No dia 15 de fevereiro, data na qual o Parlamento Europeu aprovou o polêmico “Tratado Econômico e Comercial Abrangente” – mais conhecido pelo seu acrônimo inglês, CETA – impôs-se como inevitável lembrança a figura de Chrystia Freeland, recém-nomeada Chanceler do Canadá.
Emburrada com a resistência da Bélgica em assinar o tratado, em outubro de 2016, Freeland, então ministra do Comércio Exterior do Canadá, abandonou ostensivamente a sala de reuniões com expressão de derrota, em seguida declarando à imprensa que a União Europeia “não tem capacidade para assinar acordos”.
Porém, no início de fevereiro de 2017, logo após sua nomeação para o cargo de chanceler, Freeland surpreendeu a mesma imprensa, revelando que sua atitude intempestiva, sobretudo sua “expressão de tristeza”, fora pura encenação, com o objetivo de causar “sentimento de culpa aos governos europeus”; chantagem emocional que colheu excelentes resultados. Enquadrada pela União Europeia – que somente pode assinar tratados em regime de unanimidade – a Bélgica enquadrou sua província autônoma e rebelde da Valônia, que na mira de poderoso ataque midiático de ambas orlas do Atlântico, jogou a toalha.
O principal motivo da resistência – não apenas dos agricultores valoneses, mas de dezenas de milhões de abaixo-assinados de uma petição ao Parlamento Europeu, para que rejeite o tratado – é a cláusula do CETA que cobra a institucionalização do sistema de “Solução de Controvérsias entre Investidor e Estado” (“Investor-State Dispute Settlement”- ISDS), com a entrada em cena de “tribunais de investimento”. A exemplo do processo movido entre 2009 e 2016 pela multinacional do cigarro, Phillip Morris, contra o governo do Uruguai, a ofensiva visa à judicialização do mercado mundial, dos Estados Nacionais e seus cidadãos, mediante demandas bilionárias, sempre que poderosas corporações transnacionais pretextem “prejuízos” de seus investimentos e lucros – tema que deverá merecer matéria em separado no GGN.
Elogio das Elites globais
Em seus pronunciamentos, escritos e verbais, a dublê de jornalista e ministra, Chrystia Freeland, emite sinais contraditórios.
Autora de títulos provocativos – como “Sale of the Century”, sobre a transição econômica da URSS à Rússia, editado em 2000, e “Plutocrats: The Rise of the New Global Super-Rich and the Fall of Everyone Else”, editado em 2012 – em seu blog na Reuters, agência que serviu após deixar o Financial Times e antes de se filiar ao Partido Liberal do Canadá, por um lado, questionava o aprofundamento das desigualdades sociais produzidas pelo capitalismo globalizado.
Em sentido oposto, enaltecia o “trabalho duro” e a “respeitabilidade” das novas elites (The new global elites – Reuters Blogs) e, já como atriz política no papel de ministra do Comércio do Canadá, forçou a negociação de um tratado que, como o CETA, visa ao assédio e desempoderamento da cidadania e dos Estados Nacionais por essas mesmas “elites respeitáveis”.
Agitadora na Praça Maidan
Não há dúvida, que Freeland tem sérios problemas com a coerência, que vão das lacunas em sua biografia, à sua alegada “russofilia”. A julgar por sua atividade como ex-correspondente em Moscou e a posterior cobertura da crise na Ucrânia, seus textos, contrariamente, destilam uma raivosa russofobia, eivada de subjetividade e nacionalismo ucranianos, e tendo como alvo predileto o presidente Wladimir Putin.
Já na recém-inaugurada “era Trump”, Freeland pode ser definida como sobrevivente do projeto geopolítico e da ofensiva neoliberal, legados pelas sucessivas administrações do Partido Democrata e de fundações norte-americanas, como a Open Society de George Soros, com obcecada fixação em isolar e desestabilizar a Federação Russa presidida por Wladimir Putin.
Durante sua breve gestão como ministra do Comércio Exterior do Canadá, do final de 2015 a janeiro de 2017, Freeland renovou e reforçou, em março de 2016, as sanções (“Special Economic Measures”) adotadas em março de 2014 pelo Canadá como “punição” à Rússia por alegada “violação da integridade territorial da Ucrânia”. Incorporando as sanções adotadas pelos EUA e impingidas a todos seus sócios da OTAN, as medidas determinaram o congelamento de ativos russos no Canadá, a proibição de comércio bilateral e a cassação de vistos de entrada a dezenas de executivos e políticos russos.
Como medida de retaliação, no final de março de 2014, a Rússia divulgou uma lista de personas non gratas canadenses, proibidas de desembarque em seu território, incluindo o nome da chanceler. Desde então, os antigos fustigamentos de Freeland evoluíram para ataque cerrado ao governo russo.
Em entrevista ao site Sputnik, o historiador aposentado da Universidade de Montréal, Michael Jabara Carley, advertiu: “A nomeação dela como chanceler é uma catástrofe para as relações russo-canadenses, Eu não consigo entender, como se pode nomear uma pessoa com as posições dela sobre a Rússia, a Crimeia e a Ucrânia. Ela é russófoba notória, ela odeia Putin e a política russa!”. Em texto divulgado por vários sites em língua inglesa, Carley ironizou Freeland como “a chanceler de Kiev em Ottawa” (“Chrystia Freeland: Kiev’s Minister of Foreign Affairs in Ottawa”).
O sarcasmo não é acidental, nem descabido. Junto com sua irmã, Chrystia Freeland é proprietária de um apartamento com ampla vista sobra a Praça Maidan, que de outubro de 2013 a março de 2014 foi palco do sangrento golpe de Estado que depôs o presidente democráticamente eleito, Victor Yanukovich, e culminou na morte de 130 pessoas, trucidadas e fuziladas por espancadores e franco-atiradores da extrema-direita ucraniana.
No dia 27 de janeiro de 2014, quando os protestos se tornaram mais violentos, mediante ataques de bandos armados da extrema-direita com coquetéis molotow e bombas incendiárias contra a polícia, Chrystia Freeland aterrissou em Kiev e não teve dúvidas: em comentários op-ed, que contradiziam as manchetes dos principais jornais do mundo, culpou Yanukovych pela violência.
A jornalista russo-ucraniana, Arina Tsukanova, residente na Crimeia, deu-se o trabalho de mapear os movimentos de Freeland na Ucrânia, anotando algumas de suas publicações na imprensa ocidental, a exemplo do The Globe e do Mail, mediante os quais a já deputada pelo Partido Liberal do Canadá, não teve escrúpulos de interferir na política interna e insinuar-se como cidadã da Ucrânia, instigando a opinião pública com ardente nacionalismo: “A vitória deles [dos manifestantes] será uma vitória para todos nós; seu fracasso enfraquecerá a democracia muito além do Euromaidan. Agora, todos nós somos ucranianos. Vamos fazer tudo que está ao nosso alcance – o que é muito – para apoiá-los” (“A Nazi Skeleton in the Family Closet”, Consortium News, 27/2/2017).
A mentira sobre o avô, criminoso de guerra
A posse do apartamento, assinalada por Carley, ilustra os laços familiares da ministra-colunista, que têm suas raízes na ocupação do exército nazista da Ucrânia, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em matéria originalmente publicada pela plataforma Brookings sob o título “My Ukraine”, poucos dias mais tarde turbinado pelo site Quartz, com um título notavelmente mal intencionado (Chrystia Freeland: My Ukraine, and Putin’s big lie), Freeland afirma que seus avós maternos fugiram do oeste da Ucrânia após a assinatura do pacto de não-agressão, entre Hitler e Stálin, em 1939, com a divisão da Polônia entre a Alemanha e a URSS. Como efeito da fuga, segundo a canadense de sangue ucraniano, sua mãe teria nascido em um campo de refugiados da Alemanha, antes de seus país conseguirem um visto de emigração para a província de Alberta, no Canadá.
A versão foi reiterada por Freeland ao jornal Toronto Star, em novembro de 2015, atestando honradez à biografia ao avô, segundo a ministra “um prestígiado advogado e jornalista antes da Segunda Guerra.”
Porém, vários autores, entre eles John Helmer – longevo e respeitado correspondente do Business Insider em Moscou, e editor do blog Dances with Bears – atestam-lhe mentira, apontando para arquivos de guerra, recentemente reabertos na Polônia (Victim or aggressor – Chrystia Freeland’s family record for Nazi war profiteering and the murder of Cracow hews, Dances wiht Bearsm 19/01/2017).
Segundo Helmer, do começo ao fim da guerra. o avô materno de Freeland, Michael (Mikhailo) Chomiak, foi ativo colaborador dos ocupantes nazistas da Ucrânia e da Polônia.
Segundo Arina Tsukanova, “após o início da Segunda Guerra Mundial, a administração nazista da Polônia e Ucrânia, ocupadas, nomeou Chomiak como editor do jornal Krakivski Visti (“Notícias de Cracóvia”), utilizado pelo serviço de inteligência alemão com objetivo propagandístico. Para tal finalidade, o avõ de Freeland mudou-se da Ucrânia para a polonesa Cracóvia, onde foi instalado em uma confortável casa, expropriada a um cidadão judeu, e atuar supervisionado por Emil Gassner, chefe da divisão de imprensa, sob o comando do governador-geral, Hans Frank, o nazista que organizou o Holocausto na Polônia e por este motivo foi julgado e condenado à morte pelo Tribunal de Nürnberg”.
O Massacre de Barby Yar e o elogio do anti-semitismo
O que Freeland jamais teve coragem de admitir, é que o “Notícias de Cracóvia”, financiado pela inteligência do exército nazista, era impresso em uma gráfica roubada ao editor judeu do jornal “Nowy Dziennik”, foragido de Cracóvia, mas preso em Lviv e enviado ao campo de concentração de Belzec, onde foi assassinado junto com 600.000 judeus.
John-Paul Himka, historiador canadense de origem ucraniana, pesquisou edições do jornal editado por Chomiak em diversos museus do Holocausto, entre os quais cita o de Los Angeles, na Califórnia. Uma das edições do “Krakivski Visti” que lhe chamou a atenção, data de 6 de novembro de 1941, na qual Chomiak enalteceu o cotidiano em Kiev, sem judeus escrevendo: “Hoje, não resta um único em Kiev, onde viviam 350.000 deles entre os bolcheviques. Eles receberam seu merecido castigo”(textualmente: “got their comeuppance.”).
O gélido cinismo de Chomiak fazia referência a um dos maiores massacres da História contemporânea, ocorrido nos dias 29 e 30 de setembro de 1941, quando o serviço secreto SD e a SS alemãs, apoiadas por efetivos da Ucrânia, fuzilaram 33,771 seres humanos – inclusive crianças menores de três anos – nas barrancas de Babi Yar, nos arredores de Kiev.
Emigração ao Canadá e “lavagem de reputação”
Durante a etapa vitoriosa da ocupação alemã, Chomiak celebrou em seu jornal o “êxito” alemão, ao liquidar milhares de soldados norte-americanos. Quando os alemães tiveram que recuar diante da contra-ofensiva soviética, Chomiak acompanhou o retiro da Wehrmacht até Viena, na Áustria, onde deu continuidade à missão de propaganda, mas também de observação sigilosa de seus conterrâneos ucranianos. Estas informações incluiram o líder fascista, Stepan Bandera, em 2014 incensado como herói pela extrema-direita da Praça Maidan, depois declarado herói nacional pelo governo Petro Porochenko, ed sempre elogiado por Chrystia Freeland.
Na véspera da queda de Viena, em março de 1945, Chomiak e sua família foram evacuados para Bad Wörishofen, na Baviera alemã Alemanha. Porém, contrariando a versão auto-vitimizadora de Freeland – segundo a qual sua mãe teria nascido em um campo de refugiados, cercada de privações – Helmer alerta que em 2 de setembro de 1946, quando a região foi subordinada à jurisdição do exército norte-americano, seus avós e sua mãe foram alocados “em um spa frequentado por bávaros abastados”. Ali, Chomiak passou a desempenhar funções para os serviços de inteligência dos EUA, mas teve que aguardar dois anos até o governo do Canadá permitir seu ingresso no país.
Uma trajetória – para dizer o mínimo – pouco respeitável do avô de Freeland, devidamente “branqueada”,e vendida à mídia canadense após sua nomeação ao cargo de chanceler.
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Quer dizer: Também no canadá
Quer dizer: Também no canadá temos bandidos no poder.
O temer pode usar isto para benefício próprio. Pode alegar que não é só em republicas bananeiras que há bandidos no governo e citar o canadá como exemplo.
Estarrecedor.
Será que os
Estarrecedor.
Será que os canadenses medianamente informados (lá tem PIG?) tem ciência disto?
Como todo extremista de
Como todo extremista de direita, lixo hereditário.
Nem só de Aloysio e Serra
vive a diplomacia.
Tem vergonha para todos! Para dar e vender! Pensar que o Canadá já alinhou Pierre Trudeau como PM!!
O “SPA” da SSU
A cooptação de “nacionalistas ucranianos” do “UHVR” ( Conselho Supremo para Liberdade da Ucrania ) pelos serviços secretos ocidentais, inicia-se exatamente em setembro de 1946, quando da chegada em Munique ( Baviera ), do oficial da SSU ( antecessora da CIA ) Boleslav Holtsmann, em operação que durou até 1953, logrou “exportar”, tanto para os Estados Unidos como para o Canadá, varios ex-militantes associados a Stephan Bandera, em muitos casos, com auxilio do Vaticano ( Padre Ivan Hrinioch – ortodoxo grego, membro do UHVR e ” Caparison ” para a CIA ).