Azulão, príncipe do cordel brasileiro

1. No último dia 8 de janeiro, o cordel festejou o aniversário de Azulão, nascido em Sapé, na Paraíba do Norte, foi pioneiro da divulgação da poesia nordestina no Rio de Janeiro, fundador da Feira de São Cristóvão, autor de incontáveis títulos, folheteiro, violeiro e cantador. São 80 anos e mais de 500 folhetos decorados na cabeça branca. Criador de “pinicados” na viola, viu o Cego Aderaldo tocar no Rio, cantou com João Paulo Jr. Azulão é mais que um pássaro. É nosso voo e nosso pouso seguro. Curtam a capa de um de seus inúmeros sucessos: Vitória de Renato e o Amor de Mariana.

2. Conheci Azulão em 1986 quando cheguei no Rio, vindo de Sergipe. Naquele dia ele declamava O Trem da Meia-Noite no Largo da Carioca no centro de uma roda de ouvintes paralisados. Falava de tudo que acontecia no trem da Central. Versos numa métrica impecável, rimas perfeitas e interpretação magistral. Também eu, que já pensava em tornar-me poeta, paralisei-me e resolvi rever minhas preferências. Depois encontrei-o várias vezes fazendo a mesma coisa: poesia. Hoje, somos amigos e me emociono todas as vezes em que vou a sua casa. Sempre tem uma novidade, no cordel, na viola, numa observação sobre poetas com quem conviveu. Azulão escreve como quem sonha e canta como quem acabou de acordar. Outro título dele: Os Sofrimentos da Fera da Penha na Penitenciária de Bangu.


3. Pouca gente saberá quem foi Caryl Chessman. Foi morto no dia 2 de maio de 1960 na Câmara de Gás, na Califórnia, depois de 12 anos preso no Corredor da Morte. Recolhido à Penitenciária de San Quentin, Chessman alegava inocência, acusado de ser o Bandido da Luz Vermelha americano, responsável por uma série de roubos e estupros nos arredores de Hollywood. Durante a década de 1950 o caso tomaria repercussão internacional e ilustraria as páginas dos jornais brasileiros, semelhante a Saco e Vanzetti. Pois bem, é de Azulão a versão da história para o cordel. 

4. Vou fechar minhas homenagens a Azulão citando mais uma vez o seu lado de cronista. Quando escreve Os Sofrimentos da Fera da Penha refere-se ao caso comovente da menina Tânia Maria, barbaramente assassinada por Neide Maria Rocha, de 22 anos na época, motivado o assassínio por ciúme e vingança, segundo os autos do processo. Seguido ao crime deram-se os supostos milagres que a criança morta estaria promovendo. Com Os Novos Milagres de Tânia finalizo minha lembrança e a felicidade de poder ter conhecido Azulão no melhor de sua forma.

5. Todos esses folhetos de Azulão foram publicados no Rio de Janeiro por A Modinha Popular. Reparem nas capas em três cores, semelhantes ao que a Prelúdio produzia na época em São Paulo. Assim como a editora paulistana, A Modinha, carioca, tinha em sua linha editorial, a publicação de revistas com letras de música e o dia-a-dia da classe artística e seguiu a orientação de publicar cordéis para alcançar o público nordestino que desembarcava no Rio. Azulão e Apolonio Alves são pioneiros na editora.

Redação

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  1. O Cangaceiro

    A história de Lampião contada nos versos da literatura de cordel de Francisco de Assis Oliveira.

    [video:http://youtu.be/PXa3eYOh96I%5D

    A animação criada pelos alunos de Design da UFPE foi produzida pela Universidade Federal de Pernambuco; Maquinário Laboratório de animação UFPE; Núcleo de Design / CAA; Projeto Animando Histórias e Projeto Cordeis Animados, com o apoio do Estúdio Malunguim.

     

    1. O MESTRE AZULÃO

      O Mestre declama os seus versos no primeiro vídeo do Globo Rural a partir de 6:38.

      ‘Na feira de São Cristóvão reduto dos nordestinos no RJ encontramos  um destes típicos poetas populares.Todos os domingos José João dos Santos passeia pela feira que ajudou a criar: – “Dos fundadores só tem vivo eu!”, testemunha o poeta.

      ‘Ele saiu da Paraiba para o Rio de Janeiro na década de 40, trabalhou como pedreiro, como porteiro, até ficar conhecido por suas cantorias e versos como Mestre Azulão’.

      ‘Na terra de Azulão não chove no mês de maio
      O povo de lá só vive de fazer cesto e balaio
      Foi a terra que a vaca engoliu o papagaio’

      O super bem humorado Mestre Azulão acredita que ela confundiu o verde papagaio com uma moita de capim.

  2. O Poeta

    Quem foi na sede da Academia Brasileira de Literatura de Cordel neste fim de semana pôde ouvir um pouquinho do talento de José João dos Santos, o grande Mestre Azulão.  

    O poeta-cantador paraibano mostrou um pouquinho do seu vasto repertório no Encontro com Mestres Populares e Rodas de Cantorias..

    mestre azulão com sua cantoria

    Azulão é poeta experiente.

    Morador do Rio de Janeiro há 58 anos, foi um dos principais fundadores da feira nordestina de São Cristóvão (RJ), como ele mesmo conta no seu livreto “A feira nordestina, foi assim que começou” (2007), editado pela Tupynanquim editora.

    É na própria feira que ele possui sua barraquinha de cordéis, onde os vende em grande quantidade.

    Do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas (como é nomeada a Feira de São Cristóvão) ele só reclama do barulho das barracas que o impede de recitar no seu local preferido, a praça Catulé da Rocha, bem no centro da feira.

    Além de ser um grande repentista, Azulão já escreveu mais de 300 cordéis, sabe de cor romances que ninguém mais sabe e é também mestre de reisado.

    Azulão é pequenino, mas na hora de cantar, a sua voz ecoa poderosa.

    Êta veinho danado!

    “A Feira Nordestina, foi assim que começou”

    Do Mestre Azulão, fragmentos

    feira de sao-cristovao

     

    Quem quiser saber da feira

    Venha pra perto me ouvir

    Que vou contar em detalhes

    Sem aumentar nem mentir

    Mas num falar positivo

    Vou explicar o motivo

    Da nossa feira existir

     

    No ano quarenta e nove

    Vim pro Rio a vez primeira

    Fui visitar São Cristóvão

    Então por esta maneira

    Sem de nada conhecer

    Depois eu pude entender

    O começo desta feira

     

    Foi num dia de domingo

    Eu vim com meu primo João

    Pagar a passagem dele

    Que veio sem um tostão

    Nisso um motorista fala:

    – Vá lá pegar sua mala

    Que está no meu caminhão

     

    Eram dez horas do dia

    Eu vi um moreno forte

    Cercado de nordestinos

    Vindos no mesmo transporte

    Com uma lona no chão

    Vendendo fava e feijão

    Gritava: – Chegou do norte!

     

    Tinha até fumo de rolo

    Rede, rapadura e queijo

    Dizendo: – Aqui conterrâneo

    Este é puro e sertanejo

    Eu garanto a qualidade

    Você come e tem saudade

    Mata a fome e o desejo

     

    Algum já lhe conhecia

    Dizia: – Eu quero seu João,

    Comprava e lhe perguntava:

    – Tem chinelo e cinturão?

    Seu João dizia: – Não tem

    Mas esta semana vem

    No primeiro caminhão

     

    Eu observei um pouco

    Aquele povo comprar

    Uns chegando do nordeste

    Outros que iam voltar

    Tudo feliz e contente

    Numa árvore bem em frente

    a Senador Alencar

     

    Uns criticavam dos outros

    Com risada e brincadeira

    João Gordo vendendo as coisas

    Numa lona e uma esteira

    Outro vendilho chegou

    Foi assim que começou

    O início desta feira (…)

    Azulão recitando

    Vitor Rebello | 30 de Junho de 2009 | http://lercordel.wordpress.com/

  3. Diversão e Informação

    Folhetos de cordel traziam diversão e informação ao povo nordestino

    Leandro Gomes de Barros é considerado o Pai da Literatura de Cordel

    Muito antes de aparecer na televisão, o povo da roça, principalmente do Nordeste, já usava o cordel para divulgar suas histórias. A reportagem mostra a história dos poetas cordelistas.

    “Foi um trio americano que primeiro teve a glória
    De fazer daqui da Lua uma via transitória,
    Que vai ficar para sempre na face A da história”.

    No cordel, aconteceu, virou poesia. Tem muita gente que só acreditou que o homem tinha mesmo chegado à Lua depois que leu a história rimada. Contada num folhetinho de capa singela, papel simplório e vendido por quase nada.

    Em alguns lugares da zona rural, parece até que foi feita uma plantação de parabólicas, tamanha a quantidade. A notícia chega via satélite, mas quando não existia luz elétrica, rádio ou TV, eram os folhetos de cordel que traziam informação e diversão. Eles eram o jornal e a novela do sertanejo.

    “Peço ao senhor Jesus
    Que em tudo me conduz
    Que dê-me um facho de luz
    Com fios de inspiração
    Para escrever em cordel
    Como é que é o papel
    De qualquer um menestrel
    Com raízes no sertão”

    Nascido no sertão da Paraíba, o poeta Abdias Campos viveu estes dias, em que para o homem simples da roça, versejar era tão comum quanto lavrar. “Minha mãe botava a gente para dormir dizendo versos. Meu pai, a gente ia pro roçado, ele ia cantando. Depois do jantar ia pro terreiro, sentava nos bancos e ficava dizendo versos. Quando se ia pra feira, sempre se avisava: olha, traz o folheto novo. As histórias da própria redondeza eram contadas nesses folhetos”.

    O cordel corria o Nordeste na mala dos folheteiros, que iam de povoado em povoado vendendo poesia. Quem já conhecia as letras virava o leitor da família.

    “Pra lhes deixar a par sobre esta literatura,
    Que é a mais popular e, ainda hoje perdura,
    Vamos direto ao começo, donde vem esta cultura?”

    Quem nos conta a história do cordel no Brasil é o poeta e presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que não fica no Nordeste, mas no Rio de Janeiro.

    “Para nós de língua portuguesa, a origem é ibérica, vem de Portugal e Espanha, mas o cordel vem de mais longe, atravessou o período medieval. Aqui no Brasil, o cordel chegou em Salvador, na mala dos colonizadores portugueses. Dali, se irradiou pelo outros estados do Nordeste. Se irradiou na comunicação oral, não tinha chegado escrita ao Brasil, a imprensa”, explicou Gonçalo Ferreira da Silva.

    Foi a voz dos cantadores que primeiro encheu o sertão de versos.

    “Este Nordeste querido, que tanta beleza tem
    Seu cordel é sua vida, um amor que vai além”

    Oliveira de Panelas, um pernambucano cheio de bom humor se autodefine: “Eu sou poeta, repentista, violeiro, cordelista, cantador”.Oliveira ganha a vida mesmo como cantador e sabe bem a diferença entre o poeta repentista e o cordelista. “Todo repentista pode ser um cordelista, mas nem todo cordelista pode ser um repentista. Porque o repentista faz de improviso. Pensando é que ele faz. Não vamos dizer que ele seja um grande cordelista, aliás, a diferença é essa”.

    “Uma coisa se eu pudesse transformava sem sobrosso
    A voz de Maria Alcina botava em Ney Matogrosso
    Nem que fosse necessário um transplante de pescoço”.

    “Obrigado pai celeste, ter me dado esse Nordeste para fazer poesia”.

    O poeta cordelista é chamado de poeta de bancada. Ele senta, pensa e escreve seus versos. Mas o que faz do cordel uma poesia diferente? O jornalista e pesquisador da cultura brasileira Assis Ângelo já fez livro, CD, organizou concurso de poesia de cordel e não para de garimpar novidades. Algumas não tão novas assim. “Isso aqui é uma coisa recente, de 1626.” Tem também folheto em francês, folheto em japonês, cordel em quadrinhos.

    Em sua casa, em São Paulo, ele resume a diferença entre poesia de cordel e a poesia chamada de erudita. “Uma tem o lustre, tem o brilho da erudição no sentido de formação acadêmica e a outra, não, a outra é a poesia pobre. Ela é direta, é clara, não fica preocupada com expressões que as pessoas não conheçam. Ela não fica mexendo dicionários para encontrar palavras bonitas. São poesias que têm história com começo, meio e fim”.

    Na feira de São Cristóvão, reduto dos nordestinos no Rio de Janeiro, encontramos um desses típicos poetas populares. Todos os domingos, José João dos Santos passeia pela feira que ajudou a criar. Ele saiu da Paraíba para o Rio de Janeiro na década de 40. Trabalhou como pedreiro, como porteiro, até ficar conhecido por suas cantorias e versos como Mestre Azulão.

    “Na terra de azulão não chove no mês de maio
    O povo de lá só vive de fazer cesto e balaio
    Foi a terra que a vaca engoliu o papagaio
    Porque o papagaio é verde
    E ela pensou que era uma moita de capim”.

    “Foi no autódromo de Ímola
    Grande Prêmio italiano
    Dia primeiro de maio
    De noventa e quatro o ano
    Que trouxe tristeza e pena
    Acabando Ayrton Senna
    Neste desastre tirano”

    Homenageado neste cordel, Ayrton Senna é até hoje para muitos brasileiros o número um do automobilismo. Na literatura de cordel, o poeta também considerado número um, começou a arriscar suas rimas na paisagem do sertão paraibano.

    Da Serra do Teixeira saíram muitos cantadores e poetas. Segundo alguns pesquisadores, a região é o berço da literatura de cordel. Se lá é o berço, o pai é Leandro Gomes de Barros. Em Pombal, cidade paraibana onde nasceu, Leandro virou nome de rua.

    Ele é descrito pelo folclorista Câmara Cascudo de um jeito carinhoso: “Baixo, grosso, de olhos claros, bigodão espesso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho contador de anedotas, tendo a fala cantada e lenta do nortista, parecia mais um fazendeiro que um poeta. Pleno de alegria, de graça e de oportunidade”.

    Quando começou a imprimir seus poemas, a publicação se chamava simplesmente folheto. O nome cordel veio depois, como conta Gonçalo Ferreira da Silva: “O verbete surgiu em 1881, por ocasião da publicação do dicionário contemporâneo de Caldas Valente em Portugal”.

    No dicionário, cordel aparece como “cordão, guita, barbante”. Literatura de cordel: “conjunto de publicações de pouco ou nenhum valor”. Na época, os próprios poetas não aceitavam essa denominação. Aos poucos foram se acostumando. Hoje, quase não se vê mais o folheto à venda pendurado em barbante, mas o nome cordel pegou.

    Os folhetos de Leandro viraram clássicos. Além de O Cachorro dos Mortos, Vida de Cancão de Fogo e seu Testamento, História da Donzela Theodora, Vida de Pedro Cem. Alguns deles temperaram a obra de um morador de Recife: o dramaturgo e romancista Ariano Suassuna.

    “A minha peça mais conhecida, o Auto da Compadecida, é fundamentado em três folhetos da literatura de cordel. O primeiro ato é baseado em um folheto chamado O Enterro do Cachorro, que depois se descobriu que era de autoria de Leandro de Barros e era um pedaço de um folheto chamado O Dinheiro”, explicou Suassuna.

    O Testamento do Cachorro conta a história de um padre, subornado para fazer o enterro de um cachorro. Veja no vídeo como ficam os versos originais que inspiraram Suassuna com as cenas do filme o Auto da Compadecida. Ali também é mostrada a relação da xilogravura com a literatura de cordel.

    O Globo Rural | G1.GLOBO | 15/01/2012

    Reapresentação das melhores matérias do ano de 2011.

    http://g1.globo.com/economia/agronegocios/vida-rural/noticia/2012/01/folhetos-de-cordel-traziam-diversao-e-informacao-para-o-povo-nordestino.html

     

  4. Mestre azulao
    Queridos fãs do cordel, infelizmente morreu hoje nosso príncipe do cordel brasileiro .AZULAO. Será sepultado as 5H em Eng Pedreira.

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