O executivo da década

Coluna Econômica – 19/04/2007

Os anos 90, no Brasil, marcaram o início da era dos grandes executivos profissionais, os CEOs, assumindo a presidência executiva de companhias e prestando contas ao conselho de administração — onde passaram a se encastelar os controladores, em muitos casos grupos familiares.

Dentre todos os executivos dos anos 90, o mais brilhante foi Maurício Botelho, ex-executivo do grupo Odebrecht, que passou pelo grupo Bozzano Simonsen e, com a privatização, assumiu a presidência da Embraer.

No próximo dia 22, ao se aposentar da empresa, Botelho deixa o legado de tê-la transformado em uma das três maiores companhias aéreas do planeta, começando a competir, agora, nos terreno das gigantes Boeing e Airbus,

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A Embraer surgiu de um trabalho sistemático de pioneiros que nos anos 40 criaram um Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA), depois o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e, no final dos anos 60, a Embraer.

A empresa logrou alguns feitos, como o avião Brasília, que lhe permitiu conquistar os primeiros contratos internacionais, no rastro do crescimento da aviação regional.

Depois, acabou esbarrando em problemas de gestão, em falta de atenção ao mercado e, a partir de meados dos anos 80, na crise fiscal do estado brasileiro.

Com a privatização, há doze anos, quando Botelho assumiu a presidência da companhia, ela estava proibida de contratar funcionários ou de conceder aumentos salariais.

O último projeto foi um turbo-hélice mais cômodo que o da concorrência, que voava mais alto, suportava mais carga. Mas custava 50% mais caro, um período em que os turbo-hélices começavam a sair de linha. Não vendeu um avião sequer e marcou a decadência que acompanharia a empresa até a privatização.

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Botelho assumiu com cinco prioridades. A mais crucial era trazer contratos com os modelos antigos. A segunda foi equacionar a questão financeira. A empresa tinha SU$ 250 milhões anuais em receita, US$ 350 mi em despesas e um endividamento de US$ 450 mi. A terceira, reconstruir a relação com os funcionários, de ressaca com o longo período de desesperanças. A quarta, dar toda atenção ao Projeto Redenção, de construção da família ERJ, a grande aposta da empresa. Finalmente, adequar custos às receitas.

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Botelho assumiu o cargo levando apenas três executivos de fora: o financeiro, o de planejamento estratégico e o de estrutura organizacional. A empresa tinha 6.200 funcionários. No ponto mínimo, chegou a ter 3.400. Hoje, tem mais de 20 mil funcionários espalhados pelo mundo inteiro.

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Reorganizada a empresa começou a disputar o mercado internacional. E, ali, o Brasil conheceu a sua primeira guerra mundial da globalização, o embate entre a Embraer e a canadense Bombardier. Foi uma luta hercúlea, em que os adversários se prevaleciam de regras acertadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio, em um período em que a diplomacia brasileira sequer podiam avaliar os desdobramentos.

A vitória da Embraer marcou a maioridade brasileira nos fóruns internacionais, mostrou a capacidade do país em planejar o longo prazo – ainda que restrita a poucas companhias.

Para incluir na lista Coluna Econômica*

Luis Nassif

16 Comentários

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  1. Xikito, os investimentos
    Xikito, os investimentos foram em capacitação. Mas a empresa estava em frangalhos na época. É só conversar com o pessoal da época.

  2. Paulo, foi depois do caso
    Paulo, foi depois do caso Embraer que o país abriu vários painéis na OMC contra subsídios dos EUA e outros países, inclusive do Canadá com a Bombardier,e saiu vitorioso. Até então, nem se sabia o que era brigar na OMC.

  3. Se é assim como está
    Se é assim como está posto,devemos saber mais sobre o
    Botelho e usar seu exemplo.
    Estamos carentes de vitórias.Ele
    não deveria se aposentar e muito
    menos morrer ,como foi o caso do
    exemplar Sr. Salvador Arena da TM.
    O que fazer ,se o tempo é um
    carrasco ?

  4. Acredito que um dos
    Acredito que um dos principais legados de Maurício Novis Botelho à nação é a consolidação da “marca” Embraer como representação da capacidade de realização do povo brasileiro – a meu juízo mais representativa do que a própria Petrobrás. Sem ela, certamente este reconhecimento seria significativamente menor, principalmente no exterior.

  5. Nassif,

    O Caso do Botelho
    Nassif,

    O Caso do Botelho foi histórico para o capitalismo Brasileiro. A Embraer é aquele tipo de empresa que floresceu por aqui, julgo eu, por milagre. Conhecendo a cabeça – e o discurso – de vários economistas “pensadores”, ela é quase uma anomaila. Estaríamos, como sociedade, jogando dinheiro fora num mercado onde, invarialvelmente, seríamos vencidos, pela falta de conhecimento técnico e de capitais, já que aviação é uma indústria para países “desenvolvidos”. Nossa vocação, para esta gente, é de transformar o país numa grande fazenda, deixando serviços e indústria para quem fizer mais barato. Bem, mudando de assunto, gostaria de lembrar que, se temos o Botelho num lado, temos o caso da Tam noutro. A Força criadora que impulsionava o Rolim foi jogada fora por uma “gestão profissional” que tomou conta da Cia, focada em custos e econômia de escala. Segundo o Schumpeter, esse tipo de gestor, por não se identificar com a empresa, acabaria por aniquila-la, negando-lhe a continuação da inovação e conhecimento do negócio, próprio de quem começou a empresa. Seria o fim dessa “força criadora”, estimuladora do bom capitalismo ?
    Eu vejo que o Botelho, independente da competência como executivo, soube entender a vocação da embraer, motivo de orgulho de todo um país mais ignorada, numa época onde um economista “bem” relacionado e alguns “colaboradores” equacionavam mais resultados que muitas organizações.
    Sem essa premissa, acredito, ele teria fracassado e hoje a embraer seria umd epósito de material de construção, ou algo parecido.

    Abraços….

    Renê

  6. Ainda sobre a indicação do
    Ainda sobre a indicação do eminente técnico Luciano Coutinho,para a Pres.do BNDES:Aos poucos o governo LULA,entra nos eixos,pois percebe-se que independente de colorações políticas partidárias,ele está montando o seu staff,com os melhores quadros da nossa “inteligentsia” Acolocação deste economista moderno no bndes,reafirma este rumo que está sendo seguido,assim como ocorreu na chamada do Miguel Jorge(quer gostem ou não)um dos melhores articulistas e negociadores deste país,para suceder o saudoso Furlan,foi outra tacada certa.Basta agora aprovar o PAC;Corrigir os passos da diretoria do BC;Falar a mesma língua com os ministros,que dentro em breve,seremos um país com rumos e destinos definidos.

  7. Como se pode ver….o nosso
    Como se pode ver….o nosso país consegue caminhar adiante….mesmo q seja devagar…contando com gente séria e competente pelo caminho…
    Parabéns a Botelho(Embraer)e ao nosso ilustre jornalista Luis Nassif.

  8. Concordo com tudo que o
    Concordo com tudo que o competente articulista colocou, mas acho que a matéria ficaria melhor se mencionasse o pioneirismo do Coronel Osíres Silva, outro grande empreendedor que é um ícone na nossa indústria aeronáutica e na gestão empresarial no país.

  9. AINDA BEM QUE ANTES DELE
    AINDA BEM QUE ANTES DELE “ACONTECERAM” NA VIDA DA EMBRAER OS SRS. OSIRIS SILV A E OMAR FONTANA. ESTE ÚLTIMO POR QUE TEVE O “PEITO” DE ADQUIRIR PARA A TRANSBRASIL OS PRIMEIROS 10 (dez) BANDEIRANTES (EMB-110) [COM CORREÇÃO MONETÁRIA PLENA+JUROS] PARA ALAVANCAR OS PRIMÓRDIOS DA EMPRESA.

  10. A Embraer sempre foi uma
    A Embraer sempre foi uma grande empresa, por isso precisava de um grande administrador, como foi Botelho, que a recuperou.Otima matéria.

  11. Marcos, o “dentro de pouco
    Marcos, o “dentro de pouco tempo”, para os desenvolvedores é igual a “um tirinho de perto” dos mineiros. É imponderável. Mas, no caso, já estamos nos testes finais m-e-s-m-o (espero).

  12. Nassif,
    Vale destacar que
    Nassif,
    Vale destacar que quando a Embraer foi privatizada o projeto do jato ERJ-145, base da recuperação da empresa, já estava em andamento. Devemos também reconhecer a capacidade dos gestores anteriores de identificar um nicho de mercado e iniciar o desenvolvimento de um produto que, nas mãos da equipe do Sr. Maurício Botelho, salvou a empresa.
    Um abraço
    Eduardo

  13. Nassif,

    Quando o Botelho
    Nassif,

    Quando o Botelho assumiu o projeto do ERJ145 existia e já tinha voado, mas não tinha sido certificado. Este projeto foi feito em paralelo ao CBA-123 que voce citou.

    O primeiro projeto da empresa privatizada foi a familia Embraer 170/190.

    Só para nao haver confusao.

    Abraco,

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