O escândalo que “O Príncipe da Privataria” trouxe à tona

Recém lançado, o livro “O Príncipe da Privataria” – do jornalista Palmério Dória – traz um capítulo polêmico, sobre inquérito da Polícia Federal que teria levantado atividades irregulares do então cônsul do Líbano, em operações de conversão de dívida externa. As suspeitas envolvem o então senador Fernando Henrique Cardoso.

Mas em 2002 o inquérito já tinha sido alvo de uma reportagem de Amaury Ribeiro Jr na revista IstoÉ.

O inquérito levantava as atividades de um tal Socimer International Bank, localizado em um paraíso fiscal nas Bahamas, que quebrou no final dos anos 90.

Quatro anos após sua liquidação, investigação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal constatou que havia um registro dele na Junta Comercial de São Paulo, exclusivamente para comercializar produtos de exportação. Foi-se mais a fundo e constatou-se que durante dez anos atuou como banco clandestino, ajudando na lavagem de dinheiro de investidores brasileiros.

***

Por está época, o MPF conseguiu – num feito inédito – quebrar o sigilo das contas do Banestado, do Paraná, revelando uma verdadeira usina de lavagem de dinheiro. Os dados foram passados para a CPI do Banestado, que acabou enterrada em um acordo espúrio entre o PSDB e o PT – na figura do relator deputado José Mentor (PT-SP).

***

O que importa, para nossa história, é o início dessa episódio, que remonta ao governo Sarney.

Historicamente, em períodos de crise externa adquirir títulos da dívida externa com deságio e revendê-los pelo seu valor de face constituiu-se na mais rentável operação do século, responsável por grandes fortunas construídas ao longo da história.

***

Com a moratória de Sarney, o então Ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira decidiu implementar um plano que disciplinasse as conversões e impedisse as jogadas costumeiras com dívida externa. Consistia na “securitização” da dívida. Ou seja, quem tinha créditos contra o país trocaria por novos títulos, a prazos elásticos, taxas de juros razoáveis e valendo apenas uma fração da dívida original.

***

Bresser-Pereira caiu logo após propor a “securitização”, e foi substituído por Maílson da Nóbrega.

Mailson engavetou o plano de Bresser e lançou outro, permitindo a conversão total da dívida em cruzados, com o compromisso de investir no país.

Com o BC afrouxando a fiscalização, foram aplicados golpes de toda sorte. Convertia-se dívida, aplicava-se em empresas fantasmas, com os cruzados adquiriam-se dólares no mercado paralelo e remetiam-se para fora, por esquemas de doleiros. Esse golpe teve influência direta na hiperinflação brasileira do final do governo Sarney.

***

Havia um prazo para a conversão, mas montou-se inicialmente uma operação para os mais amigos. Bancos estrangeiros ficaram de fora. Nos anos seguintes, a influência política de economistas e políticos ligados ao BC garantiu a abertura de exceções, uma das quais foi para o empresário Alberto Achcar, envolvendo o Banco Paribas, da França.

O livro sugere que FHC teria atuado para ajudar Achcar a conseguiu a conversão fora do prazo.

Anos depois, o Secretário do Tesouro norte-americano, Nicholas Brady, apresentou o Plano Brady, de securitização da dívida. O Brasil aderiu. Mas o golpe já havia sido dado.

No programa Roda Viva de 5 de fevereiro de 1990 questionei Mailson sobre essa operação. Aqui, a pergunta e sua resposta:

Luis Nassif: Ministro, o senhor acha que é correto pegar uma dívida estável e sem inflação, que é a divida externa, e jogá-la para uma outra dívida, que é explosiva, que pode provocar inflação?

Maílson da Nóbrega: Não, não é correto. A dívida externa brasileira é menos de um terço do PIB [Produto Interno Bruto]. Em termos relativos, a dívida interna brasileira provavelmente é a mais baixa da América Latina. No Uruguai, a dívida externa é de 90% do PIB, no Chile era mais de 100% e agora reduziu um pouco, na Argentina é 80%, no México é 70%. Então, a dívida não é realmente o problema do Brasil. Agora, a redução da dívida pela conversão é um mecanismo adequado para reduzir o estoque da dívida desde que você crie internamente um espaço na política fiscal para evitar um endividamento maior. Qual é o país que obteve o maior sucesso com o programa de conversão? O Chile, porque fez uma política fiscal de contenção e a expansão provocada pela conversão não causou problema. Tivemos problemas porque não houve abertura de espaço na política fiscal. Quando nós lançamos o programa de conversão, a idéia era reduzir o déficit e ir abrindo espaço para uma redução da dívida negociada no mercado secundário com investidores, com empresas do Brasil. Enfim, você obteria um resultado positivo da redução da dívida, sem criar problemas de expansão monetária no mercado.

 

Luis Nassif

36 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Fora do tema.
    Nassif, sugiro

    Fora do tema.

    Nassif, sugiro manter um post na cabeça da página sobre o novo formato do blog para que seus comentaristas coloquem as suas dúvidas e dificuldades que não são poucas.

    Tambem peço paciência aos colegas no processo de adaptação e que informem as dificuldades para que os frequentadores ou o blog tentem esclarecer.

    1. Comentários

      Por que foi retirado a quantidade de comentários junto a relação dos posts ?

      Julgo ser os comentaristas e seus comentários o que de melhor há no blog.

  2. o cão sarnento’

    esse sarney da reportagem, é um antigo sarney, que já não existe mais. esse sarney era sem vergonha representante de todo o mal que nossas elites fizeram com nosso país.

    já esse sarney que domina o congresso associado ao pt, é outro, não tem nada que ver com esse um aí… tem relação com a tal governabilidade.

    1. Depende do ponto de vista

      Ou poderiamos dizer que aquele Sarney que apoiou o governo tucano era gente boa e se corrompeu quando passou a apoiar os petistas, é como o Renam, quando era lider do Collor ou ministro da Justiça do FHC era honestíssimo foi apoioar o PT e mágicamente se tornou um pulha, temos ainda o caso do Roberto Jeferson que quando acusa o PT no mensalão é fonte confiabilíssima, porém quando atesta a lista de Furnas ninguem dá ouvidos ou se interessa por ir mais a fundo na denúncia. 

  3. Pelo que sempre soube, no

    Pelo que sempre soube, no caso do Banestado, Mentor  fez acordo para fechar essa para abrir uma outra para todos os bancos. O problema foi que depois que fecharam não quiseram mais a outra e o PT apenas não tinha e nunca teve  como fazer isso

  4. sobre acordo PT PSDB – Banestado

    Sobre o trecho desta materia que fala em acordo PT e PSDB acho que não é bem por aí. Ficou meio que jogado de forma superflua.

    O trabalho do Relator José Mentor foi de excelência e até hoje dá base para muitas investigações e até retorno de recursos ao pais.

    Acho que esse trecho merecia um pouco mais de cautela e revisão. 

    No mais, quanto ao Príncipe este merece além de um Tribunal Nacional, um  Tribunal Internacional e um julgamento destas atividades irregulares bastante eficaz.

  5. Relação Dívida-PIB

    Pelo que sempre soube, é normal a economia crescer e junto com ela as dívidas. As perguntas relevantes são: Qual o valor da taxa 100*(Dívida / PIB)% do Brasil? Como este valor evoluiu ao longo dos anos? Qual o valor da mesma taxa para os EUA? As comparações são sempre bem vindas! Estas respostas que devem ser dadas, contudo o site em seguida nem toca no assunto:
    http://www.auditoriacidada.org.br/
     

  6. Todo príncipe, por tradição,

    Todo príncipe, por tradição, usa vestimentas diferentes das dos súdito. A do príncipe da privataria tem bolsos enormes, capazes de esconder até um cachorro em cada um deles. É o príncipe da cachorrada.

  7. “e valendo apenas uma fração

    “e valendo apenas uma fração da dívida original.”, ou seja, aquilo que valia de fato no mercado!  E não o que o príncipe queria.

    1. Pena que o final da

      Pena que o final da entrevista, no blog “paginadoenock.com.br”, entá truncada em seu final.

      Mas é uma senhora entrevista. E esclarece MUITA coisa.

    2. Pena que o final da

      Pena que o final da entrevista, no blog “paginadoenock.com.br”, entá truncada em seu final.

      Mas é uma senhora entrevista. E esclarece MUITA coisa.

    3. Outro link com a entrevista

      Outro link com a entrevista

      http://pt.scribd.com/doc/13166583/Entrevista-de-delegado-Protogenes-Queiroz-na-revista-Caros-Amigos

       

      Entrevista do Delegado da PF (e atual Dep. Federal) Protógenes Queiroz à Revista Caros Amigos, em 2009.

      Ele fala sobre o caso Banestado, da prisão do contrabandista Law Kim Chong, da Operação Satiagraha que levou à prisão do banqueiro Daniel Dantas.

      Também fala de um escândalo envolvendo a conversão de títulos da dívida externa brasileira. 

      Estes títulos eram adquiridos no mercado financeiro internacional, por 1% do valor de face, podendo ser convertidos junto ao Banco Central pelo valor de face desde que esse dinheiro seja investido em empresas brasileiras. 

      Então o dinehiro era investido em empreass de fachada que repatriavam o dinheiro para o exterior. Ele cita o banco Paribas como beneficiário do esquema, instituido a partir da criação de uma norma do Banco Central.

      A entrevista é longa mas vale a pena a leitura

      ================================

       
      Protógenes Queiroz: entrevista a Caros Amigos

      Revista Caros Amigos, Março de 2009

      O delegado Protógenes Queiroz nos deu uma entrevista de seis horas, de 14p0 a 20p0, e saiu lamentando que faltou contar mais coisas, por exemplo a máfia russa e o magnata Boris Berezovsky.

      Por meia hora, ainda conversou conosco enquanto esperava o táxi. 

      Discorreu que Daniel Dantas, o banqueiro, pode mandar muito, mas é apenas um “braço” de algo mais poderoso – quem sabe o Citigroup? 

      Gravado mesmo, contou histórias arrepiantes. Algumas frases dele ao acaso colhidas dão ideia: “É muita picaretagem!”, “A mentira perdura pouco, a verdade é eterna.”, “Você vai investigando, vai dar nas construtoras, na concorrência pública, e nos políticos”. E sobre um dos casos cabulosos que investigou ficou este diálogo bastante sugestivo:

      PROTÓGENES: QUEREM ESSA HISTÓRIA?

      TODOS: SIM!

      PROTÓGENES: VOCÊS NÃO VÃO DORMIR DIREITO.

      MYLTON SEVERIANO – Vamos começar esquentando as turbinas. Onde nasceu, a infância, os pais.

      Sou filho de branco com preto. Nasci em 20 de maio de 1959, em Salvador. Meu pai era da Marinha de Guerra, ex-combatente da Primeira Guerra Mundial. Aos meus três meses, foi para o Rio, participar de uma intervenção. Era o almirante Protógenes Guimarães. 

      Por isso meu nome. Minha mãe embarcou num avião da FAB, eu e meus outros nove irmãos. Primeiro fui morar num bairro de Niterói, Barreto, num sobrado de frente pra praia.

      MYLTON SEVERIANO – Você estudou em Niterói?

      Isso. Tinha uma igreja do Barreto, a gente tinha que assistir a missa, participar das festas.  Eu gostava, era criança, tem que estudar, ir para a igreja, brincadeira de rua.

      MARCOS ZIBORDI – A família era como?

      Minha mãe era de descendência africana, escravos, meu pai de portugueses, espanhóis, branco de olhos azuis, uma semelhança com aquele artista, Paul Newman. Meu pai é abandonado pela esposa, e minha mãe contratada para cuidar dos filhos. Aí ele se apaixona. 

      Ela estava com quinze anos, e era muito bonita. Meus irmãos por parte de pai chamavam minha mãe de mãe e a mãe deles pelo nome, devido à relação materna bem forte. A família do  meu pai tinha fazenda no interior da Bahia. Meu bisavô era padre: Antônio Pinheiro de Queiroz. Fundou uma cidade, Conceição de Oliveira dos Campinhos.  

      MARCOS ZIBORDI – Estudou em escola particular?

      Não. Eu não gostava. Escola pública era melhor. No primário fui aluno razoável. No ginásio, você já começa a ser um pouco peralta. Sempre fui ativo. Meu pai era militar, lembremos, imaginava que o país poderia entrar em guerra e você teria que sobreviver sozinho. 

      A gente tinha que plantar guandu, aipim, e colher. Eu adorava colher aipim, puxar a raiz, era divertidíssimo. Não gostava do guandu, aquela vagem machucava a mão. Minha mãe, semi-analfabeta, mas de um coração muito forte, era ligada a ajudar as pessoas, e meu pai mandava até fazer roupa. Sei sentar numa máquina e fazer um short, uma camisa. Em casa a gente ajudava a mãe a cortar roupas, pregar botão, fazer bainha. Você chegava ralado, minha mãe: “vai pra máquina cerzir, essa roupa tá boa ainda”. E também uma coisa peculiar de meu pai: ser bem informado. Antes do jantar, ele colocava o rádio sobre a mesa, tínhamos que ouvir a Ave Maria, a Voz do Brasil e depois o Repórter Esso. A voz do homem tá na minha memória até hoje.

      MYLTON SEVERIANO – Heron Domingues.

       Exatamente, depois é que íamos fazer a ceia, e no dia seguinte tínhamos que ler os jornais.  Para ter o hábito. Eu lembro, tinha sete, oito aninhos, ir no jornaleiro e trazer aquele saco de jornais. E se precisava de dinheiro para um cinema, tinha que vender saco, garrafa. 

      Deliberadamente meu pai não dava mesada, não. E passa a infância, vou para um colégio público, em 1970. Tinha dez, onze aninhos. O que mais me despertou foi eletrônica e eletricidade.

      MYLTON SEVERIANO – Você foi da UNE?

      Fui delegado da UNE, em 1980.

      MYLTON SEVERIANO – E foi para o Direito deliberadamente?

      Sim.

      MYLTON SEVERIANO – Mas tinha despertado para a política, esquerda, direita?

      Não, eu tinha consciência do que era certo, errado, meu pai era um crítico do regime.

      CAMILA MARTINS – Estava na ditadura militar?

      Ele homem do regime, mas crítico. Dizia que depois de Castelo Branco [chefe do primeiro governo militar, 1964-1966] não existia um governo militar que prestasse, que estavam cometendo muito excesso.

      MYLTON SEVERIANO – E você pendeu para que lado?

      No colégio, jogava futebol escondido, meu pai dizia que era coisa de vagabundo.

      FERNANDO LAVIERI – Jogava bem?

      Bem. Meu apelido no Niteroiense era Ferretão: magro, comprido. Um meio-campo avançado. E no colégio Hélder Câmara me desperta a atenção um professor de geografia chamado Milton, usava bolsa de couro, barbichinha. Um contestador. Falei “o canal é esse, área humana”.

      Montamos um minigrêmio. E, numa feira de ciências, a professora Marlene ficou orgulhosa, era a empreendedora, chamou autoridades, inauguração de novas salas, e destinou uma para o nosso trabalho.

      De madrugada, pichamos o muro: Terrorismo é ditadura que mata e tortura. 

      Já causou um estrago danado.

      Aí tá lá o senador Saturnino Braga, o prefeito, comandante do Exército, da Polícia Militar, Marinha. 

      E chega na nossa sala, trancada. Quando ela pediu para abrir, era uma sala de tortura. Tinha pau-de-arara com boneco, boneco com fio na cabeça. A professora “ah, meu Deus! Desculpe! Fecha tudo isso aí”. E minha turma espalhando jornalzinho, o Alerta Geral.

      MARCOS ZIBORDI – O que estava escrito?

      Pedíamos eleição direta, perguntávamos por que presidente general, pedíamos a melhoria do ensino, que tinha que ser público. E todo o mundo se mandou, a polícia atrás. Chegou a professora Marlene, meu pai falou “menino, você tá louco, os professores vão ser presos, cadê o jornal que você fez?”. Deu quase expulsão.

      MYLTON SEVERIANO – Você tinha 17 anos?

      É, 1976.

      MARCOS ZIBORDI – É nessa idade que começam esses comunistas…

      Exatamente. Vou estudar na Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, particular. Meu pai acreditando que tava fazendo engenharia. Tinha uma intervenção no diretório, comecei a contestar. Ouvi colegas dizer “você vai encontrar espaço para discutir no Centro Acadêmico da Nacional”.

      MYLTON SEVERIANO – O Cândido Oliveira?

      É, eu atravessava a Praça da República, ia conversar, comia no bandejão. E teve o congresso da UNE em Cabo Frio.

      FERNANDO LAVIERI – Seu pai sabia?

      Meu pai, quando descobriu que eu tava fazendo Direito, corta a mensalidade. Tinha o crédito educativo, fui pra Caixa Econômica fazer, com minha mãe.

      MARCOS ZIBORDI – Por que ele não queria?

       Dizia que advogado não presta. 

      É, igual Lênin.  Advogado, nem do partido, e ele era advogado. 

      Mas entendi que dentro da advocacia ia contribuir mais que na área tecnológica. Estagiei na Defensoria Pública três anos.  Saía dez, onze da noite. Ficava penalizado, as pessoas com senha, estavam sendo despejadas. E tenho contato com movimentos sociais, associação de moradores, começa a se formar um movimento social. As pessoas se organizando pra reivindicar. 

      Conheço o pessoal da Contag [Confederação de Trabalhadores na Agricultura], para advogar para a Via Campesina, Sindicato dos Operários Navais, esse caminho até 1987, advogando para associações, partidos, PDT, PT…

      CAMILA MARTINS – Chegou a se filiar?

      Nunca quis, era me rotular. Eu tinha envolvimento com outros partidos, e uma formação forte dentro do Partido Comunista Brasileiro. 

      Em 1982, o grupo da clandestinidade a que eu pertencia eram todos velhos comunistas, Hércules Corrêa, que faleceu há pouco.  Obrigatoriamente você tinha que ler O Capital, de Karl Marx. 

      E engraçado: hoje, com essa crise, onde é que os capitalistas estão lendo fundamentos para corrigir o erro? Está sendo obrigatória a leitura de Marx, Engels, Hegel. As corporações estão recomendando que seus diretores leiam.

      MYLTON SEVERIANO – Vamos para sua ida para a Polícia Federal.

      É. O encontro. Recebo convite para ser procurador-geral de São Gonçalo. Em 1992 me deparo com um pedido para ajudar num processo de impeachment de um prefeito, Aires Abdala.  

      Falei para o vereador “vamos pegar fatos de repercussão nacional pra ecoar”. Peguei desvio de merenda escolar e remédios. Tinha criança desnutrida, e ele desviando. Botava pra vender em supermercado dele.

      MYLTON SEVERIANO – Além de corrupção, cruel.

      Beira o genocídio. Bebês morriam por falta de leite materno, que poderia ser suprido com leite que o governo dava. Ingressamos com processo, e deu resultado. Era o cacique político da região.  E durante o processo foram muitas pressões, ameaças, tentativas de corrupção. Eu sabia que poderia sofrer uma decepção.

      FERNANDO LAVIERI – Você temia problemas na votação?

      Sim, a vida política é promíscua. O próprio processo eleitoral. Você chega a um eleitor, “o que você vai me dar?” Não pensa no coletivo. Parti para um jogo arriscado. A lei que regula o impeachment dizia que a votação é secreta. Era do regime militar. Falei “terá que ser aberta, quem for a favor do ladrão do dinheiro público vai prestar conta”. E o povo gritando “ladrão, ladrão”. Os advogados dele sorriram dizendo que estava contrariando a lei. Protestaram. E o povo aplaudindo.

      PALMÉRIO DÓRIA – E você foi responsabilizado?

      Não. Ganhei. E o doutor Evandro Lins e Silva, no impeachment do Collor, o que fez?  Adotou. O processo já estava consolidado. O prefeito tinha que ir pra rua. Aí, no processo do Collor houve a mesma coisa. Perante o Supremo Tribunal Federal consolidou o processo.  Percebeu-se que o mais democrático era o voto aberto.

      PALMÉRIO DÓRIA – E você não é candidato?

      Não. Eu não era, por que seria agora? Entendi que era mais útil à sociedade trabalhando de outra forma, cassando um prefeito, investigando corrupção. 

      Em dez anos dentro da Polícia Federal veja o que produzi pra sociedade. Aí me desencanto. Atentam contra minha vida, sou agredido, iam me sequestrar, passo trinta dias escondido.”Vou é ser advogado e largar esse cargo.” 

      Fui advogado, advogando para a colônia francesa, no Rio. E participo de uma concorrência pública representando duas empresas. A Constituição não permitia que empresa estrangeira participasse, a não ser como parceira de empresa nacional. A empresa que representei fez parceria com uma construtora. Ganhamos o processo para fazer a extensão do metrô Botafogo a Copacabana. E fomos surpreendidos por um ato de corrupção da Queiroz Galvão. Ela coloca um dormente que quebra a cada período. O que íamos colocar era de qualidade excepcional. E mais barato. Meus clientes falaram “estamos indo embora, não vamos investir nenhum centavo mais, é um país de ladrão, entre com uma ação indenizatória contra essa construtora”. Fiquei decepcionado.

      WAGNER NABUCO – A ação está em andamento?

      Ganhei em primeira instância, em segunda, está no STJ [Superior Tribunal de Justiça]. É uma ação de mais de 60 milhões.

      MYLTON SEVERIANO – Contra a Queiroz Galvão?

      Sim, e o Estado do Rio.

      PALMÉRIO DÓRIA – Você vai ficar riquíssimo?
       
      Nessa época comprei um Gol zero. E o carro pára a poucos metros, em frente a uma agência do Banco do Brasil. Vi um cartaz de concurso pra Polícia Federal. Delegado, agente, perito. Falei “hum… o caminho é esse”. Passei, escondido da sócia, não ia entender como eu ia largar uma carteira que ganhava de 30 a 50 mil dólares por mês, pra viver de salário de funcionário público. Tem momentos que você cuida da sua vida, tem momentos que você olha e vê que falta muito a construir. Não adianta construir pra si, senão você vai viver numa ilha.

      PALMÉRIO DÓRIA – Era uma Policia Federal comprometida com…

      Era uma guarda pretoriana do regime militar.

      MYLTON SEVERIANO – Você acha que apuraram seu passado?

      Acredito que sim. E fui chamado em 1998. Abandono as delícias da burguesia e vamos ser funcionário público. Aí vou pro Acre.

      MYLTON SEVERIANO – Que situação você viu lá?

      Autoridades ligadas ao narcotráfico. Rio Branco tinha 980 pontos de distribuição de cocaína. Uma coisa assustadora. Polícia Militar, Civil, Ministério Público, Justiça Estadual, prefeitura, governador, Assembleia, Câmara Municipal. 

      Um juiz com ponto de drogas, desembargador viciado.  “Identifiquei caixa dois, dinheiro de narcotráfico. O grande volume foi de desvio de recurso público, o que me deixou chateado. 

      Aí pegamos os políticos. Sim, Maluf estava lá. Daniel Dantas.”

      MYLTON SEVERIANO – Em que ano?

      Em 1999. José Roberto Santoro era o procurador que me auxiliava. 

      Abro inquérito por lavagem de dinheiro para o narcotráfico, quebra de sigilo bancário: governador, prefeito, exgovernador, Fernandinho Beira Mar que tinha ligação com o narcotráfico, com a narcoguerrilha colombiana, as Farc.  

      Aí o Santoro dá um parecer paralisando a investigação, dizendo que não poderia investigar por lavagem de dinheiro, tinha que comprovar que era narcotraficante. Não dei bola. Fizemos a prisão preventiva por grupo de extermínio. A primeira condenação foi por lavagem de dinheiro.  Eu disse “doutor Santoro, o tempo é o senhor da razão”. Ele disse que eu estava vendo muito filme.

      PALMÉRIO DÓRIA – E o Fernandinho Beira Mar?

      Onde foi preso? Na selva colombiana, 1999. Saio com a missão concluída. Vou pra Brasília. E tinha um ofício para me apresentar em Foz do Iguaçu. Investigar lavagem de dinheiro, evasão de divisas no Cone Sul. 

      Batizei de Operação Macuco [o “caso Banestado” – Banco do Estado do Paraná]. Macuco é típico da região, quem achar um ovo azul do macuco tem vida longa. Se todo o mundo procura e não está vendo, vamos ver se a gente enxerga. 

      Foi um trabalho complexo, todo o mercado financeiro envolvido, internacional também, até o Banco Central do Paraguai. E o nosso.

      PALMÉRIO DÓRIA – O maior vazador de grana do Brasil.

      A maior lavanderia se instalou ali, e com apoio político. Começamos a escanear todo aquele processo, identificando os atores.

      WAGNER NABUCO – O Gustavo Franco mudou a norma e permitiu que os bancos fizessem lavagem, não?

      Tenho receio quando se muda uma lei do sistema financeiro. 

      As leis, feitas pelos banqueiros, são para beneficiar a si próprios. Como agora. A norma estabelecia regras para a conta CC5. É conta de não-residente, de estrangeiro no Brasil. 

      Em linguagem fácil: estrangeiro vem portando 100.000 dólares e quer comprar alguma coisa. Quer ter uma vida social aqui, e pega esses 100.000 e registra. 

      Se investe numa carrocinha de pipoca, o dinheiro gerado ele vai depositar nessa conta CC5, que permite a ele voltar com esses recursos ganhos.   Ela foi feita, na concepção reconhecida mundialmente, pra trazer investimentos pro país. Não pagava imposto.

      MYLTON SEVERIANO – E como é que os bandidos do colarinho branco usam?

      No caso Banestado, o esquema é montado com banqueiros do Brasil, pra tirar dinheiro daqui. Se pegar os recursos que ingressaram e os que saíram, vai ver, saiu mais dinheiro do que entrou.

      WAGNER NABUCO – Eles precisavam de uma empresa-fantasma.

       Ou montava uma empresa-laranja, ou eram estrangeiros-laranja. 

      Até mesmo brasileiro que se permitia dizer que vendeu algum bem pro estrangeiro e depositava na conta desse estrangeiro que não existia. 

      Simples. O sujeito abria poupança com 10 reais. No dia seguinte, chegava com 100.000. E o gerente aceitava. E sucessivamente. 

      Transferia para a CC5, dizendo que tinha vendido algum bem para aquela “empresa” estrangeira. Eles usavam pessoas humildes, empregada doméstica, desempregado, ambulante. 

      Por que surgiu o “conheça o seu cliente”? Porque o Protógenes começou a prender gerente, diretor, e a discutir, “não leve a mal, mas vocês estão sendo indiciados porque, como é que, em sã consciência, aceitam abrir conta de um pipoqueiro com 10 reais e no dia seguinte aceitam 100.000 sem falar ‘Você vendeu muita pipoca, hein?’, e não aceito dizer que precisa cumprir metas”. 

      Mas chega um momento que o volume de dinheiro era tão grande, que o gerente passou a entrar no esquema. Quando passa a cumprir hora extra, chegar mais cedo, sair mais tarde, virar a noite, já foi tragado pelo sistema e já recebe pra abrir conta laranja. O lavador de dinheiro já não tinha preocupação, “ô, meu amigo, abre mil contas pra mim aí”.

      WAGNER NABUCO – E aí já estava abrindo conta com CPF falso.

      Tinha de tudo. Mais de 100 bilhões de dólares saiu. 

      Tinha um ex-diretor do Banco Central paraguaio que consegui o mandado de prisão. Saturnino Ramirez. Movimentou 1 bilhão e 400 milhões de dólares num ano e meio. Identifiquei caixa dois, dinheiro de narcotráfico. O grande volume foi de desvio de recurso público, o que me deixou chateado. 

      Aí pegamos os políticos. Sim, Maluf estava lá. Daniel Dantas.

      WAGNER NABUCO – Não entra só político.

      Tem OAS, Mendes Júnior, Odebrecht, a Queiroz Galvão. Todas as grandes construtoras. Você vai investigando, vai dar nas construtoras e na concorrência pública. E nos políticos.  

      MYLTON SEVERIANO – Em Foz do Iguaçu quem foi preso?

      Muitos. Passei quase dois anos lá. 

      O primeiro ano foi difícil, começo a cercar os tubarões.  Indiciei o sobrinho do Jorge Bornhausen, Alberto Dalcanalle Neto, em 174 inquéritos, vou para Curitiba, muita pressão. Fiz inspeção no banco dele, Araucária, logo o Banco Central fechou o banco. 

      O presidente do Banco Central era o Armínio Fraga, “doutor Protógenes, estamos preocupados”, falei “quer arrumar um instrumento para me ajudar, fecha as contas CC5, o senhor acaba com a evasão de divisa, lavagem de dinheiro, estou enxugando gelo”.  

      Qual era a resposta? “Se a gente fizer isso, cai todo o mundo aqui, não dá, faz parte do sistema.” Convidei colegas a ir embora ou se danar comigo, “vou passar urucum no rosto”.

      MYLTON SEVERIANO – O que significa passar urucum no rosto?

      Vou guerrear, com instrumentos que a lei me permite, falei “vamos pegar um caso de reflexo internacional”. 

      Começamos a investigar um garoto chamado Victor Hugo Nunes, bonito, classe média. Transportava dinheiro do Paraguai e depositava na CC5. 

      Sobrinho de uma senadora do Paraguai. Um dia, transportando 3 milhões e uns quebradinhos, de motocicleta, atravessou pro Brasil, na avenida Kennedy a gente “blum!”. Arrancamos a mochila, cheio de cheque. Engraçado que tinha um disquete já com a compensação do banco.  

      A coisa estava tão sofisticada que, além dos 3 milhões, tinha mais alguns já compensados, colocava no computador e transferia: aquele dinheiro já tava em outro lugar. 

      Que acontece quando prende alguém importante?  Gritou imprensa, embaixadora, Parlamento, presidente do Paraguai. Na semana seguinte fecharam as contas CC5. 

      Aí, manter preso o garoto. Tinha o juiz, eu disse “doutor Emerson, ele tem direito a fiança”, e foi a mais alta arbitrada no país. 

      Pedi um milhão. O Emerson falou “você é louco, eu sou juiz novinho”, falei “também sou novo,  se a gente não fizer isso não vamos acabar com a lavagem de dinheiro, estão sangrando o país, aperta a caneta aí”.  Ele colocou 500 mil reais. A estratégia era saber quem ia pagar. Sabia que era alguma autoridade.

      O garoto foi solto, cheque de quem? Presidente do Banestado. Reinhold Stephanes.

      MYLTON SEVERIANO – Atual ministro da agricultura.

      Aí comprovei que estava no esquema. 

      Pra se livrarem do problema maior fecham as contas CC5. 

      Permaneci um tempo, porque tentaram, um banqueiro, uns doleiros, me comprar, ofereceram 5 milhões de dólares, e viram que não tinha chance, aí fizeram um plano pra me executar.  Minha esposa grávida teve que ir embora, eu andava com quatro colegas fazendo a segurança.

      PALMÉRIO DÓRIA – E o caso do Law Kim Chong?

      O chinês era poderoso e tinha ligações na Polícia Federal, provavelmente algo ligado a financiamento de campanha, ligações na sociedade paulista. 

      Um mafioso você vai pegar naquela situação mais simples. A complexa é onde ele está preparado. Qual seria a espinha dorsal dele? 

      Contrabando e pirataria, talvez atividades municipais. Aqui, vou bater nele e voltar. Passo cinco anos investigando e busquei a via mais frágil, a corrupção.

      MYLTON SEVERIANO – E como se deu?

      Estamos com a CPI da Pirataria, o presidente é o deputado Luiz Antônio Medeiros, e me procura, “o Law quer me pagar 2 milhões de dólares pra deixá-lo fora da CPI”. Passei ao plano de pegá-lo naquilo que ele seria frágil, pagamento de propina. 

      O deputado passa a fazer uma ação controlada (é acompanhada pelo Ministério Público e pelo juiz), com um assessor, o Fernando, policial rodoviário, e o Fernando fica com medo. Falei “deputado, não vou perder esse trabalho, haverá um prejuízo grande pra sociedade”, “qual a saída?”, “precisa arrumar outro”, “quem?”, “o senhor”, “eu?”,”sim, você não foi do Partido Comunista? Não foi exilado na Rússia? Tem todos os requisitos pra uma operação de infiltração”, “eu topo”.  

      Firmeza. Falei “o Law não confia em ninguém, chega um momento que tem que estar presente com o dono do negócio, e o senhor é o dono”.

      MYLTON SEVERIANO – O Medeiros não ficou nervoso?

      Ele foi muito frio. Corajoso. É produzido um encontro em Araraquara. E o deputado, embora nervoso, sai muito bem. O chinês é um iceberg. Entrou, logo tira o paletó, o que sugestiona “não tenho gravador,  nada”.  O deputado, “não vou tirar meu paletó, ou confia ou pode ir embora”. E cheio de equipamento por baixo.  

      “Me ofereceram 5 milhões, e viram que não tinha chance, aí fizeram um plano para me executar.”

      MYLTON SEVERIANO – É uma casa térrea…

      Um hotel. Esse vídeo é fantástico. Um diálogo sugestionado por nós. 

      O Law marca pra entregar o valor num ninho nosso, São Paulo. Você pensa “vai marcar um local de confiança e depois mudar”. É um misto de probabilidades, oportunidades, sorte. 

      Ele indicou o shopping Center Norte, seria uma carnificina a prisão dele, poderia ter reação. Os guarda-costas dele eram policiais militares, falei “o lugar provável que ele vai trocar, Medeiros, vai ser seu escritório”. 

      O locai onde ele mais confiaria, “sou o corruptor, vou marcar na casa do corrupto, se for preso levo ele”. Chega no shopping, entrega o dinheiro para o intermediário, o telefone toca e o Medeiros ouve “não vai ser mais no shopping, vai ser no seu escritório”. Saímos batendo carro, chegamos minutos depois do intermediário chegar com o dinheiro. 

      O Law já em fuga. Veio um grupo executar a prisão, uma parte do Rio, uma parte de Florianópolis. Ele é preso entre onze horas e meio-dia. Tava na garagem da rua 25 de Março pra pegar o carro. 

      MYLTON SEVERIANO – O encontro pra dar dinheiro pro deputado foi que hora?

      Meio-dia. Nós tínhamos um informante em frente daquela loja de pedra dele, Brasil Stone, e ligou, “tá atrás da pilastra no estacionamento”, e chegam os nossos, seis, e ele tinha quinze seguranças, sacaram as armas, e ele pergunta “vocês são policiais de São Paulo?”, “não, diretoria de inteligência de Brasília”, logo percebi”. Engraçado, mas é triste, ele não aceitaria traição. A única condenação dele foi por corrupção.

      PALMÉRIO DÓRIA – A do Maluf talvez seja a prisão mais emblemática, você pega o político.

       Tem uma história pesada, a sociedade paulistana se identifica com o modo político, o “rouba mais faz”. 

      O Ministério Público vai à Polícia Federal em 2001 procurar o delegado que vem de Foz do Iguaçu, “temos um expediente aqui e queremos o delegado Protógenes”.  

      Foi produzido um volume de informações, uma sala de documentos. Pedimos quebra de sigilo bancário internacional. Demorou uns três anos, chegou em 2004. 

      Um marco, nenhum paraíso fiscal manda informação. A Suíça foi a primeira. O marco foi o 11 de setembro de 2001, os atentados. Há uma nova ordem financeira internacional.

      Ele tem dupla cidadania, brasileiro e libanês. E a cada ano vivia oito ou nove meses no Oriente Médio. Um mês em Paris. E quando chegaram os documentos no início do governo Lula, o Márcio Thomaz Bastos [ministro da Justiça] cria um departamento chamado DRCI [Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional]. Os documentos vieram bagunçados. 

      Fora de ordem, faltando. Quer dizer, um departamento que era para facilitar a recuperação de recursos ilícitos, dificulta. 

      Antes tínhamos contato direto com as autoridades internacionais, hoje vai ter contato com esse departamento. Já entrei em choque. Só tive uma reunião com esse departamento. O diretor hoje advoga para um dos escritórios que advoga para o Daniel Dantas.

      O dono foi procurador da Fazenda, Madruga; e tinha uma procuradora também, chamada Vani. Na primeira reunião queriam ditar regras e normas na investigação do Maluf. 

      Eu disse “vocês recepcionaram documentos e bagunçaram, vou apurar responsabilidades”.Esse departamento foi criado para dificultar. 

      Comecei a traçar estratégias para prender o Maluf. Descobri o doleiro, Vivaldo Alves. Mexia no fio do telefone dele, mulher, filho, de mais doleiros, “se tiver uma relação de confiança com o Maluf, a primeira pessoa com quem vai gritar é com o patrão”. Não deu outra.

      PALMÉRIO DÓRIA – Grampo?

      Exatamente. O Flávio Maluf foi quem começou a cair, telefone de uma empresa, se não me engano de alimentação. E o Maluf cai justamente na corrupção. Propina ao doleiro, para mentir na investigação. Só que no grampo também cai a juíza que determina o grampo. 

      Na interceptação, dizia-se “fala com aquela senhora, da segunda vara”, e no dia seguinte tinha um despacho dela obstruindo o trabalho. 

      Falei com o procurador, “vou prender essa mulher”, e ele, com temor, fala para ela. E me disse. Quando ele falou para ela, ela fala para o Maluf.  Quer dizer, para o advogado do Maluf, o José Roberto Batocchio. Ela chama o Batocchio no gabinete, à noite. Batocchio sai de lá às dez da noite. 

      No dia seguinte vai à superintendência, pedindo medida cautelar, “quero vistas da interceptação que o senhor está fazendo contra meu cliente”. Olhei para ele, “sinto não poder”. “O senhor vai cumprir sim.” “Não vou! Fale para o seu patrão, e para a doutora Silvia, sua amiga particular, que ela venha ao meu gabinete me obrigar a cumprir essa ordem judicial.” “Vou representar contra o senhor, o senhor é louco.” “Represente muito bem. Se não, vou representar contra o senhor também. Agora, minha representação o Brasil vai conhecer.” 

      Ele saiu louco da vida. E trato de fechar a operação. Já tinha vazado. Mandei o relatório para ela, pedi a prisão preventiva do Maluf e do Celso Pitta.  Ela ficou nervosa.

      MYLTON SEVERIANO – Tinha que ser com ela.

      Ela pega uma cópia do relatório e entrega para o Batocchio. E o Batocchio chama jornalistas. A Lilian Christofoletti, da Folha de São Paulo, e Fausto Macedo, do Estadão, salvo engano. Dois de confiança, para divulgar. Mandei recado para o procurador, “fale com a doutora Silvia, ela tem que decretar a prisão do Maluf, senão vou prendê-la, o nome da senhora está no grampo”. Foi uma agonia para que ela decretasse a prisão. Ela decreta. E sai de férias.

      MYLTON SEVERIANO – Decretou de todos que você pediu?

      Não. Ela não decreta a do Pitta. Só do Maluf e do filho. Falei “um dia vou buscálo”.

      WAGNER NABUCO – Mas por que, em geral, o furo é da Globo?

      O furo só reconheço se for bom pra sociedade. A Thais Oyama, da Veja, teve um furo que furou meus olhos. Foi a máfia do apito. Ela destruiu um trabalho. 

      E o que mais doeu foi que me disse “sua investigação vai ser matéria de capa e vender 150 mil revistas”. “Thais, descobrimos corrupção, tem jogadores envolvidos, árbitro, dirigente. Tenho consolidada a fraude na arbitragem, não tenho a fraude nos atletas e nos dirigentes.” “Não interessa! Já está fechado.” 

      Quando é na sexta já está na internet. Os bandidos fugiram. Não se pode fazer isso.

      PALMÉRIO DÓRIA – Estamos prontos para falar da Satiagraha? Como ela sai do mensalão e vira o que virou?

      A origem não é mensalão, é Operação Chacal. A investigação da Parmalat, envolvida em fraude na Itália e no Brasil. 

      Lavagem de dinheiro, evasão de divisas. Investigação presidida pelo delegado Elpídio Nogueira. Ele monta uma estação de trabalho em São Paulo, em 2003, 2004. O Elpídio entra em parafuso, vai para tratamento. 

      E o doutor Paulo [Lacerda, ex-chefe da PF] decidiu ficar em cima da Kroll, junto com a Parmalat, a que a Kroll prestava serviço.  E descobre que a Kroll é uma empresa americana de espionagem. 

      Uma estação privada da CIA aqui. Esse volume de dados vai para a diretoria de inteligência, e descobrimos que a Kroll seria também um braço de espionagem que servia ao grupo Opportunity, à BrasilTelecom. E nasce uma operação para investigar a Kroll. A Operação Chacal.

      MARCOS ZIBORDI – Daí sai o HD do Oppotunity, na verdade cinco.

      Não. É um. Ele depois é copiado. Na Chacal, vem junto o grupo Opportunity do Daniel Dantas. Ele usa a Kroll para espionar adversários dele.

      WAGNER NABUCO – Gente do governo?

      Sim. Gushiken, ministro da Comunicação, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, presidentes de banco, Fundos de Pensão, Banco Central, Banco do Brasil, ministros… Pra que possa ter um dossiê de todas essas pessoas. 

      Quando a Chacal chegou no Opportunity é que apreende um HD. Estava ligado ao desktop ligado ao banco. Tipo 160 gigas de memória. 

      O juiz determina a apreensão, e quando chega a Brasília já tem um grupo de advogados com decisão judicial para lacrar. 

      O Ministério Público recorre e vai ao TRF [Tribunal Regional Federal] e me parece que o TRF determina que se abra o HD. Aí o Opportunity vai ao STF [Supremo Tribunal Federal] e o STF determina que se lacre.

      PALMÉRIO DÓRIA – Ellen Gracie?

      Ministra Ellen Gracie. Uma decisão oportunista. 

      O que é que pode ter um HD que a Justiça não possa conhecer, a polícia? E fica uns dois anos parada a investigação. 

      Aí surge o mensalão. Tudo no País, as grandes fraudes, podem ter certeza que não são visíveis de imediato. Mas vai ser visível. A mentira perdura pouco. A verdade é eterna. Igual ao caso Maluf. Com um pedido vagando no espaço, de quebra de sigilo, três anos, e veio tudo. O suficiente para o povo conhecer que houve desvio de dinheiro público, corrupção.

      RENATO POMPEU – E ele sumir politicamente.

      Esperamos. E, depois do regime militar, foram com muita sede, não de resolver o problema político, mas de se sustentar no poder, e muita sede de se apropriar dos recursos públicos.  

      Muita sede de dinheiro. Estamos presenciando uma construção de valores muito baixa. E se sustenta porque a sociedade parece hipócrita, idiota. Pode parecer, mas não é! Chega um momento que vai exigir. As autoridades honestas, que têm compromisso com essa sociedade, vão fazer valer seu exercício.

      RENATO POMPEU – Estávamos na Operação Chacal.

      Como é que deslacra o HD? É um país de escândalos, vamos esperar o próximo e vamos abrir o HD. E vem o mensalão. Parte de um grupo pequeno, eles se revezam no poder. Coisa absurda! Não vê agora? Acaba uma eleição municipal e o Lula vai lá sentar com o Serra. Sorrindo, de braço dado.

      FERNANDO LAVIERI – Um ato político.

      Tem que se conversar com todo o mundo. Mas ali, para mim, é uma ironia com nós eleitores. Com o povo! Vai me desculpar, um desrespeito! Não me sinto feliz em ver aquela cena não! Tipo “você está perdendo o poder, estou ganhando, mas vou te segurar”. Todo o mundo com sorriso irônico, Sérgio Cabral, Serra, Aécio, Hartung, o que é isso? 

      Mas então, abrimos o HD. As personagens são as mesmas. Encontramos os doleiros do mensalão, que servem ao Daniel Dantas, ao Naji Nahas.

      WAGNER NABUCO – E que serviram em Minas o Marcos Valério?

       Marcos Valério. Eduardo Azeredo. Nasce a Satiagraha. 

      Que poderia ser melhor, já pensou?  Satiagraha depois das eleições? Que vitória para o país! Só que muita gente teria que se mudar daqui. 

      E é aberto o HD numa estratégia do Ministério Público e Polícia Federal, em que é provocado o juiz de primeira instância: o ministro Joaquim Barbosa [STF] manda expedientes para vários Estados para complementar a diligência e a ação judicial que tramitava no Supremo, em que ele era relator. 

      A rigor, ele deveria concentrar no Supremo, mas, para otimizar o processo, inteligentemente descentraliza a ação junto a juizes de primeiro grau. Aí, conseguimos provocar a Justiça, e tinha doleiros ali que tinham relação com o Opportunity já no caso Banestado, lá atrás, desde 1997. 

      E conseguimos uma decisão judicial para que a juíza deslacrasse o HD e permitisse que a Polícia Federal verificasse se tinha algum dado que importasse em crime financeiro envolvendo pessoas do mensalão.

      Encontramos um volume de dados muito grande e a juíza deu um prazo exíguo para exame, e nós, em trinta dias, identificamos que não tinha, a princípio, nenhum mensaleiro ali, mas um volume de dados que dava conta de uma série de indícios de crime financeiro e lavagem de dinheiro envolvendo muita gente, pessoas físicas e jurídicas.

      RENATO POMPEU – A impressão é que o senhor esteve o tempo inteiro investigando o mesmo polvo, cada hora pegando um tentáculo, e um dia vai chegar na cabeça.

      Raciocínio perfeito. Sempre cheguei na cabeça, só não deu pra pegar. Tem a dívida externa, que é a coisa mais nojenta que já vi. Aquilo tinha que ser batido e rebatido, sabe? E quem participou está hoje aí. Foi presidente.

      FERNANDO LAVIERI – Conta.

      PALMÉRIO DÓRIA – Você está falando do Fernando Henrique Cardoso?

      Fernando Henrique Cardoso.

      PALMÉRIO DÓRIA – Você está falando do Paribas, de como o presidente manipulou e ganhou com isso?

      Exatamente. Nossa dívida externa é artificial e eu provei isso na investigação. Houve repulsa minha porque quando era estudante empunhei muita bandeira “Fora FMI”, “Nós não devemos isso”.

      MYLTON SEVERIANO – “A dívida já está paga”.

      “A dívida já está paga”. E foi muito jato d’água, muita cacetada, muito gás lacrimogêneo, “bando de doido, tem que tomar porrada, pau nesses garotos”. Você cresce achando que era um idiota, não é? Chega um momento que pensa “a dívida foi criada no regime militar, mas a gente precisa pagar”.

      FERNANDO LAVIERI – Como você provou isso?

      PALMÉRIO DÓRIA – O jogo começou a ser jogado no Ministério da Fazenda?

      Sim. Querem essa história?

      TODOS – Sim!

      Vocês não vão dormir direito. Isso é para maiores de 50 anos. 

      Estamos em 2002, me atravessa as mãos o expediente para um banco francês, “esse banco eu conheço, é sério”. E a suspeita que investigo é fraude com títulos públicos brasileiros, negociados no mercado internacional, títulos da dívida externa.   Negociados na década de 1980: o que chama atenção?

      MYLTON SEVERIANO – Fim da ditadura.

      E transição para o regime civil. José Sarney pega o país em frangalhos, devendo até a alma, sem dinheiro para financiar as contas públicas, muito menos honrar compromissos, a famigerada dívida com o FMI. 

      Havia até o “decrete-se a moratória”. Era o papo nosso, da esquerda, dos estudantes, “não vamos pagar, já levaram tudo”. E o Sarney, o que faz? Bota a mão na manivela e nossos títulos da dívida externa valiam, no mercado internacional, no máximo 20% do valor de face, era negociado na bolsa de Nova York. No paralelo valiam 1%.   

      O que significa? Não passa pela bolsa. 

      Comprei, quero me livrar, então 1% do valor de face, título de um país “à beira de uma convulsão social, ninguém sabe o que vai acontecer com aquele país, um conjunto de raças da pior espécie”: essa, a visão primeiro-mundista, o que representávamos para os banqueiros. 

      Escória. E aqui estávamos, discutindo a reconstrução do país. Vamos dialogar, botar os partidos para funcionar, eleições, e o Sarney tendo que dar uma solução. Fecha a manivela e toca a jogar título no mercado de Nova York. 

      Cada título que valia 10%, 15%, mandava dinheiro aqui para dentro. Seis anos depois, o mercado financeiro internacional detectou que no Brasil haveria desordem, até guerra civil, e eles não iam receber o que tinham colocado aqui com a compra dos papéis podres, queriam receber mesmo os 15%. 

      E fazem uma regrinha de três e colocam para o Banco Central: “Você vai instituir uma norma, os títulos da dívida externa brasileira adquiridos no mercado financeiro internacional, no nacional poderão ser convertidos junto ao Banco Central pelo valor de face desde que esse dinheiro seja investido em empresas brasileiras.” Bacana, não? 

      Se funcionasse como ficou estabelecido, nosso país seria uma potência, não? Ainda que uma norma perfeita, acho um critério não normal, não é? Não é moralmente ético eu comprar um título por 15% e ter um lucro de 100%, em tão pouco tempo. 

      Mas enquanto regra de mercado financeiro tenho de admitir que sou devedor. Se vendi a 15%, na bolsa, assumi o risco de, no futuro, o lucro ser maior para o credor. Tenho que pagar. Foi assim que foi feito? Não. Será que o grupo Votorantim recebeu algum dinheiro convertido? Alguma outra empresa nacional do porte recebeu? Não. 

      O que o sistema montou? Uma grande operação em determinado período para sangrar as reservas do país, e ainda tinha as cartas de intenção, que diziam “se você não me pagar posso explorar o subsolo de 50 mil quilômetros da Amazônia”.

      WAGNER NABUCO – Era a fiança?

      Sim. Então me deparo com um banco, o Paribas, hoje BNP-Paribas que se uniu ao National de Paris. Com três diretores, em São Paulo, e dois outros, mais um contador que foi assassinado e um laranja que se chamava Alberto. 

      O banco adquire esses títulos, no valor de 20 milhões de dólares, não é? E converte no Banco Central e aplica em empresas brasileiras, empresas-laranja. 

      Comprou no paralelo a 1%, eram 200 mil dólares, e converteu a 20 milhões de dólares aqui no Brasil e colocou nessa empresa-laranja…

      MYLTON SEVERIANO – Empresa de quê?

      De participações. Chamava-se Alberto Participações, com capital social de 10 mil reais. 

      Já tem coisa errada. Como uma empresa com capital de 10 mil reais pode receber um investimento estrangeiro da ordem de 20 milhões? Cadê o patrimônio da empresa? Como é que o Banco Central aprova? 

      Mando pegar o processo. 

      Ela investiu, vamos ver aonde o dinheiro vai. Converteu os 20 milhões e ao longo de doze meses o dinheiro é sacado mensalmente na boca do caixa em uma conta e convertido no dólar paralelo e enviado para a matriz em Paris. 

      Eu digo “Banco Central, me dá o processo do Paribas”. Aí não consigo, quem consegue é o procurador que trabalhava comigo, Luiz Francisco. Consegue e remete pra mim em São Paulo. 

      Vejo que no Banco Central houve uma briga interna pela conversão. Os técnicos se indignaram, e indeferiram. Ai houve uma gestão forte para que houvesse a conversão. De quem? Do ministro da fazenda. Que era quem?

      MYLTON SEVERIANO – Fernando.

      MARCOS ZIBORDI – Henrique.

      MYLTON SEVERIANO – Cardoso.

      Tento localizar os banqueiros. Todos fugiram. Os franceses todos. O contador, assassinado.  O laranja Alberto morreu de morte natural, assim falam no Líbano, onde ele morreu. 

      E me sobra a sócia dele, uma senhora chamada Célia. 

      Morava na Avenida São Luís. Ah, é? Um foi embora, outro fugiu, outro morreu, outro foi assassinado: querem brincar com a Polícia Federal? Com a dívida externa do Brasil? Descubro essa sem-vergonhice, essa patranha, essa picaretagem de fundo de quintal que acontecia enquanto nós estudantes lutávamos, dizíamos que a dívida externa não existia, e, de fato, parte dela era artificial.

      A coisa é grave, vamos fazer uma continha, nós contribuintes, que cremos que existe uma ordem no país. 

      Títulos que adquiri por 200 mil, converti no Brasil os 20 milhões de dólares, quanto tive de lucro? 19 milhões e 800 mil. Vamos fazer essa continha para vocês dormir direito hoje. 

      Esses 19 milhões mandei para minha matriz, o papel está na minha mão ainda, porque dizia o seguinte a norma do Banco Central: ao converter esse título, invista em empresa brasileira, e ao final de doze anos “Brasil, mostre a sua cara e me pague aqui, você me deve, pois sou credor dessa nota promissória chamada título da dívida externa brasileira”. Está na lei. Bota aí. 

      Soma 20 milhões com 19 milhões e 800 mil: 39 milhões e 800 mil. Nós devemos isso aí?

      E mais, o que pedi? Que o juiz bloqueasse o título do Paribas, não pagasse, indiciei os diretores. Por quê?  Porque estava se aproximando o final dos doze anos, o título estava vencendo e tínhamos que pagar.

      Pedi que o Banco Central enviasse cópia de todos os processos de conversão da dívida externa brasileira pra mim. Estou esperando até hoje. Sabe o que o Banco Central falou? “O departamento não existe, nunca existiu, era feito por uma seção aleatoriamente lá no Banco Central.” Então nós não devemos esse montante de milhões que cobram.

      RENATO POMPEU – Só não entendi o que o Fernando Henrique Cardoso ganhou com isso.

      Calma, calma. Sobrou uma para contar a história. 

      A Célia da Avenida São Luís. A mulher de verdade. Era companheira do Alberto, exembaixador do Brasil no Líbano. Quando estourou a guerra ele fugiu e viveu na França, estudando na Sorbonne. Quem ele conhece lá?

      MYLTON SEVERIANO – Fernandinho.

       Colegas de faculdade.

       A Célia, marquei depoimento numa quinta, véspera de feriado, às seis da tarde na superintendência da Polícia Federal. 

      Uma morena bonita, quase 60 anos, me disse que tinha sido miss, modelo, era sócia nessa empresa, tinha tipo 1%. 

      Furiosa, “que absurdo, véspera de feriado, perder meus negócios, engarrafamento”. Já estava gritando no corredor. Dei um molho de uns trinta minutos até ela se acalmar. Pensei “essa mulher está furiosa e tem culpa no cartório”. 

      Falei “obrigado por ter vindo”, e ela “obrigado nada, o senhor é indelicado, desumano, sou dona de uma indústria de sorvetes, e me chama numa hora importante porque tenho que distribuir sorvete, é feriado, o senhor não tem coração”. 

      No meio da esculhambação, digo “tenho que cumprir meu dever, sou funcionário público”, e ela “aposto que é o caso daquele Paribas, não sei por que ficam me chamando, e tem mais,fui companheira do Alberto, e ele foi muito mais brasileiro que muita gente. 

      Era digno, honesto, ficam manchando a alma dele.  Eu ajudei ele até o fim da vida, inclusive sustentei parte da família dele”. 

      Percebi que não sabia a verdade, ela disse “ele morreu pobre, ficou esperando a conversão dessa dívida que nunca houve”. 

      Detalhe: na quebra de sigilo bancário encontrei um cheque do Alberto que ele recebeu, 64 milhões, na boca do caixa do banco Safra. E ele transfere as cotas para uma empresa criada pelo Paribas em nome dos diretores.

      MYLTON SEVERIANO – No Brasil?

      Já é um Paribas do Brasil. Transfere para a subsidiária, e os diretores começam a sacar. O primeiro que recebe é ele, valor equivalente a 5%. 

      E ela disse “ele não recebeu a comissão dele que era de 5%”. Bateu! Tranquei o gabinete, falei “vou mostrar um documento, mas se disser que mostrei, prendo a senhora”, era a cópia do cheque, com assinatura e data. 

      A mulher começou a chorar. “Desgraçado. Que o inferno o acolha!” Ela disse “tenho muito documento na minha casa”. 

      Se fizesse pedido de busca e apreensão chamaria atenção da Justiça, teria um indeferimento. Essa investigação estava sendo arrastada. Fiz uma busca e apreensão ao inverso, “a senhora permite que selecione o que quero?”, ela disse “perfeito”.  Naquela véspera de feriado, peguei dois agentes, contrariando colegas que queriam ir embora…

      MYLTON SEVERIANO – Qual o ano?

      2002. Saímos de lá de madrugada, era um apartamento antigo, magnífico. Ela chorando, “desgraçado, até comida na boca eu dei”. Ela me dá uma agenda, “aqui parecia o Banco Central, eu atendia o doutor Alberto, da área internacional”. 

      Encontrei documentos, agendas que vinculavam ele ao Armínio Fraga, ao Fernando Henrique, inclusive uma carta manuscrita, não vou falar de quem, depois confirmada, ela falou “levei esse presente, pessoalmente, até a casa do Fernando”. Mandei documentos para perícia. Na época era eleição do Fernando Henrique.

      RENATO POMPEU – Não, do Lula.

      Isso. Lula venceu contra Serra. Fernando Henrique era presidente.

      RENATO POMPEU – Ele recebeu dinheiro então?

      Vamos pegar a linha do tempo. 

      Ele sai de ministro da Fazenda e vira presidente. O gerente da área internacional que dá o parecer no processo, quem era? Armínio Fraga. Que presidiu o Banco Central.  

      Essa investigação não sei que fim deu. 

      Pedi ao Banco Central o bloqueio de todos os títulos da dívida externa brasileira que foram convertidos. E pedi cópia de todos os processos de conversão junto ao Banco Central para investigação.

      RENATO POMPEU – Saiu na mídia?

      Em parte, mas foi abafado. Quem conseguiu publicar foi, se não me engano, a Época.

      PALMÉRIO DÓRIA – Citando Fernando Henrique?

      Não, não citou. A reportagem era “Fraude à francesa”. Essa investigação surge da denúncia de um advogado, Marcos Davi de Figueiredo. 

      Ele sofre uma pressão implacável dentro do banco. A Célia passa a ser ameaçada, logo que presta depoimento entregando tudo. Inclusive os escritórios que deram suporte a essa operação, um do Pinheiro Neto, e ela diz que sofria ameaça do próprio Pinheiro Neto. 

      O procurador foi o doutor Kleber Uemura.

      MARCOS ZIBORDI – É a última notícia?

      Sim. Parece que ele tinha conseguido a quebra de sigilo bancário. 

      Depois o dinheiro saiu no mercado paralelo e entraram grandes empresas com esquemas de saída de dinheiro. 
      Tinha a Cotia Trading, que tinha uma coisa com a Volkswagen. Entra gente muito poderosa no esquema. Pedi a quebra de sigilo de todas as pessoas que participaram da fraude. 

      E o Kleber conseguiu, aí não acompanhei mais. 

      O Tribunal Federal deu a decisão de que era para não ter quebra de sigilo, era a juíza, salvo engano, Sylvia Steiner. Dá decisão favorável ao banco.  Meses depois é nomeada juíza do Tribunal Penal Internacional pelo…

      RENATO POMPEU – …excelentíssimo presidente da República.

      MYLTON SEVERIANO – Que história, hein?

      PALMÉRIO DÓRIA -Vamos para a Satiagraha?

      Quer chegar lá? É muita picaretagem. E feito por uma minoria e estão aí de braço dado. Se você bater de frente é uma força desigual. É quebrada uma conta estratégica. Vislumbramos indício de crimes financeiros. A juíza tinha que determinar a abertura de nova investigação.

      MARCOS ZIBORDI – Esse pedido não é feito pelo senhor.

      Exatamente: polícia chamava atenção. Então, Ministério Público. Passamos a analisar aquele HD. 

      Começam a se estruturar dois grupos de trabalho, um em torno do delegado Elzio Vicente. Começo a sobrecarregá-lo com demandas, ele não suporta, investigar o Daniel Dantas é coisa pesada. 

      E ele se apresenta para o senhor Paulo e diz “não estou conseguindo acompanhar o Queiroz”.Fico só com a investigação, com uma condição, que o doutor Paulo ficasse até o final do governo Lula. Digo: “Por uma razão: se o senhor não ficar, essa investigação para.” 

      Ele disse “tenho compromisso com o presidente de permanecer”. Eu disse “essa investigação para no dia seguinte que o senhor sair”. 

      É complexa a capilaridade que o Daniel Dantas tem ao longo desses 20 anos, desde o Fernando Henrique. 

      Só para terem noção, ele tem uma empresa de exploração de mineração, MG4, que tem mil concessões de exploração de solo urbano. 

      É necessário você ter uma força muito grande dentro do governo.  Eles já estavam ofertando a empresa lá fora, no Oriente Médio. O intermediário era o Naji Nahas. Isso significa vender nosso país in natura.  

      “No STJ estava tranquilo. Estruturamos a segunda prisão. Mas não pensávamos que o STF iria contrariar a opinião pública, todas as regras jurídicas, todas as processuais.”

      FERNANDO LAVIERI – Não basta poder financeiro, tem que ter poder político.

      Exatamente. Ele tem muita gente na mão. E prenuncia, a todo tempo, que se acontecer qualquer coisa com ele, ele fala. Uma pessoa falou: “Protógenes, se o Daniel Dantas falar, eu prefiro que ele fique preso.”

      PALMÉRIO DÓRIA – Houve um momento em que ele disse “vou falar”?

      Ele disse que ia falar quando da segunda prisão. Tinha certeza que iria ser solto.

      WAGNER NABUCO – Você imaginava que seria solto?

      Sim, mas não tão rápido.

      PALMÉRIO DÓRIA – Até porque tinha gravado que “lá em cima” ele resolvia.

      Exatamente. No STJ estava tranquilo. Estruturamos a segunda prisão. Mas não pensávamos que o STF iria contrariar toda a opinião pública, todas as regras jurídicas, todas as normas processuais.

      MYLTON SEVERIANO – Vocês não esperavam que ele pudesse ter tanta força política?

      Não. E é um poder sem precedentes. Foram sucessivos atos que dão conta de que ele é uma pessoa muito poderosa e que esse poder viria com uma velocidade e uma força que se moveria contra quem quer se opusesse a esse grupo.

      PALMÉRIO DÓRIA – Não era marolinha, era tsunami.

      Tsunami. E era o poder de um grupo. Ele representa um grupo, interesses, determinado segmento bem solidificado durante a redemocratização, que construiu um poder criminoso.  

      Seria o PC [Paulo César Farias, homem forte de Fernando Collor] que deu certo.

      WAGNER NABUCO – Na segunda prisão você disse que ele abriria o jogo.

      Estávamos indo na viatura. Ele me fala olhando com respeito. Muita frieza. Ele é frio. No início a mídia foi avassaladora contra, com velocidade, peso nas manchetes. 

      Eu tinha falado “o senhor tem a grande mídia nas mãos, porque financia; agora, não use contra esse trabalho, nem contra mim, porque um dia pode se voltar contra o senhor. A grande mídia pode fomentar mentira por alguns dias, mas uma hora a opinião pública fica saturada. Isso um dia para”.

      Ele pergunta se tenho prova e digo “sim, está na investigação”. Ele: “O senhor está enganado, eu não financio.” Com frieza, calma. Na segunda prisão peguei os periódicos e coloquei em cima da mesa. Tinha um jornal, ou revista, que publicou matéria contra ele e coloquei no meio. Ele entrou, olhou a mesa de jornais. Quando identificou aquela lá, pergunta: “Quem é que fabricou isso aqui?” Aí ele confessou. Deu certo a estratégia. Mas não vou dizer quem fez a matéria.

      PALMÉRIO DÓRIA – A política chegou a ponto tal, de repente você votou no Lula, e batendo boca com o governo.

      Não só votei no Lula como ajudei na construção do partido dele no Rio.

      PALMÉRIO DÓRIA – De repente ele batendo boca com você.

      O primeiro sentimento foi o de servidor público, teria que cumprir uma ordem presidencial.  E me otimizei para concluir a investigação, e consegui a primeira parte. Diz respeito ao crime de corrupção ativa, e de gestão fraudulenta, salvo engano por corrupção ativa que vai ser condenado.

      MYLTON SEVERIANO – Mas não ficou para a opinião pública que você foi afastado?

      Esse é o meu sentimento como servidor público. 

      Ele pediu que entregasse o relatório de forma pública. E externei meu sentimento como cidadão. 

      Se vocês pararem nas minhas primeiras declarações, quando entrego o relatório, lembro como cidadão dos meus primeiros passos na democracia, lembrar de quando estava na Diretas-Já, tava no palanque desde Fernando Henrique até o presidente Lula, com Brizola, Ulysses Guimarães. O saudoso Tancredo Neves fez falta e ainda faz. E eu tô lá. Todo o mundo ovacionado, aqueles discursos, e o que mais me chamou atenção foi o Sobral Pinto – que leva o nome na minha turma de Direito -, o discurso dele se resume a uma frase: “No Brasil, o que mais temos que respeitar é o artigo 1o da Constituição Federal do Brasil: Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.” Acabou. 

      Então, externei, como cidadão, que o poder vinha do povo. E eu tava obedecendo ao presidente, mas originariamente ao povo, que estava esperando minha conduta.

      WAGNER NABUCO – Você conhece o Lula?

      Eu o cumprimentei uma vez, no gabinete, num evento. 

      Tive impressão de pessoa honesta, correta, origem humilde, e externa esse sentimento, chegou como chefe de uma importante nação com apoio popular.  

      Mas durante a gestão, a grande dificuldade seria, nós estranhamos, em determinadas composições políticas, posturas, mesmo companheiros que traíram aqueles propósitos originais da causa operária, da causa social, de apoio aos movimentos sociais, de retribuição de todo aquele conhecimento que tinha do passado, de aplicar isso no presente.

      PALMÉRIO DÓRIA – Engraçado, muitos desses companheiros são homens do Dantas hoje.

      Não diria homens do Dantas.

      PALMÉRIO DÓRIA – Do poder, e próximos dele.

      Homens do poder, e não só do Dantas. Daniel Dantas representa um poder ainda invisível.  

      É visível à medida que começamos a aprofundar a investigação. Ou até num debate público, ai as pessoas começam a se revelar. Marx dizia “os quadros da sociedade começam a se revelar através de um processo público em que as pessoas se posicionam”. 

      Alguns com um ideai, outros com outro ideal. Às vezes me dizem “estão criticando a Satiagraha, a verdade é que foi um sucesso, pautou-se pela lei, pelas regras do direito penal brasileiro, pela Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro Brasileiro. Tanto que vamos ter uma condenação em breve. Significa que o resultado das investigações foi legal.

      PALMÉRIO DÓRIA – A gente vê tentativas pra desautorizar. A Veja inventou o grampo telefônico sem áudio. A outra é você ter apelado para a Abin.

      Por que o auxílio da Abin? Eu estava fragilizado em recursos humanos, com uma operação gigantesca dessa precisaria uns 50 policiais. Me deixaram com cinco. Sobraram quatro até deflagrar a operação. 

      Pensei que fosse uma situação de transição de um diretor para outro, depois percebi que não, era uma orquestração para me tirar todo suporte, para paralisar a operação. 

      Você quer aniquilar o inimigo, acabe com seu suprimento, até pão com manteiga.  Falei “tenho que ultrapassar esse obstáculo”. Recorri ao sistema ao qual pertenço, Sistema Brasileiro de Inteligência.

      MYLTON SEVERIANO – Achou um flanco legal.

      Sim. Tá em lei. Aqui [tira da bolsa a lei 9.883/99, para ler o parágrafo 2o do decreto 4.366/02, que a regulamenta]. Eles fazem a polêmica e não falam da lei. Não mostram à população. 

      Numa simples leitura você entende:  “O Sistema Brasileiro de Inteligência é responsável pelo processo de obtenção e análise de dados e informações, e pela produção e difusão de conhecimento necessário do processo decisório do Poder Executivo e em especial no tocante à segurança da sociedade e do Estado, bem como à salvaguarda de assuntos sigilosos do interesse nacional.”  

      A Operação Satiagraha está mais para a segurança de Estado que pra sociedade. É para os dois, um misto. O que é o processo de obtenção e análise de informações? Vigilância eletrônica, convencional, ou seja, fotografar, filmar, gravar, investigar. 

      Constituem o Sistema Brasileiro de Inteligência: Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública; Departamento de Polícia Rodoviária Federal; e Coordenação de Inteligência da Polícia Federal. Hoje não é mais Coordenação, é Diretoria. Quem pertence? O Protógenes. 

      Então eu estava autorizado por lei a chamar os colegas da Abin. Além disso, a rotina é trocar informações com outros órgãos, inteligência militar: Marinha, Exército, Aeronáutica; Abin, Receita Federal. Até um simples telefonema – uma rasurada num papel de pão, nós consideramos uma informação.

      BRUNO VERSOLATO – Há uma informação que um emissário ou assistente do Gilmar Mendes [ministro e atual presidente do Supremo Tribunal Federal] jantou com um advogado do Dantas num restaurante japonês em Brasília. Na véspera da decisão do habeas corpus. Houve esse jantar?

      O fato está sendo investigado pelo Ministério Público federal, não posso fornecer informações.

      RENATO POMPEU – Entendi mal ou é possível elaborar uma lista de jornalistas que receberam dinheiro de Daniel Dantas?

      Não diria que receberam, na investigação aparecem alguns. Não preciso mencionar, está nos relatórios.

      RENATO POMPEU – O relatório remete para um anexo. E não tivemos acesso

      Você tem uma rede de jornalistas que abasteciam Daniel Dantas ou faziam manifestação de mídia a favor dele, favoreciam negócios dele no presente, ou até mesmo projetos futuros.

      RENATO POMPEU – Nós podemos ter acesso a esse documento? A lei permite, não?

      Acredito que logo isso vai vir a público.

      Entendo que o Congresso tem que rever isso. Que o Supremo deveria liberar esses dados, ali estão nossos representantes. O povo tem que conhecer, não são dados privados. São públicos, mexeu com recurso público, com nosso dinheiro. 

      Não quero saber justamente dos dados da vida privada da pessoa. Isso tem que ser preservado, a intimidade. Agora, onde tem fraude, temos que conhecer. 

      Acho que vocês da imprensa têm um grande papel. Bater: o dado que tenha fraude, desvio de recurso público, embora captados em investigação sigilosa, temos que reverter, têm que ser de conhecimento público.

      PALMÉRIO DÓRIA – A bancada do Dantas compreende quantos deputados, senadores?

      O termômetro da bancada do Daniel Dantas no Congresso é o comportamento desses parlamentares no caso Satiagraha. É só ir atrás. Era legal vocês da mídia fazerem um placar.  Deputado tal se manifestou. Marca um xis. E na eleição botar elegermos esse povo novamente.

      “Para a cadeia ele VAI. Condenado. Em um primeiro momento. Agora, mantê-lo na cadeia depende de nós.”

      AMANCIO CHIODI – As polícias estaduais reclamam que prendem e os juízes soltam. Na instância federal também é assim?

      Não culpo assim, a polícia prende e a Justiça solta. Às vezes, um acusado é solto por deficiência legislativa. As nossas leis processuais protegem o bandido!

      WAGNER NABUCO – O Dantas pode sair ileso? Ou ir para a cadeia?

      Para a cadeia ele vai. Condenado. Em um primeiro momento. Agora, mantê-lo na cadeia depende de nós. Depende do povo.

      MARCOS ZIBORDI – Não depende do judiciário?

      Não. No judiciário ele sai no dia seguinte.

      MYLTON SEVERIANO – O que você sentiu quando ele saiu livre duas vezes em menos de 48 horas?

      Senti vontade de prendê-lo a terceira vez. Quase que o prendi. 

      Tinha um fato para poder prendê-lo, mas iria criar uma crise. Já tinha manifestação em frente ao Supremo Tribunal Federal, membros dos três poderes um acusando o outro, determinado grupo político querendo criar uma nova situação, um passo atrás.

      FERNANDO LAVIERI – Mas não seria bom uma virada de mesa?

      Não. Eu não sou da teoria de quanto pior melhor. Para mim, quanto pior, pior. Esse quanto pior melhor eu aprendi com 14, 15 anos. Hoje vivemos no século 21: quanto pior, pior.

      Entrevista à revista Caros Amigos

      Digitalização lamps

      Edição/Revisão: Betrunken 

      Portal do Criador

      entrevista

       

  8. Só queria que alguém me

    Só queria que alguém me dissesse porque, depois de deixar a inflação em módicos 89% ao mês, no fim do governo Sarney, Mailson virou símbolo de competência em economia e é, ao lado de Raul Veloso, o eterno queridinho da Globo e do PIG em geral? 

    1. Pela mesma razão que o

      Pela mesma razão que o Armínio “celic a 45%” Fraga virou consultor para assuntos econômicos do Aécio, ou terá sido da Marina? E esta ficou com o André Lara resende? Ou o Lara “haras de manga larga” Resende está com o Aécio?

      Ah, sei lá, a “ordem dos tratores não altera o viaduto”

  9. Uma regressão?

    Não gostei deste formato novo do blog, como não gosto do formato do jornal ggn. Acho que o outro blog era mais transparente, honesto e com um sistema bem mais amigável. Tinha o nome dos comentaristas mais destacados ao lado das suas respectivas fotos do perfil e o número de comentários de cada postagem. Para editar, este sistema é um pouco melhor, mas nada que não pudesse ser resolvido no outro. 

  10. principe da privataria

    Caro Nassif

     

     O Blog tem sempre criticado os métodos da imprensa tradicional fortemente apelidada de PIG pelo blog, mas sinceramente os métodos do Blog sao iguais ou muito parecido com os da imprensa tradicional. Os escandalos sao tirados da prateleira conforme os interresses da hora, este assunto é muito antigo ….. porque agora veio a tona. Acho que o mensalao está mexendo com a cabeça das pessoas. Se o PT nao quis levar a frente e pegar pesado com o assunto, agora fica ressentido com o mensalao.

    1. O post é pertinente, o livro

      O post é pertinente, o livro é pertinente e não tem nada a ver com assassinato de reputação. São denúncias muito bem fundamentedas e documentadas de uma farsa criiminosa que dilapidou o patrimômnio público brasileiro como nunca antes em nome da sede de poder de um grupo de incompetentes e corruptos.

      1. É isso, ruy. Toda e qualquer

        É isso, ruy. Toda e qualquer acusação envolvendo o PSDB e seus próceres é logo descartada porque é tida com contra-ofensiva ao mensalão. Garanto que o comentarista se omitiria se o foco fosse o PT ou Lula;.

    2. PIGs e quetais

      Prezado Heribert

      1. O Blog jamais utilizou a expressão PIG.

      2. As informações acima são da mais alta relevância e as operações estão documentadas no BC.

  11. RSS do Blog e do GGN, cade?

    Nassif, 

    Na migração e ajustes do portal, não esqueça do canal RSS….

    Tanto para o GGN geral quanto para o Blog!

    Poliarquia agradece.

    Saudações

  12. Do face do Paulo Moreira

    Do face do Paulo Moreira Leite. Imperdível !

    Crocodilos derrotados

    Nossos cronistas que tentam impedir que os condenados da Ação Penal 470 tenham direito a uma revisão adequada de suas penas e mesmo uma segunda jurisprudência perderam um argumento depois de ontem. 

    Numa postura autoritária, que confundia seus desejos com a realidade, falavam do monstro, do ronco, do demônio das ruas para justificar a prisão imediata dos condenados. 

    Mas tivemos protestos de participação modesta, que confirmam não só a vergonhosa ignorância da fatia conservadora da elite de nossos meios de comunicação quanto às preocupações reais que afligem a maioria da população, mas também sua total falta de compromisso com a apuração e divulgação de fatos verdadeiros e informações confiáveis. 
    Querem fazer propaganda, querem ideologia – e não é difícil entender a razão. 
    Interessados num eventual proveito político do julgamento, tentam chantagear as instituições da democracia, sem importar-se, sequer, com outros prejuízos de natureza cultural que o estimulo à baderna possa produzir. 
    Como observou Janio de Freitas, pela primeira vez na história as pessoas saíram a rua num 7 de setembro sem “incluir, sequer remotamente, algo da ideia de nacionalidade, ou de soberania, de independência mesmo.” 

    Diz ainda Janio: “pelo visto, não faria diferença se, em vez do Sete de Setembro, a celebração mais próxima fosse o Natal. Ou Finados.”
    Lembrando que somos uma pátria de desiguais, o Grito dos 
    Excluídos disse a que veio. Mas só. 
    Os demais não disseram nada, embora fosse sobre eles que se disse tudo – especialmente, que o STF deveria se acovardar. 
    Há um componente maligno e manipulador nesse esforço para anunciar que um protesto será uma manifestação grandiosa. 

    Procura-se estimular o efeito manada naquele conjunto de cidadãos capazes de sair a rua porque acham que “todo mundo vai estar lá”. Numa sociedade pouco organizada como a nossa, onde os partidos políticos são o que são e as demais organizações sociais são aquilo que se conhece, muitas pessoas sentem-se desenraizadas e sem compromisso social maior. Ficam impressionadas com demonstrações de força. 
    Tenta-se contaminar nestes indivíduos um sentimento de solidão e isolamento caso não acompanhem os atos daqueles que se quer transformar numa “maioria” que ninguém ouviu nem diz onde mora nem sabe o que pensa – e muitas vezes nem pode ver o rosto, o que não é casual. 

    A leitura de Hanna Arendt, uma das mais fecundas estudiosas do nascimento de movimentos totalitários que levaram às piores ditaduras do século passado, permite interessantes comparações com aquilo que se diz e se faz no Brasil de hoje. Não tudo, mas boa parte, pelo menos. 

    Hanna Arendt explicou que os movimentos contra uma democracia ainda em gestação na Europa entre as duas Guerras precisaram de “uma grande massa desorganizada e desestruturada de indivíduos furiosos, que nada tinham em comum exceto a vaga noção de que as esperanças partidárias eram vãs; que, consequentemente, os mais respeitados, eloquentes e representativos membros da comunidade eram uns néscios e que as autoridades constituídas eram não apenas perniciosas, mas também obscuras e desonestas.” (“Origens do totalitarismo”, página 444). 

    É claro que, diante do fiasco comprovado de ontem, ninguém irá admitir que nunca houve uma relação direta nem clara entre a ação 470 e os protestos de junho. 
    Havia, há dois meses, quem protestasse contra os condenados. Era muita gente, sem dúvida. Mas havia uma raiva mais ampla e generalizada, que envolvia o sistema político, a saúde pública e, como causa inicial, não vamos esquecer, o transporte público. 

    Reconhecer isso hoje seria aceitar que se fez uma descrição política interesseira, que pretende dar ao povo um tratamento de ralé, estimulando, acima de tudo, a busca de um líder autoritário – para empregar, mais uma vez, a análise de Hanna Arendt. 

    Para ela, povo é aquele movimento social articulado a partir de interesses concretos e definidos, inclusive de classe social, que reage para defender seus direitos quando são atacados – e por isso ela identifica povo com a democracia. 
    Já a ralé, no sentido político, é formada por uma massa de cidadãos de várias classes, alimentados por uma “ amargura egocêntrica” que produz uma forma de “nacional tribal” e também o “niilismo rebelde.”

    Analisando a estratégia de um dos mais cruéis líderes de um movimento em si monstruoso como o nazismo, Arendt fala que Himmler procurava recrutar integrantes das SS entre cidadãos que não estavam interessados em “problemas do dia a dia” mas somente em questões ideológicas de quem acredita trabalhar “numa grande tarefa que só aparece uma vez a cada dois mil anos.” 

    Vejam algumas semelhanças entre as coisas. 
    No livro “ A Cozinha Venenosa, “ no qual estuda a emergência do nazismo a partir da história de um jornal socialdemocrata de Munique, a jornalista Silvia Bittencourt lembra uma frase do hino da SS: “a Alemanha desperta.” 

    Descrevendo a “atomização social e a individualização extrema”, Hanna Arendt fala de massas que, “num primeiro desamparo de sua existência, tenderam para um nacionalismo especialmente violento.” 

    Avaliando o comportamento dos partidos que tinham uma postura de cumplicidade nos ataques a democracia, diz que agiam assim “por motivos puramente demagógicos, contra seus próprios instintos e finalidades.” 

    Na verdade, a falta de disposição espontânea para transformar o 7 de setembro numa jornada de confronto político real, como ocorreu em junho, não era tão difícil assim de ser percebida. 

    Em 4 de setembro registrei neste espaço minhas dúvidas sobre o tão falado monstro e seu “ronco”, como dizem os adoradores de todo movimento capaz de ser usado para causar prejuízos ao condomínio Lula-Dilma. 

    Falando dos crocodilos que rondam o Supremo, escrevi: 

    “Tenho certeza absoluta de que muitos brasileiros querem a prisão dos condenados pela ação penal 470. São sinceros e estão convencidos de seus motivos. Acho que o massacre dos meios de comunicação, tendenciosos, tem muito a ver com isso.
    Não custa lembrar, contudo, que o Brasil não se resume a essas pessoas. Todos os deputados indiciados na ação penal 470 e que disputaram cargos eleitos em 2010 tiveram boa votação. Em 2012 a lei ficha limpa tirou João Paulo Cunha do pleito em Osasco. Senão, teria sido eleito prefeito. Não pode concorrer e emplacou um substituto no posto. Dirceu só não foi eleito em 2010 porque perdeu os direitos políticos no Congresso.
    (…)
    O “povo”, “a rua”, “o monstro” compareceu em massa às urnas em 2006, 2010, 2012. Em nenhuma dessas ocasiões a ação penal 470 derrotou qualquer candidato a presidente, a governador, a prefeito. Ocorreram derrotas e vitórias espetaculares. Sei da opinião de quem vai aos protestos. Mas basta andar pela rua e perguntar a opinião da população sobre Dilma. Ou sobre Lula.” 

    Seria ilusório no entanto, esperar por um balanço politicamente honesto deste 7 de setembro. Ninguém irá aplicar o mesmo critério e reconhecer que a população não está com tanta pressa assim –– e dar uma folga na chantagem sobre o Supremo, deixando que, nos últimos dias, seja capaz de encarar os fatos e reconhecer que tem o dever de abrir o debate para a discussão dos embargos infringentes, uma possibilidade de assegurar a pelo menos uma parcela dos réus o direito de uma revisão de suas penas. 

    As “ruas “ e o “monstro” eram apenas pretextos convenientes para justificar uma postura autoritária para mobilizar a população, de qualquer maneira, para exigir punições exemplares. Não deu certo e agora se mudará de assunto para perseguir o mesmo alvo, que é criminalizar as mudanças ocorridas no país nas últimas décadas. Como se faz sempre, a retórica consiste em transformar o bom em regular em ruim, o ruim em péssimo – e dizer que tudo o que há de ótimo saiu da cartola da oposição, enxotada do Planalto com uma popularidade negativa de 13 pontos. 

    A transmissão ao vivo do julgamento, ainda no ano passado, destinava-se a transformar uma decisão que deveria ser tomada num ambiente de serenidade e recolhimento num espetáculo público com várias demonstrações de autoritarismo e intolerância. 
    Tivemos um ministro relator que jamais foi um juiz, mas um aliado da acusação e, em vez de ser questionado a respeito, foi aplaudido exatamente por isso. 

    Este comportamento permitiu várias distorções e abusos. No último exemplo, o ministro Ricardo Lewandovski demonstrou, com dados irrefutáveis, o agravamento artificial das penas com a finalidade de impedir que, apesar das denúncias injustas, da falta de provas, da fraqueza de tantas acusações, os réus pudessem beneficiar-se de um direito universal – a prescrição de penas depois de determinado prazo de investigação. 

    Estimulando atitudes de quem se coloca acima da lei, improvisa soluções sob encomenda a seus interesses, o que se quer é outra coisa. 
    Convencer o “niilismo rebelde” e o “nacionalismo tribal” que é possível desrespeitar a democracia pois ninguém será capaz de reagir. Estamos sendo submetidos a um teste. 
    Através do ataque aos direitos de 25 condenados, pretende-se atingir os direitos do povo inteiro É um plano para um prazo mais longo, amplo e profundo.

    Se, em outubro de 2014, Dilma Rousseff e Lula confirmarem o dizem as pesquisas eleitorais de hoje, cravando uma quarta vitória eleitoral consecutiva sobre a “ a amargura egocêntrica” das elites, nós poderemos saber exatamente o que estava em jogo no espantalho do monstro de 7 de setembro — obter, fora das urnas, fora do respeito devido às instituições democráticas, vitórias que só a soberania popular pode assegurar.

  13. Uma dívida com os soldados da borracha

    Desculpem pelo local inapropriado, mas não estou conseguindo acessar o “Fora de Pauta”, mas por ser um assunto importante, vou postar aqui.

    Existe na Amazônia um contingente de cerca de 12 mil homens que estiveram presentes no esforço de guerra da Segunda Guerra Mundial e que, da mesma forma como foram aqui jogados, permanecem até hoje. Eles tinham uma escolha à época: ou iam para o Exército lutar ou iam para a Amazônia extrair látex para atender a demanda aliada por borracha.

    Na atualidade, todos são octagenários ou mais e, em sua maioria, passam por dificuldades.

    Eles precisam de todo o apoio possível para que a Emenda Constitucional (PEC dos Soldados da Borracha) seja aprovada no dia 18, data marcada para ir a votação em plenário.

    A história deles é uma história de luta e superação, sendo que a maioria morreu à época mesmo, com os demais tendo sofrido as agruras do “inferno verde”, além, é claro, do trabalho escravo ou semi. O país tem uma dívida para com estes guerreiros. Ademais, houve o envio dos recursos para indenizá-los por parte dos EUA, mas devidamente desviados pelo Governo Federal.

    Pedimos a todos que puderem que assinem e divulguem por todos os meios possíveis a petição eletrônica.

    http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2013N42654

    E aqui a matéria em um site do Acre:

    http://www.ac24horas.com/2013/09/08/sindicato-lanca-abaixo-assinado-digital-pedindo-aprovacao-da-pec-dos-soldados-da-borracha/

  14. NAssif:
     
    Precisamos de ajuda

    NAssif:

     

    Precisamos de ajuda para pagar uma dívida que a nação e o mundo livre tem para com os soldados da borracha, um contingente de homens que lutaram em outro front durante a Segunda Guerra Mundial. Em sua maioria nordestinos, foram enviados para a Amazônia para manter os equipamentos Aliados em funcionamento, dado que a invasão da Malásia cortou o acesso a produção de borracha asiática.

    Assim, milhares de homens foram enviados para serem escravos ou semi-escravos, em locais totalmente isolados. A maioria morreu naqueles tempos mesmo, sendo que na atualidade são cerca de 12 mil sobreviventes, todos octágenários (ou enea). O Brasil recebeu repasses para a indenização deles e para garantir o retorno aos seus locais de origem, mas foram esquecidos nas selvas.

    Agora, uma PEC está para ser votada, permitindo a estes sobreviventes uma melhora em seus rendimentos. Precisamos de apoio de todos para que a justiça seja feita. Assim todos os que puderem e apoiarem nesta causa louvável, pedimos que assinem a petição eletrônica aqui:

    http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2013N42654

    Uma matéria sobre o tema aqui:

    http://www.ac24horas.com/2013/09/08/sindicato-lanca-abaixo-assinado-digital-pedindo-aprovacao-da-pec-dos-soldados-da-borracha/

    Um vídeo sobre o tema: 

    http://www.youtube.com/watch?v=Lw4uK5bienI

    Uma (ínfima) informação na Wikipédia:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Soldados_da_Borracha

    NO FB

    https://www.facebook.com/SoldadosDaBorracha

  15. É realmente estarrecedor como

    É realmente estarrecedor como aparecem novos fatos sobre a bandalheira tucana e nada abala nossas fontes de informações parciais e manipuladas. A Corte Tucana continua impávida e colossal, deitada em berço esplêndido sem se abalar com o que circula pelos blogs, pois sabem que nada disso vai retumbar nos meios de comunicação que atingem a grande massa.

    Enquanto isso… A culpa é toda desta “corja” que está melhorando o Brasil. Pouco a pouco as máscaras estão caindo. Já tem até jornal de inverdades falando em “erro histórico”…

  16. Sim, o Príncipe da Privataria

    Sim, o Príncipe da Privataria veio à tona. Assim como a Privataria Tucana. 

    Ambos boiaram por alguns segundos sobre a superfície e afundaram no abissal silêncio das profundas.

    E eu aqui, com essa vã indignação parnasiana.

    Adianta? Adianta p*  nenhuma!

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador