Além de Justiça, Itamaraty aceita cooperação de EUA em setores estratégicos do Brasil

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Comitiva norte-americana fechou acordos para o Brasil compartilhar dados e tecnologia, além de investigações


O vice-secretário de Estado dos EUA, John J. Sullivan em lançamento do Foro Permanente de Segurança Brasil-Estados Unidos – Foto: Wilson Dias/ABr

 
Jornal GGN – A visita do vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, John J. Sullivan, ao Brasil, nesta terça-feira (22), parecia tratar das recentes posições de ambos os países ao não reconhecer as eleições na Venezuela, que garantiram no último domingo (20) a vitória de Nicolás Maduro.
 
Mas o resultado do encontro com o embaixador Marcos Galvão, que substituiu Aloysio Nunes na agenda do Itamaraty, trouxe outro anúncio, ainda mais impactante para as relações internacionais e a soberania brasileira: a criação de um Foro Permanente de Segurança Brasil-EUA. 
 
A descrição da tal parceria foi assim publicada em comunicado oficial da embaixada norte-americana: “Resultado do sólido trabalho conjunto entre o Brasil e os EUA no combate aos ilícitos transnacionais, a iniciativa baseia-se no fortalecimento da colaboração entre os órgãos e agências de segurança pública dos dois países”.
 
A cooperação entre o Brasil e os Estados Unidos no âmbito das investigações nacionais e da Justiça brasileira já foi amplamente exposto pelo GGN como resultado dos interesses geopolíticos e, principalmente, comerciais dos americanos.
 
Desde que essa parceria se intensificou, com a deflagração das acusações da Operação Lava Jato, empresas brasileiras como a Odebrecht viram seus negócios afetados por toda a América Latina, inclusive pela extensão das investigações nos demais países. 
 
A brasileira de aeronaves Embraer, que é a terceira maior exportadora do Brasil e a terceira maior fabricante de jatos comerciais de todo o mundo, também já teve parte de seus interesses ameaçados após ser alvo de interferências de investigações pelo Departamento de Justiça dos EUA. Coincidências ou não, desde que a Boeing avança nas negociações pela compra da brasileira, não se soube mais de apurações das autoridades norte-americanas.
 
Mas assim como a equipe da força-tarefa da Lava Jato acredita ser positiva tal relação entre ambos os países, o Itamaraty do governo de Michel Temer também assim atua. Ainda em 2016, José Serra, que era o então chanceler de Temer, iniciou uma relação bilateral com o secretário de estado John Kerry, sob a justificativa dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
 
Aloysio Nunes fez sua primeira visita a Washington em junho do ano passado, quando conversou de “agenda bilateral”, “balanço da atualidade” e “temas globais” com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson. 
 
Nestes últimos anos, a cooperação do Ministério Público Federal (MPF), sob a então gestão de Rodrigo Janot, se intensificou, conforme revelado pelo GGN, em março deste ano, com a divulgação de um vídeo em que o ex-PGR admitiu a cooperação com os EUA para a Lava Jato avançar e levantar indícios, inclusive, contra o ex-presidente Lula.
 

Janot admitiu cooperação com EUA para Lava Jato – Foto: Reprodução
 
O resultado dessa intensa parceria, apesar de não tão positiva para a presença de empresas brasileiras em comércios exteriores, foi comemorado pelo vice-secretário John Sullivan, nesta terça (22). Sob a alegação de se tratar de um trabalho conjunto para “combate a ilícitos transnacionais”, não apenas áreas como narcotráfico, tráfico de armas e terrorismo – bandeiras já reconhecidas dos norte-americanos para ingressar em competências jurídicas nacionais – serão fortalecidos.
 
Também estão na lista do recém criado Foro Permanente de Segurança Brasil-EUA os crimes de “lavagem de dinheiro e crimes financeiros” e “cooperação institucional”. Sem mais detalhes de como essa parceria se dará, a primeira reunião já foi traçada para ocorrer este ano, em Washington, dando início.
 
E no encontro com o substituto de Aloysio, o embaixador Marcos Galvão concordou com o vice-secretário Sullivan que estaria entre os objetivos prioritários uma agenda de 10 pontos, que inclui “comércio e investimento, cooperação espacial, e defesa”, setores notadamente estratégicos para a soberania brasileira.
 

Encontro do Foro Permanente de Segurança Brasil, com Itamaraty aceitando compartilhamentos de pontos estratégicos – Foto: Wilson Dias/ABr
 
“O secretário-geral e o vice-secretário celebraram a troca de notas que completa o processo de ratificação do Acordo sobre Transportes Aéreos (acordo ‘Céus Abertos’). Eles também saudaram a retomada das negociações do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas”, informou, ainda, o Itamaraty, em nota.
 
Mas para o Ministério das Relações Exteriores do governo Temer, nenhuma ameaça foi levantada: “os encontros evidenciaram o caráter amplo, dinâmico e produtivo da parceria Brasil-EUA, destacando o compromisso de continuar trabalhando em iniciativas que contribuam para a prosperidade econômica e a segurança das duas sociedades”, disse o Itamaraty.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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    1. Em tese, sim

          Mas não é assim que funciona na realidade, a comissão de assuntos relativos a relações exteriores analisa o acordo em bruto, encaminha suas considerações ao Senado, e ele referenda ou não – o normal, no nivel de nossos politicos é referendar , o problema é que acordos desta envergadura são sempre passiveis de futuras interpretações, as “interpretações” e entrelinhas nunca são suficientemente transparentes, sempre dão muita margem.

  1. o pacote completo

    [ “…están rodeando el Amazonas y el Acuífero Guaraní (…) esto va articulado con la instalación de una base en la Triple Frontera, siempre en la lucha contra el terrorismo (que nunca se sabe dónde está). pero la instalación de una base en la Triple Frontera es por el control del Acuífero Guaraní. porque el problema es que EEUU calcula que dentro de 20 años va a tener un déficit de agua de 40%. el tema es controlar las áreas de agua dulce (…) militarizando nuevamente América Latina porque EEUU es una potencia que se está frente al crecimiento de China, que lo está desplazando de la hegemonía internacional” ] https://actualidad.rt.com/actualidad/272636-cooperar-subordinar-argentina-agenda-seguridad-norteamericana?utm_source=browser&utm_medium=push_notifications&utm_campaign=push_notifications

  2. Nem é natal

    e o americano  já está comendo noz.

    Pás na terra para que os nossos homens de má vontade  nos enterrem e aos  nossos sonhos.

  3. Lula ou Ciro ganhando devem

    Lula ou Ciro ganhando devem denunciar todos esses acordos lesa pátria. Os próximos concursos pra funcionários devem exigir  O ASSUNTO INTERESSES NACIONAIS como matéria pra aprovar os concurseiros e essa matéria deveria ter um peso de 90% entre todos os assuntos.

  4. https://www.tauilchequer.com.

    https://www.tauilchequer.com.br/Firm-History/

    Uma interessante coincidencia, o Vice Secretario John J.Sullivan é o Senior Partner, socio principal, do grande escritorio de advogados Mayer Brown, de Houston, um dos principais escritorios americanos especializados em petroleo e gas. No

    Brasil a Mayer Brown é enorme, com o nome muito conhecido de Taul Chequer Advogados, que é desde os anos 90 o principal escritorio de advogados da PETROBRAS, especialmente nos complexos contratos do pre-sal.

    Mayer Brown dá grande importancia a sua operação brasileira, no seu website o Brasil tem lugar de destaque muito maior do que normalmente escritorios americanos dão ao Brasil e a PETROBRAS é um dos seus maiores clientes em nivel global.

    NO site de Tauil Cheque, na aba ” Historia” está que seu socio Alrxandre Chequer foi em 1998 instrumento da ” abertura do setor de petroleo e gas”.”.

    São muitas coincidencias, o Vice Secretario atraves de Mayer Brown esta profudamente envolvido nos negocios da PETROBRAS.

    No mercado da advocacia TAUIL CHEQUER é considerado “dono ” da area juridica da PETROBRAS e vive praticamente em função da PETROBRAS, empregando 140 advogados, sua base é no Rio de Janeiro e tem grandes filiais em São Paulo e Brasilia.

  5. Os EUA querem controlar por
    Os EUA querem controlar por dentro agora nosso país,chamo a atenção para recente declaração de Tofolli no JN anunciando a informatização do judiciário com petições eletrônicas e etc…um perigo,o Brasil está de calça arriada e os americanos estão vindo com tudo entendem? Há uma grande omissão e falta de noção do STF q permite mil coisas danosas ao país, está sem função útil, infelizmente só vejo solução com uma ação de força pelos militares (se forem nacionalistas blz,se não,pior)ou nós do povão (difícil).

  6. ” Acordo de Salvaguardas “, o que é

         Conhecido na diplomacia e defesa como TSA ( Technological Safeguard Agreement ), neste caso especifico é relativo a possivel utilização de Alcantara (MA ) como base de lançamento de satélites por empresas norte-americanas, como a Boeing ou a Lockheed Martin ( United Launch Alliance ), e as “cargas” não sejam avaliadas ou sequer analisadas por representantes do governo brasileiro.

          Sem um TSA ,mesmo que um contratante de lançamento, usando um lançador russo, mas cuja carga ( satélite ) ttenha algum componente ou software de origem norte-americana ( empresas sediadas ou subsidiarias externas ) – não importa qual – o governo norte-americano deve supervisiona-lo, até mesmo impedir o negócio.

           Pelo que eu lembro a ultima reunião sobre o TSA foi em dezembro passado, e a possivel formatação do acordo estava – de acordo com o DoD – prevista para o final deste mês ( Maio de 2018 ).

          P.S.: A falta deste TSA foi um dos fatores contribuintes, não central, da falência do acordo Cy-4 entre Brasil e Ucrania.

  7. Coincidência? Uma greve de

    Coincidência? Uma greve de caminhoneiros e da FUP a caminho? Sério? Terça, visita: quarta, greve dos caminhoneiros e quinta, greve dos petroleiros. Caos, desabastecimento em tempo recorde? Qual a próxima parada? O Império não precisa mais mandar suas frotas de mariners para cair mais governos e agora, já afastam os desgovernos que golpearam o governo legítimo.. Os nativos que se venderam já fazem o trabalho de base aqui, na própria terra. E quando a visita é oficial, entregam o que sobrou de dignidade soberana, os setores estratégicos. Petróleo, luz, gas, água, minérios…

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