Percival Maricato
Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
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História de como o futebol foi liquidado pelo ‘progresso’, por Percival Maricato

É a economia de mercado: quem pode comprar, tem acesso. Até mesmo os clubes estão virando empresas, propriedade de milionários.

A HISTÓRIA DE COMO A SAUDÁVEL PRÁTICA DO FUTEBOL POR MULTIDÕES EM SÃO PAULO FOI LIQUIDADA PELO “PROGRESSO”, PELA ECONOMIA DE MERCADO E PELA TV A CABO

por Percival Maricato

O futebol, antes divertimento do povo brasileiro, vai se tornando produto escasso. O que aconteceu na cidade de São Paulo precedeu o que aconteceria pelo país inteiro.

Até os anos sessenta do século passado era possível mesmo sua prática. As marginais do Tietê e do Pinheiros, assim como o leito de avenidas projetadas pela cidade (av 23 de Maio), diversas zonas desvalorizadas (Centro da Coroa, local onde hoje está a prefeitura regional da Mooca), tinham por toda sua extensão milhares de campos de futebol de várzea.

Tive essa experiência pessoal. Jogava no Colorado do Brás (origem da escola de samba do mesmo nome), com sede na esquina das ruas Rio Bonito e Major Marcelino. Em um raio de 500 metros tinham sede o Âncora, Silva Telles, Vigor, Maria Zélia, Botafoguinho,  Luzitano, Cachoeira, Flor do Brás e outros, quase todos com campos de futebol onde é hoje a Marginal do Tietê, apenas do lado direito. Todos, além da vida esportiva, tinham vida social. Os campeonatos varzeanos da Gazeta Esportiva juntavam mais de mil clubes.

Aos sábados, domingos, feriados, havia jogos nesses campos desde o amanhecer (equipes mirins, infantis), passando pelo fim da manhã e início da tarde  (juvenis ,extras, times principais) até final do dia (veteranos, também chamados sucata, desmonte). As famílias desciam para esses campos, torciam, tomavam sol e raspadinha de groselha, compravam pipoca ou algodão doce, havia intenso relacionamento social, tudo muito saudável.

O último núcleo de campos de futebol de várzea mais próximos dos bairros afluentes foi o que existia no final da Av Rebouças à esquerda, distribuídos até a Av Juscelino Kubitschek. Era o Parque do Povo, de fato. Havia pelo menos doze campos onde de manhã à noite (em alguns já tínham posto iluminação) milhares de varzeanos praticavam o esporte. Até que eleito, José Serra resolveu aplicar a política social tucana, acabar com o “uso particular da área” pelos varzeanos e fazer um parque de fato “para o povo” , leia-se para os é moradores da região, um bairro sofisticado com um dos m2 mais caros de São Paulo e que valorizaram mais ainda com o tal parque. Hoje são os moradores que usam o espaço, em número que não chega a sequer 1/50 dos varzeanos que ali se divertiam.  Foi apenas mais um exemplo de como certos tucanos enxergavam o social, a ocupação da cidade. Deu no que deu.

O fato é que o “progresso” chegou nas margens do Tietê e do Pinheiros e demais lugares referidos, acabou com os campos de futebol e o divertimento dos muitos milhares de paulistanos que jogavam ou assistiam às partidas. Há quem pode ver nisso uma vantagem, pois o que seria de São Paulo sem as grandes marginais, avenidas, sem construir sobre as áreas que ainda restavam livres. Só para deixar os campos de futebol preservados?

O futebol profissional perdeu essa enorme fonte de craques, os jovens começaram a praticar o esporte desde cedo não para se divertirem ou por ser saudável, mas para se consagrar e ganhar dinheiro. Para se divertir, sobrou para quem insiste na prática,  alguns campinhos que se pode alugar e uns poucos campos maiores bem na periferia, ainda.

Como consolo, sobrou para a massa ir ao estádio ou ver futebol na TV. Ir ao estádio ainda mobiliza milhões de pessoas nos finais de semana. Ver na TV,  mais ainda.  As festas passaram a ser dentro de casa, sábados e domingos  à tarde. Passados alguns anos, apareceu a TV a Cabo, que comprou o direito de transmissão e passou a vendê-lo a preços extorsivos. Atualmente, exceto um jogo ou outro na TV aberta, quem quiser assistir futebol na TV tem que pagar e caro, coisa de R$ 100,00 por um único jogo.  Ainda resta para muitos o futebol internacional até que seus os principais campeonatos sigam a mesma lógica.

É a economia de mercado: quem pode comprar, tem acesso. Até mesmo os clubes estão virando empresas, propriedade de milionários. O jogador vende seu talento a quem pagar mais, alguns trocam de clubes com a mesma rapidez e sem cerimônia que trocam de chinelo. E, por enquanto, a massa torce, ainda torce.

FLAMENGO- NOVA INVERTIDA

Como explicar que um time que contrata e paga bem os melhores jogadores do pais, alguns de destaque internacional, com técnico de experiência internacional, perca de um time do Marrocos ,que ate a Copa do Mundo era um país tido como do 3º escalão em matéria de futebol?

De um lado parece mesmo que muitas estrelas juntas nem sempre dão certo. Precisam de uma administração competente mais acima, e isso o Fla não tem. Sua diretoria conservadora, antiquada, pretensiosa, arrogante, só tem mesmo dinheiro, em grande parte devido a fabulosa torcida, a maior do país. De outro essa arrogância contamina os próprios jogadores, jovens ainda, presas fáceis do excesso de estrelismo.

O marroquino Al Hilal jogou o suficiente para ganhar do clube da Gávea por 3 x 2 e fará a final do Campeonato Mundial de Clubes com o vencedor de Real Madri e Al Ahly, time árabe.  O Flamengo ficará no lugar que merece, terceiro ou quarto, tudo dependendo do placar do jogo com o perdedor desse outro jogo. A semana promete. Bom aproveitar para lembrar que fazem quatro anos neste dia 8 que ocorreu o incêndio no Ninho do Urubu, onde a diretoria do Flamengo mantinha em deposito (sim, era um depósito) os garotos que jogavam nos times juvenis. Dez morreram e outros ficaram feridos, e até agora a justiça carioca não condenou ninguém.  

Percival Maricato

Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

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