Os analistas caras de pau

Coluna Econômica

Nos últimos dias houve enorme alarido entre economistas ligados ao mercado e comentaristas econômicos conhecidos. Tudo se deveu ao fato do Banco Central ter divulgado um relatório de avaliação dos rumos da inflação, voltando atrás no cenário traçado pouco antes, no relatório de inflação.

O banco reviu projeções, analisou os últimos indicadores e constatou que a inflação não era mais ameaça – como supunha (erroneamente) pouco tempo atrás.

A grita não se deveu ao fato do BC, antes, ter errado para cima suas projeções; mas ao fato de ter revisto para baixo. Essa revisão acabou derrubando as projeções de juros futuros.

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QualQualquer análise que levasse em conta o crescimento da economia, a geração de empregos, o aumento da produção, celebraria essa revisão.

A grita se deveu a outros motivos.

Há tempos alguns de meus colegas jornalistas de economia e muitos dos economistas de mercado já não disfarçam que o foco de suas análises é o maior ou menor lucro proporcionado ao mercado financeiro. Qualquer decisão que implique aumento de juros, esteja ou não embasada em análises sólidas, é celebrada como virtuosa. Qualquer decisão de redução dos juros, por mais alicerçada que esteja nos fundamentos da economia, é amaldiçoada como se fosse despertar o demônio da inflação.

A cara de pau desse povo é tamanha que se chega ao cúmulo de afirmar que, se o BC não aumentar os juros em determinado momento – em que não existem pressões inflacionárias – será obrigado a aumentar muito mais no futuro. Como se os modelitos de previsão de inflação pudessem prever prazos maiores que doze meses.

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Os erros do BC ocorreram a partir do segundo trimestre do ano. Não foi erro de um ou outro diretor, mas um vício que tomou conta do departamento incumbido de analisar as metas de inflação, um viés ideológico incompatível com o desafio de ajudar a monitorar um dos preços básicos da economia: os juros.

Primeiro, tomaram os dados do primeiro trimestre e projetaram. Não levaram em conta que a alta não poderia ser projetada para o ano todo. Sempre que há uma mudança no volume de vendas, o primeiro salto é maior do que os seguintes, devido ao fato de, ao aumento de vendas se sobrepor compras adicionais para recomposição de estoques.

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Depois, não levaram em conta o efeito antecipação de compras, dos que adquiriram bens com isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), sabendo que a promoção terminaria em abril.

Também não consideraram a redução dos gastos públicos no segundo semestre, devido ao efeito-eleição. Nem tão pouco os efeitos sobre a economia do fim das medidas de estímulo.

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O resultado foi uma elevação indevida da taxa de juros, com efeitos deletérios sobre a economia. É mais dinheiro tirado de investimentos, de gastos sociais, de despesas essenciais para os juros. Sem contar o efeito sobre expectativas empresariais, reduzindo o volume de investimentos anteriormente planejado. O país paga e não há punição para o erro.

No entanto, a grita dos meus colegas é devido ao fato do BC não ter persistido no erro. 

Luis Nassif

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