A nova cara do brasileiro

Coluna Econômica

Há enormes similaridades entre o Brasil das primeiras décadas do século 20 e o atual. Fim do ciclo financeiro, redescoberta da cultura e dos valores nacionais, novas classes sociais emergentes e uma fortíssima dose de preconceito permeando os setores mais atrasados do país – no início do século 20 a elite agrária; no início do século 21, setores mais atrasados da elite midiática.

Antes, vicejaram as teorias racistas; agora uma visão míope sobre os valores do povo brasileiro. O momento máximo foi um livro que se dispunha a mostrar a cara do brasileiro e serviu de álibi para um esgoto de preconceito jorrando de algumas publicações. Pelo livro, os brasileiros de extratos sociais mais baixos não seguiam valores éticos, não eram solidários, apoiavam transgressões legais.

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Recém concluído, o trabalho “Relatório do Desenvolvimento Humano, 2009-2010”, do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) traz novas luzes para entender o estágio atual do país e o pensamento do brasileiro – muito mais próximo dos valores de economias avançadas do que alguns anos atrás.

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O trabalho foi realizado em parceria com o Instituto Paulo Montegero, do IBOPE. Foram entrevistadas 4 mil pessoas de todo o país, reproduzindo a estrutura da população brasileira medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na primeira fase, houve visitas aos dez municípios mais pobres, sete audiências públicas nas principais cidades, consultas a pessosas pela Internet, por SMS, abrangendo mais de meio milhão de pessoas. A segunda fase foi mais estruturada e buscou entender os novos valores dos brasileiros.

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E, aí, começou a ser desenhado o novo perfil do brasileiro. Assim como outros países desenvolvidos, o brasileiro tem preocupação com o bem estar dos demais, o cuidado com a humanidade e a natureza. Mas prezam bastante a segurança – entendida como estabilidade social, econômica e individual. Explica Flávio Comin, responsável pela pesquisa: «Estabilidade social é o apreço que você tem, o valor que você dá, à ordem social, não apenas em termos macro, mas também em termos micro: dentro da sua casa, se está todo mundo bem, se a família está bem».

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Pessoas de faixa de renda maior que cinco salários mínimos têm maior abertura às mudanças, assim como pessoas com formação superior ou que tenham mãe com formação superior.

Mulheres e pessoas mais velhas são mais «autotranscendentes» – definição para pessoas mais solidárias, que pensam mais no outros. Já os mais jovens são mais competitivos e individualistas. É um ponto importante para reflexão do sistema educacional.

Não é por outro motivo que a mulher é o personagem central do Bolsa Família, enquanto dos aposentados, 55% se constituem em arrimo de família – podem ser considerados, ambos, as âncoras da coesão familiar (dedução minha). Comin julga que o BF deveria investir também na formação das mães.

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Outra conclusão relevante é que, ao contrário da visão convencional, o hedonismo (a busca do prazer) não está entre os valores prioritários para os brasileiros. 

Luis Nassif

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