Tombini e a desaceleração da economia

Por Marco Antonio L.

Do Vermelho

Presidente do BC enaltece desaceleração da economia nacional

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, enalteceu a desaceleração economia nacional, dizendo que a moderação do ritmo de crescimento “está em linha” com os objetivos do Banco Central durante entrevista coletiva para a imprensa internacional por meio de teleconferência nesta quinta-feira (18).

Ontem (17), o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) dessazonalizado (ajustado para o período) mostrou queda de 0,26% em junho em relação a maio. No segundo trimestre, em relação ao período anterior, registrou-se alta de apenas 0,69%, o que evidencia a desaceleração da atividade econômica.

Juros altos e ajuste fiscal

Segundo Tombini, a moderação está em linha com o que foi previsto pelo BC e informado à sociedade e ao mercado financeiro. Para ele, o índice reflete o resultado das elevações da taxa básica de juros (Selic) este ano e das ações relacionadas às políticas de crédito e fiscal, ou seja, o ajuste fiscal realizado pelo governo e traduzido num corte de gastos públicos estimado em mais de US$ 50 bilhões.

Na entrevista à imprensa internacional, Tombini também informou que há redução no ritmo de expansão do crédito no país e do mercado de trabalho. Ele reafirmou que a inflação no Brasil, em 2012, irá convergir para o centro da meta fixada pelo governo (4,5%), como resultado da ação da política econômica. O presidente do BC também informou que, com base nas expectativas de mercado, a inflação não deve superar o teto da meta (6,5%) este ano.

Para o presidente da autoridade monetária, o Brasil está preparado para enfrentar uma possível piora do cenário econômico internacional. Ele destacou que o sistema financeiro brasileiro é sólido e o país conta com reservas internacionais elevadas e depósitos compulsórios. Além disso, na avaliação dele, o mercado doméstico, importante no enfrentamento da crise financeira de 2008, segue forte. E garantiu que a situação fiscal do Brasil melhorou de 2008 para cá.

Orientação conservadora

A concepção do presidente do BC reflete a orientação conservadora da instituição que preside e, embora sintonizado com os interesses da oligarquia financeira, não está em linha com o pensamento progressista e o clamor nacional, que une trabalhadores e empresários, por mudanças na política monetária.

Recentemente, as centrais sindicais reuniram 80 mil pessoas no estádio do Pacaembu em São Paulo para reclamar mudanças na política econômica, começando pela redução das taxas de juros. Neste ano, o Comitê de Política Monetária do BC promoveu cinco rodadas de alta da taxa básica (Selic), que está em 12,5% e é, em termos reais (ou seja, descontada a inflação), a mais elevada de todo o mundo.

Água fria no crescimento

Os economistas não se cansam de apontar, e alguns já estão carecas de saber, os problemas advindos desta política conservadora, especialmente quando associada ao câmbio flutuante e à excessiva liberalidade em relação aos movimentos do capital estrangeiro de curto prazo. Eleva as despesas dos governos com juros, que já consomem mais de um terço dos orçamentos; impede a redução da relação dívida/PIB; deteriora a distribuição da renda; contribui para a valorização do real e deprime o consumo e os investimentos. Ou seja, é água fria no crescimento.

A crise internacional, que o Copom subestimou (basta analisar a ata da sua última reunião, que sequer menciona o impasse em torno da dívida dos EUA), pode ter desdobramentos mais dramáticos para a economia nacional, mas a verdade é que esta já está perigosamente a caminho da estagnação. Além da sinalização de queda do PIB pelo próprio BC, o mercado de trabalho revela desaquecimento, a taxa de investimento retrocede e a chamada desindustrialização avança.

Cenário crítico

O futuro a deus pertence, mas o cenário é crítico. Os efeitos da crise nos EUA e na Europa ainda estão concentrados na bolsa de valores, onde o tombo é grande e vai afetar a chamada economia real, mas as coisas tendem a piorar, afetando o crédito e o comércio internacional. A conjuntura recomenda redução das taxas de juros, com em muitos outros países, e medidas ousadas que significam ruptura com a orientação conservadora, de viés neoliberal, que prevalece hoje: redução do superávit primário, controle do câmbio e dos fluxos de capitais, restrição às remessas de lucros e dividendos, entre outras.

Desta vez a culpa pelo descaminho da economia não pode ser atribuída às potências capitalistas. Foi o próprio BC e a equipe econômica do governo, com um ajuste fiscal draconiano, que pavimentaram o caminho da desaceleração. Não há razão para comemorações. Resta lutar por mudanças profundas nas políticas monetária, fiscal e cambial.

O povo não deve se dar por satisfeito com a suposta sabedoria daqueles que afirmam que o Brasil não pode ambicionar um crescimento elevado do PIB, sob pena de deslizar para a instabilidade monetária (inflação). O país já cresceu mais de 7% ao ano no passado, durante décadas, a China cresce em torno de 10%, a Índia 8%. A diferença certamente tem a ver com a taxa de investimentos, mas esta pode avançar com a mudança da política  econômica, taxas de juros menores, redução das despesas com juros e do superávit primário para ampliar os investimentos públicos.   

Da Redação, com agências

Luis Nassif

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