Haddad diz que “insegurança jurídica” atrapalhou a frente de esquerda

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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É de se imaginar que Ciro não quis trocar o certo pelo duvidoso. Afinal, a aliança com o PT seria de inegável interesse se houvesse a possibilidade de Ciro assumir a chapa no lugar de Lula, com Haddad na vice. Mas ainda que eventualmente tenha ouvido uma promessa nesse sentido, que garantia teria Ciro de ser o candidato a presidente se o próprio PT não descarta levar Lula às urnas com um registro sub judice?

Foto: Cíntia Alves/GGN

Jornal GGN – Fernando Haddad (PT) disse em entrevista aos jornalistas de blogs e sites independentes, na manhã desta terça (7), que lutou “pessoalmente” para construir uma “frente de esquerda”, como vem sugerindo o PCdoB, em torno de Lula. Porém, a “insegurança jurídica” (leia-se a imprevisibilidade acerca da situação eleitoral do ex-presidente) foi um obstáculo às negociações. 
 
“O que, no campo da centro-esquerda, dificultou foi a insegurança jurídica que o Brasil está vivendo. Ninguém se sente seguro, do ponto de vista jurídico, e isso alimenta uma série de movimentos que não estariam acontecendo numa situação de normalidade democrática”, disse Haddad. “Respeitamos os partidos de nosso campo que querem lançar candidato próprio, mas precisamos reconhecer que se Lula estivesse assegurado, não estaríamos nessas circunstâncias”, acrescentou.
 
Sem citar especificamente a tentativa de aproximação com o PDT, Haddad disse na entrevista que lutou “pessoalmente para isso [a frente ampla de esquerda] acontecer, me expus pessoalmente porque eu queria que a frente fosse ainda mais ampla, mas em torno de Lula. A única questão que eu colocava é que tem que ser em torno do Lula. Não seria justo que não fosse em torno dele. Depois, se discute qualquer coisa.” 
 
Na semana passada, a imprensa divulgou que o PT ofereceu ao presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, a chance de Ciro Gomes ocupar a vaga de vice na chapa de Lula. O pedetista teria respondido, segundo a Folha de S. Paulo, que o convite chegou atrasado, pois a candidatura de Ciro já estava lançada. Mas as novas declarações de Haddad, sobre a imprevisibilidade, desnudam outro lado da questão. 
 
É de se imaginar que Ciro não quis trocar o certo pelo duvidoso. Afinal, a aliança seria de inegável interesse para o PDT se houvesse a possibilidade de Ciro assumir a chapa no lugar de Lula, com Haddad na condição de vice. Mas ainda que eventualmente tenha ouvido uma promessa nesse sentido, que garantia teria Ciro de ser o candidato a presidente se o próprio PT não descartou levar Lula às urnas com um registro sub judice? Ciro ficaria na dependência de Lula ser barrado?
 
A estratégia eleitoral do PT, até o momento, indica que Haddad deve ser a alternativa à eventual inabilitação de Lula e terá Manuela D’Ávila, do PCdoB, como vice, já que Ciro declinou o convite para compor a chapa. Neste cenário, Haddad reafirmou que luta para “construir a unidade possível no primeiro turno e a unidade para a vitória no segundo turno.”
 
O petista também fez questão de minimizar a cisão que gerou múltiplas candidaturas na esquerda. “Você vai se aliando primeiro com quem mais se parece com você. Estamos com PCdoB neste momento, mas no segundo turno tenho certeza que PDT estará conosco.”
 
Haddad ainda destacou a aliança informal com o PSB, que garantiu apoio de todos os governadores e da maioria de candidatos a governos estaduais no Nordeste a Lula. Questionado sobre o apoio de políticos que concordaram com o impeachment de Dilma Rousseff, como Paula Câmara (PSB), em Pernambuco, Haddad tentou jogar panos quentes. “É natural que reconheçam o erro que cometeram e apoiem o Lula. É liberdade de expressão. Às vezes apoiam por honestidade, às vezes por esperteza.”
 
Na coletiva de imprensa com blogueiros, o coordenador do “programa Lula de governo” tangenciou perguntas sobre qual seria o papel do ex-presidente caso o PT vença a eleição sem sua participação. Lula vai governar sem a faixa presidencial? Haddad não quis dizer. Limitou-se a falar da esperança de que Lula tenha condições de disputar e de, futuramente, ter sua inocência reconhecida pela Justiça.
 
No final, Haddad salientou tem papel definido na campanha e que se contentaria em ser ministro de um futuro governo petista. “A minha relação com Lula é de muita confiança e eu entendo muito bem meu papel nesta chapa. Vou lutar até o fim para ver Lula registrado e isso acontecendo, Manuela assume minha posição e eu vou ser muito feliz como ministro. Eu falei [ao Lula] que escolho o ministério se isso acontecer”, comentou, arrancando risos.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Só espero que a Manuela a
    Só espero que a Manuela a médio e longo prazo, não se torne uma Marta Suplicy, Marina, Heloísa Helena e Luciana Genro na vida do Lula. Deve ter outras mas não lembro.

    Até a Dilma no início do 2o mandato quis se descolar de Lula/PT. O resultado já sabemos.

    O Lula não dá sorte com apoio que dá às mulheres na política. Sofreu muitas traições.

    Espero que a jovem Manuela seja firme e grata pela oportunidade que está tendo. Quando estiver na velhice contando sua história, lembre-se do velho Lula de hoje lhe dando uma grande oportunidade.

  2. “O bola cheia”

    Haddad tem talento, segurança, autoridade, credibilidade e vocação. Seja qual for o cargo que Haddad venha a ocupar (por eleição ou convite), ele terá uma ótima oportunidade de dignificar a honra que recebe de Lula e dos seus eleitores.

     

  3. bom post.

    Como é dificil a esquerda se unir mesmo quando está em causa barrar a direita mais retrogada!

    Foi assim nos tempos de Marx, Lenin, Republica Espanhola e por ai vai!

    Já a direita mais objetiva e sem muitos escrupulos está sempre unida, masmo quando parece que não…

    Nesta eleição está representada pela “direita brucutu” e a “direita privatista”. Mas se precisar se unem rapidinho…

    Já a esquerda não se une nem quando emitem um manifesto…

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