Livro franco-brasileiro analisa machismo no mercado do trabalho

Pesquisadores da França e do Brasil lançam coletânea sobre a desigual condição do trabalho feminino  
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Atualizado 11/06 para inclusão dos vídeos
 
Jornal GGN – A editora Boitempo acaba de lançar a coletânea Gênero e trabalho no Brasil e na França: perspectivas interseccionais, reunindo 23 artigos de 31 pesquisadores sobre a questão de gênero no mercado de trabalho nos dois países. A obra também foi lançada na França. 
 
O lançamento, em São Paulo, realizado na última segunda (27), foi palco para entrevista de duas das três especialistas responsáveis pela organização do livro, a socióloga e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, Maria Rosa Lombardi e a também socióloga e pesquisadora do Centre de Recherches Sociologiques et Politiques de Paris, do Centre National de la Recherche Scientifique (Cresppa-GTM/CNRS), Helena Hirata, considerada hoje uma das mais importantes pesquisadoras de gênero na atualidade. As duas são autoras de obras no campo da divisão sexual do trabalho.
 
Não é novidade a desigualdade de relações entre homens e mulheres no campo do emprego. Um relatório divulgado em março deste ano pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) revalidou essa realidade ao apontar que em 178 países as mulheres ganham em média 77% do salário que os homens para executar o mesmo tipo de serviço. 

 
Ainda, segundo a OIT, entre 1995 e 2015 a diferença de salários entre os dois gêneros diminuiu apenas 0,6%. Levando esse dado em consideração, portanto, a paridade salarial entre homens e mulheres deverá acontecer em 70 anos. No Brasil uma pesquisa semelhante realizada pelo IBGE, em 2014, e divulgada este mês, revela que as mulheres recebem salários que são 20% menores do que os homens recebem.  
 
A pesquisadora Maria Rosa frisou que a coletânea é inovadora ao tratar da “questão do cuidado das emoções”, isso é, de trabalhos onde a participação da mulher é predominante, como estética, enfermagem, cuidadora de idosos ou pessoas com deficiência.  
 
“As ciências sociais, não faz muito tempo, admitiam que o afeto está presente nas relações interpessoais e que pode se transformar numa temática de estudos”, pontuou. A pesquisadora destacou que o livro discute também a participação da mulher no desenvolvimento da ciência e das artes. 
 
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Maria Rosa observou, ainda, que a interseccionalidade, ou seja, a sobreposição de preconceitos sofridos pelas mulheres conforme sua posição na sociedade (cor, classe social e grau de instrução) é discutida com profundidade no artigo que abre o livro, da feminista francesa Danièle Kergoat, chamado “Intercruzar as desigualdades”. 
 
Já a professora Helena Hirata destacou artigos da obra que abordam a colocação da mulher negra. “Há um artigo do Antônio Sérgio Guimarães que é sobre raça, em que ele descreve as teorias sobre os movimentos raciais e onde ele vai descrever a situação das mulheres negras no mercado de trabalho brasileiro, as mulheres feministas que escreveram sobre essa discriminação das mulheres negras como, por exemplo, a Lélia Gonzalez, desde o fim dos anos 70 começo dos anos 80, e ele também cita toda uma série de autoras feministas na França que falaram da questão racial”. 
 
Hirata ressaltou que a questão racial também é premente na França, onde filhos de negros e árabes, mesmo nascidos em território local, ainda não são reconhecidos como franceses. Em relação à precarização, a professora destacou que o principal problema das mulheres francesas não é a informalidade, mas a falta de cargos para tempo integral no comércio, onde são contratados preferencialmente os homens. Para as mulheres ficam os postos em tempo parcial, com salários menores. 
 
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Outro artigo que aborda a temática étnica, apontado por Hirata, é da coordenadora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, Maria Betânia Ávila, sobre os movimentos das empregadas domésticas no Brasil. 
 
“70% das empregadas domésticas são negras e mais de 70% trabalham na informalidade e, hoje em dia pode-se dizer que há seis milhões de mulheres que são empregadas domésticas [no Brasil. Então há um número muito grande de mulheres negras e elas estão todas em uma faixa de salários e em uma faixa ocupacional muito baixa (…) ganham menos na sociedade brasileira e são as mais humilhadas, são as que têm uma situação mais difícil no plano do emprego”, lembrou.
 
O livro, nascido a partir de um seminário franco-brasileiro realizado em agosto de 2014, traz também artigos que falam sobre a mudança do mercado de trabalho feminino, o acesso das jovens à educação, a divisão sexual de tarefas domésticas, terceirização e a exposição da mulher em funções cada vez mais precárias. 
 
 
Redação

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  1. mulheres no sindicato anos 1970 a 1990.

    Sou doutoranda do PPGNEIM- programa de pósgraduação em estudos interdisciplinares sobre gênero, mulheres e feminismos. No momento realizo minha pesquisa de doutorado entrevistando mulheres militantes sindicais, na Brasil, França, alemanha, Portugal e Italia. Gostaria de ter referencias bibiograficas de estudos sobre mercado de trabalho e Inserção política de mulheres nos sindicatos.

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