Suspensão de empresas pela Petrobras pode romper paradigma

Suspensão de contrações futuras de 23 empreiteiras investigadas pela operação Lava Jato poderá representar quebra de paradigma ao mercado de construção. Desde a Ditadura Militar até hoje empresas médias e estrangeiras relutam em atuar em grandes obras no Brasil, em todas as estâncias governamentais, por considerarem “causa perdida”.

A suspensão de grupos brasileiros de futuras contratações de obras pela Petrobras, incluindo projetos orçados em bilhões de reais, poderá significar oportunidade para que empresas médias e internacionais se organizem para oferecer seus serviços à estatal.

Mas há desafios pela frente.

As médias empresas terão que atender às rígidas exigências da empresa para tornar-se fornecedor dela, além de comprovar expertise em área de alta especialização.

A Petrobras também terá que conquistar a confiança das empresas estrangeiras para que participem de licitações com chances iguais às nacionais – se é que a estatal pretende mesmo contar com grupos internacionais na disputa por obras.

Construtoras medianas comumente reclamam de exigências da Petrobras com os contratos já em curso – e pela consequente remuneração dos serviços. Justo ou não, qualquer atraso de pagamento costuma colocar essas empresas em situação crítica, já que não contam com dinheiro em caixa – nem bons financiamentos – para suportar contingenciamentos desse tipo.

Além disso, as médias empresas terão de aprender a desenvolver consórcios para participar de licitações – fato mais do que comum entre as gigantes do setor. A prática é essencial para obter grandes obras na empresa que mais detém projetos no Brasil – seguida de perto pela Vale.

Com relação às companhias internacionais, elas ainda sofrem forte oposição do setor nacional de engenharia e construção para ingressar no mercado brasileiro, além de não confiarem em trabalhar para agentes públicos no Brasil. A vantagem da Petrobras em atraí-las é que as mesmas possuem tecnologia e conhecimento multidisciplinar (a maioria delas tem atuação global), itens fundamentais para operar com companhias petrolíferas.

A Petrobras tem projetos importantes em desenvolvimento – como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) – e outros encaminhados – como, por exemplo, as refinarias Premium I e II (no Maranhão e Ceará, respectivamente). São iniciativas que permitirão ao País diminuir sobremaneira a dependência lá de fora de derivados do petróleo.

No Comperj, há empresas estrangeiras que atuam em obras em regime de consórcio com grandes grupos brasileiros. Empresas médias são muitas vezes subcontratadas por gigantes do setor da construção em seus projetos na Petrobras, ou realizam trabalhos menores diretamente à estatal.

Com a nova medida, o mercado se abre. Mas como qualquer quebra de paradigma, a substituição não acontecerá da noite para o dia. Vai depender de como a Petrobras e as empresas interessadas em entrar nesse apetitoso segmento vão encarar a nova realidade.

www.augustodiniz.com.br

Redação

7 Comentários

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  1. Fim do desperdício de sempre

    Augusto,

    Se a Lava Jato não conseguiu a  oportunidade ímpar para rever o rito de contrataçã e execução de obras públicas, uma verdaeira lástima, ao menos poderá, não graças à Operação em si, mas às consequências dela, estimular a participação de empresas estrangeiras em obras de infraestrutura e colocar prá jogar as empresas de médio porte.

    Fiscalização técnica aguçada nas obras licitadas ( e não por pessoal do Judiciário, prease ), preços e prazos compatíveis com o objeto licitado, o fim deste veneno chamado aditivo de valor, este é o ponto de partida. Com tais condições corretamente estabelecidas, não faltarão empresas para enfrentar hidreléticas, transposições, estradas, ferrovias, etc…

    O fato de o país não ter exercitado a receita de bolo nestes últimos 30 anos representou um desperdício literalmente incomensurável à sociedade brasileira.  

  2. Problema ou Solução?

    A suspensão da participação em licitações de empresas nacionais e estrangeiras prestadoras de serviços e materiais para a Petrobrás não é novidade.

    A Multinacional Francesa, na qual trabalhei na década de 80, que prestava serviços de mergulho saturado e ROV para Petrobrás foi suspensa por um ano, depois que, ao ganhar uma licitação com um navio, não conseguiu fechar contrato com o armador e dono do navio que havia avisado e vendido a embarcação para outro interessado. Ofereceu mundos e fundos e até outros navios com especificações muito superiores, mas a Petrobrás ficou irredutível.

    O problema da suspensão atual (ou quem sabe a solução) é que praticamente atinge todo o espectro de grandes construtoras nacionais. Em certos setores as empresas estrangeiras estão, e sempre estiveram, em pleno funcionamento na prestação de serviços à Petrobrás. Como exemplo, nas sondas de perfuração e completação.

    A última empresa (também multinacional francesa) que trabalhei antes de me aposentar deixou de participar em várias licitações da Petrobrás no ano passado, por causa do IDC (Isto Dá Cadeia) segundo o novo CEO importado do Eike Batista. Já estavam atinando que a coisa estava passando dos limites. A empresa desencadeou uma intensa campanha corporativa interna contra a aceitação e oferecimento de “brindes” por parte do grande número de gerentes e diretores que possuía, responsáveis pelos vários setores que atua.

  3. Boa estrategia

    Se contratasse, ou não, as empresas implicadas na lava-jato, a petrobras seria criticada e poderia haver flutuações no valor das ações. 

    A petrobras bloqueou a contratação dessas empresas.

    Elas com certeza vão recorrer à  justiça. 

    Daí que o bola vai ficar com a justiça,  a petrobras vai cumprir as determinações judiciais, seja qual for.

    Lavou as mãos. 

  4. Mais uma prova de incompetência

    Só quem não conhece o judiciário deste país pode achar que não vão chover liminares mandando que as empresas sejam incluídas nas licitações. E aí fica pior ainda, serão contratas sob a incerteza que só uma boa açãozinha judicial pode dar. É o legado desastroso do governo Dilma na administração da Petrobrás. Ia ser engraçado o Presidente de algum empreiteira anunciar que não faria mais contrato com a Petrobrás enquanto a “Graça” estivesse lá, afinal de contas presunção de inocência é p/todo mundo ou p/ninguém. 

    PS: Cadê o Quireza p/falar da história do balanço não publicado? Os fanáticos “pira” ….

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