Nordeste, o laboratório da nova economia

Coluna Econômica

A emergência do Brasil no mundo, a recuperação da autoestima nacional inspirou em algumas mentes brilhantes a utopia da Amazônia. Ou seja, utilizar a região como laboratório para um novo Brasil, fundado na sustentabilidade, na exploração da biodiversidade, na mudança do padrão da exploração agrícola. A grande revolução brasileira, o novo modelo de desenvolvimento, terá no nordeste seu grande laboratório.

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HistHistoricamente o nordeste padeceu de alguns males: excesso de pobreza, ausência de cidadania, sufocada por um modelo político anacrônico e opressivo.

Isso não impediu que, na cultura popular nordestina, sobressaíssem qualidades extraordinárias, que o modelo econômico anterior impedia que fossem economicamente exploradas. A música, as festas, o artesanato, o modo de ser afetivo, características hoje que são centrais na imagem que o Brasil projeta no mundo. Há uma imensa legião de artesãos, músicos, artistas, pequenos empreendedores com potencial para gerar riqueza.

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A partir dos anos 90, começou a gradativa exploração econômica de algumas dessas características. As festas populares se profissionalizaram, começando pelo carnaval de Salvador, indo para o carnaval de Recife-Olinda, as festas juninas, os carnavais fora da época. O turismo ganha grande impulso com a construção de rodovias costeiras permitindo investimentos pesados em hotelaria. A Europa descobre o nordeste,, às vezes por razões abjetas, como o turismo sexual, mas gradativamente convergindo para as belezas naturais, os festejos, a musicalidade, a alegria do povo nordestino. O artesanato nordestino começa a conquistar grandes centros brasileiros e, depois, internacionais.

No início da década de 2000, uma pesquisa do Sebrae Nacional – conduzida pelo italiano Domenico Di Masi – identificou a “cara do Brasil” no exterior. Dentre as maiores marcas, festas populares (carnaval do Rio e festejos nordestinos), a música brasileira, o artesanato nordestino e as novelas da Globo.

Ainda hoje existe imensa exploração dos artesãos da região. Há diferenças de preços que podem chegar a vinte vezes entre o que se paga ao artesão e o que se cobra na boutique.

Mas o desenvolvimento da região tem permitido o aparecimento de formas eficientes de organização, como cooperativas de artesanato. Há experiências bem sucedidas até de exportação, como do mel de abelha do sul do Piauí, exportado para a Europa. Essas experiências estão se espalhando na região, sendo compartilhadas.

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Em cima dessa realidade existe a nova realidade econômica do nordeste, principal beneficiário da emergência das novas classes sociais, graças ao Bolsa Família e ao aumento do salário mínimo. O nordeste profundo passa a se inserir cada vez mais no mercado

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A região passará a abrigar grandes empresas e suas respectivas cadeias produtivas.

Mas o laboratório a ser explorado é a construção de redes de pequenos empreendedores, seja através de cooperativas ou outras formas de organização. O modelo do sudeste – fundado preferencialmente nas grandes empresas e suas cadeias produtivas – poderá ser complementado pelo modelo do nordeste, focado no empreendedorismo em bases sólidas, inovador, criativo. 

Luis Nassif

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