O salto para frente da China

A crise levou o governo chinês a dispor de suas reservas para um programa gigantesco de investimentos públicos. Além de segurar a recessão chinesa, poderá acelerar a modernização do país de forma inédita, um autêntico salto de 50 anos em 5.

Confira a análise de Keith Bladsher, do New York Times, publicada no Estadão:

O caminho para o avanço da China

Keith Bradsher *, The New York Times

Num esforço para conter os efeitos domésticos da recessão global, a China está começando a gastar centenas de bilhões de dólares em novas rodovias, ferrovias e outros projetos de infraestrutura.

O plano de estímulo, um dos maiores do mundo, promete levar a modernidade das costas da China às profundezas de seu interior, comprando o tipo de grande salto para frente que os Estados Unidos levaram décadas – e uma guerra mundial – para construir, e qualificando a China para um novo patamar na competição global.

(…) Uma ferrovia de passageiros de US$ 17,6 bilhões cruzando os desertos do noroeste da China, uma rede de ferrovias de carga de US$ 22 bilhões na província de Shanxi no centro-norte da China e uma ferrovia de alta velocidade para passageiros de US$ 24 bilhões de Pequim a Guangzou, no sudeste da China, estão entre os maiores projetos. Mas gastos extras estão sendo programados em praticamente cada cidadezinha, cidade e condado do país.
E, diferentemente dos EUA, a China tem o dinheiro para pagar por isso, com pouco endividamento e déficit minúsculo.
A China gastará US$ 88 bilhões construindo ferrovias intermunicipais, a mais alta prioridade do plano. Ela gastou US$ 44 bilhões no ano passado e US$ 12 bilhões ainda em 2004, disse John Scales, o coordenador de transportes da China do Banco Mundial.
“Acho que nada se compara a isso, exceto, talvez, o crescimento da malha ferroviária americana no início do século 20”, disse Scales.
(…) Agora, Pequim está instigando governos locais e provinciais a darem seguimento a seus projetos porque eles estão, no dizer corrente em Washington, “com as pás preparadas.” Os gastos nacionais, provinciais e locais combinados para o estímulo econômico prometem mudar a face da China, equipando o país com uma infraestrutura de classe mundial para transportar bens e pessoas de maneira rápida, barata e confiável por grandes distâncias.

(…) A China já construiu, em quatro anos, tantos quilômetros de linhas férreas de alta velocidade para passageiros quanto a Europa em duas décadas. Um novo trem-bala de Pequim a Tianjin, inaugurado em meados do ano passado, viaja a 347 quilômetros por hora; a velocidade mais alta dos trens Acela Express da Amtrak no nordeste dos EUA é de 240 quilômetros por hora e só é atingida por curto espaço de tempo.

O governo quase terminou a construção de uma linha férrea de alta velocidade de Pequim a Xangai ao custo de US$ 23 bilhões – quase igual ao preço de todo o projeto da usina hidrelétrica de Três Gargantas no rio Yang-tse-kiang. As autoridades revelaram recentemente que 110 mil homens estavam, trabalhando na linha para terminá-la o mais rápido possível.

Afora o transporte, a maior parte do resto do programa de estímulo nacional da China será gasta em aeroportos, rodovias e projetos ambientais, particularmente em usinas de tratamento de água, disse Feng.

Os planos que agências do governo em Pequim e outros lugares estão traçando são tão vastos que colidiram com a antiga política do governo de manter a autossuficiência na produção de alimentos.

A China exige que toda terra cultivável convertida da agricultura para outros usos seja compensada pelo cultivo de terras em outros lugares. Mas o plano de estímulo pede a construção em quase três vezes a quantidade de terra arável passível de ser colocada em cultivo em ouros lugares neste ano e no próximo. O Ministério do Planejamento e Recursos Terrestres informou, no fim de dezembro, que estava procurando maneiras de tomar terra “emprestada” que supostamente deveria ser colocada em cultivo em 2011 e 2012, e usá-la agora em projetos de estímulo econômico.

Uma segunda questão é a rapidez com que a China será realmente capaz de acelerar seus programas de construção, mesmo existindo dinheiro disponível. “Esta é uma questão chave”, e ninguém tem respostas, disse Feng.

Megaprojetos como os que estão saindo agora das pranchetas requerem grandes quantidades de engenheiros experientes, trabalhadores qualificados e arquitetos, além de equipamentos especiais. Uma forte queda na construção habitacional está começando a jogar grandes números de operários no mercado, mas poucos empregados qualificados.

Luis Nassif

20 Comentários

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  1. A China,como demonstrado na
    A China,como demonstrado na matéria,já vinha realizando grandes investimentos na infraestrutura,com a crise,estes investimentos,impulsionados por uma poupança de 1 trilhão de dólares,dobraram.
    É a saída que a China,assim como o Brasil ,tem para adotar-Investir na infraestrutura para com o aumentos destes gastos e manutenção dos empregos,continuar a crescer e desviar boa parte do que era exportado para o vasto mercado interno.

  2. Enquanto isso, aqui no
    Enquanto isso, aqui no Brasil, a noticia comentada pela Mírian Leitão é que o Meireles pretende usar as Reservas para emprestar às empresas em dificuldades. Se até a Mírian critica, pode-se imaginar o tamanho do absurdo, que é usar dinheiro público para salvar empresas particulares.

    Não é salvar, é dar um by-pass nos bancos para o dinheiro chegar ao tomador final. A visão da Mirian sempre foi fundamentalmente financista, da matriz Tendências Consultoria.

  3. A China está aproveitando a
    A China está aproveitando a dualidade Crise-Oportunidade. Poderá sair lá na frente como a maior economia do planeta, pois ela cresce e os outros encolhem. Enquanto isso, aqui no Brasil, um grupo (empresários, jornalistas, políticos) torcem e agem para que o país seja engolido pela crise internacional. O Brasil pode, como a China, continuar crescendo e melhorar sua posição relativa.

  4. Nassif,

    Os EUA mantiveram um
    Nassif,

    Os EUA mantiveram um crescimento grandioso no séc. XX. A China sempre foi a ´terra prometida´, e agora, começa a mostrar sinais mais fortes de ´fumaça pelo nariz do Grande Dragão´.
    Como vimos, do governo FHC ao Lula, mto se conseguiu em termos de repassar o comando da Nau, na transição entre governos, mas não vejo uma continuidade p/ um próximo mandato a não ser q seja de algum(a) herdeiro(a) deste governo.
    Conheço um documento do Minist. da Agricultura, de 2007/ 2008, q faz suas previsões p/ até 2016, embora ele esteja defasado, após esta crise…

    Não é hora do tão falado Plano Nacional Supra Partidário??
    Quais os movimentos p/ q se chegue a este?
    Aguardo post seu!
    Grato pelo espaço,

  5. A Miriam também falou na CBN
    A Miriam também falou na CBN hoje que o BC granjeou as reservas a um preço altíssimo [ correto, concordo ].

    Pergunta.

    Com a depreciação do Real frente ao Dólar isto não acabou de ser um bom negócio ?

    Dependendo é logico da taxa de captação paga pelo Tesouro.

  6. Dentro das nossas
    Dentro das nossas potencialidades,estamos fazendo no Brasil,em proporções infinitamente menores é claro(afinal não temos tantos recursos disponíveis como os chineses)com o PAC,a mesma coisa que eles,investindo no desenvolvimento da infra-estrutura nacional e no aumento da produção de ítens dos quais o mercado interno ainda é carente,e se este grupo citado pelo Marco Vitis(empresários,jornalistas,políticos) colaborasse com o programa do governo,a coisa sairia rapidamente do papel e caminharia a passos rápidos,ao contrário do que acontece com o dito PAC.

  7. enquanto isso nossos
    enquanto isso nossos DES-administradores tucanos já fazem escola e são motivo de chacota

    veja o link abaixo a partir dos 40 segundos

    http://br.youtube.com/watch?v=wUZPNADX7ww

    é brincadeira? …também, depois de tanto tempo pra obtermos algo que todos sabemos que já vieram fora de tempo, chegando atrasado e tendo que enfrentar novos congestionamentos ?! …fazer o que?

    gozar …relaxar e gozar …ao menos até o povo se dar conta e saber votar

    O BRASIL precisa de empreendedores, de verdadeiros homens com espírito publico, e não de liberais libertinos que só gostam de vender ou de “tomar conta” da coisa publica

    …e claro… sempre bem empregados com os melhores salários e dependurados no erário

  8. Creio que o PCC está
    Creio que o PCC está realmente vendo uma oportunidade histórica de ascender à liderança global em um futuro próximo. De fato, em um mundo capitalista da competição, tais meios escolhidos podem desembocar em um salto de desenvolvimento sócio-econômico que no futuro poderá ser irradiado para outros países. E então a China poderia liderar uma transformação global rumo a uma democracia de massas e assim por diante.

  9. A China desde os fins dos
    A China desde os fins dos anos 70 até os dias atuais, mantinha um esquema de usar a mão de ferro estatal somada a um acordo tácito com o ocidente para exportar vertiginosamente. Ganhavam os burgo-burocratas da China que concentravam boa parte dessa renda – ao passo que os trabalhadores ficavam com as migalhas disso – e ganhavam os países ocidentais com uma variável muito forte colaborando para o barateamento do custo de vida.

    Some isso ao fato da China financiar os déficits dos ricos, em especial dos EUA, garantindo crédito barato para eles e, lá na ponta, mais consumo de produtos chineses – de fábricas puramente chinesas ou de parceirias entre poderosas multinacionais e o Estado chinês.

    Isso era cômodo para as elites chinesas porque na medida que o país se construia de fora para dentro, era possível manter um sistema onde concentração de renda se operava de maneira selvagem, gerando uma geração de novos ricos e uma desigualdade social à la América Latina.

    Isso mudou. O mercado internacionais que era tão receptivo aos produtos chineses entrou em colapso por erros que escapam ao governo chinês. Agora só resta uma alternativa: Focar no mercado interno do país se utilizando das reservas acumuladas nessas anos de bonança, o que muitas vezes é visto com certo temor pelas autoridades do Partido Comunista local, na medida que terá impactos políticos profundos num futuro próximo.

    É, enfim, uma espécie de New Deal à chinesa, onde você vê a construção de hospitais e de um sistema de saúde – não por motivos éticos ou humanitários, mas pelo impacto econômico positivo que isso representa no curto prazo – assim como mais rodovias e estradas de ferro.

    Os EUA, que eram uma democracia nos anos 20, precisaram da quebra da bolsa em 29 para corrigirem os defeitos graves do seu capitalismo. O Brasil, que não era uma democracia no período, passou por uma correção de rumos parecida,devido a mesmo crise. Agora, a China viverá algo parecido e que por sua vez terá consequências interessantes tão logo.

  10. ‘Salto para a frente’ na
    ‘Salto para a frente’ na China? Por um momento, pensei que o governo de lá ia matar 30 milhões de pessoas de novo, que nem no ‘Grande Salto para a Frente’ do Mao… Fiquei tranquilizado ao ler a notícia.

    Eles ficaram seletivos. Só matam os chatos. Cuidado!

  11. A China tem exemplos muito
    A China tem exemplos muito positivos para o Brasil.

    Estamos marcando touca diante da crise esperando alguma solução do mercado…

    Não percebem que o sistema ruiu? Caiu de podre?

    Acabou a lorota neoliberal. Agora não adianta ficar assistindo e rezando por mão invisível…

    O Estado precisa tomar as rédeas… e nós estamos ficando mais uma vez para trás.

    Tem de colocar o Estado como motor do desenvolvimento.

  12. Não devemos esquecer que a
    Não devemos esquecer que a China é uma ditadura, que não respeita propriedade ou direitos individuais. Não tem aposentadoria, saúde ou educação pública. Ainda tem muito que melhorar….

  13. Entendo que a força motriz de
    Entendo que a força motriz de que a China usa pra avançar, utilizando atitudes pró-ativas no campo econômico, reside na sutil mudança do pensamento ideológico imposta pelo Deng Xiao Ping: “Não importa a cor do gato. Importa é que ele casse ratos”.
    Não perdem tempo criando paliativos sociais, ou conchavos eleitoreiros, vão direto ao “rato” criando facilidades para novas fontes de produção e abrindo caminhos para não dixar minguar a demanda, e, indiretamente, garantem a geração de empregos e melhoria da renda da população.
    É a objetividade oriental aplicada a uma nação mamute.

    A China hoje é o buraco negro da economia mundial, absorvendo a capacidade produtiva de uma maneira avassaladora e irreverssível, e com consequências imprevisíveis a médio prazo.

  14. Impressões da China num
    Impressões da China num mundo capitalista, três pequenas histórias vividas por mim.

    Alta tecnologia – Feira de bicicletas em Las Vegas 2007 (Sands convention center), lotado de estandes chineses com produtos de alta tecnologia feitos em fibra de carbono, pequenos fabricantes com uma grande idéia para dotar seus produtos de um diferencial no mais competitivo mercado mundial, fora o precinho.

    Organização para venda dos produtos – Feira para calçados e acessórios em Las Vegas 2008 ( Hilton hotel, LV convention center) , o local é uma enormidade, mas o chineses manobraram para ter um local próprio, o dos preços populares, mercadoria de nível excelente por preços que ninguém acredita, entregam em qualquer lugara do planeta. A crise já tinha começado , os negócios estavam fracos, estandes vazios, os chineses ainda vendiam alguma coisa. Como curiosidade o estande das Havainas era o mais concorrido, tinha de marcar hora para ser atendido pelos representantes, é uma vela acesa ainda para nossa indústria, nossa criatividade é um diferencial ainda.

    Feirinha da Madrugada, perto do final da rua Oriente no Brás, os chineses dominaram o mercado de bolsas e acessórios, preço imbatível e mercadoria razoável. Dá para o brasileiro competir, mas tem que tirar o Estado de cima, um choque de empreendedorismo, criar uma zona de produção , uma sacudida para despertar o espírito comercial do brasileiro, que existe mas está massacrado debaixo de regulamentos estapafúrdios.

    Minha sugestão é criar 300 zonas especiais de produção de 100 hectares cada, espalhadas por todos os rincões da nação, aí é só sair para o abraço.

  15. Nassif.

    Concordo plenamente
    Nassif.

    Concordo plenamente com o Marco Vitis em seu comentário. Aqui tem uma torcida “do quanto melhor pior”, a mídia tele-guiada por estes setores ajuda a puxar para trás. O ranço elitista contra este governo é cego e prejudica os interesses nacionais. Parece que não teremos outras altenativas que não seja a deles.

  16. Nassif, todos nós
    Nassif, todos nós brasileiros, ajudamos neste “salto para frente”, pois não há, quem tenha deixado de comprar pelo menos um produto chinês (até sem saber).
    Eu colaborei em dois tempos, um por comprar e outro por deixar de produzir o meu, substituìdo algumas vêzes que foi, pelo deles
    Agora a China, possui um regime político-econòmico, muito “interessante para eles”, é o “capitanismo”, uma mistura de capitalismo com comunismo.
    Para fora das fronteiras, o “capitalismo capitanea” a economia, selvagem, gostam do neo-liberalismo, globalização como foi feita, mercado desregulado, com todos os seus defeitos e virtudes, (se é que tem algum), incusive os derivativos, pirataria, contrabando e máfia.
    Para dentro das fronteiras, o comunismo, regime duro, sem oposiçao, exploração da mão de obra dos seus cidadãos, sem direitos individuais, execução em praça pública , e outras características do regime.
    Assim, fica mais fácil guardar trilhões de dólares.
    Eles não querem exportar esse regime para fora da China, como queria a Rússia fazer, pelo contrário, está bom assim, só eles.
    Estão certos, se aproveitaram do mundo capitalista enquanto foi possível, fizeram poupança e agora vão investir em infraestrutura, o que o Brasil também deve fazer, e emprestar “algum”, a países que lhes interesse.
    Na verdade, como se governaria uma nação, naquelas condições, com 1 bilhão e trezentos milhões de habitantes? Um regime só é pouco, tem que ser dois….Sdc

  17. Interessante a visão da Vale
    Interessante a visão da Vale do Rio Doce sobre a economia Chinesa (Relatório 3º Trimestre 2008), otimista, mas muito bem fundamentado, melhor do que as análises que vemos por aí na mídia.

    Dado que a China possui elevado superávit em conta corrente – 11,3% do PIB em 2007 –, o comércio externo é o canal de transmissão dos ciclos de negócio das economias desenvolvidas para a atividade econômica doméstica. Diferentemente de países asiáticos menores voltados para exportação, as exportações chinesas não se constituem no motor de expansão da demanda agregada. Devido ao porte de sua economia, a demanda externa líquida possui papel secundário no crescimento da demanda agregada. Em 2007, por exemplo, o PIB aumentou 11,9%, dos quais a demanda doméstica contribuiu com 9,4% e a demanda externa líquida com os 2,5% restantes.

    Vale do Rio Doce – Relatório 3º Trimestre 2008
    Leia mais…
    http://www.vlad.blog.br/2009/02/china-e-crise.html

  18. Enquanto os empresários
    Enquanto os empresários brasileiros embalados pela grande imprensa ficarem falando que a base da China é a exploração escrava de seu povo, não vão enxergar o básico, é que a China se capitalizou durante vinte anos baseada no mercado externo e agora é chegado o momento do mercado interno. Como diria o nosso Delfin Neto, deixaram crescer o bolo (e cresceram mesmo), agora está na hora de repartir.

  19. É, esse discurso de que a
    É, esse discurso de que a China é uma DITADURA cruel, que “mata e come criancinhas”, em que o trabalhador é um escravo não cola mais para ninguém. A imprensa nacional, capitaneada pelo guru Boris Casoy (PSDBista e mercadista desde sempre), propala-o recorrentemente. O fato é que a tal “democracia liberal” fukuyamiana está em colapso e é incapaz de resolver os problemas emergenciais do mundo.

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