O ódio e a ignorância da escola sem partido, por Maria Izabel Azevedo Noronha

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

 
O ódio e a ignorância da escola sem partido
 
por Maria Izabel Azevedo Noronha
 
A sociedade está envenenada. O ódio e a ignorância parecem ter tomado conta de mentes e corações das pessoas. Li, consternada, notícia de que a mãe de um adolescente, estudante de uma escola particular no Rio de Janeiro, postou um áudio nas redes sociais dizendo que professores da escola estavam obrigando meninos, estudantes daquela escola, a se vestirem de meninas, durante a realização de uma feira cultural, para conseguirem pontos a mais na nota. A postagem ganhou ares de denúncia depois que o deputado Eduardo Bolsonaro e o ator Carlos Vereza repercutiram o fato, causando mais polêmica e riscos à integridade física da professora responsável pela turma.

 
Na verdade, não era nada disso. Alguns alunos de uma classe, dentre as dezenas de estandes organizadas para a feira cultural, apresentaram o tema “identidade de gênero”, por ser atual e polêmico. Assunto demonizado por alguns adultos que nem de longe sabem o que isso significa. Logo, a escola passou a ser apontada nas redes “por estar obrigando” seus alunos a travestirem-se. Houve até quem marcasse pelo facebook uma ação violenta contra a escola.
 
Para entender o porquê dessa ignorância, o ódio incontido e absurdo de parte da população é preciso que se identifique o responsável: o movimento político de direita na educação, surgido no pós-golpe, batizado de “escola sem partido”. Um projeto que reúne um amontoado de asneiras, entre elas a ideia de que os nossos estudantes estão sendo alvos de doutrinação política e de que os valores morais da família são afrontados por uma suposta “ideologia” de gênero na escola. Sem contar que os principais artífices desse movimento são flagrantemente pessoas ultraconservadoras, muitas das quais assumidamente fazem apologia ao estupro, ao racismo, à xenofobia e à redução da maioridade penal. Os que defendem a “escola sem partido” determinam aos professores que se mantenham neutros no ambiente escolar, sem ensinar conteúdos que supostamente possam induzir aos estudantes em assuntos religiosos, políticos e ideológicos, passíveis, inclusive, de prisão.
 
A “escola sem partido” é inconstitucional, segundo o Ministério Público, embora projetos com este teor tramitem em várias câmaras municipais, que realizaram audiências para debater o tema e encaminharam votações em plenário. Muitos perderam a votação ou sequer foram realizadas. Há casos sub judice.
 
Os movimentos sociais avançaram bastante na construção de uma consciência crítica e na promoção da justiça social no nosso País. Esses avanços são intoleráveis para os ultraconservadores. Por isso a direita está apostando na interferência direta na escola, para amordaçar os professores em sala de aula e tratar o aluno como um incapaz vulnerável. Eles entenderam que não bastou dar o golpe, é preciso mudar a cultura, anular consciências. E é contra isso que os movimentos sociais, os sindicatos e todos os setores verdadeiramente democráticos da nossa sociedade devem atuar decisivamente até que se coloque uma pá de cal nessa aberração autoritária.
 
Maria Izabel Azevedo Noronha – Bebel – Presidenta da APEOESP
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Me pergunto por que esse

    Me pergunto por que esse pessoal do “Escola Sem Partido” não vai fazer baderna e pregar denuncia de alunos na FGV.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador