O Anjo Pornográfico e dom Diego

O que teria o “anjo pornográfico” a dizer sobre os dias desta Copa do Mundo? Anjo pornográfico era como Nelson Rodrigues alcunhava a si mesmo – sou e sempre fui, menino que vê o amor pela fechadura – dando uma idéia de seu trabalho de crônica e teatro. Se tivesse um concurso para “anjinho pornográfico”, me candidataria. Apesar do físico de “grande porte”, seria indiscutivelmente um anjo menor que o Nelson. Uma mistura do NR com o Stanislaw Ponte Preta. Bem, pelo menos já trabalhei no Banco do Brasil. E há ainda tanta besteira em andamento, neste vistoso país… Outra coisa que o Nelson Rodrigues disse, e que não prestam muita atenção, a não ser em parte, é quando disse que o futebol é a “pátria em chuteiras”, dando botinadas e recebendo botinadas. Mas se esquecem que ele disse “calções e chuteiras”, isto é, “de calças curtas”. No futebol a gente também pode pegar o país de calças curtas. Enquanto a atenção é desviada, tem muita gente querendo aprontar.

Há uma tragédia simultânea à Copa, a de várias cidades varridas pela água, e no Nordeste antes célebre pela falta desse mesmo recurso. E uma bola que mais parece um projeto espacial. A primeira bola artilheira, protagonista dos jogos. A 12a. jogadora, e esta deve ser a 25.a hora (para quem já leu o livro). Bem, em alguns jogos, a 13a. a jogar, depois da marcação do juiz, ou a 14. depois da mão do Maradona e do braçõ do Luís Fabiano. A mão do Maradona, quem diria, se mantém super-atualizada. Ainda dirige o espetáculo. E os pés também. A jabulani vira e mexe corre para os pés de Don Diego, e as câmeras saem correndo atrás, procurando um novo instante de glória, para elas mesmas. Um toque de mágica e a bola está nas mãos do técnico argentino, sem amarrotar o terno. Falta só a ovação da torcida, mas o espetáculo à parte é garantido.

Ah, achei! Diria o anjo pornográfico, um tanto entristecido: o futebol antes tinha mais graça, e dentro do campo. 

Luis Nassif

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