Empresas priorizam captação externa durante o primeiro trimestre

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – A manutenção do quadro de menor volatilidade no mercado externo, visto desde fevereiro, permitiu que as empresas ampliassem as captações de recursos com o lançamento de bonds internacionais em março, segundo dados divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). 

O movimento foi liderado pela Petrobras, que captou US$ 8,5 bilhões no início do mês, ampliando para US$ 13,6 bilhões o montante total de suas operações externas no trimestre – em janeiro a companhia havia emitido US$ 5,1 bilhões em bonds denominados em euros e libras esterlinas. 

O mês de março também foi marcado pelo retorno das operações em dólares, reflexo da relativa estabilidade das taxas dos Treasuries e da desvalorização do dólar no período.

Dos US$ 9,7 bilhões captados no mercado internacional no mês, apenas US$ 417 milhões foram denominados em euros – movimento oposto ao observado em janeiro, quando as captações também foram significativas (US$ 6 bilhões), mas integralmente denominadas em euros e libras esterlinas. 

De acordo com os dados divulgados, as instituições financeiras têm tido menor participação nas captações externas em 2014, com peso de 12,8% sobre o volume total. No mesmo trimestre de 2013, as instituições financeiras já haviam realizado captações de US$ 3,7 bilhões, com participação de 52% sobre o total das operações externas do período.

 Com os resultados de março, as ofertas internacionais no primeiro trimestre alcançaram US$ 17,2 bilhões – volume 143,8% superior ao realizado no mesmo período de 2013 – e responderam por 70% de todo o funding das companhias brasileiras em 2014. Segundo a Anbima, tal movimento se justifica tanto pela ausência de ofertas no segmento de renda variável, como pelos reflexos do processo de elevação da taxa básica de juros, em curso desde abril do ano passado, sobre o volume das ofertas no segmento doméstico de renda fixa. 

O direcionamento de estrangeiros para ativos de empresas nacionais se deu também no mercado doméstico de ações. O fluxo líquido de entrada desses investidores em março foi positivo em R$ 2,9 bilhões e contribuiu para a valorização do Ibovespa em 7,05% no mês, mas não foi suficiente para incentivar as ofertas, que continuam suspensas desde o início de 2014. No mesmo período de 2013, já haviam sido realizadas R$ 2,1 bilhões em ofertas no segmento de renda variável. 

Com isso, os títulos de renda fixa continuam concentrando as operações domésticas (R$ 17,3 bilhões), mas com um ritmo de emissões aquém do observado em 2013 (R$ 20,1 bilhões), que, por sua vez, já havia sofrido desaceleração em relação ao mesmo período de 2012 (R$ 25,9 bilhões). 

Alta dos juros influencia mercado de debêntures

Além da redução no volume de operações, a elevação das taxas de juros domésticas ao longo dos últimos 12 meses gerou a reversão do processo de alongamento e de desindexação a taxas de curto prazo dos ativos, que vinha sendo observado no período em que a taxa Selic estava em trajetória de queda. 

Enquanto as debêntures emitidas em 2012 e 2013 apresentaram prazos médios de, respectivamente, 6,1 e 5,8 anos, as ofertas realizadas no primeiro trimestre de 2014 tiveram seu prazo médio reduzido para 4,7 anos. Este prazo, na janela dos últimos dez anos, é inferior apenas ao observado em 2009, ano marcado pelos desdobramentos da crise financeira internacional. 

O mesmo pôde ser observado em relação ao perfil de indexação das debêntures. Enquanto no ano de 2012 foi registrada a maior participação de ativos indexados a índices de preços (IPCA), de 16,9%, a participação no primeiro trimestre de 2014 se reduziu para 13,9%, ante 14,6% em 2013. 

Segundo a Anbima, movimento inverso foi observado para o percentual dos ativos indexados à taxa DI. Em 2012, a parcela de debêntures atreladas à taxa de curtíssimo prazo havia sido de 78,7% (levando-se em consideração ativos em percentual do DI e em DI + spread), mas no primeiro trimestre deste ano, esta participação se elevou para 86,1%, com crescimento significativo da parcela integralmente pós fixada, expressa em % do DI (27,1%). Este movimento é reflexo direto do maior conservadorismo de emissores e investidores, ambos priorizando operações de prazos mais curtos e a taxas flutuantes, em resposta ao cenário mais alto de juros e à relativa incerteza quanto à sua trajetória. 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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