Trivial de Torquato Neto

Da Comunidade do Blog

Do Blog de Gregório Macedo

Torquato Neto, o cara que não andava sendo feliz por aí

O O texto “Cave, Canem, Cuidado Com o Cão”, de Waly Salomão, publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo de 05.11.95, está exposto nas páginas 473 a 477 do livro de Kenard Kruel. Waly diz: “(…) Torquato me contou, num bar que existia na avenida Ataulfo de Paiva, (…) que queria fazer um filme chamado ‘Os Últimos Dias de Paupéria’. Nada restou deste anteprojeto. Não foi encontrado nenhum resquício de roteiro, nenhum fiapo de argumento ou diálogo”. Passa então a descrever o processo que resultou na organização/publicação do livro “Os Últimos Dias de Paupéria” (1973), sendo Paupéria “uma região de parcas pecúnias de Pindorama, isto é, a terra das juçaras, das íris, das pupunhas, dos licuris e dos babaçus. (…) onde tudo não é senão desordem, feiúra, pobreza, inquietação e antivolúpia: tristeresina total”.

Por weden

Torquato Neto foi a face política do movimento tropicalista, desde que não se entenda essa expressão como sinônima de político-partidária.

Ao contrário de Gil e Caetano que viam o movimento como de ruptura estética, o poeta piauiense tinha uma concepção mais abrangente, hoje dita ideológica, do que poderia ser o Brasil.

Curiosamente, esta face do tropicalismo é a que menos é lembrada nos meios de comunicação.

A Geléia Geral torquatiana não era um simples repositório de contradições, ou o efeito da faísca surgido no choque dos contrários. Era um fundamento, uma “geléia primordial”, que serviria de base para uma nova percepção de mundo, brasileiríssima, ainda que não pelos mecanismos institucionais comuns.

_____________
Uma outra curiosidade torquatiana foi a música Pra Dizer Adeus, em que prenuncia o suicídio.

Mais do que seu valor como poeta, letrista, e criador multi-arte, Torquato coloca uma questão delicada em discussão:

Alguém tem o direito de se suicidar? Alguém tem o direito de dispor da sua própria morte?

É possível discutir isso sem apelar para as categorias religiosas ou morais?

Possivelmente o suicídio de Torquato Neto foi, mais do que um acontecimento fruto de sua incrível melancolia, um lance estético (se observarmos a letra da música citada) e político-existencial.

Pra dizer adeus

Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho
Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho
Ah, pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer
Vem
Eu só sei dizer
Vem
Nem que seja só
Pra dizer adeus

 

Por antonio francisco

Contam que o Caetano esteve na terra do Torquato depois que ele morreu. E contam que o Caetano encontrou-se com o pai do Torquato, e este entregou a ele uma rosa, não trocaram palavra. Só emoção.

Depois desse encontro é que o Caetano teria feito Cajuína, misteriosa porque a melodia é supersimples, popular, mas a letra é de alta sofisticação vernacular, e filosófica.

Em Rio Branco, Acre, numa saleta que o SESC facultava nas noites das sextas para quem quisesse dançar (som de LP), eu me espantava a cada vez que essa Cajuína era tocada, porque todo mundo ia dançar e eu me perguntando, será que alguém aí deu uma paradinha pra tentar entender a letra? Então me lembrava que acorriam também pra dançar quando Hey Jude ou Joseph (Meu Bom José, em francês) eram tocadas.

Gostoso de ver, isto que a música faz com a gente.

CAJUÍNA

Existirmos: a que será que se destina?

Pois quando tu me deste a rosa pequenina

Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina

Do menino infeliz não se nos ilumina

Tampouco turva-se a lágrima nordestina

Apenas a matéria vida era tão fina

E éramos olharmo-nos intacta retina

A cajuína cristalina em Teresina

 

Por kenard kruel

fico feliz em saber que o livro torquato neto ou a carne seca é servida, que coordenei, após pesquisa de mais de 35 anos, está sendo objeto de comentários de pessoas tão ilustres e, ainda mais, no blog do grande luís nassif, que é do meu gostar e profundo querer bem.

em breve, estarei lançando livro biográfico torquatiano, com quase 800 páginas, super ilustrado. ainda não dei título, porém penso que será “torquato neto o anjo torto da tropicália – let’s play that” .

quem estiver interessado em trocar idéias sobre o nosso tn, estarei de tocaia, na kenard kaverna. 86 3220 3282 – 8817 1179 ou pelo e-mail: [email protected]

obrigado compadre dodó macedo pela divulgação do livro torquato neto ou a carne seca é servida. obrigado luís nassif pela acolhida. obrigado aos que se manifestaram e aos que ainda irão se manifestar.

20 Comentários

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  1. Torquato Neto foi um dos
    Torquato Neto foi um dos grandes letristas que ao lado de Caetano,Gil,Tom
    Zé entre outros desconstruiram a música brasileira no final dos anos 60 e
    criaram o Movimento da Tropicália que foi pra música popular o que representou a Semana da Arte Moderna de 1922.Grande piauiense .Pena que não suportou os anos de chumbo.A música brasileira e a poesia perderam um talento muito cedo.Uma pena.

  2. Esse é para o Fora de Pauta.
    Esse é para o Fora de Pauta. Não achei, postei aqui mesmo, que estou fazendo balanço na firma. É sobre a VEJA

    m uns 3 carinhas que destoam da VEJA, por serem excepcionais. Um é o dono do post abaixo, o Millor. Esse pode falar de tudo e de todos, pois é genial. E genialidade não se critica nem elogia. Se embasbaca.
    O segundo é o Pompeu de Toledo. O cara é um gênio da escrita e analisa a vida bem demais. O terceiro é o Kanitz.
    Não falarei da Lya, embora a admire, pois só a leio de relance, já que perdi a confiança na VEJA e quando perco a confiança em alguém, não quero nem olhá-la.
    É por isso que torço tanto pela Época. Queria ver de novo as crônicas do genial Jô Soares… Coisa finíssima. O Verissimo… O Pompeu discorrendo sobre as cidades…
    Era legal, deixou saudades, mas já passou. O que se tem hoje é mentiras, ódio, complacência com os erros dos amigos, acobertamento de ‘jornalistas’ sem os menores pudores.
    É uma pena.

  3. Contam que o Caetano esteve
    Contam que o Caetano esteve na terra do Torquato depois que ele

    morreu. E contam que o Caetano encontrou-se com o pai do Torquato, e

    este entregou a ele uma rosa, não trocaram palavra. Só emoção.

    Depois desse encontro é que o Caetano teria feito Cajuína, misteriosa

    porque a melodia é supersimples, popular, mas a letra é de alta

    sofisticação vernacular, e filosófica.

    Em Rio Branco, Acre, numa saleta que o SESC facultava nas noites das

    sextas para quem quisesse dançar (som de LP), eu me espantava a cada

    vez que essa Cajuína era tocada, porque todo mundo ia dançar e eu me

    perguntando, será que alguém aí deu uma paradinha pra tentar entender a

    letra? Então me lembrava que acorriam também pra dançar quando

    Hey Jude ou Joseph (Meu Bom José, em francês) eram tocadas.

    Gostoso de ver, isto que a música faz com a gente.

    CAJUÍNA

    Existirmos: a que será que se destina?

    Pois quando tu me deste a rosa pequenina

    Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina

    Do menino infeliz não se nos ilumina

    Tampouco turva-se a lágrima nordestina

    Apenas a matéria vida era tão fina

    E éramos olharmo-nos intacta retina

    A cajuína cristalina em Teresina

  4. E perto da sua casa, você já
    E perto da sua casa, você já viu isso ?

    http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090103/not_imp301836,0.php

    PERTO da minha casa em SP tem uma praça de uns 400 metros quadrados (20×20) …desde setembro seu piso esta sendo substituído …eu disse desde SETEMBRO …e as obras ainda não acabaram …brincadeira?

    …e olha que as eleições já passaram

    Alguém sabe dizer aonde foram parar as pedras portuguesas ?

    Aliás esta fazendo UM ANO que as luzes da minha rua não apagam …chamo a empresa responsável, a coisa dura 2 ou 3 dias e dá problema outra vez …a vizinhança CANSOU de reclamar …o paulistano que elegeu esta gente pra governar o condomínio que pague a conta

    É recorde de transito

    Pedágio no rodo-anel

    Atraso nas obras e superlotação do metrô

    MAIS de 60% de promessas não cumpridas

    O FURA-FILA virando corredor de ônibus

    e agora essa, SETE MESES e TODAS as calçadas recém trocadas, desmanchando em plena luz do dia

    Pois é ?! Dos soldados que vem da SERRA a gente nunKA SABE do que são KAPAZ

  5. Caro Luis

    Bom Dia

    Com a
    Caro Luis

    Bom Dia

    Com a “recessão” que esperamos este ano, podemos conviver com uma expectativa de deflação ?

    Abraços

  6. Caro Luis

    Com a
    Caro Luis

    Com a “negatividade” de Marta / Mercadante pelo PT e Alkmin pelo PSDB, quais as opções do quadro sucessório, para o governo de SAMPA em 2010 ???

    Sugestões:

    DEM: Kassab / Afif

    PSDB: Não vejo ninguém com possibilidade, irão apoiar os Demos.

    PT : Fernando Hadad / Marinho / Emidio, novas forças que nascem, e irá transformar o partido numa briga de foice no escuro, sem contar os Tatos.

    O maior colégio do país, está orfão……

  7. Caro Luis

    Quando é que vai
    Caro Luis

    Quando é que vai aparecer suas respostas em DESTAQUE ???

    Os desenvolvedores, estão em ritimo de festa ???

  8. Torquato Neto foi a face
    Torquato Neto foi a face política do movimento tropicalista, desde que não se entenda essa expressão como sinônima de político-partidária.

    Ao contrário de Gil e Caetano que viam o movimento como de ruptura estética, o poeta piauiense tinha uma concepção mais abrangente, hoje dita ideológica, do que poderia ser o Brasil.

    Curiosamente, esta face do tropicalismo é a que menos é lembrada nos meios de comunicação.

    A Geléia Geral torquatiana não era um simples repositório de contradições, ou o efeito da faísca surgido no choque dos contrários. Era um fundamento, uma “geléia primordial”, que serviria de base para uma nova percepção de mundo, brasileiríssima, ainda que não pelos mecanismos institucionais comuns.

    _____________
    Uma outra curiosidade torquatiana foi a música Pra Dizer Adeus, em que prenuncia o suicídio.

    Mais do que seu valor como poeta, letrista, e criador multi-arte, Torquato coloca uma questão delicada em discussão:

    Alguém tem o direito de se suicidar? Alguém tem o direito de dispor da sua própria morte?

    É possível discutir isso sem apelar para as categorias religiosas ou morais?

    Possivelmente o suicídio de Torquato Neto foi, mais do que um acontecimento fruto de sua incrível melancolia, um lance estético (se observarmos a letra da música citada) e político-existencial.

    Pra dizer adeus

    Adeus
    Vou pra não voltar
    E onde quer que eu vá
    Sei que vou sozinho
    Tão sozinho amor
    Nem é bom pensar
    Que eu não volto mais
    Desse meu caminho
    Ah, pena eu não saber
    Como te contar
    Que o amor foi tanto
    E no entanto eu queria dizer
    Vem
    Eu só sei dizer
    Vem
    Nem que seja só
    Pra dizer adeus

  9. Nós, daqui de Paupéria,
    Nós, daqui de Paupéria, estamos bem longe dos últimos dias. Assim como os de Cubéria (sem trocadilhos por favor!) estamos quebrando os bloqueios, aposentando as velhas idéias, abrindo as portas à nova geração do conhecimento livre e dedicado. Não custará 50 anos, com certeza. O fluxo incontrolável do conhecimento também chegou por aqui e como não há praia, nem samba, nem futebol, estamos todos “queimando pestanas” degustando uma selvagem bebida cristalina dos frutos da região. Pena que o Torquato não possa reescrever nossa odisséia. Em tempo: Grande Dodó Macêdo, valeu pela lembraça do Poeta e pelo post no Blog do Nassif. Gente grande é assim mesmo!

  10. Coluna da Folha de
    Coluna da Folha de hoje,assinada por Igor Gielow,intitulada Niyazov e os trópicos é um ranço só contra o presidente da república e,mais que isso,contra os mais de 90% de popularidade que ostenta.
    O pior de tudo isso é que este colunista,secretário de redação da Folha em Brasília, é ainda bastante jovem,somente 35 anos,ou seja,a Foha está cuidando bem para perpetuar o seu mau jornalismo,elitista e preconceituoso.
    É o fim!

  11. a musica “tres da Madrugada”
    a musica “tres da Madrugada” foi gravada num compacto simples na epoca da morte de torquato e cantada por gal costa…A mao fria e a mao gelada da morte prenunciavam a ideia de suicidio?

  12. Não sei se é por causa da
    Não sei se é por causa da vivência que tive, mas em mpb as safras 50-60 70 serão difíceis de serem superadas.

  13. Caro João Batista Linhares:
    Caro João Batista Linhares: grato pela força. Concordo inteiramente com você quanto a estarmos, nós de Paupéria, distantes dos últimos dias.
    Weden e Antonio Francisco: Kenard Kruel, em “Torquato Neto ou a carne…”, confirma as circunstâncias do advento de “Cajuína” e insere discussões quanto à questão do suicídio – coisa que o romeno Emil Michel Cioran, “rei dos pessimistas”, citado por Waly Salomão, dizia ser a sua razão de viver (“Só vivo porque está em meu poder morrer quando me for conveniente”). Maiores informações em http://domacedo.blogspot.com/.
    Um abraço.

  14. Torquato

    Quando meu amigo
    Torquato

    Quando meu amigo Torquato se matou,
    (e o gás, até agora, me asfixia a alma)
    lembro de uma pequena notícia num jornal detalhando o fato:
    vestia apenas uma cueca, e era vermelha.
    Não sei por que, lembrei de seus pés enormes e bonitos,
    de sua boca larga, cheia de dentes e poesia,
    e lembro dele no elevador, a pasta sob o braço (ou não havia pasta?).
    Mas os braços, lembro que eram enormes
    como agora é enorme a cueca vermelha, suja não do vermelho-sangue
    hemorrágico, mas do sangue das mulheres menstruadas ou desvirginadas;
    apenas vermelho como o vermelho dos tiés-sangue e dos cardeais, falo dos pássaros,
    ou estarei falando das púrpuras cardinalícias, dos solidéus? do que estou falando?

    Hermínio Bello de Carvalho

    Eu era bem jovem quando o Torquato morreu, lá pelos 15/16 anos. Não tinha grandes conhecimentos mas lembro de gostar mais dele do que dos outros da Tropicália. Minha turma dizia que eu era do contra, que eles não entendiam o que o Torquato dizia, que ele era confuso etc,. Pra mim ele era o melhor, ele era o mentor.
    Sua morte foi muito sentida por mim e por um grande e amado amigo piauisense, o Zé Besouro, que sabia tudo dele e que, infelizmente morreu afogado em 1985, numa viagem de férias ao Piauí, logo após as eleições para prefeito, após termos brigado porque eu , petista, não apoiei o FHC.
    Nunca mais o vi. Ele viajou e eu soube de sua morte pela sua irmão Conceição. Senti muito remorso, sofri muito a grande perda.
    Sinto muita saudade deles.

    Nilva

  15. fico feliz em saber que o
    fico feliz em saber que o livro torquato neto ou a carne seca é servida, que coordenei, após pesquisa de mais de 35 anos, está sendo objeto de comentários de pessoas tão ilustres e, ainda mais, no blog do grande luís nassif, que é do meu gostar e profundo querer bem.

    em breve, estarei lançando livro biográfico torquatiano, com quase 800 páginas, super ilustrado. ainda não dei título, porém penso que será “torquato neto o anjo torto da tropicália – let’s play that” .

    quem estiver interessado em trocar idéias sobre o nosso tn, estarei de tocaia, na kenard kaverna. 86 3220 3282 – 8817 1179 ou pelo e-mail: [email protected]

    obrigado compadre dodó macedo pela divulgação do livro torquato neto ou a carne seca é servida. obrigado luís nassif pela acolhida. obrigado aos que se manifestaram e aos que ainda irão se manifestar.

    kenard kruel. teresíndia / pi / 3.1.2009.

  16. Caro Nassif,
    Lamentavelmente,
    Caro Nassif,
    Lamentavelmente, persiste o problema: se clico em “leia mais”, deparo com
    página em que o texto vem repetido, seguido dos comentários. O texto, aliás, continua a ser o relativo à segunda matéria que postei (embora só se possa ler parte dele, mesmo clicando em “leia mais”, como já dito), ao passo que o “Torquato Neto, o cara…”, que dá título ao post do blog Luis Nassif, só se lê após clicar no próprio título, o que, suponho, muitos leitores desconhecem.
    Outro detalhe: o “Torquato Neto, o cara…” sumiu do meu blog na comunidade. Para lê-lo, só clicando no título do post no seu blog.
    Abração.

    Gregório, não sei o que aconteceu com o outro post que você menciona. Procurei e não encontrei na Comunidade.

  17. Prezado Nassif,
    Acabei de
    Prezado Nassif,
    Acabei de postar a matéria, agora fundindo ao “Torquato Neto, o cara,,,” o “P.s. adicional sobre…” (este, claro, virou apenas um dos p.s. do “Torquato Neto, o cara…”). Tudo junto, comme il faut.
    No mais, viva Torquato Neto, o anjo torto da tropicália!
    Um abraço.

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