoridades podem tomar novas medidas.

As opções do banco central não são atraentes. O Fed pode reiniciar um programa de compra de títulos de dívida, ou adotar medidas menores, como a troca do portfólio de títulos que já detém por papéis com vencimentos mais distantes, para reduzir os juros de mais longo prazo. Mas cada medida tem seu custo, e os benefícios não são considerados muito bons.

Um risco que se enfrenta é o político. “À medida que os bancos centrais em países avançados continuam a buscar políticas monetárias frouxas e políticas monetárias heterodoxamente frouxas, a pressão política sobre os dirigentes de bancos centrais para que façam mais para ajudar a financiar os déficits orçamentários pode crescer”, disse Haruyuki Toyama, o diretor-geral do escritório nos EUA do Banco do Japão.

Luis Nassif

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