O enfrentamento entre dólar e yuan

Do The Wall Street Journal

Yuan causa dissonância de discursos na China e nos EUA 

TOM ORLIK, WSJ

Quando o assunto é o yuan, políticos dizem uma coisa e o mercado, outra.

Na China, a confiança na valorização do yuan evaporou. A moeda é negociada dentro de uma banda cambial rigidamente controlada, com espaço para subir ou cair, num determinado dia, apenas 0,5% em relação à paridade central com o dólar. Nos últimos quatro dias, por quatro vezes a moeda desceu para o piso dessa banda.

Há mais pessimismo no mercado a termo, que vem trabalhando com uma desvalorização de 0,7% do yuan em relação ao dólar para o próximo ano. O yuan no mercado externo, que é livremente negociado, já vale menos do que o comercializado na China. Sinais de que o capital especulativo começou a deixar a China também sugerem que o investidor já não encara o yuan como uma aposta de mão única.

Não quer dizer que o investidor ache que a moeda chinesa está valorizada demais. É, antes, um reflexo da tese de que o governo chinês se prepara para reduzir o ritmo da apreciação. Há bons motivos para tal. As exportações estão caindo e vão cair ainda mais nos próximos meses devido à crise na zona do euro. A inflação elevada que fez Pequim acelerar o ritmo da valorização no primeiro semestre do ano está em remissão.

O câmbio não foi tão desfavorável aos Estados Unidos no último ano. A valorização nominal de 5% somada à inflação maior na China do que nos EUA resulta numa apreciação real do yuan sobre o dólar de cerca de 7% — nada mal. Mas que ninguém espere ouvir esse parecer em Washington, pois o desemprego segue elevado e políticos se preparam para um ano de eleições.

Num sinal de retomada das hostilidades, o presidente Barack Obama disse em novembro que o yuan segue até 25% desvalorizado. Rivais republicanos, por sua vez, estão culpando o governo americano de não ter tirado mais concessões de Pequim. Mitt Romney, candidato republicano à presidência, promete acusar a China de manipular o câmbio e impor tarifas compensatórias sobre bens chineses. Com os principais rivais partindo para o ataque, será difícil para Obama parecer leniente sobre o assunto.

Está armado o palco para um 2012 difícil nas relações econômicas entre EUA e China. Washington vai endurecer o discurso. Mas se as exportações chinesas continuarem a deteriorar-se, é bom não apostar que isso tenha qualquer impacto sobre os planos de Pequim para o yuan. Ainda que uma alta real de 7% em 2011 não tenha sido suficiente para fazer a alegria de políticos americanos, em 2012 esse número pode parecer um sonho distante.

Fonte: WSJ 

Luis Nassif

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