O falso liberalismo brasileiro

Comentário ao post “A nova oposição

A leitura do livro “A consciência de um liberal” de Paul Krugman foi-me muito interessante. Ele narra como surgiu a poderosa classe média emergente nos EEUU, a partir dos anos 1930, nos governos Franklin Roosevelt e como ela definhou vítima da “grande compressão” a partir dos governos Reagan, mas principalmente nos governos Bush.

Krugman falava de Roosevelt e eu enxergava Lula. É incrível a semelhança das ações e dos resultados. Roosevelt foi a social-democracia americana, Lula é a brasileira. 

Agora interessante mais ainda foi ter lido as ponderações de Krugman sobre o achatamento dessa classe média – a middle-class squezed. Havia no relato, para mim, pela primeira vez a constatação de que algo que aconteceu primeiro no Brasil, e para a qual encontramos a solução, aconteceu depois nos EEUU. O relato da grande compressão da classe média americana nos governos Bush foi o que no Brasil foram antes os governos FHC. As vezes penso, ou torço, para que Obama seja o Lula deles. Lula também teve um 1º mandato complicado.

Agora, vamos ao governo FHC. Conceitualmente foi uma fraude, uma impostura.

O governo FHC adotava a teoria do estado mínimo tão cara aos liberais – ou conservadores na ótica estados-unidense. Por esse conceito, o estado interfere minimamente na vida dos cidadãos e nas suas formas de organização. 

Não no Brasil, aqui, na melhor tradição ibérica, se alguém quiser montar uma barraca de feira ou trabalhar com um taxi terá de obter uma autorização estatal. Das atividades econômicas mais simples as mais complexas tudo é intermediado por um agente público.

O governo FHC fez algo para mudar esse padrão?

O estado mínimo presta pouco serviço de seguridade social aos seus cidadãos. Atem-se primordialmente às funções de estado. A manutenção da segurança interna e externa, a defesa dos interesses nacionais em relação às outras nações e a administração da justiça e do poder de polícia. Cabe aos cidadãos proverem as suas necessidades de modo particular, pagando por elas. No estado mínimo, como gostam de dizer no Brasil, deturpando o conceito, não há almoço grátis.

Em compensação, o estado mínimo cobra impostos mínimos. Quanto mais baixos os impostos, menor a carga sobre a sociedade para manter a sua estrutura administrativa. Logo, geram-se excedentes financeiros para alavancar por via da iniciativa privada o progresso do país. A apropriação dos ganhos desse progresso se dará pela meritocracia, ou seja, a cada um segundo seu esforço e talento.

Quando no Brasil o governo FHC diminuiu a carga tributária? Ao contrário, só fez aumentá-la.

Assim, vivíamos nos governos FHC o pior de dois modelos. Pagávamos impostos como na social-democracia européia e recebíamos serviços como no estado mínimo norte-americano.

A quem serviu então os governos FHC? A um pequeno grupo de especuladores financeiros que se aproveitavam de sua proximidade com o governo para lucrar com o “melhor” dos dois modelos.

O poder de intervenção do estado era útil a esse grupo, pois era esse poder que decidia que participaria do jogo econômico e que seria deixado de fora. O que foram as privatizações se não uma ação entre amigos? Por que, diferentemente de Thatcher, as ações das empresas a serem privatizadas não foram simplesmente negociadas na bolsa de valores e adquiridas segundo as tais regras de mercado?

Para aonde foi o dinheiro das privatizações? Com uma política de juros altos, voltou para a mão dos mesmos financistas que o desembolsaram com empréstimos do BNDES e com a participação dos fundos de pensão das estatais. Capitalismo sem risco.

O que foi o PROER, senão uma socialização dos prejuízos dos banqueiros que antes haviam lucrado com a inflação?

Capitalismo sem risco, privatização dos lucros e socialização dos prejuízos. Isso é liberalismo?

Conceitualmente o liberalismo apregoado por FHC é uma empulhação, um estelionato. Caso não o tenha sido de fato.

E o que virá com a continuação do modelo “Lula” – a social-democracia brasileira?

Virá uma classe média conservadora.

Não sei se ao modelo europeu, que quer conservar seu “welfare state” ou se ao modelo americano e seu reacionarismo individualista. 

No primeiro caso, o “lulismo” se mantém por 50 anos. No segundo, haverá a partir do fim da sucessão do 2º mandato de Dilma pressões para a redução do peso do estado.

Criaremos uma terceira via?

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. Diria que um dilema que nao

    Diria que um dilema que nao reconheço. Liberalismo com FHC, ou melhor suas políticas consideradas liberais, foram consequência de uma seara de empresas estatais que nada serviam, ou melhor, sugavam o aparelho do estado, com altos salários de seus funcionários e servindo de cabidaço(sic) de emprego para suas diretorias e ainda quando da elaboração do orçamento, requeriam vultosos investimentos que deveriam ser destinados a outros setores como educação, saúde, moradia e não fazendo parte do mercado econômico. As viúvas do estado keynesiano que diga-se de passagem, só deu certo quando houve crise aguda no capitalismo, sendo sua intervenção maciça bem vinda, até agora lamentam a venda das teles e principalmente da Vale onde praticamente se concretizou a chamada privatização tucana. Lamentam dos milhares de empregos de empresas públicas, funcionários sem a menor produtividade, somente aguardando a aposentadoria através  ricos fundos de pensão financiados pelo Estado (nosso bolso). Lamentam, principalmente, os políticos, a perda de centenas de diretorias na Vale, teles,conselhos administrativos delas onde haviam sempre representantes do governo federal (Telebras), apesar de serem regionalizadas. Uam festança! Lembro-me muito bem o ano anterior à privatização da Vale, a maior, que não havia dinheiro suficiente para o grau de investimento que necessitava. Deu certo? Claro, com dinheiro privado tudo dá certo! A Vale jamais teria o porte que tem se continuasse na mãos do governo e por tabela dos políticos. Concordo que tenha de haver controle através de mecanismos sérios como Agências reguladoras, CADE, etc., afora isto é deixar ao sabor da concorrência, mesmo. Lembro-me, extasiado, ter vendido um aparelho telefônico na cidade litorânea de Ubatuba em 1985 por US$ 3.500,00. Que beleza, seria hoje, R$ 16.000,00, lembrando que o dólar da década de 80 valia o dobro (1/2 carro médio). E levava meses para a instalação do telefone. Hoje a instalação do telefone é imediata e custa R$ 39,90/mês. O que fez o governo petista? Destruiu as agências reguladoras, no caso das teles recriou a Telebrás com as mesma funções da ANATEL, com as desculpa da fibra ótica. Alguém acredita que o Zé recriou a telebrás somente para isto? O CADE está inerte com  nomeações que atendem aos interesses do governo, quando deveria estar ativo contestando algumas incorporações como a da OI com a Brasil Telecom. Mas ou menos como no caso das nomeações oportunas do Supremo para resolverem alguns probleminhas gerados pelo alibaba e seus quarenta amigos.O sistema elétrico está em frangalhos pela atuação desastrosa do governo intervencionista causando este blackout menos de um ano depois, um recorde!!! O governo diminuiu à força a taxa de juros que reconheço alto, mas nunca poderia ser artificial já que o que o eleva só exatamente os custos com a máquina, as “doações” a setores amigos através das desonerações. Menos de um ano depois volta ao mesmo número porque o remédio foi dado ao paciente errado. Este é o governo petista, intervencionista, keynesiano perpétuo. desacretidando seu criador que nós temos e que vai trazer um duro ônus ao governo seguinte, tantos os desmandos, mazelas, impropriedades, incompetência. Estavámos criticando quem mesmo?

     

     

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