O consumidor e a Selic, nos altos e baixos ditados pelo Copom

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

 

 

A Boa Vista Serviços apresentou, nos últimos meses, nível crescente de recuperação de crédito e diminuição de novos registros de inadimplentes. Esse movimento vem se mantendo nos últimos meses, influenciado pela queda da taxa básica de juros e spreads bancários, bem como do aumento de empregos formais e maior aperto dos bancos na concessão de crédito. O crédito ficou mais difícil, mas não menos atraente.

A Serasa Experian, por seu turno, divulgou na última semana que, no primeiro trimestre de 2013, as pessoas que saíram da lista de inadimplentes atingiu a marca de 7,2 milhões de consumidores, o maior número já registrado desde 2006, quando teve início a medição. Ainda na nota, na comparação com mesmo trimestre de 2012, o volume de pessoas é 4,5% maior, sendo que cada consumidor regularizou entre três e quatro débitos de janeiro a março para sair da lista de devedores.

Os economistas da Serasa Experian creditam a expansão das renegociações de dívidas aos juros reduzidos, desemprego baixo, evolução da renda e ritmo menor de endividamento em 2012.

As duas entidades que lidam diretamente com o endividamento do consumidor, e sua consequente recuperação, apontam para queda de juros. Mas como a alta da taxa básica, a Selic, irá interferir neste caminhar de recuperação do consumidor no endividamento?

Flávio Calife, economista da Boa Vista Serviços, lembra que, inicialmente, a queda na Selic não causou impacto, ‘mas de um ano para cá apresentou quedas importantes nos juros e chegou, por fim, ao consumidor’. A relação entre a redução da Selic e a inadimplência decrescente, para Calife, é apenas um lado da questão, pois que a taxa referencial melhora condição da carta de crédito e oferece melhores condições ao consumidor, como juros menores e prazos maiores.

Mas, na visão do economista, o número crescente de consumidores saídos da inadimplência ou o recuo do número de anotações de inadimplência nas entidades de crédito têm sua razão de ser, em três pontos distintos. O primeiro ponto é o mercado de trabalho, com diminuição do número de desempregados e a manutenção da renda; o segundo é a própria Selic em baixa; e o terceiro, muito importante segundo avaliação de Calife, reside no fato da oferta de crédito ter se modificado, com os bancos  adotando medidas restritivas na cessão de crédito, o que vem colaborar com a diminuição do risco. Para ele, dependendo de quanto for a modificação na Selic, ‘vai impactar’, mas a previsão é que se mantenha a estabilidade atual da taxa referencial com ligeira tendência de alta. ‘Tem variáveis’, diz ele, ‘mas o cenário é de estabilidade dos juros, com mudanças pequenas na Selic e manutenção da concorrência’.

Caso o Copom decida por elevar ligeiramente a Selic, é possível reverter depois, lembra Calife, ‘trabalhando de forma pontual, de acordo com resultados’. Ele não considera um possível aumento como retrocesso da política atual do governo e lembra que inflação ‘também afeta poder de compra e confiança no futuro’. ‘De início pode ser ruim, mas a expectativa é que tendência de aperto deve trazer para baixo expectativas e inflação menores, e se perde menos poder de compra’, conclui.

Já Miguel Ribeiro de Oliveira, Diretor Executivo de Estudos Financeiros da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), acredita em um ligeiro aumento da Selic sem ‘repasse dos bancos’, isso porque o ambiente econômico está muito melhor e a inadimplência cai mês a mês, o que reduz custo dos bancos, pois risco maior entra na composição da taxa de juros praticada pelas instituições.

Para apoiar sua crença de que mesmo com alta da taxa referencial os bancos não devem repassar esse custo reside na crescente competição no mercado financeiro, ‘governo pressiona bancos públicos para baixarem taxas de juros e os bancos privados correm atrás’, diz ele. O impacto seria grande caso o aumento fosse mais expressivo, na casa do 1% por exemplo, o que não ocorrerá segundo seu entendimento. ‘Mas com elevação pequena e com taxas ainda altas de juros, apostamos que as taxas atuais de juros para o consumidor ainda se mantenham inalteradas’, aponta Miguel.

 

Cartilha

Selic: o que é, a que veio e onde isso interfere no seu bolso

A tão propalada Selic tem uma razão de ser, e sua definição acaba por interferir em diversas opções de investimentos e na vida do cidadão

Sistema Especial de Liquidação e Custódia, o Selic, é uma taxa referencial de juros definida pelo Banco Central (BC) com colaboração da Andima (Associação Nacional das Instituições dos Mercados Abertos). Esta taxa é fixada pelo Copom – Comitê de Política Monetária, que remunera os investidores na compra e venda de títulos públicos, ou seja, sempre que o governo precisa captar recursos ele paga esta taxa pelo dinheiro.

O Copom é um colegiado formado por oito membros da diretoria e o presidente do BC, com calendário de reuniões pré-definido, divulgado sempre ao final de cada ano. Essas reuniões, nos últimos anos, têm acontecido a cada 45 dias, começam na terça-feira, com a apresentação dos dados sobre a economia e vão até o outro dia, quarta-feira, com o anúncio da decisão do Copom. Na quinta-feira, após a reunião, o BC divulga um documento com os argumentos que nortearam a decisão sobre a taxa Selic.

Este colegiado foi instituído em 1996 com a função de estabelecer as diretrizes da política monetária, além da definição da taxa de juros. Desta forma, tentou-se dar maior transparência ao processo, tomando como base para sua criação, os modelos dos Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. A prática é adotada por vários países atualmente, facilitando decisões, transparência e comunicação com o público em geral.

Como a Selic é uma ponderação obtida por meio do cálculo da taxa média dos juros praticados pelas instituições financeiras vai servir como referência para as outras taxas existentes na economia, influenciando nas operações de crédito para o consumidor. Entretanto, ela servirá só como base, já que os juros cobrados do consumidor são muito mais altos. A explicação vai desde o risco envolvido nessas concessões de crédito e financiamento, até a margem de ganho alta dos bancos, além da carga tributária.

Quando a taxa Selic está alta, os bancos se voltam para os títulos públicos, uma forma de emprestar dinheiro ao governo com retorno alto. Entretanto, quando a Selic cai, os bancos se voltam para os consumidores, emprestando dinheiro, para conseguir um lucro maior. Nesta lógica, como a taxa é definida para auxiliar no controle da inflação, em tempos menos bicudos a Selic cai e os bancos vão comercializar seu produto para o maior número de pessoas.

Quando a inflação aumenta, os juros do crédito aumentam mais, e o consumidor foge deste mercado. Neste toma-lá-dá-cá, a Selic vai interferir diretamente nas taxas de juros do cheque especial, crediário, cartões de crédito e poupança, além do empréstimo. No caso das aplicações financeiras a modificação na Selic é sentida de imediato, mas no caso do consumidor, as diferenças serão sentidas de 30 a 60 dias depois.

 

 

Serviço

Dissecando a taxa referencial

– Selic – taxa média de juros que o governo paga por empréstimos tomados. Quando aumenta os bancos se voltam para empréstimos ao governo, quando cai a preferência recai sobre o consumidor, através de empréstimos.

– Importância para a economia – Esta taxa é usada como instrumento no controle da inflação. Se está alta, significa que há menos dinheiro circulando na economia e menos procura por produtos e serviços. Se há menos circulação, há menos dinheiro disponível. Além disso, a Selic ajuda a controlar a entrada de investimentos estrangeiros no país, atraindo ou afastando, conforme a necessidade de captação e de investimento.

– Relação com a economia – Os juros altos diminuem o consumo, prejudicando vendas e empresas. Se não há crescimento, não há geração de emprego e, conseqüentemente, a economia encolhe e o desemprego aumenta.

– Vida de consumidor – A Selic dá o tom às outras taxas de juros do país: cheque especial, crediário, cartões de crédito e poupança. Baseados nesta taxa, os bancos calculam quanto vão cobrar nos juros dos empréstimos. Quanto menor a Selic, mais barato para o consumidor. O contrário também vale. Mas não é uma relação direta, ou seja, quando a taxa cai, o reflexo demora.

– Ganhos com a Selic – Quando maior a Selic, maior o rendimento nas aplicações de renda fixa, como poupança, CDBs e Tesouro Direto, por exemplo.

– Onde é aplicada – A taxa é usada para operações de curtíssimo prazo entre os bancos, que, quando querem tomar recursos emprestados de outros bancos por um dia, oferecem títulos públicos como lastro (garantia), visando reduzir o risco, e, consequentemente, a remuneração da transação (juros).

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador