Pesquisa Datafolha e o candidato ninguém, por Sérgio Saraiva

O descrédito com a política é o principal risco das eleições de 2016. O risco de eleger ninguém para prefeito

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por Sérgio Saraiva

Datafolha não disponibilizou os dados completos da pesquisa realizada em julho de 2016 sobre a eleição para prefeitos de São Paulo. Por exemplo, não sabemos o resultado da intenção de voto espontânea. Um dado importante para saber quem está na cabeça do eleitor.

Mas provavelmente não será muito diferente da pesquisa IBOPE-SETCESP. Uma eleição a ser decidida no decorrer da campanha.

Espero que os dados restantes sejam publicados neste fim de semana, mas, desde já, Folha e IBOPE concordam: os eleitores estão altamente indecisos, inclusive com a política em si.

Russomanno empata com ninguém

Com 9 pontos percentuais sobre o segundo candidato, Celso Russomanno deveria ser considerado um barbada. Mas não é.

Celso Russomanno tem atualmente 25% das intenções de voto e Marta Suplicy tem 16% de intenções.

Mas entre Russomanno e Marta existe uma considerável massa de eleitores indecisos. E essa massa de indecisos é grande o suficiente para jogar Marta para um terceiro posto. Celso Russomanno empata na margem de erro da pesquisa com “Branco, nulos e não sabe” que somam 23%.

Datafolha 1 jul16

E nesse enorme contingente de indecisos Russomano pouco deverá buscar de votos a mais. Russomanno é uma figura notória há muitos anos. Apresentador de programas de televisão popularescos, onde se apresenta como um justiceiro das causas dos mais fracos, e ligado a Igreja Universal de Edir Macedo. Está em campanha desde 2012, quando perdeu para Haddad na reta final. Embora, então, também tenha liderado toda a campanha. É possível que tenha batido no teto antes da campanha propriamente dita ter começado.

Há ainda uma forte contaminação dos resultados pela presença de candidatos com pouca intenção de votos, mas que somados compõem um conjunto de 12% das intenções.

No terceiro pelotão formam Luiza Erundina com 10% das intenções de voto e Haddad – o prefeito – com 8% das inteções. João Dória o candidato de Alckmin – o governador- está com 6% de intenções de voto.

Prefeito e governador seriam maus candidato e cabo eleitoral. Ônus de ser governo.

Ninguém herda os votos de Russomano

Mas é possível que Russomano sequer chegue a participar das eleições. Caso a Justiça confirme sua condenação por peculato.

E aqui nota-se mais uma vez a questão dos indecisos. Quando Russomanno sai, são justamente os contingentes de “Brancos, nulos e não sabe” e o de “Outros candidatos” os que mais crescem. 7 e 6 pontos percentuais respectivamente.

Datafolha 3 jul16

Nesse cenário, os indecisos vão a 30% e Marta Suplicy vai a 21% das intenções de voto.

Datafolha 2 jul16

Russomanno tem seus eleitores principalmente entre os menos escolarizados e de menor renda. Eleitores majoritariamente das grandes periferias da cidade anteriormente identificados com o PT. Não é de se estranhar que agora, com o pé em duas canoas, Marta, candidata pelo PMDB e ex-prefeita pelo PT, ainda consiga um bom recall. Mas é uma posição de incoerência. Oposição quando interessa criticar o “PT do mau”, situação quando interessa lembrar do “PT do bem”. Haddad paradoxalmente tem se mostrado um candidato palatável às classes médias, ninho do antipestismo.

O ônus de ser governo e a vitória de ninguém.

No momento atual, estar no poder é um ônus. PT e PSDB pagam esse preço. O interessante é que o PT, e Haddad por contaminação, está sob forte ataque midiático e o PSDB ao abrigo. Marta Suplicy inteligentemente faz nenhum esforço de se identificar como a candidata de Michel Temer.

O que só reforça que estas serão eleições de desencanto com a política. Momento ideal para o surgimento de um nome novo e risco do surgimento de um aventureiro – o “salvador da pátria”.

Esse “salvador” normalmente tem o perfil de um Russomanno. Mas Russomanno é novo? E Marta? E Erundina?

Estas são eleições que serão decididas na campanha.

Haddad tem um conjunto grande de obras aprovadas pelos eleitores, corredor de ônibus, a Paulista aberta aos domingos, as ciclovias, a redução dos acidentes trazida com a redução da velocidade das avenidas e marginais e o aumento substancial de vagas em creches. Para não falar de um premiado trabalho de apoio aos dependentes químico da cracolândia que eram tratados a cacete pelos governos anteriores. 

Mas tem contra si justamente o ônus de ser governo em um momento de descrédito da política, pelo menos da política como a conhecemos até aqui. Porque a política sempre será inerente ao ser humano. Novos agentes políticos estão surgindo.

Estão nas redes sociais, na sua juventude, e nos grupos de ação social. Na nova mobilização por ideias e não por partidos.

Logo, se Haddad quiser ter sucesso, terá de fazer a campanha voltada para os novos agentes da política. Mostrar-se como um vetor de institucionalização da sua vontade de participação. Talvez, dos candidatos que se apresentam, só ele possa.

Caso não obtenha sucesso, ninguém é o candidato favorito, mas será o segundo colocado que assumirá o poder. E esse segundo colocado, hoje, ninguém pode afirmar quem seria.

 

PS.: A Oficina de Concertos Gerais e Poesia  executa trabalhos de reparo e manutenção de curvas normais. 

Redação

16 Comentários

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  1. Acredite, se quiser (Ripley’s Believe It or Not!)

    “Celso Russomanno tem atualmente 25% das intenções de voto e Marta Suplicy tem 16% de intenções.”

    É verdade. A verdade? do Ibope.

    A realidade é essa. 

    Ou não.

  2. É besteira manipular e pensar

    É besteira manipular e pensar (como fizeram com o Padilha) que o Haddad não tenha 18% dos votos. Esse é o ponto de partida.

  3. O Estado  já tem o excelente

    O Estado  já tem o excelente Alkimin (isso é o que dizem os coxinhas ), para completar o merdelê, nada melhor que um Russomano na prefeitura.

    Assim o Hadadd fica liberado para correr o Brasil com o Lula, se preparando para futuras eleições nacionais.

    Paulistas e paulistanos se merecem

    1. Não entendi, o Haddad vai

      Não entendi, o Haddad vai perder a eleição ou vai ganhar? Depois, ganhando ou perdendo vai percorrer o Brasil com Lula?

       

  4. O tucano médio se esconde das pesquisas

    Aquele sujeito que anda de carro, faz hora extra e bate panela não responde pesquisa, pois mal anda na rua.

    Só aparece no dia da eleição, isso quando não desiste de votar.

    Considerando que esta eleição será recordista em candidatos com recall e em baixarias, o candidato do PSDB tem muita vantagem. Só precisa aparecer na TV pra se consolidar.

    (Pergunta: Dória usará um dublê para visitar a periferia?)

    Apesar do escândalo da compra das prévias do PSDB acho que ele leva. O partido já está se movimentando para eliminar o principal adversário (Russomanno) antes mesmo da disputa começar, via STF. O resto? Ah, o resto é tudo petista, ex-petista, nanicos… O PiG fará a devida desconstrução fraudulenta dos seus adversários sem grandes dificuldades.

    Menos de 60% no segundo turno nem comemoro. Com Kassab foi assim…

    Pobre São Paulo…

  5. Área Petista

    Penso que o PT colherá resultados mais positivos nesta eleição do que o esperado pela grande maioria.  Não será  uma disputa fácil, mas a campanha consistirá em um espaço promissor de esclarecimento e de contraposição às campanhas sórdidas e difamatórias da direita. Penso que temos muitas chances de Vitória nas capitais de MG e SP. 

    1. Chance de vitoria com um

      Chance de vitoria com um candidato com a PIOR avaliação entre todos os Prefeitos de capitais?

      Como seria a chance de vitoria?

      Ao contrario da eleição federal, a eleição municipal tem muito a ver com a vida dos eleitores, é uma percepção local, não depende tanto de midia e de esclarecimento, as pessoas vivem a cidade e na cidade, é o que sentem e veem.

       

      1. Não neste caso

        Haddad sofre com a contaminação do antipetismo federal

        Suas ações à frente da prefeitura são bem avaliadas.

        O povo aprova os corredores de ônibus, mas não aprova Haddad. Aprova as ciclovias, mas não aprova Haddad. Aprova a Paulista aberta aos domingos, mas não aprova Haddad.

        Como explicar?

        Contaminaçao do antipetismo federal

          1. Pelo jeito a ignorância parou

            Pelo jeito a ignorância parou em voce! Não é NADA?? Comentário cretino. Simplesmente ele começou a desatar efetivamente o nó da mobilidade!!! Fez o Plano Diretor, simplesmente elogiado por entidades internacionais de planejamento urbano, inclusive da ONU. Redução de Velocidade, número de mortes nas marginais cai 32,8%. São Paulo passa da 7*  para s 58* posição das cidades mais congestionadas do mundo  Ciclovias, que fez mais do que DOBRAR o número de usuários durante a semana e multiplicar os de fim de semana! Reorganizou o Sistema de sáude, do qual sou usuário, onde se consegue marcar consulta e exames (com dia e hora marcados e ser atendido pontualmente!) com poucos dias ou poucas semanas de antecedência! Além da PAULISTA, cada uma das 32 sub-prefeituras tem suas ruas de lazer fechada aos domingos, para uma cidade extremamente carente de áreas verdes e de lazer!

            Ah, acho que voce prefere o serra que gastou 1,5 BILHÃO na “reforma” da marginal Tiete prometendo NUNCA mais ter congestionamento e dois anos depois se entupiu de novo… Ou o alckmin, responsável pelo metro que “cresce”, sob sua gestão, menos de 2 quilometros por ano, já acumulando atrasos de 8 anos à mais de décadas.na entrega de novas estações… 

            O último prefeito bom foi Marta, enquanto PT e agora Haddad, PT de novo! 

  6. Existem muitas eleições onde

    Existem muitas eleições onde não há um há um favorito, porque essa estranheza do autor? Celso Russomano em 9% acima de Marta mas o 2º turno é outra eleição, começa tudo de novo, qual a novidade ?

    Que raciocinio estranho, vai empatar com ninguem como? Vai ter um na frente no primeiro turno e os dois primeiros vão para o segundo e depois um vence? Qual a surpresa?

    Sinceramente não entendi a logica do artigo,  uma eleição absolutamente normal, na maioria das eleições não tem “”já ganhou””.

    1. My name is nobody

      “Ninguém” como representação do voto branco/nulo e não sabe.

      Segundo colocado contra Russomano e primeiro colocado sem ele.

      Em uma São Paulo que é fonte contínua de agitação política desde 2013, Russomanno é um demagogo que nestas eleições enfrenta ninguém.

      1. Espero que a cidade de São

        Espero que a cidade de São Paulo não repita com Haddad o que aconteceu no RS. Aqui elegemos um qualquer, o Sartori, para não mantermos o petista Tarso Genro. A campanha anti-PT foi tão forte que os gaúchos teriam eleito qualquer um, até um cachorro, para “tirar o PT do Piratini”. Este e o “meu partido é o Rio Grande” foram os dois principais motes da campanha apolítica do PMDB/anti-PT.  Nenhuma proposta sequer. E o pior é que, depois de 18 meses desse (des)governo, conclui-se que estaríamos melhor se tivéssemos um cachorro como governador do que este pemedebista. 

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