Hidroeletricidade em países tropicais, somos pobres porém…

Por Rogério Maestri

Somos pobres, porém limpinhos.

Este nome fonte alternativa de energia não é por nada que é chamada alternativa porque é utilizada em países que NÃO TEM MAIS OUTRAS FONTES. Tanto a Europa como os USA já barraram e construíram hidrelétricas em todos os locais que era possível, mas a América do Sul, a África e a Ásia não.

Na Europa, se procurarmos dados por países que geram energia renovável veremos a Noruega em destaque, e num destaque muito semelhante ao que o Brasil pode atingir, eles tem o petróleo do Mar do Norte que eles estão utilizando para alavancar a economia de seu país, mas para a geração de energia utilizam a Hidroeletricidade, são elogiados por todos os VERDES do mundo, quando se chega ao Brasil, estes VERDES acham que a hidroeletricidade do Brasil e dos demais países periféricos é SUJA.

Os pretextos são vários, primeiro pelos habitantes das margens dos rios, estes geralmente estão em encostas íngremes, fazendo uma agricultura de queimada e de sobrevivência e passando fome e miséria. Realocá-los para regiões planas onde poderiam fazer uma agricultura familiar com condições de ter uma produtividade que lhes dê uma vida digna, pode ser colocado no custo da hidroelétrica. Qualquer um sabe que fazer agricultura orgânica ou industrial em terrenos planos com infraestrutura é dezenas de vezes menos custosa para o agricultor, custosa em termos ENERGÉTICOS em termos humanos.

Como o fator ribeirinho, pode ser resolvido com a melhoria de vida dos mesmos, partiram os VERDES brasileiros a contestar as hidrelétricas em termos ambientais, as grandes hidrelétricas geralmente são colocadas como reservatório de acumulação na cabeceira dos rios, regiões estas que já estão degradadas em termos de flora e fauna, logo por aí não há como fazer oposição, logo sobra os famosos gases de efeito estufa.

Há um pesquisador que escreve artigos e artigos sobre a inconveniência das Hidrelétricas nos países tropicais, ele chega a dizer que estas geram mais CO2 que uma termoelétrica a carvão, para afirmar isto ele utiliza dados de duas barragens, a barragem de Petit Saut (que escrevi o nome errado no artigo inicial!) que apesar de sua implantação apresentar problemas típicos de um projeto com erro, as afirmações deste autor que este tipo de barragem é pior do que geração termelétrica não procedem.

Em um trabalho de 2001 feito exatamente para verificar este caso problemático “Emissions of greenhouse gases from the tropical hydroelectric reservoir of Petit Saut (French Guiana) compared with emissions from thermal alternatives”, se mostra uma curva de decaimento da geração de gases pelo reservatório e que mesmo para este caso problemático a comparação entre a geração térmica e a hídrica é favorável a hídrica em longo prazo (o que interessa para as gerações futuras, como se coloca em todas as definições de desenvolvimento sustentável).

A figura 1 do trabalho mostra o decaimento da emissão de gases de efeito estufa no caso do aproveitamento de Petit Saut.

   Emissions of greenhouse gases from the tropical hydroelectric reservoir of Petit Saut (French Guiana) compared with emissions from thermal alternatives

Para mostrar a comparação entre aproveitamentos hidrelétricos com outras fontes de energia os autores traçam um gráfico de geração acumulada de gases de efeito estufa da usina de Petit Saut com o tempo, comparando-o com energias fósseis.

Emissions of greenhouse gases from the tropical hydroelectric reservoir of Petit Saut (French Guiana) compared with emissions from thermal alternatives

Apesar de em longo prazo o aproveitamento de Petit Saut ser melhor do que qualquer tipo de geração térmica, eles mostram na Tabela 1, uma das origens do problema tanto de Petit Saut como de Balbina no Brasil, a fraca relação entre potência gerada e área inundada. Este é um dos problemas de aproveitamentos como os dois citados e junto com estes há mais uma série de outros que já são identificados e eliminados pelos projetistas nos dias atuais.

Como se pode ver, aproveitamentos como o de Belo Monte, que tem uma potência instalada de 11.233 MW para uma área de reservatório de 516km², a relação P/S fica em 21,7 ou seja 207 maior do que Balbina e 69 maior do que Petit Saut (sem considerar que a maior parte destes 516km², já eram rio!).

Além desses fatores ainda deve-se levar em conta, por exemplo, o tempo de retenção da água na barragem, o tipo de captação, e outros fatores, todos estes mais favoráveis a aproveitamentos com melhor projeto que Balbina e Petit Saut.

Ainda falando sobre os detratores da geração Hidrelétrica, estes usam para os seus cálculos um simples escalamento de geração de gases de efeito estufa, ou seja, pegam valores de geração de gases de efeito estufa unitários numa usina tipo Balbina e Petit Saut e simplesmente multiplicam pela a área de diferentes aproveitamentos, este tipo de raciocínio ignora totalmente a especificidade de cada aproveitamento (como a capacidade das equipes técnicas acharem as melhores soluções).

Uma boa crítica ao emprego de um simples escalamento de um ou dois reservatórios para centenas de diferentes características ser lida em “Challenges and solutions for assessing the impact of freshwater reservoirs on natural GHG emissions” ou em “GHG emissions from hydroelectric reservoirs in tropical and equatorial regions: Review of 20 years of CH4 emission measurements”, e a grande conclusão que estes autores chegam é que até a data do trabalhos não haviam dados conclusivos sobre o assunto, excetuando-se a barragem de Petit Saut, já citada.

Pela total falta de dados conclusivos foi feita uma campanha de campo de mais de 2 anos com um grupo de 108 pesquisadores brasileiros que levantaram os dados que mostram que realmente a emissão de gases de efeito estufa nas nossas barragens próximas aos trópicos são tão limpas ou em alguns casos até mais limpas do que as congêneres de clima frio.

Em resumo, podemos construir a nossa independência energética através da hidroeletricidade, pois como diz o ditado: Somos pobres, porém limpinhos.

DELMAS, R., GALY-LACAUX C. RICHARD, S..  2001. “Emissions of greenhouse gases from the tropical hydroelectric reservoir of Petit Saut (French Guiana) compared with emissions from thermal alternatives” .  Global Biogeochemical cycles, Vol. 15, n4, 993-1003, December 2001

DEMARTY, M. & BASTIEN, J..  2011.  GHG emissions from hydroelectric reservoirs in tropical and equatorial regions: Review of 20 years of CH4 emission measurements. Energy Policy, Vol. 39, Issue 7, July 2011, 4197-4206.

GOLDENFUM, J.A.  2012.  Challenges and solutions for assessing the impact of freshwater reservoirs on natural GHG emissions. Ecohydrology & Hydrobiology, Vol 12, Issue 2, 2012, 115-122

 

Redação

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A bela Joyce Hasselmann da

    A bela Joyce Hasselmann da Veja merecia um processo! Na sua coluna-video de ontem, ela tinha o Guzzo como convidado e distorceu CRIMINOSAMENTE uma fala (cortada/editada) da Dilma.

    Já no comecinho do video (escandalosamente editado por Hasselmann) Dilma diz: “Nosso País precisa também de ter um COMPROMISSO com aqueles que desviam dinheiro público…” e o video é cortado!

    Logo em seguida, Joyce, CRIMINOSAMENTE põe na boca de Dilma palavras que não dissera:
    Joyce: “Guzzo, ‘precisamos, então, dar PRIORIDADE àqueles que desviam dinheiro público’. Esse ATO FALHO (!!!) é mais um dos tantos cometidos pela candidata do PT”

    Tudo ocorre logo no primeiro minuto do video dela! Ver pra crer!!

    http://veja.abril.com.br/multimidia/video/quanto-mais-dilma-sobe-nas-pesquisas-mais-bobagens-ela-fala-diz-guzzo

  2. Excelente, Rogério

    Conversando com minha filha adepta ao ecologismo sobre o problema das usinas hidrelétricas:

    Filha, todos pedem crescimento e crescimento só se dá com muito gasto de energia

    As hidrelétricas, que sofreram grande bombardeio da direita por não serem criadas enormes reservatórios e da esquerda pelas suas construções na Amazônia, foram concebidas para criar o menos impacto possível

    Fontes ditas menos poluentes como a eólica e solar não são tão limpas assim e não geram a energia suficiente para o crescimento

    O que seria no lugar das hidrelétrica, a atômica, as poluentes termoelétricas?

    Coerência no discurso é se vocês topassem abrir mão do consumo e aí sim criticas as hidrelétricas na amazônia

    Ela entendeu o recado

  3. Quem construiu dois terços

    Quem construiu dois terços das hidroeletricas do Pais foram os militares no Governo de 1964.

    Na época foram super criticados pelas esquerdas e o grosso das ciritcas nasceram e continuaram vindo da ESQUERDA, no mesmo ninho de onde sairam os ambientalistas brasileiros.

    Em função dessas décadas de criticas continuas o atual governo está construindo tres prohetos de usinas a FIO D´AGUA, para evitar grandes reservatorios, uma PESSIMA solução, mais que duas vezes mais cara do que a hidroeletrica de reservatorio porque as maquinas só serão usadas em 40% do ano, então uma usina como Belo Monte, com máquinas com capacidade para 11.000 MW, vão gerar na média do ano apenas 4.400 MW, desperdiçando-se o custo-capital de 5.600 MW.

    A direita nunca foi contra usina hidroeletrica, como diz o texto, a critica sempre foi da ESQUERDA, movimentos sociais de indios, de moradores de encostas, de tudo.

    1. Caro Motta..Os militares

      Caro Motta.

      .

      Os militares foram os responsáveis por toda esta contestação nos dias atuais, se eles tivessem negociado com os posseiros, se eles não tivessem construído a maior besteira internacional em termos de impacto ambiental (Balbina), não haveria a mínima resistência a barragens nos dias atuais.

      Eu trabalhava junto ao setro hidroenergético na época (larguei este cetor há mais de 15 anos) e me lembro muito bem, na época haviam dois projetos de hidroeletricidade no RGS, um capitaneado pelo governo do estado e outro pela Eletrosul, no primeiro foi negociado com o pessoal que vivia nas margens do rio e a usina uns dez anos depois foi construída sem o mínimo protesto, já pelo outro lado a Eletrosul patrolou os movimentos sociais na época, resultando que quinze anos depois ainda causa protestos.

      Quanto a Belo Monte nada impede que posteriomente se faça reservatórios mais a montante e se regularize a vazão obtendo-se aproveitamento de uma geração muito melhor.

      A esquerda nunca foi contra hidrelétricas, agora ser expulso de uma terra, que ocupas há décadas, com um pontapé na bunda, isto nem é questão de direita e esquerda, é questão de contrapor a civilidade com a ignorância.

  4. Não abra debate com os
    Não abra debate com os verdes.
    Isso é um erro.

    Faça os projetos e enfie goela abaixo.
    Prefiro debater o que deve ser debatido.

    De qualquer forma, estamos no fim de nosso potencial hídrico. Poucos projetos na região norte e pchs.
    Depois, abram alas para as nucleares.

    1. Athos, aí que está o teu

      Athos, aí que está o teu erro.

      Tinha feito um quadrinho com os dados corretos a partir do “Potencial Hidrelétrico Brasileiro por Bacia Hidrográfica – Julho de 2014 (MW) Fonte: SIPOT” (se quiseres o quadrinho pesquise lá, não vou fazer de novo). Mas em resumo, sem contar a Bacia do Amazonas e do Tocantins, ainda temos o equivalente a 43,4% da potencia instalada para instalar (descontei até as em construção), se considerarmos só 25% da Bacia do Amazonas e Tocantins, só tocando em terras que já estão degradadas este valor vai para 82%.

      O que rala a política hidrelétrica no Brasil é exatamente este tipo de pensamento que tens, patrolar no lugar de negociar, o setor hidrelétrico tem capacidade técnica de discutir com todo estes pseudo-ecologistas demostrando por A + B que a hidreletricidade é muito mais renovável doque estes cataventos gigantes e as células fotovoltaicas.

      O problema principal é que os corpos técnicos não são acostumados a discutir e negociar, e entram em frias enormes devido a isto (vide o facão da índia na cara do diretor da Eletronorte).

      Com a compensação ambiental que uma obra de grande porte pode oferecer sem tornar inviável, pode-se melhorar a vida dos ribeirinhos e permitir que os indígenas conservem a sua cultura, aumente a sua população e melhore as condições de saúúde e educação. Porém, para isto é necessário modificar a mentalidade dos profissionais que trabalham com hidrelétricas.

      Conheço vários destes profissionais, que quando se fala numa audiência pública literalmente se cagam de medo. Porém eu tenho a ABSOLUTA CERTEZA que o trabalho desses profissionais quando motivados em oferecer compensações ambientais para quem é prejudicado pelas hidrelétricas, fazem um trabalho dez vezes melhor do que ONGs que querem simplesmente perpetuar a miséria dos ribeirinhos e consideram os índios como animais de zoológico.

      1. Os.profissionais do ramo tem

        Os.profissionais do ramo tem que esclarecer a população. Basta apresentar os fatos, sem debate.
        A verdade é que não ha tanta resistência assim. O que há são manchetes.

        PS. Sobre o potencial hídrico remanescente, não acredito neste número.
        Estes potenciais costumam ser hiper dimensionados.
        Não que o potencial não exista. É que parte não é recuperável e/ou não economicamente viável.
        Mas admito, posso estar enganado.

        1. Só usinas acima de 30MW

          Athos, além de tudo há um detalhe, que todos esquecem, os inventários da Aneel só contemplam usinas acima de 30MW, este corte deixa de lado sites que presumivelmente tem potencial abaixo de 30MW, mas que com desvios, túneis e outras obras apresentam uma geração bem superior a isto.

          Eu já visitei alguns locais aqui no RS em que provavelmente se geraria bem mais do que 30MW se fosse feito uma boa engenharia, porém a Aneel, não tem tempo e nem pessoal para ficar analisando este tipo de aproveitamento, quando, como se diz vulgarmente a água bater na bunda, ainda se conseguirá muito.

          Tem restrições como a não transposição de bacias que se fosse permitido a rodo seria um caos, porém com estudos corretos dos impactos ambientais, se pode gerar muito mais eletricidade. Não esqueça que São Paulo é abastecida por um sistema deste tipo, o complexo Henry Borden. Se olharmos toda a Serra do Mar pode ter sistemas deste tipo, desde corretamente dimensionados.

          Também tem uma outra coisa que ainda não foi utilizado, o desnível entre a serra do mar e a baixada é em média algo de 600m a 900m, este desnível pode ser utilizado assim como o complexo Borden, ou para quem for mais sensível em termos ambientais, para armazenar energia eólica durante a noite e gerar energia hídrica durante o dia. Como os desníveis são altos a quantidade de água é pequena e se aproveitaria toda a energia eólica gerada.

          Tem muita coisa, pois no Brasil o que não falta é água (excetuando São Paulo, hehehehehe), mas não porque não chove, mas porque o paulista é burro e teimoso!

  5. muito legal.
    e há denúncias

    muito legal.

    e há denúncias contra certas ongs

    financiadas por interesses neonliberais dos estados unidos, principalmente.

    as quais são financiadas por órgãos (uma tal NED, EUA)

    inclusive para derrubar governos progressistas latino-americanos(venezuela, etc e tal)….

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador