A estética da autodestruição no Reich bananeiro

Aqui mesmo no GGN fiz algumas considerações sobre o Reich bananeiro https://jornalggn.com.br/crise/os-primeiros-contornos-do-reich-bananeiro-foram-definidos/ e https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/o-avanco-do-reich-bananeiro/. Volto ao assunto por causa da obra-prima de Roberto Alvim.

O vídeo divulgado pelo secretário de cultura de Jair Bolsonaro é asqueroso: além de citar Joseph Goebbels, Roberto Alvim escolheu a trilha sonora predileta do líder do III Reich. Inexiste qualquer dúvida: aquela peça de propaganda governamental realmente incorporou elementos essenciais da estética nazista que são incompatíveis com os princípios expressos no art. 1º, III, e V, da CF/88. O inciso IV, do art. 3º, e o incisos II e VIII, do art. 4º, ambos da CF/88.

Ao utilizar uma música de Richard Wagner, o secretário da incultura não cometeu apenas uma gafe. Roberto Alvim violou acintosamente o disposto no art. 215, §3º, I, da CF/88, que obriga o Estado e as autoridades públicas a valorizar nosso patrimônio cultural. A música brasileira integra esse patrimônio, a alemã não.

Todavia, há algo mais que pode ser dito sobre esse espetáculo grotesco.

A “arquitetura da destruição” no 3º Reich alemão era uma realidade unívoca e avassaladora que não podia ser interrompida. Ela contava com o apoio da maioria da população do III Reich. Isso não ocorre no Brasil, país em que ainda existem partidos de oposição funcionando dentro de um quadro relativamente tranquilo. O Judiciário e o Legislativo não foram totalmente dominados pelo bolsonarismo.

A reação ao vídeo de Roberto Alvim é grande e se tornará irresistível, pois já conta com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados. Esse fato que nos leva a concluir que estamos diante de uma manifestação nazista que expressa de maneira perfeita a “estética da autodestruição” no Reich bananeiro.

Isso sugere uma pergunta importante. Qual o verdadeiro motivo que levou o secretário da incultura a se expor de maneira tão grotesca à reprovação pública? Roberto Alvim foi escalado para desviar a atenção do respeitável público do escândalo de corrupção envolvendo Fabio Wajngarten e a SECOM?

Uma coisa me parece certa. Os dias de glória do secretário da incultura estão contados. A rejeição do conteúdo nazista do vídeo dele dentro e fora do país já está se tornando imensa. Ela se tornará ainda maior nos próximos dias, especialmente quando o governo da Alemanha exigir explicações do governo brasileiro (o combate ao nazismo é uma política de Estado naquele país).

Alvim fez cara de nazista e discurso de nazista, sem dúvida. No fundo ele é apenas um brasileiro patético com evidentes problemas cognitivos. O secretário da incultura que almejou granjear para si mesmo a glória de Joseph Goebbels parece ter esquecido que o ministro de Hitler teve um fim trágico.

Goebbels cometeu suicídio e foi incinerado numa vala com alguns galões de gasolina. Ao ver o vídeo fiquei com a nítida impressão de que nós já podemos comemorar o suicídio político de Roberto Alvim. A julgar pela reação dos jornalistas brasileiros e internacionais não faltará gasolina para queimar o pobre cadáver daquele nazista tupiniquim.

No mais, não é possível comparar o brasileiro ao seu modelo. Joseph Goebbels tinha vários defeitos (intolerância racial, ódio à ética, desprezo pela verdade, culto da violência, mistificação e utilização política do passado), mas ele foi um intelectual sofisticado e autêntico. O nazista nomeado por Jair Bolsonaro para gerenciar a cultura é inautêntico. Além de copiar trechos de um discurso do Ministro da Propaganda do III Reich, Roberto Alvim não foi capaz nem mesmo de perceber a contradição entre seu discurso grandiloquente em favor da “nova cultura brasileira” embalado por uma música alemã.

Uma última observação. Em seu Twitter, o jornalista Leonardo Sakamoto disse que já está liberado chamar o governo Bolsonaro de nazista. Ele tem toda razão. Mas uma dúvida cruel se torna inevitável: Quem desempenhará o papel de Roland Freisler no Reich bananeiro: Sérgio Moro, Augusto Aras ou Luiz Fux. Façam suas apostas.

O destino de Roberto Alvim, ao que parece, já foi definido https://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/secretario-de-cultura-sera-exonerado.html. Mas o estrago que ele fez à imagem do Brasil não poderá ser contornado.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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