Ministro Fernando Pimentel se explica


Da Folha

ENTREVISTA – FERNANDO PIMENTEL

‘Não precisava informar Dilma sobre consultoria’

Ministro diz que não falou sobre contratos porque não há irregularidades

Petista nega suspeitas de tráfico de influência enquanto atuou como consultor e afirma que teve apenas 5 clientes

 

  Alan Marques/Folhapress  
Ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) mostra documentos sobre consultoria durante entrevista à *Folha* em Brasília
Ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) mostra documentos sobre consultoria durante entrevista à Folha em Brasília

 

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT), não informou sobre seus clientes, contratos e valores recebidos à presidente Dilma Rousseff antes de tomar posse no início do ano.
Em entrevista à Folha na noite de anteontem, após falar com Dilma, Pimentel disse que “não havia a menor necessidade de informá-la porque não tem nada irregular”.
Pimentel prestou consultoria nos anos de 2009 e 2010 e recebeu cerca de R$ 2 milhões. Há suspeitas de tráfico de influência nessa atividade, o que ele nega.
Até agora, eram conhecidos quatro clientes do ministro como consultor. Na entrevista, ele revelou uma quinta empresa, para a qual deu uma palestra em 2009 e recebeu R$ 5.000.
O ministro reuniu todos os contratos e notas fiscais sobre seus trabalhos privados. Mostrou para a Folha, mas disse que não permitiria que fossem feitas fotocópias.

Folha – O sr. esteve com a presidente Dilma. Conversaram sobre essas notícias a respeito de suas consultorias?
Fernando Pimentel – Muito rapidamente. Ela só perguntou como é que eu estava. Porque diante de uma avalanche de acusações absurdas, infundadas, descabidas… Vou parar por aqui para não ficar muito exaltado.

Ela também usou os adjetivos?
Não. Escreve que sou eu quem estou usando. Ela só me perguntou: ‘Como é que você tá? Tá firme?’ Eu falei: ‘Tô. Tô sofrendo, mas estou bem’. E ela: ‘Então, tá. O importante é você ficar bem’.

Ela não perguntou detalhes?
Não, não. De jeito nenhum. Esse assunto é meu.

O sr. suspeita que pessoas do PT possam ter interesse nessas acusações? Por exemplo, Patrus Ananias ou algum setor do PT de Minas?
Não, de forma nenhuma.

Mas pode haver interesse por parte de alguém que não seja do seu grupo no PT mineiro?
Não sei. O fato é que tiveram acesso a dados que eu diria que normalmente são restritos ao fisco, estadual ou municipal. Não no caso federal. Como se chegou aos dados, eu não sei.

O sr. sempre defendeu alianças com o PSB. Aproximou-se do PSDB. Esses fatos podem ter contribuído para que o sr. tivesse mais adversários do que deveria no PT mineiro?
Não acho isso, não. Isso é uma coisa ultrapassada. Essas divergências estão totalmente esquecidas.
O Robson [Andrade, presidente da CNI, Confederação Nacional da Indústria] me deu um exemplo interessante [de 2010, quando presidia a Fiemg].
‘Esteve lá o Fernando Henrique. Passou a manhã, conversou, tomou café, não me lembro se almoçou. Cobrou R$ 80 mil pela conversa, pela consultoria. E foi pago.’
O Larry Summers [ex-secretário do Tesouro dos EUA] esteve lá outro dia, acho que foi na CNI, e cobrou US$ 150 mil para ficar um dia lá.

Para quantas empresas afinal o sr. prestou serviços?
Quatro clientes. Cinco. Porque agora eu quero mostrar tudo. A outra nem é consultoria, mas já que vocês estão falando, vamos mostrar ela também. Eu tirei notas fiscais para cinco clientes. O quinto cliente é a Newcom.
Essa é uma empresa para a qual fiz uma palestra, cobrei
R$ 8.000, eles choraram muito e ficou por R$ 5.000. Duas horas, R$ 5.000. Está bom.

Como o sr. chegou até a empresa de bebidas ETA, de PE?
Eu prestei a eles um serviço finito no tempo e eles me pagaram R$ 130 mil, em dois pagamentos no início do ano de 2009. Eles fazem tubaína. Eu não os conhecia.

Como eles chegaram ao sr.?
Um deles tinha um amigo que era empresário em Minas. Ligou para mim o advogado que era o contabilista deles, que se chamava Luís Carlos. Fez um contato.

Mas como eles o descobriram?
Não sei… Pergunte a eles. Vamos deixar claro isso. Nada do que estou falando aqui eu precisava falar. Nada!
Sabe por quê? Eu não cometi nenhum crime. Está tudo legal, documentado.
Não tem nada a ver com este ministério. [Soletrando] N-A-D-A. Nada! Eu estou falando porque eu acredito na liberdade de imprensa. Ainda que a imprensa exagere.

Para todas as consultorias há relatório do serviço prestado. Em alguns casos é por escrito. Em outros, não. É isso?
Exato. E vou te dizer mais: relatório é do cliente. Não é seu. Ele te pagou, é dele. Se ele quiser mostrar… Mas eu não posso fazê-lo.

Qual é a sua reação quando seu caso é comparado ao do ex-ministro Antonio Palocci?
Não quero fazer essa comparação, pois não é justo comigo nem com ele.

O sr. informou sobre seus negócios para a Comissão de Ética Pública da Presidência antes de virar ministro?
Informei. Afastei-me da empresa. Está aqui o contrato [mostra o contrato]. Isso foi 10 de dezembro de 2010.

O sr. informou à presidente sobre os contratos que teve?
Não. Não havia a menor necessidade de informá-la porque não tem nada irregular. Não tinha nem tem.

Luis Nassif

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