Em Londres, presidente do Congresso “suplica” a Campos Neto a redução da taxa de juros

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Pacheco disse que o Banco Central está sendo "suscetível a interferências políticas indevidas".

Discurso de Pacheco Lide Brazil Conference – Foto: Reprodução LIDE

Diante de investidores britânicos, em conferência da Lide e a convite de João Doria, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) “suplicou” ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para reduzir a taxa de juros no Brasil.

No evento, ele indicou, ainda, que Campos Neto está sendo “suscetível a interferências políticas indevidas”:

“Eu gostaria de pedir muito, é uma súplica do Senado, meu caro presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, você mesmo sabe que nós do Senado Federal aprovamos a autonomia do Banco Central (…), mas a perspectiva dessa autonomia que desejávamos e desejamos no Senado Federal é para que o Banco Central não fosse suscetível a interferências políticas indevidas.”

O discurso do parlamentar na Lide Brazil Conference, em Londres, traduzido para o inglês para os investidores britânicos, foi uma amostra de que o Brasil está preparado e seguro para receber investimentos internacionais. Nesse sentido, Pacheco fez vários elogios às propostas recentes do arcabouço fiscal e disse que há, hoje, “uma estabilidade institucional que faz com que nossas instituições funcionem” (confira mais abaixo).

Mas o senador concluiu as falas traçando duras críticas a Campos Neto e à atual taxa de juros elevada. “Nós não conseguiremos crescer o Brasil com a taxa de juros a 13,75 ao mês”, disse.

“Nós temos um novo governo, o governo tem uma forma de pensar e uma forma de planejar o país, o Congresso Nacional tem as suas perspectivas e, evidentemente, também a sua percepção em relação à economia, há divergências naturais, entre o Executivo, entre Legislativo, entre a sociedade e o meio empresarial. Mas se há algo que nos une nesse momento é a impressão, o desejo, a obstinação de reduzir taxa de juros no Brasil.”

Riscos e “marolas

Rodrigo Pacheco defendeu que corremos o risco de “sacrificarmos” os marcos legislativos fechados até agora e “todo o ambiente de segurança para investimentos no Brasil”.

O senador chamou os conflitos políticos do Banco Central com o governo de “ruídos” e “marolas”: “Se esses ruídos, essas marolas que têm prejudicado a redução da taxa de juros são problemas, nós temos que, então, atacar esse problema, e permitir que haja um ambiente propício para a redução da taxa de juros – ruído na política, o Brasil sempre vai ter e teve no governo, mas mesmo sobre o ambiente de ruídos nós tivemos uma taxa de juros de 2% no passado”, completou.

Relação amistosa com o governo

A introdução da fala do parlamentar no evento foi apontando que o Brasil tem, hoje, “uma democracia forte” e um “boa relação entre os Poderes”. “Além da democracia forte e inabalável, o que nós estamos exercendo a cada dia, especialmente a partir deste novo governo, é uma relação amistosa, independente, porém harmônica, entre os Poderes.”

Defendeu que os Poderes exerçam suas funções com harmonia, independentemente do mandato presidencial: “Cada vez mais, nós temos que buscar fazer com que as instituições sejam instituições de Estado, independente do viés do governo de ocasião. (…) As polêmicas políticas – e agora, essa semana mesmo, nós tivemos várias delas no Brasil – elas têm que estar numa prateleira diferente da agenda política que interessa à nação, e há um interesse comum que deve nortear os nossos caminhos, independente de ser de esquerda ou de direita.”

Prometeu “muita rapidez” na aprovação do arcabouço fiscal

O senador também dedicou boa parte de seu discurso a defender o arcabouço fiscal, no projeto entregue pelo governo federal nesta semana ao Congresso.

Afirmando ser um “passo adiante” dado pelo governo na “agenda econômica”, “muito elogiado por diversos setores da economia brasileira” e uma “expressão de responsabilidade fiscal”, disse que o texto traz “segurança sobre os limites de gastos públicos” no país e se comprometeu a fazer o projeto de lei ser aprovado pelo Congresso “com muita rapidez, tanto na Câmara, quanto no Senado”.

Confira a íntegra da fala de Rodrigo Pacheco no evento, aqui.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Ora, o Pacheco não sabe que não há nada tem ruim que não possa piorar? Só inflação alta não é suficiente, é necessária também taxa de juros estratosférica.

  2. A taxa de juros elevada prioriza a especulação, não a produção. Sem produção e com o consequente aumento da demanda reprimida, em vez da elevação da oferta, a inflação se eleva em vez da cair.

  3. Afff! Pacheco só tem tamanho. Essa imagem pública do nosso congresso diante do capital só não nos faz corar mais de vergonha porque não somos todos “loiros”.
    Custa-nos crer que não tenhamos uma equipe de governo suficientemente esperta para, junto com o judiciário, promover a desinfecção do Robert Fields Grandchild do posto de presidente do BC.

  4. Mais uma vez, por ingnorância ou má fé, o presidente do BCB voltou a dizer que as decisões do banco não são políticas. Sr. Campos, se o senhor emitir uma portária proibindo a lei da gravidade de agir na sede do BCB, por inócua e não interferir na vida das pessoas, Sr. pode afirmar que a portaria não é política. Agora, quando se trata de aumento, diminuição ou manutenção da taxa de juros, tal decisão interfere na vida das pessoas, portanto, é uma decisão emininentemente política, principalmente por prejudicar ou favorecer setores econômicos da sociedade e pior ainda, pode acarretar crises, que podem prejudicar até os que o BCB quer favorecer.

  5. Roberto Campos Neto e todo o Banco Central sabem da responsabilidade que tem de conduzir a política monetária, e que seria oportuno o início de um viés de baixa nas taxas de juros. Isso traria uma sinalização de maturidade na execução das funções do BCB que necessariamente devem ser técnicas. Existem questões típicas e outras que são atípicas de acordo com cada período, nas oscilações inflacionárias e isso precisa ser considerado para uma interpretação da trajetória presente e futura dos índices. A apresentação de segurança e firmeza em certas decisões, impactam significativamente o cenário das expectativas sobre a economia. Cada um dos Poderes da República procurar se enquadrar tendo uma postura responsável em relação ao equilíbrio no exercício das atribuições competentes a eles é uma atitude que agrega ao País. Essa ação inicial de “cada um no seu quadrado” é bastante positiva para o Brasil e importante também economicamente. Não será o ato de baixar ou subir a taxa SELIC, o que é esperado vai além disso. Que o enfrentamento a essa questão será mais amplo e mais de acordo com a dimensão e a complexidade do Brasil.

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