Salomonicamente inútil

Coluna Econômica – 29/06/2007

A história de que a virtude está no meio não vale para a decisão de Lula de definir uma meta de inflação de 4,5% para 2008 e de 4% para 2009. Como se sabe, cabe ao CMN (Conselho Monetário Nacional), ouvido o presidente da República, definir a meta de inflação. Depois, ao COPOM (Comitê de Política Monetária) e ao Banco Central definir a taxa de juros que eles consideram adequada para atingir a meta proposta. O Ministério da Fazenda queria manter a meta de 4,5% ao ano; o BC, reduzir a meta para 4%. Lula ficou no meio termo.

O que interessava na definição da meta era que induzisse o BC a acelerar a queda da taxa Selic. Isso não irá ocorrer por dois motivos.

O primeiro, é que como existe uma defasagem entre a fixação dos juros e os resultados alcançados, o BC sempre poderá apontar fatores imponderáveis para daqui a dois anos para manter intocado o ritmo de queda dos juros. Basta continuar fazendo o que fazem hoje: selecionam as notícias negativas e minimizam as positivas. Meramente através da manipulação dos fatores, levam o cavalo para aonde quiserem.

O segundo motivo é que o BC é criticado se a inflação fica acima da meta, mas é elogiado se erra para baixo. Em qualquer país informado, errar para baixo significa que a taxa de juros utilizada foi maior do que o necessário. O erro teve efeito nas taxas de crescimento da economia, do emprego, na dívida pública, no custo do dinheiro.

Por aqui, a opinião pública ainda não se tocou sobre o custo desses erros para baixo.

Dois pesos, duas medidas

No ano passado o diretor da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) Sérgio Miguelim foi acusado de ter vazado informações para o mercado a respeito do episódio envolvendo minoritários e a Telemar – em que se observaram movimentos estranhos de mercado pouco antes do anúncio de um episódio relevante.

Havia a possibilidade do vazamento ter sido provocado involuntariamente pelo próprio presidente do órgão, Marcelo Trindade, ao solicitar análises de uma instituição sobre o tema.

Mesmo assim, Miguelim foi exposto a um tiroteio, no qual o próprio Trindade sugeriu que ele se demitisse. Funcionário de carreira do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), Miguelim se recusou. Trindade ameaçou com uma comissão de inquérito. Miguelim aceitou e se licenciou até o término das investigações.

Há poucos dias duas comissões, uma interna, outra externa, o absolveram por unanimidade. E sustentaram que não havia razão nenhuma para ele ter se licenciado.

Na próxima semana, a CVM vai julgar o caso de Luiz Antonio de Sampaio Campos, ex-diretor do próprio órgão, que era procurador de uma empresa ligada ao Banco Pactual.

O relator será o próprio Trindade, que está de saída do cargo. Ambos são amigos íntimos. Luiz Antonio trabalha no escritório de Barbosa, Müssnich & Aragão. Trindade tem ligações com o escritório. Outro membro da equipe que irá julgar Luiz Antonio é Pedro Marcílio, que deverá sair junto com Trindade para abrir um escritório de advocacia. O terceiro será Eli Lória, cujo filho é estagiário do escritório de Müssnich.

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

14 Comentários

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  1. A questao ‘e que mesmo que o
    A questao ‘e que mesmo que o governo baixasse decentemente os juros ele poderia conseguir niveis de inflacao baixissimos!! as causas tradicionais de inflacao no brasil, a saber, deficit publico e indexacao estao em pleno controle…temos uma capacidade ociosa capaz de aumentar a oferta agregada no curto prazo, estamos bem longe do exoterico PIB potencial!! fica a pergunta: A quem interessa que os juros fiquem nas altura? e ai eu cito o grande mestre Celso Furtado: “Forçar um país que ainda não atendeu às necessidades mínimas de grande parte da população a paralisar os setores mais modernos de sua economia, a congelar investimentos em áreas básicas como saúde e educação, para que se cumpram metas de ajustamento da balança de pagamentos, impostas por beneficiários de altas taxas de juros, é algo que escapa a qualquer racionalidade”

  2. Caro Nassif

    Eis um bom
    Caro Nassif

    Eis um bom argumento, matematicamente falando. Infelizmente, o passado nos condena a essa tendência mais conservadora (responsável?).

  3. O afinadìssimo coro do BC na
    O afinadìssimo coro do BC na mídia apoia a redução da meta de inflação que exige Selic lá em cima. A torcida do Ministério da Fazenda e do grupo do crescimento é quase zero. Essa é a tragédia da tual politica economica. Os recessionistas são unidos e treinados, os desenvolvimentistas estão dispersos e descoordenados.
    No caso meta de inflação, 1 x 0 para a turma da estagnação com estabilidade, a segunda politica economica mais estável da era moderna, após a do prof.Antonio de Oliveira Salazar, que durou 46 anos.

  4. Creio que a decisão de manter
    Creio que a decisão de manter a meta de inflação 4,5% no mínimo demosntrou que a posição defendida pelo Presidente do Banco Central já não mais tão dominante como até janeiro de 2007.

    E que o Governo do Presidente Lula começa a perceber que é necessário manter a demanda aquecida e procurar outras ferramentas para estimular o investimento, e já tem como claro que a questão de falta de liquidez e de credibilidade dos títulos públicos no Brasil já está resolvida, e portanto não ha mais necessidade de pagar este prêmios de risco e de manter os juros da Selic tão elevados.

    Creio que com juros mais baixo da Selic apontados pelos cortes de 0,5% por reunião do COPOM e manutenção das compras de dolares para fortalecer as Reservas Cambiais deve trazer o dolar para o patamar de 2,30 reais, o que dentro das expectativa de uma inflação entre 2,5 a 6,5% ao ano.

  5. Creio que a posição do
    Creio que a posição do Ministro do Planejamento Paulo Bernado se alinhando com o presidente do Banco Central se deve muito mais a influência de Henrique Meirelles na condução da política econômica, do que por simpantia pela posições defendidas pelo Presidente do Banco Central.

    Devemos ver daqui para frente o ministro do Planejamento Paulo Bernado se alinhando muito mais as posições do Ministro guido Mantega.

  6. Um detalhe que me chamou
    Um detalhe que me chamou muito a atenção: sempre que criticado quanto ao aperto
    imposto pela taxa de juros, o presidente do BC se justifica dizendo que não é o BC
    que define a meta de inflação, mas cabe a ele persegui-la. Mas agora nesta história
    de definir a meta para 2009, aparece a forte disposição dele em influenciar a
    escolha. Isto fica evidente nos noticiários de jornais, e apropriadamente referido
    no comentário do Roberto: “creio que a decisão de manter a meta de inflação 4,5% no
    mínimo demosntrou que a posição defendida pelo Presidente do Banco Central já não
    mais tão dominante como até janeiro de 2007.”
    Apenas discordo do Roberto quanto ao peso da influência da posição do BC … Até pelo comentário do Henrique Meirelles, de que a meta acertada foi de 4,5%, mas o BC iria mirar abaixo da meta …

  7. O problema do presidente Lula
    O problema do presidente Lula e que ele quer agradar gregos e troianos.
    O que me chama muita atencao qdo se discute o noticiario economico e que ninguem, absolutamente niguem, nos explica porque os paises do Extremo Oriente tem inflacao baixa e crescimento elevado. E nos, latino-americanos ficamos sempre neste (falso?)dilema: inflacao X crescimento.

  8. Assim nao da. A impressao que
    Assim nao da. A impressao que fica e que o Brasil se transformou numa “panelocracia” onde alguns fazem o que bem entendem.

  9. Creio que a redução da meta
    Creio que a redução da meta de inflação com o cambio no atual patamar praticamente inviabilizaria uma recupeção do valor do dolar.

    A manutenção da meta de inflação
    praticamente garante espaço para recuperação do cambio como da manutenção dos cortes de 0,5% nos juros da Selic ou de uma elevação dos cortes dos juros da Selic se a condições de oferta continuarem favoraveis, como um aumento expressivo da taxa de investimento e/ou de aumento da capacidade de investimento do Governo.

  10. Caro Nassif, envio-lhe artigo
    Caro Nassif, envio-lhe artigo que publiquei sobre o assunto. Foi publicado no Estadão, de 27.06.2007.
    abraço

    Meta de inflação x crescimento do PIB
    Veículo: Jornal: O Estado de S.Paulo – Seção: Economia – 27/06/07

    ——————————————————————————–

    Antonio Corrêa de Lacerda*

    O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu, na reunião realizada ontem, manter em 4,5% a meta da inflação de 2009. É a mesma meta atual, válida para 2007 e 2008, com uma banda-limite de dois pontos porcentuais abaixo ou acima do centro dessa meta. Foi uma decisão sensata. Havia discussões quanto à conveniência de se reduzir a meta de 2009 para 4%. Essa eventual redução, embora aparentemente pequena, representaria uma restrição potencial para a queda das taxas de juros reais, principalmente dadas as características brasileiras. Os principais argumentos dos que defendem a redução são que a inflação efetiva de 2006, de 3,1%, e a esperada para 2007, de 3,5%, estão bem abaixo do centro da meta de 4,5% e que nossa meta ainda é elevada se comparada à média de 3% ao ano dos demais países que adotaram a mesma sistemática. Segundo essa visão ortodoxa, uma redução da meta de inflação faria convergir as expectativas para uma inflação efetiva mais baixa, o que daria mais condições para o Banco Central (BC) reduzir a taxa de juros no futuro. Isso sem maiores sacrifícios da política monetária, uma vez que a inflação corrente está abaixo da meta. Apesar desses argumentos favoráveis à redução, estou entre aqueles que apóiam a decisão de manter a meta atual de 4,5%. A situação favorável da economia internacional, desde 2002, é inédita nas últimas três décadas. Mas nada pode garantir que continuará assim. No Brasil, não há nenhum mecanismo de tratamento para eventuais choques externos de juros e preços. Uma mudança brusca do quadro internacional exigiria uma política monetária mais apertada. Há ainda um outro fator a ser considerado que é o fato de ainda prevalecer a indexação de preços, como os administrados, por exemplo, atrelados ao IGP e ao IGP-M (índices gerais de preços), fortemente influenciados pelas variações cambiais e de preços no atacado. Assim, um eventual choque de custos provocado por mudança cambial, por exemplo, tende a contaminar, via indexação, outros preços da economia, elevando a inflação. Essa inflação maior, na visão ortodoxa – ainda predominante no Comitê de Política Monetária (Copom), que é quem define a política monetária -, inevitavelmente exigiria maior nível de juros, afetando negativamente o crescimento econômico. Portanto, a questão que está em jogo não é apenas referente ao 0,5 ponto porcentual na meta de inflação para daqui a dois anos, mas, no fundo, qual a prioridade da política econômica. Não se trata do velho e falso dilema entre inflação e crescimento, mas de aprimorar os instrumentos de política econômica para preservar os avanços conquistados e, ao mesmo tempo, propiciar melhores condições para o crescimento sustentado da economia. É claro que o crescimento não depende só da qualidade da gestão da política macroeconômica. Existem outros elementos tão importantes quanto, como a qualidade do ambiente de negócios, os demais fatores de competitividade sistêmica e o nível de produtividade, por exemplo. Mas erros de gestão da política econômica podem desalinhar os preços fundamentais da economia, como a taxa de câmbio, por exemplo, afetando negativamente o crescimento econômico, os investimentos produtivos e provocando todos os efeitos colaterais decorrentes, os impactos perversos sobre emprego e renda. Daí é muito importante que uma única variável da política econômica não se sobreponha às demais. Isso explica por que há países que relutam em adotar uma meta explícita de inflação. Não creio que ainda seja o caso do Brasil. A questão é que o alcance da meta de inflação não pode inviabilizar a realização das demais metas, explícitas ou implícitas, da política econômica. Ou seja, o problema maior está mesmo nessa história de o BC só olhar a meta de inflação. Como essas decisões de política econômica nunca são neutras, há sempre ganhadores e perdedores no processo. Os ganhos de arbitragem propiciados pela combinação vigente entre juros e câmbio no Brasil têm sido muito mais favorável à especulação do que à produção. Há ganhadores nesse processo, mas com certeza há muito mais perdedores, embora isso nem sempre seja facilmente perceptível.

    *Antonio Corrêa de Lacerda, doutor em Economia pela Unicamp e professor doutor da PUC-SP, é autor, entre outros livros, de Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil (Saraiva). E-mail: [email protected]

  11. Caro Nassif,

    Acompanhei toda
    Caro Nassif,

    Acompanhei toda a campanha do mercado financeiro pela redução do centro da meta de inflação de 2009. Aliás eles queriam mais. Queriam a redução da margem de tolerância para +- 1,5% em lugar dos 2% atuais.

    Penso que a decisão do CMN também pode ser entendida como: O BC pode perseguir o alvo de 4% mas não poderá alegar que está obrigado a fazer isto, já que oficialmente vale 4,5%. Na prática o CMN aceitou que o BC persiga 4%, aceitou também que ele pode errar sómente 1,5% para baixo. Mas não só recusou ao BC a margem de 1,5% para cima como a aumentou para 2,5%.

    Isto quer dizer que o BC pode mirar 4% mas se errar na mão e a inflação ficar abaixo de 2,5% terá que ajoelhar no milho. Da mesma forma não poderá alegar o risco de humilhação se a inflação ficar abaixo de 6,5% contra os 5,5% que pleiteava a turma da bufunfa.

    Pode ser que tenha sido uma solução salomônica, mas pelo menos o joguinho ficou mais interessante.

    Também achei salutar o CMN ter chegado a uma decisão sem expor divergências, que sempre acabam servindo para os espertões tirarem proveito.

    Abraço,
    Wilson

  12. A inflação deve ser
    A inflação deve ser controlada e está controlada. Muito dos índices inflacionários se deve as taxas administradas via contratos das privatizações e tucanagens havidas.
    Assim, a inflação, mesmo na melhor das hipóteses e num período mais longo, sempre existirá. De outra forma, a fixação de metas inflacionárias e com o viés de baixa adotado pelos olímpicos do BC – o próprio Meirelles já se manifestou a respeito – também a “perseguição” atual do BC está abaixo da meta e tudo fica como está. Quer dizer, fixamos a meta mas o objetivo do BC é outro. No copom manda a banca…

  13. Devagar ,que tenho
    Devagar ,que tenho pressa!Seria o lema ,adequado a política econômica do governo.Essa prudência, se assim podemos qualificar,nos manteve saudáveis,nem obesos tampouco musculosos,menos ainda raquíticos.Esse pêndulo americano,sobre a economia mundial,faz crer que os nossos “condottieri”,estão no rumo certo.Continuamos a superar marcas históricas,na nossa economia,até onde as estatísticas alcançam.Se ,com modéstia ,olharmos os próximos dois anos,a solidez dos indicadores, são incontestáveis.Parece, que a estrela dourada ,que substituiu a vermelha,tem trazido sorte a Lula.Como afirma o “The “Economist”: “a lucky man”.Vou encomendar uma para mim, também.

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