Seae: indícios de pirâmide na Telexfree

Do Estadão

Seae vê indício de pirâmide na Telexfree

Governo desconfia que empresa ganha com recrutamento de pessoas para rede de divulgação de pacotes de serviço de voz pela internet

CÉLIA FROUFE / BRASÍLIA

Um vendeu o carro. O outro, a casa. Com dinheiro em mãos, aplicaram em um investimento que prometia retorno alto e rápido, duas palavras que dificilmente aparecem juntas no mercado financeiro sem que haja um grande risco. Mas essa foi a proposta que atraiu, segundo estimativa do governo, cerca de um milhão de brasileiros que agora podem perder o capital inicial investido na operação.

Representantes da Telexfree é que fazem as ofertas tentadoras. O modelo da empresa é a venda do serviço de voz pela internet (Voip), como o Skype ou o Google Talk. A desconfiança do governo é a de que, na realidade, a companhia trabalha com um sistema de pirâmide, em que se ganha dinheiro com o recrutamento de mais participantes, o que é proibido por lei.

Por isso, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda disse ontem que há indícios de irregularidades na atuação da Telexfree. Por entender que é preciso fazer um trabalho amplo de investigação, encaminhou suas conclusões para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal.

Os interessados em fazer negócio com a Telexfree podem se habilitar para serem os divulgadores do sistema, por meio de publicidade pela internet – mas têm de pagar por essa publicidade. Há vários tipos de contrato com a empresa, em várias faixas de “investimento”. O divulgador que fecha parceria com a empresa também passa a ganhar uma determinada quantia cada vez que conseguir um novo divulgador para os planos. Quanto mais caros os planos de adesão, maior a quantia que receberá.

Convite. Um desses convites chegou ao operador de vídeo Paulo por meio de seu vizinho. Ele ouviu a proposta, mas preferiu não arriscar, pois teria de desembolsar R$ 2,8 mil. Em contrapartida, deveria realizar cinco anúncios por dia para a empresa em sites depois de um cadastramento. Se houvesse o cumprimento de sua parte, cairia todos os meses em sua conta R$ 800,00 por, no mínimo, 12 meses. O retorno seria de R$ 9,6 mil no período, ou 242% da aplicação inicial.

Desconfiado, o vigilante Ronaldo também ficou de fora. Seu filho, no entanto, “vendeu um carrinho” e aplicou R$ 6 mil na Telexfree. O primo também aderiu e Ronaldo conta que os dois têm recebido o dinheiro conforme o combinado com a empresa. Agora, ele teme que, com as investigações do governo, a empresa deixe de atuar e ele não recupere sequer a aplicação inicial. “Conheço gente na minha igreja que vendeu casa para entrar no negócio”, relatou. “Meu filho quis me colocar, pois se ele apresentar alguém, também ganha, mas fiquei preocupado porque tem aquele lance da pirâmide. É uma coisa arriscada.”

No site da Telexfree, o diretor de marketing Carlos Costa aparece em um vídeo com o objetivo de tranquilizar os colaboradores. Ele admite que a empresa está passando por “várias” investigações, mas avaliou que o fato é “altamente positivo” para a companhia. “Vai se poder separar o joio do trigo. Somos uma empresa séria”, afirmou.

Costa enfatizou que a empresa instalada em Vitória (ES) é séria, honesta e que vem colaborando com todas as investigações.

Segundo ele, na segunda-feira, a Telexfree pagou mais de R$ 19 milhões em impostos. “Você não precisa se preocupar com nada. Estamos aqui para trabalhar com e por você. Não se deixe abalar. Você está sendo um guerreiro, levantando essa bandeira da Telexfree. Em momento algum você vai se decepcionar.”

Luis Nassif

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