A economia e o voto, por Lindbergh Farias

Da CartaCapital

A economia e o voto

Não é o crescimento do PIB que influencia diretamente o voto. São as condições econômicas de vida
 
por Lindbergh Farias — publicado 03/06/2013 12:42
 

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O crescimento econômico do primeiro trimestre do ano não teve a magnitude dos PIBs do governo Lula. Mas não pode ser considerado um resultado negativo. Tal como naquele período, o investimento voltou a crescer mais do que toda a economia. O PIB do primeiro trimestre cresceu 1,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Na mesma base de comparação, o investimento cresceu 3%.

O PIB brasileiro perdeu força desde o início de 2011. Por seis semestres consecutivos desacelerou. A partir do terceiro trimestre do ano passado, entrou em trajetória de recuperação. Mas era uma recuperação sem qualidade porque o investimento não crescia. O PIB do primeiro trimestre de 2013 cresceu com qualidade: o crescimento do investimento superou o crescimento da economia.

Durante o governo da presidenta Dilma Rousseff, o desempenho do PIB tem sido modesto, embora apresente sinais de recuperação consistente. Muitos pensam que podem tirar proveito político e eleitoral da trajetória recente do PIB. Lembram da orientação do marqueteiro de Bill Clinton nas eleições americanas de 1992: é a economia, estúpido! Interpretam que existe uma ligação entre crescimento econômico, insatisfação social e o voto de oposição.

Não é o crescimento do PIB que influencia diretamente o voto. São as condições econômicas de vida que influenciam de forma decisiva o voto de um trabalhador e da sua família. A vida do trabalhador e da sua família depende, em grande parte, do emprego, do salário, do crédito que podem acessar e dos bens e serviços que podem adquirir. O crescimento do PIB pode influenciar estes itens. Contudo, tal influência não é direta. Por exemplo, um modesto crescimento do PIB pode não gerar desemprego.

Quando um trabalhador vai ao supermercado, não se importa com o crescimento do PIB; importa se tem renda para pagar a conta. Quando demanda um eletrodoméstico financiado, não se importa com o crescimento do PIB; importa se tem emprego e renda que garantam crédito para a sua compra. Quando vai pagar a conta de luz, o que importa é se está mais cara ou mais barata. O crescimento do PIB é um número abstrato na vida do trabalhador.

No Brasil, apesar das modestas taxas de crescimento da economia, o salário mínimo tem aumentado e o rendimento médio do trabalhador, também. O desemprego é baixo e o crédito e o consumo têm crescido (ver tabela acima). A vida econômica do trabalhador não tem piorado. Tem melhorado, apesar do modesto crescimento econômico

Cabe lembrar que o marqueteiro de Clinton, quando mostrou a ligação entre economia e o voto, não estava se referindo à taxa de crescimento do PIB, mas sim ao desemprego que afetava diretamente a vida do trabalhador. Quando Bush pai assumiu o governo, em 1988, a taxa estava em 5,7%. Ele deixou a taxa de desemprego subir para 7,4% (o pior momento foi junho de 1992, quando chegou a 7,8%).

Em conclusão, o resultado eleitoral de 2014 somente será afetado pela economia se o desemprego aumentar de forma significativa e/ou houver uma queda considerável do rendimento do trabalhador. Se isto ocorrer, o consumo também seria mitigado. Até o momento não existem previsões de que esta situação possa ocorrer.

Lindbergh Farias é senador da República (PT-RJ) e presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal.

Luis Nassif

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