Os caminhos do 3o turno

Coluna Econômica – 30/10/2006

Nesse período eleitoral, procurei trazer o que considerava que seriam os pontos-chaves a marcar o terceiro turno das eleições. Sempre é difícil, em meio ao tiroteio, tentar extrapolar para momentos futuros.

O momento atual é de guerra. Se acredito que a principal combustão dessa guerra são as eleições, tenho que fazer um exercício prospectivo para imaginar o que seria o cenário político pós-eleições. Sem esse combustível principal, o incêndio permanece, ou as forças pró-pacificação se imporão?

No caso dos cenários prospectivos, há um conjunto infinito de alternativas, de eventos e situações. É impossível colocá-los a todos em uma planilha e tirar a resultante final. Por isso mesmo, só resta recorrer a uma dose de análise e uma grande margem de intuição, apostar em algumas variáveis que você julga serem as mais relevantes, mas sabendo que há componentes aleatórios sobre os quais não se tem controle.

Em minha opinião, deverão se impor as seguintes tendências:

1. As eleições expuseram de forma clara a ausência de bandeiras novas por parte dos dois candidatos. E há um movimento que cresce a cada dia, em torno da bandeira desenvolvimentista, que até agora não tem dono. Ao mesmo tempo, esgotou-se o movimento do pêndulo que facilitava medidas de arrocho nas aposentadorias e gastos sociais. Esses dois movimentos mudam totalmente o cenário de idéias que garantiu a era FHC. A partir do terceiro turno, a bandeira do desenvolvimentismo com inclusão social toma lugar do mercadismo, no campo das idéias políticas hegemônicas.

2. O PSDB teria dificuldades em empunhar essa bandeira, devido aos impasses internos, e porque o partido está irremediavelmente marcado pela imagem de FHC e das escolhas que fez. Para os desenvolvimentistas do partido, a única alternativa seria José Serra inaugurar o “serrismo”. Aparentemente, o caminho escolhido será a proposta de uma reorganização partidária que permitirá o surgimento de um novo partido com clareza programática, e com a bandeira do desenvolvimentismo. No dia seguinte às eleições, Serra e Aécio assumem definitivamente a liderança da oposição, encerrando-se oficialmente a era FHC.

3. Os governadores serão pontos relevantes em um novo pacto político, ainda mais com um time em que despontam Serra e Aécio, Jacques Wagner e Marcelo Dedá. Não conheço direito Sérgio Cabral, mas ouço dizer que tem visão política.

4. No governo, haverá a tentativa dos grupos mineiro, gaúcho e nordestino de ocupar o lugar das antigas lideranças paulistas -Antonio Palocci e José Dirceu. Mas, sem um pacto mais amplo, não conseguirão esquentar a cadeira no PT.

5. Para Aécio, Serra, Tarso, Dilma interessa a paz; para FHC, Tasso Jereissatti, e os remanescentes dos “operadores” do partido, interessa a guerra. Os pacificadores têm cargos executivos; os guerreiros, não. Dentro desse quadro, só o fracasso completo dos pacificadores, ou a incrível capacidade do PT em arrumar rolos, dará combustível para uma crise política. Se bem que, depois de cuecão, dossiê e Waldomiro, tudo é possível.

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

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