Seis anos sem Hilda Hilst

Por animal racional

E como hoje se completa 6 anos da morte da poetisa Hilda Hilst, segue um poeminha “bufólico”:

“Cantava tão bem

Subiam-lhe oitavas

Tantas tão claras

Na garganta alva

Que toda vizinhança

Passou a invejá-la.

(As mulheres, eu digo,

porque os maridos

às pampas excitados

de lhe ouvir os trinados,

a cada noite

em suas gordas consortes

enfiavam os bagos).

Curvadas, claudicantes

De xerecas inchadas

Maldizendo a sorte

Resolveram calar

A cantora gritante.

Certa noite… de muita escuridão

De lua negra e chuvas

Amarraram o jumento Fodão a um toco negro.

E pelos gorgomilos

Arrastaram também

A Garganta Alva

Pros baixios do bicho.

Petrificado

O jumento Fodão

Eternizou o nabo

Na garganta-tesão… aquela

Que cantava tão bem

Oitavas tão claras

Na garganta alva.

Moral da estória:

Se o teu canto é bonito,

Cuida que não seja um grito.”

(A Cantora Gritante, da antologia poética Bufólicas de Hilda Hilst)

Por Bruno Bevilacqua

Nassif,

Comecei a lembrar que quando eu conheci o Zeca Baleiro no acústico da Gal, lá em 1997, não tinha simpatizado muito com ele, apesar de ter gostado da música com a Gal. Muitos anos depois, acho que 2002 ou 2003, fui levado por uma amiga ao Canecão para assistir o show “PetShopMundoCão” e saí de lá tão fascinado que comprei um pacote com os três primeiros discos do artista. De uma hora para outra eu estava encantado pela música do cara, Bandeira, Meu amor meu bem me ame, Babylon, Quase nada, Telegrama, só pra ficar nas mais tocadas nas rádios e TV. Mas foi depois da mensagem do Rolex que eu descobri uma obra-prima, o disco “Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé – De Ariana para Dionísio”, poesias da Hilda Hilst musicadas por ele e ela, juntos, e gravadas por grandes cantoras. É dificílimo de encontrar esse disco, eu consegui comprar via internet de uma livraria do Sul. Coisa de gênio.

Não sei como funciona a parte legal disso, mas se puder ser postado mando aqui a lindíssima “Canção V”, cantada pela Angela Ro Ro.

Hilda Hilst não poderia ter escolhido parceria melhor. Consta que ela não chegou a conhecer o disco pronto. Uma pena.

Comentário

Aí vão duas interpretações para a Canção V. Uma, da Ângela Ro Ro. Outra, da consagradíssima cantorinha (pelo menos em casa), Bibi, que decorou todas as músicas desse CD – devidamente ensinadas pela supermãe.

Se o Zeca Baleiro descobrir essa gravação, saberá que os frutos musicais plantados serão rememorados daqui a muitas décadas ainda.

Luis Nassif

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