“Não se quer um grande documento descritivo, mas a verdade”, diz Erundina

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A deputada federal elogiou o trabalho da CNV, estimulando comitês no país inteiro, mas criticou a falta de vontade política

Jornal GGN – Se para alguns, a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade representou um marco de reparação e respostas pelos crimes cometidos durante a ditadura do regime militar, para a deputada federal Luiza Erundina (PSB) ainda é pouco: “é só um grande documento descritivo sobre a história da ditadura no Brasil”, disse em entrevista ao GGN.

“Não é isso que se quer. Se quer a verdade sobre os desaparecidos políticos. Se quer a verdade sobre os crimes de lesa humanidade. Se quer a revisão da Lei da Anistia. A revisão não, a reinterpretação de um artigo, um único artigo, que inclui os autores desses crimes, no benefício da lei da anistia”, completou a deputada.

Os questionamentos de Erundina são muitos. Um deles faz referência aos arquivos fechados das Forças Armadas, documentos da Justiça Militar que os militantes acreditam estarem escondidos, e que trariam comprovações e respostas mais claras aos familiares dos mortos e desaparecidos políticos. “Estão intocados, a verdade está intocada. E não se fez nada, apenas consta no relatório a indicação de que esses arquivos sejam abertos. Isso não vai ter eficácia”, afirmou.

Para a deputada, o que falta é mais vontade política, principalmente da presidente da República, Dilma Rousseff, para se sobrepor às decisões das Forças Armadas e exigir, através da Comissão Nacional, a abertura de tais documentos, o que, segundo Erundina, não ocorreu durante as atividades da CNV.

“A eficácia era ter valido, ter usado o peso de uma Comissão legal ligada à presidente da República. Ela [Dilma], mais do que ninguém, tem razão suficiente para se mobilizar, mobilizar o poder que o povo brasileiro está lidando pela segunda vez, para exigir que esses fatos sejam conhecidos, para passar a limpo essa página triste da história brasileira, que é uma nódoa no nosso passado democrático, na civilização do nosso país e uma dívida que o governo brasileiro não pagou ainda, não está pagando, e não vai pagar enquanto a gente não resolver esse impasse da lei da Anistia”, defendeu Luiza Erundina.

Por outro lado, a deputada enxerga a importância das auditorias realizadas, da mobilização que a CNV possibilitou a nível nacional, em todas as regiões do país, para a conscientização de se lembrar para não repetir – principal lema dos militantes e das lutas pela memória e verdade sobre as violações dos direitos humanos praticadas durante a ditadura.

“Um grande saldo, a meu ver, dessa Comissão Nacional da Verdade, é que ela suscitou a formação de comitês no país inteiro. Foi uma subcomissão que nós criamos na Câmara, na Comissão de Direitos Humanos, e estimulamos a criação de comitês estaduais, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais, Comitês de familiares e de militantes de direitos políticos. Hoje são dezenas, senão milhares de organizações, nas Universidades, nos sindicatos. Onde teve alguma presença da ditadura e vítimas dela, tem sido espaço para a formação de Comitês, que contribuíram, e muito, para a CNV”, afirmou a deputada, lamentando a ausência de participação desses núcleos localizados na elaboração do relatório final.

Acompanhe a entrevista de Erundina ao Jornal GGN, abaixo:

http://youtu.be/WsaWKRNQkVw?list=PLZUPpD2EGpfqTgRsnNnt1B_Ha1GyJnO4M width:700 height:394

Entrevista concedida a Patricia Faermann e Pedro Garbellini

Baixe o relatório completo da CNV aqui.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. Sabe porque não sabemos de

    Sabe porque não sabemos de toda a verdade? Por falta talento da Comissão da Verdade.

     A principal desculpa dos militares foi não relatar sobre os 124 mortos pelos terrosristas,–colocando no mesmo saco os dois lados.

           Realmente isso foi um erro. Mas não grave.Porque os militares ou inocentes mortos pelos terroristas tem nome, emdereço e cova conhecida.NÃO HÁ UM DESAPARECIDO.

    O mesmo não se pode dizer dos militares; que em muitos casos não se pode nem enterrar os ossos dos desparecidos.

            Outra coisa muito importante que nemhum membro da C V se interessou em dizer|:

               Quantos militares ou incentes foram torturados pelos ”subservivos”; Pelo que eu saiba , nenhum.

               Então não é uma comissão de mortes em campo de batalha.É uma comissão que deveria relatar a morte de ambos os casos e dizer: Mas  os ”terrorustas ”NÃO TORTURARAM NINGUÉM.–iSSO que faltou.

                 Eu sou favorável a anistia como é óbvio. Mas pra tortura e desaparecimento de pessoas,não.

                      A anistia era pra perdoar os dois lados, desde que tivesse dois lados,Mas tem um lado só.

                    A comissaão da Verdade errou feio ao não esclarecer a diferença de mortos em ”combate” e torturados.

                    E até hoje nunca li um argumento nesse sentido.

  2. Após apoiar Marina “traíra”
    Após apoiar Marina “traíra” Silva, que moral tem dona Luíza “virgem no puteiro” Erundina, de falar em falta de vontade política?

  3. Sugiro à Deputada Erundina

    Sugiro à Deputada Erundina que, com a autoridade que lhe confere seu mandato, juntamente com todos os demais membros e lideranças de seu partido, o PSB, detentores ou não mandatos, iniciem um campanha visando o esclarecimento definitivo das obscuridades por ela apontadas, em homenagem ao povo brasileiro e a Miguel Arraes.

  4. Ái que bunitinho, vamos

    Ái que bunitinho, vamos brincar de verdade agora? Então vamos lá . . . . fala pra nós do aviaosinho, aquele sem dono e do outro que está escondido na sombra deste . . . . vamos falar de como voce ficou quietinha quietinha abrigada no guardachuva da mais reacionaria direita nesta eleição de 2014 . . . . fala fofucha . . . . . 

  5. Deu!

    Pra mim, Erundina já deu! Ela anda querendo limpar a própria barra agora, mas não dá: na última campanha eleitoral, que foi crucial para a esquerda, que, no segundo turno, uniu até o PSOL ao PT, ela ficou caladinha do lado da DIREITA. Isso é história, Erundina! Não adianta querer posar de mais real do que o rei agora. Por muito menos do que o PSB e Eduardo/Marina fizeram vc saiu do PT e condenou a candidatura Haddad. Hipócrita! Comigo, perdeu toda a credibilidade.

  6. Tá bom, tá bom. Vamos supor

    Tá bom, tá bom. Vamos supor que falte “vontade política” para Dilma Rousseff para encarar os militares e botar prá quebrar. Qual a “vontade política” que Erundina demonstrou agora mesmo? A vontade de emplacar Marina Silva na presidência. Arruma um jeito de alfinetar a presidenta e esquece da esparrela que protagonizou. Erundina teve um passado. FAz tempo que não tem presente. 

  7. Ora Erundina…

    Pq não vai catar coquinhos?

    Falta vontade à Dilma…blá blá blá…

    Depois do papelão da última eleição aliando-se aos mais retrógrados e permitindo por omissão derivada do interesse político imediato o deslocamento do PSb à direita raivosa vem criticar a Dilma?

    Então faltou vontade política ao Lula também? Porque não foi instituida a CNV anteriormente? E os demais?

    Vai fazer sua parte, vai denunciar O Globo e a Folha que são contra em editoriais à revisão da Lei de Anistia.

  8. Dona Erundina, faça-nos um

    Dona Erundina, faça-nos um grande favor… Depois do papelão de apoiar Aécio (e não me venha com a conversa mole de que entrou nessa equivocada… não entrou…) a senhora perdeu toda e qualquer autoridade para questionar o quer que seja relacionado à direitos humanos e assemelhados. A senhora foi uma enorme decepção para todos nós que um dia acreditamos que sua vontade política estava voltada para a melhoria de nosso povo. O ressentimento contra o PT (a ponto de apoiar Aécio e negar-se a ser vice de Haddad…) foi a pá de cal em suas pretensões políticas. Passar bem…

  9. Uma coisa é uma coisa…

    Outra coisa é outra coisa…

    Comissão da Verdade é isso aí mesmo, um “relatório descritivo”.

    Revisão da anistia é outro assunto.

    Arquivos da ditadura? Dúvido que ainda exista alguma coisa relevante que já não tenha sido destruída…

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