Os caminhos da gestão

Enviado por: Antonio Carlos A. Telles

Caro Nassif,

Mintzberg é um brilhante e polêmico professor do Insead que gosta de questionar conceitos de gestão tidos como consagrados. Desperta indignação e admiração. Numa pesquisa da Harvard Business Review ele apareceu em quinto lugar na lista dos “gurus que os gurus seguem”. Embora este termo guru esteja um tanto desgastado creio que Mintzberg é uma autoridade que merece ser ouvida.

Em 2002, ele assinou um artigo com mais dois professores (de Harvard e Oxford), publicado na Fast Company e na MIT Sloan Management Review, em que afirmava: “Nossa obsessão pelo sucesso e resultados levada ao extremo levou a glorificação da ganância. É hora dos executivos abraçarem um novo conjunto de verdades”. Na época o mundo acabava de assistir uma catástrofe empresarial histórica: a quebra abrupta da Enron e outros gigantes corporativos antes reverenciados por seus padrões de excelência, inovação e resultados.

Mintzberg também questiona a excessiva ênfase que se dá ao lado racional da Gestão. Para ele gestão tem um outro lado “não racional”, que não é sinônimo de “não inteligente”.

Mas, afinal, Gestão é Ciência ou Arte? Será que temos mesmo resposta segura para esta questão? Como Ciência Social a Administração é sobretudo Gestão de Pessoas, e as pessoas não tem comportamento tão previsível como as máquinas projetadas e operadas por engenheiros e técnicos. É necessário ter muita sensibilidade e intuição associada à razão para liderar pessoas com sucesso. O comandante Rolim era respeitado por ter essa sabedoria. Para gerir aviação num mercado marcado por crises o líder precisa mesmo dar “asas” a imaginação. Aliás, para Eisntein a imaginação era mais importante do que o conhecimento.

Embora pareça óbvio, nem sempre se tem consciência de que são as pessoas que fazem as coisas acontecerem, transformando idéias, estratégias e objetivos, em ações / resultados. Quem teve clara e profunda percepção disso foi Jan Carlzon. Ele foi presidente da Scandinavian Airlines, subsidiária do SAS Group, maior empresa aérea da Escandinávia e 15a do mundo, com 21 milhões de passageiros por ano. Em 1985, Carlzon escreveu um livro sobre gestão – A Hora da Verdade, que se transformou num clássico em Administração. Carlzon dirigiu a SAS durante 12 anos (1981-1993) e tirou a empresa da crise (no vermelho) praticando gestão centrada nas pessoas, que totalizavam 20.000.

Ele definiu um plano estratégico surpreendente. Poderia ser visto como “não racional” por alguns diante do desafio: sair do prejuízo de 20 milhões de dólares. Pois bem, ao invés de cortar despesas, ele propôs um plano de um investimento de 45 milhões de dólares e um aumento de 12 milhões de dólares anuais nas despesas de operação para 147 projetos, que incluíam o lançamento de uma ampla campanha de pontualidade, cursos de serviços para mais de 12.000 funcionários e a volta da azeitona aos martinis dos clientes.

Numa reunião realizada na Dinamarca, em 1981, a diretoria aprovou o plano por unanimidade. Carlzon afirma que “a mudança nas atitudes dos empregados foi um dos resultados mais significativos da nova estratégia da SAS. Ao declarar que teríamos lucro tornando-nos uma empresa aérea orientada para serviço, provocamos uma mudança radical em nossa cultura organizacional.”

Em agosto de 1983 a respeitada publicação Air Transport World escolheu a SAS como a Empresa Aérea do Ano. Carlzon avalia que o “resultado líquido não foi só o aumento de 80 milhões de dólares nos resultados do negócio, mas milhões de clientes satisfeitos e milhares de empregados motivados”. Para Carlzon o líder para ser bem sucedido, não poderá mais ser alguém que toma decisões de forma isolada e autocrática: deverá ser um visonário, um estrategista, um comunicador, um professor e alguém que inspira. Passaram-se 25 anos e hoje a SAS ainda é vista como uma história de sucesso em gestão. Mas nem sempre o que é considerado “boa gestão” é sinônimo de êxito.

Em 1982, dois consultores da Mckinsey e professores da Stanford Business School, fizeram ampla pesquisa sobre os princípios-chave que orientavam as Melhores Práticas de Gestão nos EUA e resumiram isso no livro Vencendo a Crise. O que aconteceu com as 43 empresas apontadas como “excelentes” nessa pesquisa? Cinco anos depois 50% delas enfrentava problemas, e 20 anos depois somente cinco delas se mantinham à tona.

É provável que fatos como este expliquem o crescente interesse científico em decifrar os mistérios da intuição, inclusive na gestão. Em entrevista concedida há dois anos, à revista Exame, Mintzberg fala sobre Estratégia e toca neste ponto.

Pergunta: “O que é estratégia?
HM: (…) A definição mais popular é um plano deliberado, trabalhado, calculado. Isso ignora outro lado da estratégia, que é o de um processo de aprendizado, de padrões que se desenvolvem a partir do comportamento das pessoas, em que elas mais ou menos aprendem o caminho. O processo tem os dois lados, mas a parte emergente tem sido ignorada.

Pergunta: Ou seja, o senhor frisa a importância da intuição. Como isso ajuda as empresas?
HM: Fazendo-as reconhecer que nem tudo é plano formal. Ajudo-as a construir processos em que elas capturam o aprendizado das pessoas. (…) Quando se reconhece que a estratégia emerge de dentro da organização, então se constrói outro tipo de empresa, para escutar as pessoas.”

Luis Nassif

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. (fora do assunto –
    (fora do assunto – suinocultura nos Estados Unidos)
    Nassif,

    Hoje (31-12) foi exibido no “Discovery Channel” um programa da série “Trabalho Sujo (Dirty Jobs)” que, dentre outras coisas, mostrou o cotidiano de uma “fazenda de criação de porcos” em Las Vegas.
    Foi a coisa mais asquerosa que eu já vi na vida, e tudo exibido como se fosse a coisa mais normal do mundo.
    Para ter uma idéia exata, só vendo.

    Cheguei a mandar um e-mail para a Sadia para perguntar como é o controle de qualidade da suinocultura aqui, e ao mesmo tempo para denunciar a barbaridade que eu vi, que até pode ser usada favoravelmente pelos exportadores brasileiros.
    O mais incrível é que eu não vi nenhuma linha na internet que demonstrasse espanto com o programa…. E havia muitas referências ao dito cujo!

    Aproveito para novamente lhe desejar um feliz ano novo.

  2. Qual a relevância de gestão
    Qual a relevância de gestão ser ciência ou arte? A resposta é: nenhuma! Explico-me melhor, em seguida.
    O conceito predominante de ciência é o da física clássica assim define. Se, quando surge A e, depois, surge B e quando A some, depois, some B, diz-se que A á a causa de B. Se há fricções no relacionamento entre A e B, usa-se a estatística se verificar em que medida B está relacionado com A. O modelo de ciência da física clássica, portanto, é mecanicista e determinista: na ausência de fricções, o ontem é igual ao hoje que será igual ao amanhã; a estatística é um recurso para ajudar um observador externo ao fenômeno. Previsões científicas, na realidade, em palavras simples,é dizer que “as coisas, amanhã, serão mais ou menos iguais a ontem. Subjacente a um discurso complicado está uma obviedade. O uso da matemática, não é demais enfatizar, não explica verdadeiramente o fenômeno, apenas descreve o movimento, estabelece e mede correlações. O movimento das demonstrações matemáticas não pertence ao conteúdo do objeto, é antes uma operação exterior à coisa, atinge um verdadeiro sem realidade efetiva. Não é demais insistir, a matemática não explica coisa alguma coisa (insisto, explicar não é a mesma coisa que estabelecer e medir correlações). Sendo assim, quando se diz que gestão é ciência, se está implicitamente, talvez sem o saber, dizendo que os homens podem ser tratados como coisas, como seres inanimados.
    Tome-se o caso da interpretação institucionalista das empresas. O princípio básico é que as pessoas reagem a estímulos. Quem há de discordar disso? Note-se, no entanto, a semelhança com o procedimento científico da física clássica. Perceba-se que se está implicitamente dizendo que os homens agem como seres inanimados. A empresa sugerida pelo prof. Mintzberg, construída para ouvir as pessoas, não escapa desse ponto. Ouvir as pessoas pode ser simplesmente um método de investigação dos estímulos que deverão ser dados. Em suma, a empresa sugerida pelo prof. Mintzberg não se choca com gestão como ciência.
    O ponto central não está em se gestão é ou não ciência. O ponto central é o estilo de gestão, se as pessoas são tratadas como seres humanos ou como escravos. O exemplo da Scandinavian, fornecido pelo colega de participação neste debate, Antônio Carlos Telles, indica que há casos em que tratá-las como seres humanos também dá bons resultados financeiros. Um bom gestor tem que ter a capacidade para perceber quando isso é ou não possível. As empresas não são instituições de caridade e não raro, nelas, são encontrados empregados para os quais a única solução é o desemprego.
    Abraços,
    Paulo de Tarso.

  3. Sobre o post do Paulo de
    Sobre o post do Paulo de Tarso, pegando seu raciocíno sobre ciência espelhada pela física clássica, é bom ressaltar que a revolução da Física Moderna tem como essência a aceitação de que há limite no que se pode conhecer da natureza. Com isto, as incertezas tomam grande importância, sendo incorporadas às novas teorias (Mecânica Quântica com seu princípio da incerteza, para o mundo micróscópico, e Relatividade e o problema de obter informação entre referenciais distintos, para o mundo das grandes velocidades, acelerações e gravidade). Outra teoria, já nos anos 60, mostrou que mesmo fenômenos puramente clássicos, regidos por regras bem definidas, podem ser não-determinísticos . Por se tratarem de sistemas dinâmicos muito sensíveis às condições iniciais (Teoria do Caos). Então mesmo no mundo da Física a concepção de que tudo se pode conhecer, e com precisão apenas dependente da qualidade dos instrumentos, e que não há limite para o que a mente humana pode desvendar, já não está em voga faz um bom tempo …
    O belo da ciência é que as generalizações vão sendo debatidas, testadas e experimentadas, e neste processo tendem a convergir. Os alertas do pessoal da Psicologia de que seres humanos não são máquinas (no sentido mecanicista), e não podem ser desvendados por conjuntos de equações, converge com outras investigações da natureza, que revelam um limitação intrínseca para o que se pode saber …

  4. caro Marcelo Sobral, eu
    caro Marcelo Sobral, eu conheço o que você apontou, corretamente, no seu comentário. O triste é que os administradores e os economistas não o conhecem. Pior, muito depois que a física clássica começou a perder sua hegemonia, os administradores começaram a copiá-la. Há até uma piada dizendo que eles têm inveja da física, da física clássica, o que é lamentável. Os trabalhos envolvendo a teori da complexidade ainda estão em fase embrionária, na economia e mais ainda na administração. Vamos sentar na guia e chorar juntos? Quem paga pelo desconhecimento desse pessoal somos nós. Abraços, Paulo de Tarso.

  5. Nassif,

    Vou responder aqui
    Nassif,

    Vou responder aqui mesmo a algumas questões levantadas pelo pessoal sobre meu comentário no seu post “MBA, TAM e a crise de gestão”.

    Caro Eduardo CPQ, estou com você, concordo totalmente sobre a importância da matemática, a matematização da natureza é uma conquista inegável da humanidade. Apenas quis lembrar que ela não resolve tudo como supõem muitas cabeças “bem-formadas”. Aliás, fico chocado com a tendência de boa parte da intelectualidade tupiniquim em desprezar as conquistas da matemática, o que é pior, fazem isso invocando duas teorias das ciências exatas da qua pouco entendem, a física quântica e a teoria do caos, esta última anda na moda, e é estatistica e matemática pura.

    Caro Paulo de Tarso Soares, obrigado por suas observações, mas gostaria de fazer alguns reparos a elas. Primeiro, seria bom ler pela segunda vez o que escrevi, pois em nenhum lugar eu disse que bons MBAs só formam bons alunos, até porque eles também formam muitos maus alunos em gestão, eu mesmo conheço vários que se formaram em escolas americanas de ponta e são horríveis como gestores, ainda que bons técnicos (o excelente post do Antonio Carlos A Telles dá dicas sobre essa suposta contradição).

    Segundo, não despreze o senso comum, ele não é sinônimo de tautologia.

    Terceiro, o que sutilmente queria ao manisfestar minha opinião pela validade dos MBAs era me distanciar daqueles que certamente viriam pedir o fechamento destes cursos, prefiro que sejam aperfeiçoados, menos bitolação em modelos e mais pensamento. Como o mundo do pensamento acomodado costuma ser bipolar, só quis lembrar que ao criticar uma das visões (a da direita, em seus termos) não estava fechando automaticamente com a outra visão (a da esquerda).

    Quarto, lendo pela segunda vez, você verá que eu não disse que nenhum MBA está livre dos problemas que discutimos neste blog, nem mesmo os mais conceituados do mundo, veja que citei três professores renomados criticando os cursos de 1.ª linha em que dão aula, precisa mais? As nacionais boas não enchem uma mão e têm os mesmos vícios daquelas que lhes serviram de modelos.

    Quinto, nem todos os MBAs são negócios, nos EUA há muitos que pertencem a escolas públicas (Berkeley e Michigan, se não me engano, são Universidades públicas) ainda assim nada mais natural, quase tautológico, que eles defendam sua existência. Certo, há argumentos ideológicos (inexistentes, nos seus termos), mas há também boas razões para reformá-los, e vou dar uma só razão: todo o conhecimento produzido pela escola americana de administração.

    Sexto, cuidado com o mantra “hipótese verificável na prática”, se isso fosse uma exigência a priori uma boa parte das teorias científicas não teria saído da mente de seus criadores, ou você acha que todas as hipóteses de Einstein eram verificáveis na prática?

    Enfim, caro Paulo, para você entender minha posição, acho que deveríamos olhar o exemplo dos japoneses e dos chineses que estudaram o que a escola americana de administração produziu (e de outras escolas tb), usaram o que lhes parecia apropriado e deixaram de lado o que lhes parecia fora de sua realidade. Veja o que os japoneses fizeram com as idéias sobre qualidade total, por exemplo.

  6. Eita! E não é que meu colega
    Eita! E não é que meu colega de blog Paulo de Tarso Soares aboliu mesmo a matemática, a certeza e a ciência. Eu sabia que isso ia acontecer.

    Paulo, meu velho, a administração vista como uma ciência mecanicista é coisa do fim do século XIX e início do século XX, tempos do taylorismo e do fordismo. De lá para cá a coisa mudou um pouco. A idéia da administração como ciência exata vai pegar mesmo é na crença de que ela é infalível, de que seus modelos resolvem tudo. Sabemos que não é assim, mas nem por isso vamos abandonar as coisas boas que a ciência da administração criou, vamos separa o joio do trigo e tb não vamos tomar estes como dogmas.

    Penso que o Prof. Mintzberg está querendo dizer que ficar resolvendo estudos de caso tem lá sua validade, mas pode limitar muito o sujeito se ele achar que aquilo é tudo o que ele precisa saber. Se Jan Carlzon fosse um aplicado e fiel aluno de um típico MBA a solução seria outra, a velha e batida receita de cortar despesas, etc.

    Veja o que diz o Prof. Mintzberg: o processo tem os dois lados, mas a parte emergente tem sido ignorada. É muito claro que ele não quer jogar no lixo o conhecimento formal, mas este não consegue dar ao administrador um certo instinto, aptidão ou intuição (como a do Com. Rolim citado pelo Antonio Carlos). Quando tudo se resume aos modelos, mesmos os alunos com aptidão se enquadram.
    Paulo de Tarso, se subjacente à ciência, reduzida a um “discurso complicado”, “está uma obviedade”, você poderia nos explicar o que nos permite discutir de nossas casas e debater assuntos de nosso interesse sem nem nos vermos. Será que isso é resultado de ciência ou seria, como disse Descartes, um deus ardiloso que nos engana sobre tudo e nada, na verdade, existe? Bem, se for um Deus ardiloso que está me enganando, eu gostaria de pedir a Ele uma banda larga de 10 Gigas.

    Já que falamos dele, Deus do céu! desde quando explicar a natureza é estar dentro dela? Quem seria louco de reinvindicar que a ciência seja parte do objeto explicado? Ou é ela uma linguagem, um código que a genialidade humana concebeu para entender a natureza? Alías o homem está onde, fora da natureza?

    Se a matemática não explica coisa nenhuma, me diga porque você toma aspirina? Por que você acredita que a pessoa que fala do outro lado do celular de fato existe. Sim, pois se a ciência é esse vazio completo que você defende, espero que você seja coerente para não acreditar na maior parte do que o cerca, é tudo produzido por esta coisa chamada ciência que se resume a um discurso complicado sobre obviedades, nas suas palavras.

    Eu já havia cantado a bola de que a física quântica e a teoria do caos entrariam na parada, embora o Marcelo tenha feito as devidas advertências. O anticientificismo e o relativismo científico defendido por parte da academia, especialmente da área de humanas, se deleitam com isso, não entendem, mas adoram citar estas duas teorias para tentar diminuir a importância das ciências exatas. É notório o artigo sem pé nem cabeça escrito pelo Prof. Sokal e aceito por uma revista de sociologia americana, ele apenas usou a linguagem característica deste artigos, que é só má literatura, e os revisores engoliram direitinho. O Marcelo Sobral está certo, são teorias muito específicas válidas sobre certas condições, pouco alteram nosso dia a dia, mas eu acrescentaria que quem as formulou foram os cientistas, mais um ponto para a ciência, ou alguém acha que sem a base de ciência produzida pelo homem a física quântica seria possível?

    Alías, a Teoria do Caos, moda das modas na academia de humanidades (e minha formação é em humanidades) é um exercício altamente matemático, a moçada que cita isso como prova da incerteza da ciência, nem sabe de que se trata de ciência matemática pura.

    Por fim, eu discordo mais uma vez do Paulo, acho que tratar as pessoas como seres humanos sempre dá bons resultados, um bom gestor sempre trata as pessoas como seres humamos, inclusive quando tiver que demiti-las. Adoro um filme chamado Nosso Barco, Nossa Alma dirigido por David Lean e Noel Coward, é de 1942 e foi feito sob encomenda do governo britânico para levantar o ânimo dos ingleses, há 3 anos em guerra contra a Alemanha. O capitão do barco do título (interpretado pelo genial Coward) é um exemplo de liderança e ao receber a nova tripulação define seu estilo de comando: devemos ser um tripulação feliz e eficiente. Não é uma boa estratégia de gestão de pessoas?

    Feliz 2007 para todos.

  7. Alguém já disse uma vez que a
    Alguém já disse uma vez que a estatística é como um poste: vc pode usá-la para iluminar seu caminho ou para escorar um bêbado.
    Quanto à Física e, ademais, qualquer ciência natural, usa-se o modelamento matemático como ferramenta, simplesmente porque estamos tratando de quantidades que são mensuráveis e estamos trabalhando em cima de sistemas reprodutíveis, ou seja, partindo-se das mesmas condições iniciais, chegar-se ia às mesmas situações finais e isso deve ser verificável quantitativamente.
    Mesmo com grande sensibilidade a condições iniciais, é possível prever certas “voltas a um certo grau de determinismo” em sistemas caóticos (dentro de certas condições) e a área de controle em engenharia faz muito uso desta ferramenta.
    A grande questão é a validade do modelo empregado. Um dado modelo pode muito bem funcionar numa dada situação e ser absolutamente inútil em outra. Não vejo nada de errado na utilização da matemática e na busca de uma determinação “confortável” do comportamento de uma empresa, o que, de certa forma, é o que buscamos quando estudamos as coisas: entender o que acontece para não ser surpreendido pelo futuro e poder tirar o maior proveito possível deste entendimento para nossas intenções…
    Toda teoria e todo modelo está, contudo, restrito a sua “janela de validade” e é aí que algumas pessoas são incompetentes, desonestas ou simplesmente falham.
    O velho bom senso e principalmente a valorização do capital humano não são prescindíveis mesmo que o seu modelo matemático seja o melhor possível, porque se ele é o melhor possível para hoje, não o será para amanhã. Amanhã você vai precisar daquela ferramenta adaptativa insubstituível até agora, o cérebro.

  8. Nassif, excelentes os
    Nassif, excelentes os comentários do Antônio Carlos, ele aborda de maneira mais clara e rica o problema que apontei num comentário em seu post da TAM, a elevação da administração à categoria de ciência exata.

    O conhecimento formal é importante, mas o problema é que o estudante é treinado para acreditar que ele é tudo o que precisam para se tornar um grande gestor. Aliás, os melhores gestores de pessoas que conheci tinham um aptidão natural para a liderença, aquilo não se aprende em escola nenhuma. É impressionante como empresas e headhunters não conseguem detectar pessoas com esta aptidão e focam suas análises só no formação do candidato.

    Há um círculo vicioso muito claro para mim entre escolas e empresas. O sujeito que está na direção da empresa fez um MBA e quer contratar alguém que também tenha feito um MBA, assim bons empregos só com MBA, as escolas, ficam cheias, mais alunos mais executivos oriundos de MBAs e assim por diante.
    Conheço um caso bem prático: tenho um amigo que fez mestrado (não MBA) na escola que é considerada a melhor do mundo em sua área, nos EUA. Terminado o curso, foi procurar emprego por lá mesmo e o maior problema que ele encontrou foi concorrer com os alunos de MBA, as empresas queriam só MBA.

  9. Apenas um comentário para o
    Apenas um comentário para o Januário, que escreveu no início sobre suinocultura nos EUA. Sou da área, e se você quiser alguma informação adicional, acesse http://www.abcs.org.br. E para não fugir do assunto, é necessária muita matemática e administração para fazer uma granja prosperar. Até.

  10. Caro Wilson, grato,
    Caro Wilson, grato, igualmente, pelos seus comentários. Desculpe-me, por favor, pela demora para responder-lhe. Onde estou não tem banda larga, nem sempre consigo acessar a internet, não raro, quando se acessa, a linha cai. O prazer do debate acaba se transformando em sacrifício. Vou deixar para responder ao seu outro comentário mais tarde. Primeiro preciso conseguir copiá-lo e colá-lo, sem que a ligação caia. O mesmo farei com um outro comentário sobre coisas que falei.
    O Blog do Nassif está estimulando debates que a academia deveria estar produzindo, ao invés de se especializar em oferecer cursos de MBAs para aumentar a remuneração dos professores e/ou os lucros dos seus proprietários.
    Fui, obviamente, ler novamente o texto cujo final eu critiquei. Não descartei, em princípio, a hipótese de que eu tivesse entendido equivocadamente suas opiniões. Tenha certeza que, se tal tivesse acontecido, eu pediria desculpas e o agradeceria por ter me corrigido. A releitura, no entanto, não mudou meu ponto de vista sobre o texto escrito por você. Vamos ver se, agora, consigo me explicar melhor.
    O objetivo principal do meu comentário foi contestar sua afirmativa de que, aqui no blog, “as discussões descambam facilmente para um tiroteio ideológico”. A tática escolhida foi mostrar que o seu comentário é que havia “descambado” para a ideologia. Comecei atribuindo a você a afirmativa de bons MBAs forma bons alunos. O fundamento foi sua afirmativa de que “gostaria de deixar claro que não acho que os MBAs (refiro-me aos bons MBAs no exterior e no Brasil) sejam inválidos, que devam ser extintos (como alguns defendem)”. Meu raciocínio foi o seguinte. Como entender o que são bons MBAs? Bons MBAs, imaginei eu, devem ser os que ensinam as teorias corretas e formam bons alunos. Haveria outra maneira para entender o que é um bom MBA?
    É evidente que você não os considera perfeitos e, para isso, nem precisa ler todo o post, basta ler o seguinte trecho: “é evidente que precisam de aperfeiçoamentos para se livrarem destes vícios, que, aliás, dominam todo o conjunto de pessoas envolvidas, administradores, acionistas, analistas, headhunters, jornalistas, professores, alunos”. Mas onde estão esses vícios, ou melhor, quais são esses vícios? Para isso é preciso sim ler todo o post colocado por você.
    Os vícios (defeitos), segundo o que está escrito no post, estão no tipo de teoria, na excessiva matematização etc e tal. Em momento algum, reitero, há qualquer referência ao principal “vício” dos MBAs no caso brasileiro. Os MBAs, no Brasil, são um negócio com estruturas caríssimas e precisam de alunos para terem rentabilidade positiva, daí aceitarem qualquer tipo de aluno, reduzirem a quantidade e a qualidade do que ensinam e as reprovações serem mínimas.
    A análise contida no texto escrito por você, caro Wilson, não trata dos MBAs reais e sim de MBAs imaginários, existentes lá fora e não no Brasil. É, portanto, uma crítica ideológica sim.
    O último comentário colocado por você, caro Wilson, continua nessa trilha. Ao dizer que as escolas de MBAs “nacionais boas não enchem uma mão e têm os mesmos vícios daquelas que lhes serviram de modelos”, não responde à minha indagação sobre qual MBA, no Brasil, não padece do problema acima apontado. Ao dizer que prefere que os MBAs nacionais “sejam aperfeiçoados” e que esse aperfeiçoamento seja “menos bitolação em modelos e mais pensamento”, repete uma falsa crítica, porque beneficia o infrator ao omitir a verdadeira falta que eles está cometendo.
    De qualquer forma, mais uma vez, grato pela tempo que dedicou aos meus comentários.
    Abraços,
    Paulo de Tarso.

  11. Caro Paulo de Tarso Soares,
    Caro Paulo de Tarso Soares, minha referência ao usar a expressão “descambar para o tiroteio ideológico” era o que aqui no blog convencionamos chamar de abelhas assassinas, aqueles blogueiros agressivos que às vezes aparecem produzindo mais calor que luz. Para mim suas críticas estavam longe disso, mas a impressão que me deu lendo seus comentários é que você ficou incomodado com esta expressão que usei e vestiu um pouco a carapucha desnecessariamente.
    Minha intenção era tão somente levantar mais um ponto na discussão, ou seja, a matematização excessiva de algumas ciências sociais deu a elas um status de ciência exata e uma falsa segurança a estas disciplinas. Como já disse antes, a observação sobre o tiroteio ideológico era tão somente para me manter distante do relativismo e do anticientificismo reinantes na academia, sobretudo nas ciências humanas.

    Caro Paulo, se digo que os MBAs de ponta dos EUA têm seus problemas, o que dirá os brasileiros. Os nossos são uma cópia dos americanos, na grande maioria sem os recursos e os compromissos com qualidade dos de lá. Os americanos também têm grandes estruturas, aceitam muitos alunos e dificilmente reprovam, lembre-se, os nossos são cópias dos deles. Portanto, me referia ao conceito de MBA em geral, por isso não falei especificamente dos brasileiros. Mas, como você afirma, se os MBAs de que falo são os americanos, eles não são fictícios e, há muitos alunos brasileiros que para lá vão todo ano.

    Veja, você insiste para que eu fale do principal vício dos MBAs brasileiros, mas é o principal na sua opinião. Eu acho que os brasileiros têm os vícios dos americanos mais uma dúzia de problemas locais. A maior parte deles é caça níquel e serve, na verdade, como um complemento a uma graduação deficiente, o aluno vai lá aplicar um botox no seu currículo. Há exceções? Há, mas ainda assim têm os problemas dos americanos.

    Um abraço.

  12. Caro Wilson, desculpe-me pelo
    Caro Wilson, desculpe-me pelo engano. Eu enviei o comentário para o local errado. Não sei se é velhice ou a desatenção que me acompanha desde menino. Estou, então, agora, enviando para o lugar correto.
    Ddesculpe-me pelo engano, mas eu havia “vestido a carapuça” sim, quando li sua referência ao descambar para o tiroteio ideológico. Que pensem diferente de mim, não vejo qualquer problema. Com diz o “filósofo” Caetano Veloso, narciso acha feio o que não é espelho, mas o narcisismo, ao que me parece, não está na lista enorme de defeitos que tenho. Tampouco tenho qualquer pretensão de convencer ninguém às minhas posições. Entro em polêmicas para aprender e não para converter. Se um argumento não tem consistência lógica nem está fundamentado no real, basta dizer isso, não precisa usar a expressão descambar para o ideológico, pois esta tem uma carga fortemente depreciativa. Estávamos todos expondo nossas idéias em um nível bastante elevado, esclarecendo os pontos que nos dividiam, ampliando nosso leque de conhecimentos e, de repente, me deparei com algo que imaginei, equivocadamente, sei agora, dirigido a mim.
    Esclarecido isso, restou apenas uma exceção. Referindo-se ao MBAs, no Brasil, você afirma que “A maior parte deles é caça níquel e serve, na verdade, como um complemento a uma graduação deficiente, o aluno vai lá aplicar um botox no seu currículo”, ou seja, quando usa a expressão “a maior parte deles”, você afirma que nem todos são ruins assim (“Há exceções? Há, mas ainda assim têm os problemas dos americanos”). Em suma, você diz que nem todos os MBAs, no Brasil, são caça-níqueis.
    Desculpe-me, caro Wilson, mas eu confesso que não conheço uma só exceção. Há sim MBAs que têm nome, que tem renome, mas isso está fundamentado na corriqueira confusão entre sede bonita, instalações suntuosas, arrogância dos professores e dos alunos, e qualidade de ensino. Quem não é da área costuma pensar que os equipamentos modernos facilitam o ensino. Não vou entrar nessa discussão. O que vou ressaltar é que o principal efeito desses equipamentos modernos é permitir que o professor se canse menos, ao dar aula. Cansando-se menos, ele pode dar mais aulas. Podendo dar mais aulas, aumenta a oferta de mão -de- obra e o resultado é uma achatamento na remuneração do professor, pois a oferta cresceu mais rápido do que a demanda. Alguns estão no Brasil inteiro, são apelidados de “Bradescão” do ensino. Será que realmente há no Brasil inteiro tantos grupos de elite intelectual/profissional querendo fazer MBA? Há alguma dúvida de que, para “fechar” turmas, são aceitos verdadeiros analfabetos funcionais?
    A discussão sobre os méritos ou deméritos dos currículos (disciplinas) e das matérias, neste contexto, caro Wilson, é mera “elocubração”. Ela, portanto, deve ser feita no contexto de o que é preciso para se formar um verdadeiro gestor. O modo como leio o Prof. Mintzberg é que ele não está fazendo uma crítica aos MBAs e sim à concepção de gestão e, conseqüentemente, de gestor, incorporada nos MBAs. Essa é uma sutil diferença e, com tal, faz toda a diferença na compreensão do assunto.
    Um grande abraço,
    Paulo de Tarso.

  13. Caro Wilson, desculpe-me pelo
    Caro Wilson, desculpe-me pelo engano, mas eu havia “vestido a carapuça” sim, quando li sua referência ao descambar para o tiroteio ideológico. Que pensem diferente de mim, não vejo qualquer problema. Com diz o “filósofo” Caetano Veloso, narciso acha feio o que não é espelho, mas o narcisismo, ao que me parece, não está na lista enorme de defeitos que tenho. Tampouco tenho qualquer pretensão de convencer ninguém às minhas posições. Entro em polêmicas para aprender e não para converter. Se um argumento não tem consistência lógica nem está fundamentado no real, basta dizer isso, não precisa usar a expressão descambar para o ideológico, pois esta tem uma carga fortemente depreciativa. Estávamos todos expondo nossas idéias em um nível bastante elevado, esclarecendo os pontos que nos dividiam, ampliando nosso leque de conhecimentos e, de repente, me deparei com algo que imaginei, equivocadamente, sei agora, dirigido a mim.
    Esclarecido isso, restou apenas uma exceção. Referindo-se ao MBAs, no Brasil, você afirma que “A maior parte deles é caça níquel e serve, na verdade, como um complemento a uma graduação deficiente, o aluno vai lá aplicar um botox no seu currículo”, ou seja, quando usa a expressão “a maior parte deles”, você afirma que nem todos são ruins assim (“Há exceções? Há, mas ainda assim têm os problemas dos americanos”). Em suma, você diz que nem todos os MBAs, no Brasil, são caça-níqueis.
    Desculpe-me, caro Wilson, mas eu confesso que não conheço uma só exceção. Há sim MBAs que têm nome, que tem renome, mas isso está fundamentado na corriqueira confusão entre sede bonita, instalações suntuosas, arrogância dos professores e dos alunos, e qualidade de ensino. Quem não é da área costuma pensar que os equipamentos modernos facilitam o ensino. Não vou entrar nessa discussão. O que vou ressaltar é que o principal efeito desses equipamentos modernos é permitir que o professor se canse menos, ao dar aula. Cansando-se menos, ele pode dar mais aulas. Podendo dar mais aulas, aumenta a oferta de mão -de- obra e o resultado é uma achatamento na remuneração do professor, pois a oferta cresceu mais rápido do que a demanda. Alguns estão no Brasil inteiro, são apelidados de “Bradescão” do ensino. Será que realmente há no Brasil inteiro tantos grupos de elite intelectual/profissional querendo fazer MBA? Há alguma dúvida de que, para “fechar” turmas, são aceitos verdadeiros analfabetos funcionais?
    A discussão sobre os méritos ou deméritos dos currículos (disciplinas) e das matérias, neste contexto, caro Wilson, é mera “elocubração”. Ela, portanto, deve ser feita no contexto de o que é preciso para se formar um verdadeiro gestor. O modo como leio o Prof. Mintzberg é que ele não está fazendo uma crítica aos MBAs e sim à concepção de gestão e, conseqüentemente, de gestor, incorporada nos MBAs. Essa é uma sutil diferença e, com tal, faz toda a diferença na compreensão do assunto.
    Um grande abraço,
    Paulo de Tarso.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador