Ronaldo Bicalho
Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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A gestão energética eficiente da demanda de energia: um tema para a primeira página das agendas de políticas energéticas

Do Blog Infopetro

“Qualquer coisa que você possa fazer, ou sonha que possa fazer, comece a fazê-la. A ousadia tem em si genialidade, força e magia” (Goethe, poeta e escritor alemão, 1749-1836).

Em uma postagem anterior apontamos, entre um leque de alternativas visando à segurança energética, dois temas: vulnerabilidade ambiental e a gestão energética eficiente da demanda de energia. No que se refere ao primeiro, já há uma espécie de “consciência coletiva” da importância da preservação ambiental para um desenvolvimento sustentável. Isso não quer dizer que haja um consenso entre os países na adoção de medidas para atender os requisitos defendidos nos fóruns que tratam do aquecimento global. Mas, de fato, mesmo com diferentes acepções sobre segurança ambiental, há um entendimento de que ações devem ser implantadas, para que não haja uma perda de condições mínimas da qualidade de vida das sociedades.

Em 1972, em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas, realizada sobre o Meio Ambiente Humano, colocou o assunto na “mesa” dos grandes temas mundiais. A partir da Declaração de Estocolmo talvez o mundo tenha despertado para a necessidade do estabelecimento de ações estruturadas que preservem o meio ambiente.Vários fóruns foram sendo estabelecidos sobre o tema e o Protocolo de Quioto é um resultado significativo desses debates.

Hoje pode-se afirmar que a eficiência na utilização dos recursos naturais para uso energético está incorporada nas discussões sobre políticas de desenvolvimento dos países. O Brasil nesse novo estágio de desenvolvimento e inserção nas discussões mundiais tem assento nessa “mesa“ e participa dessas discussões. Afinal, a nossa matriz energética baseada em geração hidroelétrica com perspectivas, cada vez maiores, de um aumento crescente da participação da energia eólica e da biomassa da cana nos dá a vantagem de sentar em boa posição na mesa de debates dos temas energéticos.

Sobre o segundo tema, o uso eficiente de energia também faz parte dessa consciência global? Penso que ainda não.

Uma gestão eficiente da demanda da energia está sob a mesma exposição minuciosa nos fóruns internacionais de grandes temas sobre sustentabilidade do planeta? Penso que ainda não.

Na perspectiva da segurança energética, essa gestão deveria estar no mesmo nível de importância de outras opções? Penso que sim .

Certamente há uma intrínseca relação entre o aquecimento global e o uso eficiente da energia. De fato,verificando recomendações de planos energéticos e documentos sobre sustentabilidade, encontramos a indicação da necessidade de uma gestão eficiente da demanda dentro de um amplo espectro de ações que buscam a sustentabilidade do planeta. Um exemplo é a divulgação, no fórum de CEOs, em Nova Delhi, na Índia, ocorrido em fevereiro de 2010, do documento “Vision 2050: The New Agenda for Business”, elaborado pela ALCOA em parceria com o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável-WBCSD[1]. São recomendadas ações globais para o estabelecimento de uma sociedade sustentável e, entre elas, a melhoria da eficiência energética sob o ponto de vista da demanda. O fato relevante nessa proposta é que uma das autoras do documento é uma das líderes mundiais na produção de alumínio.

Alguns consideram que expandir a oferta de energia através de energias renováveis e implantar medidas de eficiência energética na ótica da demanda estão sob um mesmo fórum de discussão. Os temas, no entanto, são complexos, há especificidades, têm, inclusive, especialistas para cada um deles. E no caso do uso eficiente da energia um aprofundamento minucioso das ações para cada país é desejável.

Considerando que : i) há uma perspectiva de expansão demográfica mundial em que a humanidade poderá passar de 6,7 a cerca de 9 bilhoes de habitantes até 2050[2]; ii) nos próximos 30 a 40 anos, espera-se um maior desenvolvimento de regiões atualmente desfavorecidas, como boa parte da África e Ásia, que trará indíviduos para a sociedade de consumo; iii) já se observa a entrada no mercado consumidor de grandes contingentes de populações dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), a demanda de energia tende a aumentar consideravelmente.

Nesse sentido, a gestão energética eficiente da demanda de energia deveria ter um papel de destaque nos fóruns internacionais que discutem as perspectivas futuras do uso da energia, na busca da mitigação dos impactos do aquecimento global. Esperam-se , nesses encontros, proposições de medidas de eficiência realmente resolutivas e experiências obtidas em diferentes sociedades para uma avaliação da aplicação desses resultados em outros países. (…) continua no Blog Infopetro.

Ronaldo Bicalho

Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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