Discutindo teor de livro de Galeano, do Diplomatizzando

Por Arlindo Belayres

Do Diplomatizzando

Paulo Roberto de Almeida

Revisitando um perfeito idiota: desta vez de forma explicita

 
No dia 26 de Julho de 2009, um domingo (por acaso data nacional cubana, para os que conhecem a história da ilha, e sabem que esse foi o dia, em 1953, no qual um punhado de patriotas e lutadores anti-ditadura Batista atacou o quartel de Moncada), postei neste mesmo espaço uma nota, de número 1239, intitulada “O maior idiota latino-americano de todos os tempos”, a propósito de um trecho recebido pela internet de um livro de Eduardo Galeano, que me trouxe à lembrança um ensaio que eu havia feito para me perguntar se estava aumentando o número de idiotas no mundo.
Este post pode ser lido neste link.

Pois bem, nesta data, 4 de agosto de 2009, recebi um comentário não identificado (tem gente que prefere o anonimato, como sempre), não postado (por estar vazado em termos grosseiros), contestando minha atitude, cuja essência vai aqui reproduzida: 

“Sim, mas afinal…onde está a “idiotia” no texto de Galeano??? Optou pelo silêncio limitando-se apenas a afirmar de forma simplista que não há o que comentar no texto simplesmente por considerá-lo a priori “idiota”.”

Como fui acusado de recusar o trecho de Galeano de forma simplista, e de considerá-lo um idiota, asi no más, sem maiores explicações, retomo o mesmo post para agora dar explicações, provavelmente a uma mente simples, quanto à minha classificação de idiota do citado trecho.


….
Como não sou de recusar um debate, mas prefiro argumentos substantivos, não acusações ofensivas, vou agora à substância da discussão.

Afinal de contas, não se pode condenar a priori as pessoas — neste caso tanto o Galeano, quanto ao comentarista anônimo — apenas com base numa acusação genérica, como a que fiz, de idiotice, sem dizer porque. Enfim, eu acreditava que as pessoas que frequentam este espaço também consideram o Galeano um dos maiores representantes da espécie em questão, isto é, o perfeito idiota latino-americano, mas nem todos precisam saber a priori por que.

Por isso, atendendo ao pedido algo descortês de meu comentarista desconhecido, retomo agora o teor do debate.

Um perfeito idiota latino-americano, ou Eduardo Galeano: a linguagem, as coisas e seus nomes (Do livro De pernas pro ar, editora L&PM)
(os trechos de Galeano estão em formato itálico, os meus em caracteres normais, precedidos de minha sigla: PRA)

1) O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado.
PRA: O capitalismo não é toda a economia de mercado, mas apenas uma parte desta, provavelmente não a maior na maior parte das economias historicamente conhecidos. Sendo, especificamente, um sistema de produção de mercadorias, baseado na posse privada de meios de produção (também chamados de equipamentos produtivos, ou máquinas, enfim, aquilo que os marxistas, e os economistas, chamam de capital), ele que contrata mão-de-obra e insumos no mesmo mercado (interno ou externo). Qualquer pessoa medianamente instruída sabe que a economia de mercado – que existe desde sociedades primitivas e que continua existindo mesmo sob os regimes pretensamente socialistas – é muito mais abrangente do que o capitalismo, que é uma forma específica ou peculiar de atividade de mercado.
Deve-se recomendar a Galeano ler um pouco mais de história econômica (por exemplo, o historiador francês Fernand Braudel) e livros de economia, também, de forma a não cometer idiotices de um calibre tão simples quanto esse.

2) O imperialismo se chama globalização;
PRA: Qualquer idiota sabe que a globalização é um processo tão velho quanto as primeiras rotas de mercadores à cavalo, a camelo, em dorso de mula, a pé ou em navios. Globalização é simplesmente um outro nome para a integração de mercados. Quanto ao imperialismo, se trata de uma forma específica de dominação política e militar, geralmente envolvendo a conquista e a manutenção de territórios e de populações estrangeiras sob o jugo de uma sociedade tecnologicamente mais avançada e que dispõe, portanto, de meios militares mais poderosos. No primeiro caso, estamos falando de um processo econômico que ocorre naturalmente ao longo dos séculos. No segundo caso, de uma forma de dominação política que ocorre excepcionalmente ao longo da história, e que se mantém durante prazos indeterminados, mas temporários. O império otomano, por exemplo, durou 500 anos, o soviético se estendeu apenas por 70 ou por 40 anos, dependendo do como se considera o timing de sua extensão, se pré ou pós-Segunda Guerra Mundial. O império nazista durou apenas seis anos, no máximo, o japonês um pouco mais, e o mais recente, o americano, já dura mais de cem anos, desde 1898 aproximadamente. Isso não é nada comparado com o império chinês, que tem aproximadamente 4 mil anos de existência, embora sob diferentes regimes políticos e dinastias.
Confundir globalização com imperialismo só pode ser coisa de idiotas…

3) As vítimas do imperialismo se chamam países em via de desenvolvimento, que é como chamar de meninos aos anões;
PRA: Existiram e existem vítimas do imperialismo em todas as épocas e lugares. Os egípcios, por exemplo, constituíam uma sociedade avançada – ela mesma imperialista em relação a povos da região – quando foram conquistados, em primeiro lugar, pelas tropas helênicas de Alexandre, depois pelas tropas romanas, isto antes que a própria Roma constituísse um enorme império geográfico e deixasse de ser a República dos antigos patrícios: Roma passou pela fase dos Cônsules (um dos quais foi César), antes de ser propriamente um Império, no sentido político da palavra.
Países em desenvolvimento são apenas economias não avançadas, não todas vítimas do imperialismo, necessariamente, mas provavelmente dependentes de capitais e tecnologias de países mais avançados, que não são necessariamente impérios. Apenas um idiota confunde as coisas e mistura categorias políticas e econômicas. 

4) O oportunismo se chama pragmatismo;
PRA: Sem comentários aqui, pois se trata de uma frase gratuita, até mesmo idiota, eu diria, que não quer dizer absolutamente nada. Puro subjetivismo do autor…

5) A traição se chama realismo;
PRA: A colocação está mais para uma peça de Shakespeare do que para um comentário de sociologia ou de ciência política. Deve ser colocada na mesma categoria da expressão anterior, ou seja, uma simples digressão literária.

6) Os pobres se chamam carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos;
PRA: Isto tem a ver com aquela linguagem politicamente correta usada em certos meios, geralmente importada dos EUA, com todo o relativismo cultural dos meios acadêmicos. Não pode haver coisa mais idiota do que o politicamente correto, e infelizmente ele está se tornando cada vez mais disseminado no mundo atual. Mas, posto que Galeano está ironizando criticamente sobre a frase, ou expressões, se supõe que ele rejeita a idiotice do politicamente correto, o que sempre é um ponto a seu favor. Mas, sinceramente, eu acho completamente idiota ficar comentando expressões idiotas como essas: um escritor que se respeite não pode ficar discutindo bobagens desse tipo.

7) A expulsão dos meninos pobres do sistema educativo é conhecida pelo nome de deserção escolar;
PRA: Não precisa ser pobre; também existem ricos completamente idiotas que não conseguem acompanhar uma escola regular. Mas reconheçamos que os pobres têm menos sucesso na escola devido a deficiências de background familiar, de ambiente cultural como o vivido num lar praticamente sem livros, com pais semi-alfabetizados etc. Isso é deplorável, mas não é preciso ser nenhum gênio para reconhecer que nossas sociedades latino-americanas, por exemplo, exibem altas taxas de deserção escolar. Esta é uma tragédia que precisa ser reconhecida como tal, e se trata de um fracasso de toda a sociedade, em especial de suas elites.
Mas, seria idiota fazer demagogia barata em cima dessa realidade. O que Galeano, como cidadão supostamente responsável, deveria fazer seria discutir meios para superar o problema, não ficar fazendo frases de efeito sobre uma tragédia dessas. Só um idiota tripudia terminologicamente sobre um problema real.

8) O direito do patrão de despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral;
PRA: Os países dotados de sistemas e mercados de trabalho mais flexíveis são os que exibem as menores taxas de desemprego, como uma simples consulta às estatísticas da OIT pode comprovar. Isto por uma razão muito simples: nas sociedades complexas, as formas assumidas pelo trabalho – qualquer tipo, assalariado ou não – são extremamente diversificadas, e portanto as relações de trabalho têm de se ajustar a essas novas realidades. 
Ou seja, não adianta ficar deblaterando contra fatos: pessoas sensatas tiram as conclusões. As não sensatas insistem nos velhos códigos laborais, de estilo e inspiração nitidamente fascistas. Não é preciso lembrar, na outra ponta, que as sociedades nas quais os mercados de trabalho se afastam das relações contratuais livremente consentidas e negociadas, e que teimam em organizar a oferta de mão-de-obra segundo normas legais e estatutárias dotadas de excessiva rigidez, são as que exibem as maiores taxas de desemprego. Para maior infelicidade dos trabalhadores.
Quem gosta de desemprego são os sindicatos, não os trabalhadores, que preferem trabalhar, independentemente do estrito regime legal. A renda se obtém de diferentes formas. Os sindicatos, ao congelarem as relações de trabalho e ao imporem limites à flexibilização, estão simplesmente contratando mais desemprego.
Apenas um completo idiota (ou alguém comprometido com a corporação dos sindicatos oficiais, não com os interesses dos trabalhadores) não percebe isto…

9) A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria;
PRA: De fato, as mulheres constituem (salvo na China e na Índia) a maioria da população em quase todos os países. Mas, esta é uma constatação idiota: basta consultar os dados demográficos para verificar essa realidade.
Sendo maioria, ainda assim as mulheres não detêm maior poder social, político ou econômico do que os homens; praticamente todas as sociedades exibem traços de dominação masculina em maior ou menor grau. Trata-se de um problema tão velho quanto a humanidade, mas que vai sendo corrigido aos poucos.
Galeano poderia ter dito, por exemplo, que o critério essencial dos avanços civilizatório é dado, geralmente, pelo tratamento que se concede à mulher. Elas são praticamente iguais aos homens nas sociedades escandinavas. Onde elas são mais oprimidas e submetidas ao domínio masculino é nas sociedades islâmicas, mas suponho que Galeano não pretende reconhecer essa realidade, ou falar dela abertamente, posto que, alegadamente, as sociedades islâmicas foram “oprimidas” pelo imperialismo e são, portanto, aliadas objetivas de certas causas idiotas.

10) As torturas são chamadas de constrangimentos ilegais ou também pressões físicas e psicológicas;
PRA: Nada a comentar, mas suponho que Galeano queira se referir aos prisioneiros da “guerra ao terror” comandada por aquele idiota do Bush, este sim um perfeito exemplar do gênero. Pode ser que Galeano também queira comentar sobre as torturas cometidas em certos regimes que ele considera como progressistas, aliados de suas causas supostamente progressistas. Ele poderia dar nomes aos bois, e não ficar idiotamente limitado a falar apenas de alguns tipos de torturas e não de outros, cometidos em certos lugares muito visitados por ele…

11) Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões, são cleoptomaníacos;
PRA: Uma digressão literária idiota, pois uma coisa não têm nada a ver com a outra. Faz parte daquela deformação típica de certos intelectuais desonestos, que acham que os pobres concentram todas as virtudes, sendo que os ricos – a burguesia, ou a aristocracia – ostentam todos os vícios. 

12) O saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome de enriquecimento ilícito;
PRA: Em países que dispõem de justiça digna desse nome, esses políticos são chamados de ladrões e vão para a cadeia, como nos EUA, por exemplo. Na América Latina, o enriquecimento ilícito é praticado por políticos de diversos matizes ideológicos, sem distinção de classe e geralmente sem punição apropriada. Mas é claro que a América Latina é um continente “corrompido” pelo imperialismo, que contribui para aumentar muito a roubalheira e a erosão moral dos políticos. Todos os nossos problemas – inclusive o dos déficits públicos, o da má qualidade da educação e, obviamente, o da corrupção política – são causados, segundo alguns idiotas, pela dominação externa…

13) Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos motoristas de automóveis;
PRA: Nada a comentar desta equiparação idiota. Galeano provavelmente anda de bicicleta e nunca cometeu nenhum acidente de carro. Sorte dele…

14) Em vez de cego, se diz deficiente visual;
PRA: Pertence à mesma categoria do politicamente correto comentada acima. Uma frase simplesmente idiota, que só pode ser lembrado por quem pretende fazer graça com uma idiotice. Aliás, não tem graça nenhuma…

15) Um negro é um homem de cor;
PRA: Idem (está ficando cansativo esse tipo de idiotice em torno de expressões idiotas).

16) Onde se diz longa e penosa enfermidade, deve-se ler câncer ou AIDS;
PRA: Idiotice bis ou ter…

17) Mal súbito significa infarto;
PRA: Por que um idiota ocupa o nosso tempo e esgota a nossa paciência com tal número de idiotices banais? Só pode ser por compulsão idiota por frases idiotas…

18) Nunca se diz morte, mas desaparecimento físico;
PRA: Argh…

19) Tampouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares: os mortos em batalha são baixas e os civis, que nada têm a ver com o peixe e sempre pagam o pato, danos colaterais;
PRA: A intenção idiota, aqui, é condenar o vocabulário militar americano. Não sei se no Congo ou no Sudão, onde milícias oficiais ou irregulares estão aniquilando populações civis, também se usa a prática de chamar “danos colaterais” às centenas de milhares de vítimas de forças militares absolutamente “não imperialistas”, apenas locais. Talvez o idiota do Galeano tenha uma outra expressão para essas vítimas, cuja contabilidade provavelmente decuplica o volume dos “danos colaterais”.

20) Em 1995, quando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: “Não gosto da palavra bomba. Não são bombas. São artefatos que explodem”;
PRA: O embaixador era um perfeito idiota, quase à altura do Galeano. Não sei se o ditador da Coréia do Norte também usa a mesma expressão para os seus pequenos artefatos nucleares e não sei se Galeano o chamaria de idiota… Aliás, caberia pedir sua opinião sobre alguns proliferadores atuais: ele provavelmente diria que estão apenas se defendendo do imperialismo…

21) Chama-se Conviver alguns dos bandos assassinos da Colômbia, que agem sob proteção militar;
PRA: Possivelmente, mas temos também milícias ditas populares em países que Galeano considera totalmente frequentáveis…

22) Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena e Liberdade o maior presídio da ditadura uruguaia;
PRA: Essas infelizes coincidências linguísticas… Ironia, por certo. Os guerrilheiros de Pol Pot, no Camboja, e os comunistas chineses também chamavam os seus campos de concentração de campos de reeducação. Deve-se lamentar questões concretas, não fazer troças com idiotices linguísticas…

23) Chama-se Paz e Justiça o grupo militar que, em 1997, matou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, que rezavam numa igreja do povoado de Acteal, em Chiapas.
PRA: Tragédias e idiotices militares ocorrem em todas as guerras, em todas as épocas, em quaisquer lugares, com os exércitos mais poderosos do mundo, nos impérios mais “sofisticados”, e com as milícias mais primitivas que se conhecem. Soldados são geralmente idiotas, máquinas treinadas para matar, e militares são normalmente paranóicos, vendo um inimigo atrás de cada indivíduo.
Não há por que idiotamente isolar o caso de Chiapas, pode-se mencionar a aldeia de Mi Lay, no Vietnã, os campos da Sabra e Chatila, no Líbano, os massacres da floresta de Katyn, pelas tropas soviéticas na Segunda Guerra Mundial, e dezenas, provavelmente centenas de outros casos menos conhecidos.
Falar de Chiapas, se destina, provavelmente, a promover uma guerrilha idiota, conduzida por um idiota completo, o tal de comandante Marcos, admirado por idiotas como Galeano (e milhares de outros congêneres na Europa, nos EUA, na América Latina), mobilizando camponeses pobres e analfabetos, para uma causa idiota, que é a do socialismo, contra o suposto Estado capitalista opressor e seu exército sanguinário a serviço da burguesia mexicana e do imperialismo ianque.
Só um idiota completo como Eduardo Galeano pode ainda acreditar nesse tipo de reducionismo simplificador.

Repito, portanto, retomando meu julgamento inicial: o senhor Eduardo Galeano, que posa de progressista, é um completo idiota latino-americano, aliás, sério candidato a idiota universal, um dos nossos maiores representantes da espécie.
Só outros idiotas não acham isso…

Paulo Roberto de Almeida

Luis Nassif

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