Coluna Econômica
Como seria o Banco Central em um futuro governo Dilma Rousseff? Essa talvez seja a grande incógnita sobre a economia no próximo ano.
Desde antes da crise, na condição da Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma havia combatido alguns dogmas, como o corte linear de despesas para se fazer superávit primário a qualquer preço. Durante a crise, outros dogmas caíram.
Por exemplo, quando se fala em carga tributária ou em relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto), havia um movimento único de ajuste, que consistia em cortar despesas e investimentos. Com isso caía o numerador, mas também o denominador. E o resultado era mais recessão.
A lógica que se aprendeu é que se em vez de uma política recessiva houver uma política pró-ativa – com redução de impostos e aumento de gastos, em momentos de crise -, o crescimento adicional do PIB compensaria o aumento da despesa, de maneira a preservar o superávit.
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VammVamos a um exemplo bem simplificado:
Imagine um PIB de R$ 1,7 tri; uma receita de R$ 273 bi e uma despesa de R$ 222 bi, resultando em um superávit primário de R$ 34 bi, ou 2% do PIB.
Aí, decide-se que o superávit terá que aumentar para 3%. Para que isso ocorra, será necessário cortar R$ 17 bi das despesas – em geral, investimentos. Cortando, a economia crescerá menos dali para frente. Crescendo menos, a receita também crescerá menos. No ano seguinte, para manter o mesmo superávit, haverá necessidade de novo corte e novo baque no crescimento.
Vamos a dois cenários simples
PIB no ano seguinte:
Crescendo 3%: R$ 1,75 tri
Crescendo 5%: 1,78 tri
Receita
Crescendo 3%: R$ 281 bi
Crescendo 5%: R$ 287 bi
Supondo que as despesas cresçam 2%, o superávit primário, no ano seguinte, será assim (se nenhum corte for feito):
Com PIB a 3%: 2,14%
Com o PIB a 5%: 2,4%
Ou seja, o mero fato de não se efetuar cortes drásticos no primeiro ano permitirá um crescimento no segundo que, apenas pelo efeito inercial., aumentará o superávit primário em 0,3 pontos.
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A diferença de um crescimento de 3% para outro de 5% no PIB é uma montanha de empregos, de investimentos adicionais do setor privado.
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Todo esse movimento foi assimilado pela candidata Dilma Rousseff, quando sobreveio a crise. Por outro lado, parece claro que não haverá nenhuma mudança brusca na política econômica. Mesmo porque, com Lula saindo da presidência, deverão surgir novas tentativas de desestabilização, o que obrigará a se atuar com cautela.
Juntando essas peças, o cenário mais provável será o da nomeação de um presidente do BC afinado com o mercado, mas não prisioneiro da ortodoxia suspeita do BC atual. Seu papel será o de trazer as taxas de juros para níveis internacionais em um ritmo levemente acelerado.
Mas terá também que administrar uma desvalorização cambial quase inevitável, dado o tamanho do rombo nas contas externas.
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