Transição de Lula inicia conciliação entre gastos públicos e aceno ao mercado

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Entenda como Lula e sua equipe de transição lidam com o primeiro grande obstáculo: investimentos sociais com consolo ao mercado

Reunião da equipe de transição de Lula com relator do Orçamento – Foto: Gabinete senador Jean Paul Prates

A licença ao Congresso para gastar mais no Orçamento é, por um lado, o único mecanismo de a equipe de transição do governo Lula conseguir cumprir com as promessas de campanha de aumento real do salário mínimo e manter o auxílio de R$ 600. Mas, por outro, alarma setores do mercado sobre o comprometimento fiscal.

Para lidar com essa delicada balança – investimentos sociais e consolo ao mercado -, Lula tem buscado nomes deste último setor para servirem de âncora e de sinalização interna e externa de investidores de que o Brasil será seguro para a entrada de recursos, e que conseguirá lidar com o endividamento a longo prazo.

Jair Bolsonaro deixou para Lula a maior restrição de investimentos públicos dos últimos anos, ao congelar na proposta orçamentária deste mandatário que sai recursos insuficientes para cumprir as suas próprias promessas (durante a campanha, Bolsonaro também prometeu R$ 600 de auxílio, mas sem ter viabilizado isso no texto orçamentário, entre outras).

E não somente o Auxílio, que voltará a se chamar Bolsa Família nos modelos criados pelo governo PT que, entre outras coisas, deverá voltar a atrelar a educação das crianças nas casas brasileiras e o comando da mulher nos recursos. Todos os investimentos em políticas sociais e educação foram cortados e reduzidos.

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Enquanto caminha a negociação dentro do Congresso para a concessão dessa licença de gastos extras – a PEC da Transição, com deputados e senadores da aliança que elegeu Lula dialogando com o Centrão que antes apoiou Bolsonaro, também outros gestos considerados decisivos estão sendo materializados.

Lula convidou o economista André Lara Resende para estudar e assinar também estes caminhos que serão adotados. E ele aceitou, participará da equipe de transição. Também foi feito o convite ao ex-presidente do Banco Central, Persio Arida.

Ambos são criadores do Plano Real, no governo de Fernando Henrique Cardoso, e deverão dar o aceno aos investidores, com as propostas mais conservadoras no campo fiscal, mas ao mesmo tempo viabilizando os investimento públicos do plano Lula.

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Isso será possível porque também é consenso entre representantes desse “mercado” que as políticas públicas devem ser feitas, que, em última instância, recaem no juro real, o que também influenciará no pagamento dessa dívida do país.

Lara Resende é mais adepto ao equilíbrio fiscal que o Teto de gastos impõe. Mas ele entende que essa restrição não deve custar mais do que saídas político-econômicas necessárias ao país, como são os investimentos públicos. Arida também defende métricas fiscais, mas não restritivas.

No campo desenvolvimentista que foi a marca dos governos Lula, integrará a equipe econômica de transição do economista Guilherme Mello, da Fundação Perseu Abramo, e que fará o diálogo e mediação com os economistas mais tradicionais.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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