Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Cresce a pressão contra PL que limita a compra de terras por estrangeiros

Fronteira Agrícola

Por Rui Daher

da Carta Capital

Na sabatina do Senado que reconduziu Rodrigo Janot a Procurador Geral da República (PGR) por mais dois anos, o senador (DEM-GO) e colunista de agronegócios da Folha de São Paulo, Ronaldo Caiado, teve atuação peculiar.

Ao questionar o PGR sobre o andamento do projeto de lei que permite repatriar recursos depositados ilegalmente no exterior, mediante pagamento do imposto, multa de 35% e garantia de anistia, pediu pressa. Estaria recebendo consultas de seus eleitores-clientes, sobretudo, quanto à confirmação de que a multa seria a única punição. Quem tem medo, bem, tem medo.

De forma acidental, acabou entregando o ouro antes contrabandeado. Diga-me com quem andas …

Ainda na dinâmica histórica desta Federação de Corporações, a mesma ansiedade ocorre em relação ao endurecimento na legislação que limita a compra por estrangeiros de terras brasileiras.

Como se no planeta ainda houvesse farta disponibilidade de áreas para expansão agricultável. Nossa estratégia de futuro tem a profundidade de meu amigo Pires.  

Não houve ativo com maior valorização nos últimos dez anos. Entre 2009 e 2014, os preços médios de terra no Brasil cresceram 95%. No Centro-Oeste, 130%. A isso não faltou o auxílio luxuoso e esperto de pandeiros do setor financeiro, sempre de olho em barbadas.

Japoneses como sempre, chineses cheios de apetite, mesmo argentinos que fogem das plásticas Kirchner, têm sido clientes de encher carrinho. Aqui e em África.

A regulamentação da Advocacia Geral da União (AGU), transformada em projeto de lei, tramita no Congresso e aflige os lobbies interessados. Já é forte a resistência manifestada por associações, empresas imobiliárias, ex-ministros da Agricultura. Conselheiros e consultores aprovam em nome de um mundo globalizado: “se tudo pode, por que não do lado de dentro das fazendas”?

Segundo o INCRA, perto de 8.000 propriedades agrícolas já pertencem a estrangeiros, totalizando 1,6 milhões de hectares.

Recentemente, a BrasilAgro, empresa focada em negócios imobiliários rurais, reverteu seu prejuízo com a venda de apenas uma propriedade, no município de Baixa Grande do Ribeiro, Piauí. Área de 28 mil hectares, por R$ 270 milhões, na mais nova fronteira agrícola. Não há informação sobre o comprador. Sabemos que a citricultura não é desenvolvida na região.

Para esses negócios, qualquer sinal de crise no setor agropecuário é atraente. Faz paralisar ou diminuir a atividade produtiva, fazendeiros venderem propriedades ou parte delas, e cair o preço médio por hectare.

Num momento de dólar valorizado a baba faz babarem os investidores estrangeiros.

Tais reflexos já começam a se evidenciar no recuo dos preços para arrendamentos. Entre 2012 e 2014, subiram 25%, em média. Em junho de 2015, registraram queda de 7%. Pouco ainda, mas com tendência a aumentar na medida em que folhas e telas cotidianas anunciam o apocalipse das economias brasileira e chinesa.

Como estamos numa Federação de Corporações, tocada a qualquer nota, argumentos os mais estapafúrdios comparecem para animar a festa da flexibilização “global”.

Por exemplo, leio analista conceituado conceituar (foi de propósito) que “uma vantagem de termos estrangeiros investindo na agricultura brasileira é contar com profissionais competentes produzindo por aqui”.

Êpa! Ô seu Zé Euclides, aí de Palotina (PR), vai ouvir calado? Ô Pedro Forastieri, em São Desidério (BA), não vai reagir?

Lá como cá

Os caríssimos leitores e leitoras já visitaram a Bélgica? Conheceram Bruxelas, Brugge? Caso não, já devem ter ouvido falar ou provaram seus excelentes chocolates e cervejas.

No Brasil, tem gente ganhando dinheiro para nos ensinar como degustar cevadas e lupulinas belgas. Mercado interno com alto poder aquisitivo dá nisso.

Não estão satisfeitos, porém, os produtores agropecuários belgas. Principalmente, os leiteiros e criadores de suínos. Maior fuzuê em Bruxelas, que o jornal Valor Econômico (08/09/2015) apelidou “tratoraço”.

Presentes na cidade os ministros da Agricultura dos países-membros da União Europeia (UE) para discutir a crise no setor, em francês ou flamenco, roncaram as cuícas belgas. Pedem apoio diante do fim das cotas de produção de leite na UE e o embargo russo. Justiça, mas pode me chamar de reserva de mercado.

Vão receber algo como 550 milhões de euros de ajuda. Acham pouco e querem mais.

Imaginem onde os agricultores belgas já teriam enfiado seus tratores se tivessem que lidar com a demora do Banco do Brasil em liberar empréstimos para custeio da nova safra.

Repito, empréstimo.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

13 Comentários

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  1. Arranhado
    Mamar na gata, eles não querem! Só esperto! Rebaixam nossa nota pra comprar terra a prêço de banana. Ora, ora, só mandando tomar no kiui.

  2. Canalha entreguista que tenta

    Canalha entreguista que tenta se aproveitar de um momento de fragilidade do país e de um congresso entregue ao domínio de monumentos de patriotismo e honestidade como Cunha.

  3. De onde vem o dinheiro? Estamos trocando pedras por Espelhinhos?

    Olha que interessante, o valor que estáo pedindo para a máfia dos trens de SP é suficiente para comprar 4 propriedades da citada aqui na matéria.

    Com o dinheiro do Carf/Zelotes, dá para comprar muita terra, a ponto de a união não realizar reforma agrária, mas criar uma estatal agroindustrial e comprar e tombar áreas onde há desmatamento ilegal de madeira.

    Ou seja, o dinheiro da corrupção foi gerado no Brasil, foi desviado para o exterior, e volta para cá para com um efeito devastador sobre o país. É novamente o modelo da Colônia de Exploração que coloca no poder indivíduos deformados moralmente e sem compromisso com os habitantes do local. 

    Os corruptores estão defendendo seus interesses de criar monopólios, que é o modelo mais lucrativo de negócio, entretanto os corruptos sob a pretensa idéia de receberem uma “boa vida” trocando pedras preciosas por espelhinhos, estão na realidade trocando a liberdade de seus descendentes por uma eterna escravidão ou então condenando-os a morte, muito lenta, mas certa.

    Excesso ? Então pergunto, hoje no mundo como estão e como são tratados os indígenas do mundo todo, os que se recusaram à dominação externa e mesmo os que trocaram pedras preciosas por espelhinhos ? 

    Nós brasileiros mesmo descendentes de todas as raças ( a grande maioria descendente de trabalhadores comuns emigrados em momentos de grandes guerras e crises ) não somos os novos indígenas do século XX!, assentados sobre uma imensa e rica terra sem ter a devida consciência disso, mas nossa elite extremamente entorpecida e encantada por “espelhinhos” ?

  4. outro ponto de vista

    A agricultura no Brasil é muito menos subsidiada que as americana e europeia. França e Suiça são os campeões de subsídios. Nesses países, o leite chega ao consumidor pela metade do preço pago ao produtor, a outra metade é bancada pelo governo. O fazendeiro europeu é basicamente mantido pelos subsídios e será por isso incapaz de sobreviver no Brasil. Já a agricultura americana é muito diversificada. A maior parte da produção de grãos é feita em fazendas de 150-300 hectares operadas quase que unicamente pela família. O mesmo ocorre com a produção de leite. A criação de gado é feita em fazendas de portes muito variados, mas a finalização (engorda), que dura cerca de 4 meses é feita em confinamentos industriais que confinam cada um de 150 mil a 300 mil cabeças por ano.

    No Brasil, a produção de grãos só é feita de modo eficiente em fazendas industriais de grande porte, de 500 a 20.000 hectares, ou até maiores. Nessas fazendas, a produtividade já superou a americana (antes considerada imbatível). Mesmo sem irrigação, essas fazendas produzem duas safras por ano, enquanto nos EUA, por razões climáticas, é impossível obter-se mais de uma safra.Temos também um grande número de fazendas pequenas e tradicionais que produzem grãos, mas nessas a produtividade é muito baixa, não mais que um terço da obtida usando as melhores técnicas. Nossa pecuária leiteira se concentra em propriedades de 50-300 hectares, com produtividade muito baixa.

    Um dos desafios da nossa agricultura é atingir boa produtividade nas pequenas fazendas, exceto na hortifrutilcura. Há também um grave vício cultural. Nossos pequenos fazendeiros não realizam trabalho braçal, exceto no caso dos microfazendeiros.

    Não vejo de modo negativo a entrada de fazendeiros estrangeiros no Brasil. Acho que avanços muito relevantes poderiam ser obtidos, principalmente no caso da pecuária. Brasil tem 210 milhões de bovinos,os EUA 90 milhões, mas eles produzem mais leite e mais carne que nós. Em particular, gostaria de ver muitos chineses na nossa agricultura.

    1. Daniel,

      há ótimos argumentos em seu comentário com os quais concordo, mas no curto prazo. Pense nos médio e longo prazos, com a reordenação da hegemonia ocidente-oriente, os problemas com o meio ambiente, o esgotamento dos recursos nacionais, a grande probabilidade de conflagrações, regionais ou mais amplas, como poderá estar o planeta em, digamos, um século. Qual país terá o tesouro que temos e onde serão postos os olhos do futuro? Hoje em dia, é fácil pensar “que eles nos ajudariam muito”. Mais triste: no Brasil, só vale o imediatismo de um bom negócio.

  5. A realidade dos produtores rural

    “Não houve ativo com maior valorização nos últimos dez anos. Entre 2009 e 2014, os preços médios de terra no Brasil cresceram 95%. No Centro-Oeste, 130%. A isso não faltou o auxílio luxuoso e esperto de pandeiros do setor financeiro, sempre de olho em barbadas.”

    Milhares de produtores rurais brasileiros estariam felizes se afirmação acima fosse verdade. O autor deveria aprofundar seu estudo levantando histórico dos preços dos produtos agrícolas com os custos de produção e remuneração dos produtores. Cito dois importantes produtos que geram milhares de empregos no Brasil, café e cana de açucar. Em consequencia de anos contínuos de prejuízos, milhões de hectares há muitos anos estão a venda sem encontrar compradores. Por exemplo, na região de Caratinga/MG, uma região com forte presença na cafeicultura brasileira, temos 84 propriedades agrícolas com lavouras de café a venda há vários anos. Na cana de açúcar, outra demonstração disso, analisando o histórico dos preços do açucar com os custos de produção, vê-se anos seguidos de prejuízos. Também encontrará milhares de propriedades a venda.

    Os produtores rurais são vítimas da pecaminosa especulação financeira mundial, cujos preços são ditados pelas bolsas americanas. A cultura do café por exemplo, tem seus principais insumos dolarizados (fertilizantes e outros produtos), custos de mão de obra, energia elétrica e combustível corrigidos, enquanto o preço de café é mantido nos mesmos reais de dois anos atrás. 

    Caso o articulista tenha interesse em comprar terreno com boa produção, preço de 2009 e um bom desconto, podemos negociar.   

     

    1. Nísio,

      os dados levantados e aqui informados, obviamente, se referem à média brasileira. Neste artigo, analiso a compra de terras por estrangeiros. Em outros artigos, analiso a relação custos x preços de comercialização dos produtos agrícolas. Cana e café passaram – café não mais – por séria crise. Os preços de terra osclam com o desempenho das culturas. Tente, por exemplo, hoje comprar terra em Petrolina/PE. Nem mesmo uso o câmbio para mostrar a facilidade da compra de terras baratas no Brasil. Aliás, o terreno proposto para negociar tente vender a um estrangeiro … em dólar deve estar quase de graça. Paciência, você vê que o articulista tem.

      1. A interminável crise do café

        Agradeço ao nobre autor pela sua consideração apresentando seus esclarecimentos e alegro com a oportunidade para expor minha experiência de dezenas de anos com a cafeicultura de montanha, que cobre a maior parte da produção brasileira. Acredito que a crise do café e da cana de açúcar não passou. São dois produtos do chamado terceiro mundo que geram milhares de empregos e servem como represamento, atenuando os inchaços populacionais das grandes cidades com seus conhecidos problemas sociais. Entendo que as economias do terceiro mundo não dispõe de recursos para proteção dos produtores que acabam sendo expoliados pela cruel especulação financeira comandada pela Bolsa de Nova York além da geração de lucros crescentes na industrialização, comercialização, distribuição e revenda do café presentes nos paises desenvolvidos.  No caso do café, a receita mal cobrem os custos demandandos no ciclo da lavoura. Simples assim, veja o histórico dos preços em reais de venda do café com os custos dolarizados de fertilizantes e outros insumos fornecidos por multinacionais e pela industria local.Soma-se a isto os aumentos dos custos de combustível, energia elétrica, e mão de obra. Reafirmo ao arguto autor que há muitos anos, encontra-se terrenos com lavouras de alta produtividade de café sendo vendidas a R$15 mil o hectare. Caso tenha interesse ou conheça interessados, o negócio deixará aliviados todos cafeicultores vendidos.

         

  6. O que importa ?

    A mim o que importa é que o uso da terra seja o mais eficiente possível.

    Se o dono é brasileiro ou chinês, sinceramente, não faz a menor diferença.

  7. Terras brasileiras a preço de banana para empresas estrangeiras

    Daher, 

    Meus cumprimentos pelo levantamento de tema tão relevante, oportuno e atual.

    Há esquemas explicitos de multinacionais para se locupletarem com a valorização das terras no Brasil. São detentoras de vastas áreas de terras no Brasil, adquiridas ao longo do tempo, mas, que se intensifica ultimamente, devido ao exemplo de sucesso de nossa agricultura. agricultura que de resto é o sustentáculo da economia à décadas. 

    É preciso dar nome aos bois, publicar listas como o nome dessas empresas.

    Façamos um esforço neste sentido. Prometo que encontrarei algum nome relevane e, desses que tomam recursos no BNDES.

    Isto, para que se possa explicitar quem realmente está por traz dos bastidores à fazer pressão sobre os cafetões congressuais do capital estrangeiro. Ou se preferir, as costesãs congressuais das multinacionais estrangeira, em pele de cordeiro, posando de defensores dos produtores rurais.

     

     

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