Economistas cobram intervenção sobre câmbio

De O Globo.com

Economistas defendem desvalorização do real para aumentar competitividade

Encontro, que reúne petistas, aborda crise do capitalismo e desenvolvimento

Liana Melo Bruno Rosa Letícia Lins

 Custódio Coimbra / O Globo
Theotônio dos Santos, Maria da Conceição Tavares, Bresser Perira (da esquerda para a direita) consenso sobre necessidade de desvalorizar o real Custódio Coimbra / O Globo

RIO e SÃO GONÇALO DO AMARANTE (RN) – Só tem um jeito de tirar a economia brasileira do corner imposto pelo trinômio câmbio sobrevalorizado, inflação além do teto da meta e juros altos. O governo precisa ter coragem e intervir, desvalorizando o real para garantir competitividade internacional aos industrializados brasileiros. A proposta é do ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, que, ao lado da economista Maria da Conceição Tavares e do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, participou, nesta segunda-feira, do seminário “A crise do capitalismo e o desenvolvimento no Brasil”.

O encontro foi a versão petista da reunião realizada pelos tucanos no início do mês para discutir crise global e reuniu líderes de PT, PCdoB, PDT e PSB.

Bresser defendeu um câmbio “flutuante administrado” entre R$ 2,30 e R$ 2,40, bem acima do atual R$ 1,90. Só assim, disse, seria possível elevar a taxa de investimento anual no país para 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, a taxa é de 17%.

— Vivemos o momento ideal para mexer no câmbio — disse, admitindo, porém, que isso pressionaria a inflação para cima e os salários para baixo. — Mas é uma situação rapidamente recuperável, já que a economia vai crescer impulsionada pela maior taxa de crescimento.

Para garantir o sucesso da proposta, Bresser concorda com Lessa que é preciso taxar os importados.

— Com a taxação, teríamos um preço interno e outro externo. Caso contrário, vamos deixar a indústria nacional desprotegida — defende Lessa.

Ainda que apoie a mudança no câmbio, Conceição Tavares acha que não é suficiente.

— Mas não pode ser feito à galega, senão acaba com os salários — disse a economista, defendendo medidas protecionistas contra a invasão de produtos chineses.

— Pode-se fazer por tarifas, subsídios. — afirmou. — É que eles (os chineses) mentem, dizem que vão fazer e não fazem.

Já o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que o papel do Estado não deve apenas ser resumido no controle das taxas de câmbio e de juros: é preciso regulação em várias áreas.

— Questões como a proteção do consumidor, como o aumento dos oligopólios, o papel do Estado na oferta de serviços universais, além de questões como regulação das tarifas bancárias e do preço da energia; qualquer projeto do governo deve ir além e pensar nas outras esferas — afirmou o secretário-executivo.

Barbosa também afirmou que o Brasil tem muitos desafios, como a questão tributária e como atender a uma nova classe média, que demanda serviços. Segundo ele, a situação internacional é difícil, mas o Brasil tem boas condições, já que tem recursos para desenvolver seus investimentos e há expectativas de crescimento da classe C.

Dilma: país tem recursos se ‘crédito secar lá fora’

Em São Gonçalo do Amarante (RN), a presidente Dilma Rousseff também garantiu ontem que o Brasil tem recursos suficientes para financiar a iniciativa privada “quando o crédito secar lá fora”. Ela fez o comentário na solenidade de assinatura da primeira concessão de um aeroporto à iniciativa privada. Serão exigidos R$ 650 milhões, dos quais 20% sairão do Consórcio Inframérica e os outros 80%, do BNDES.

— A gente vê as notícias que acontecem no resto do mundo. Enquanto geramos empregos e estamos lutando para garanti-los, o que acontece em países que antes eram objeto de desejo do Brasil? O aumento desenfreado do desemprego, e o que é mais grave, entre os mais jovens — disse. — Estamos em um outro momento. Esse país diante de toda essa crise, tem condições de continuar crescendo.

Luis Nassif

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