Facebook, a outra cara da campanha eleitoral, por Carlos Castilho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

do Observatório da Imprensa

Facebook, a outra cara da campanha eleitoral

Por Carlos Castilho

A campanha política via Facebook está mostrando uma curiosa e interessantíssima diferença no comportamento dos eleitores. Nas redes virtuais, os posicionamentos pessoais são muito mais diversificados – o que torna o debate pré-eleitoral mais variado e atrativo, embora a baixaria se faça presente com alguma intensidade.

Enquanto os jornais, revistas e até a televisão apresentam uma campanha eleitoral altamente regulamentada e inevitavelmente aborrecida, os internautas têm mais espaço para divergir e polemizar. Nota-se também uma clara separação etária na forma como o debate eleitoral é percebido. A geração mais velha segue a política pela mídia convencional, que prioriza a cobertura da baixaria na internet, fazendo com que o seu público ignore o que está sendo discutido nas redes sociais.

Os mais jovens, por seu lado, rejeitam o horário eleitoral gratuito e passam ao largo das manchetes de jornais ou revistas. Sua participação nas discussões virtuais está marcada pela frustração e pela insistência no desejo de serem ouvidos. Trata-se de um comportamento muito parecido com o que predominou nas manifestações de junho do ano passado, que se transformaram numa espécie de paradigma de interpretação da conduta política da geração com menos 30 anos.

Estima-se que cerca de 40 milhões de jovens brasileiros tenham acesso regular às redes sociais por computador e por telefone celular. É um contingente respeitável tomando em conta o seu poder de circular opiniões e percepções, embora pelo menos metade deles não esteja capacitada a votar. É este público que a imprensa convencional está deixando de lado e consequentemente pagando o preço da associação a um tipo de campanha eleitoral pouco atrativa para os mais jovens.

Quem está apostando, e alto, no público virtual é a empresa Facebook, que lançou em 2012 um aplicativo chamado Custom Managed Audiences (Gestão personalizada em audiências) que permite desenvolver mensagens com alto grau de personalização. O aplicativo cruza o conteúdo dos bancos de dados de partidos ou movimentos políticos com o as informações contidas nos perfis dos usuários do Facebook.

A ferramenta foi testada inicialmente para fins comerciais, especialmente no marketing, mas desde o ano passado começou a ser usada, com resultados surpreendentes, em campanhas eleitorais nos Estados Unidos. Além de permitir que os candidatos digam a cada eleitor o que ele gostaria de ouvir, o software permite uma economia de até 50% nos gastos de uma campanha eleitoral, conforme dados da Comissão Federal Eleitoral dos Estados Unidos.

Esta personalização das mensagens eleitorais é outra grande diferença entre o debate político nas redes sociais e a campanha na mídia convencional, que precisa ser pouco diferenciada para atrair a atenção de públicos massivos. Quando você acompanha a política dentro do seu grupo de amigos no Facebook, as divergências de opinião podem ser agudas, mas há um clima quase familiar, enquanto na mídia convencional predomina o distanciamento e a indiferença.

A campanha eleitoral via internet tem duas características bem marcantes: o comportamento minimamente civilizado nas páginas pessoais em redes sociais; e a presença marcante da baixaria, especialmente em comentários postados em sites de comentaristas políticos da imprensa ou de candidatos. A imprensa convencional demoniza os comentários grosseiros e tenta transformá-los numa marca registrada da internet, ignorando o fato de que os trogloditas políticos sempre existiram. A única diferença é que agora eles podem se expressar de forma fácil e barata. Para neutralizá-los não podemos recorrer à equivocada tese de que eliminando o mensageiro, acabamos com as mensagens que nos desagradam.

O debate público sobre as campanhas eleitorais pela internet ainda é muito reduzido no Brasil e fortemente condicionado pela mentalidade reguladora. É inútil usar normas antigas para controlar um novo contexto social e político. A personalização do debate eleitoral nas redes sociais quebra radicalmente o modelo vigente de propaganda e marketing político adotado pela maioria esmagadora dos políticos e partidos no país.

Há várias outras diferenças na campanha feita em ambiente virtual/personalizado e no analógico/massivo, mas uma delas é fundamental: a principal preocupação das pessoas no Facebook é compartilhar opiniões, dados e percepções com pessoas conhecidas, enquanto na mídia convencional o compartilhamento é estruturalmente impossível. Enquanto no terreno virtual as pessoas falam e podem ser ouvidas, no espaço físico a estrutura dos meios de comunicação impede a interatividade.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. E a trecnologia para as mentes cansadas de hoje

    A publicidade e rolúde não fazem isto há tempos?

    Dizer para os outros o que gostariam de ouvir, ainda que seja de difícil execução ou uma mentira é ILUDIR…

  2. Os velhinhos também estão na rede

    Tenho 66 anos e fui um dos primeiros brasileiros a usar o computador como ferramenta de comunicação. Em 1984 já pilotava um computador para produção de cartuns, ilustrações, gráficos e mapas. Atualmente tenho diversos blogs de cartuns na internet e participo ativamente da campanha política com produção própria e compartilhamento de boas idéias. Me parece que o Carlos Castilho acha que internet e mídia social são apenas coisa da juventude. Carlos, nós os velhinhos estamos na rede.

  3. Nem tanto. Se alguém falar

    Nem tanto. Se alguém falar mal da minha candidata bloqueio sem pestanejar. Se falar mal de mim porque ataquei Marina Silva e Aécio Neves, bloqueio ainda mais rápido. Minhas listas de pessoas bloqueadas no Facebook e no Twitter são quilométricas, maiores que as listas de pessoas que me seguem e que sigo em ambos. Ha, ha, ha…

  4. Dúvida

    Por acaso este Carlos Castilho é o candidato a Dep Estadual no Rio pelo PSDC? Há um outro que é jornalista em Floripa. De qualquer modo, a matéria parece propaganda do Facebook!!!

  5. MEIO NADA CONFIÁVEL

    O facistbook é um instrumento de manipulação social. Isto ficou mais evidente depois da denúncia comprovada de que a famigerada rede social promoveu experimentos de indução de comportamentos psicológicos, com a utilização de métodos de propaganda subliminar, através da seleção unilateral dos conteúdos noticiosos disponibilizados nas páginas de dezenas de milhares de assinantes. E isto foi feito sem o conhecimento dos manipulados, e, portanto, sem autorização das cobaias do experimento, com o objetivo de reunir material de pesquisa para projetos de manipulação psicológica de grupos sociais desenvolvidos por certas universidades norte americanas. Assim, não resta dúvida de que a incensada rede social, tão promovida pela mídia, inclusive com uma produção holywoodiana, não é um meio confiável. Então, é recomendável ter extrema cautela na avaliação destas referências. Quem quiser que se engane…

  6. O controle é deles(americanos)

    Não temos o menor controle sobre essa ferramenta chamada facebook, fica tudo ao bel prazer do Tio Sam, coisa boa não pode dar e de gestão compartilhada da internet mundial eles não querem saber, é o velho venha nós o vosso reino, amém

  7. Facelixo

    Melhor coisa que fiz, foi excluir o Facebook há um tempão.

    Até gera situações engraçadas, de pessoas falando que sou corajoso e parabenizando pelo feito, ao mesmo tempo que pensa que sou um maluco anti-social desprovido de amizades.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador