Os Três Patetas, por Luís Antônio Waack Bambace

A grande questão não é quanto o governo gasta, mas como ele gasta.

Os Três Patetas

por Luís Antônio Waack Bambace

Crise de 1929, caos total nos Estados Unidos até o Roosevelt fazer o New Deal em 1933. Para vender as ideias de Keynes, adotadas por Roosevelt, os Três Patetas em todos os seus filmes ficavam girando uma nota até cansar, para acertar as contas entre eles. A moeda tem 3 funções: meio de troca, valor de referência e reserva de valor. A inflação só afeta as duas últimas. O giro dos filmes só via a questão do meio de troca. Na crise, com tudo parado, o que mais tinha era produto encalhado, e a chance de inflação era zero.

Quando o governo emite, quem recebe o dinheiro compra algo ou coloca no banco. Este algo pode ser comida, TV, carro, ações, viagem, moeda estrangeira. Quando o dinheiro muda de mãos, há pagamento de imposto. Assim o governo emite 100, alguém logo logo paga 10 de imposto, depois outra pessoa paga por exemplo 7 sobre os 90 que sobram, um terceiro paga 8 sobre os 83 que sobram e assim por diante. Assim, o dinheiro volta ao governo, a menos que haja sonegação, ou ele suma via transações ilegais. Tudo que gira em dinheiro vivo e é vendido sem nota trava o retorno de qualquer emissão ao governo. Tem a estória dos grãos de trigo do Malba Tahan no tabuleiro de xadrez, um grão na primeira casa, dois na segunda, 4 na terceira até a casa 64, cuja soma excedia o trigo do país. Um garoto de 7 anos em 1784, Johann Carl Friedrich Gauss achou a regra da soma de coisas assim. A professora recebeu o prefeito que queria um informação. Mandou as crianças somarem os números de 1 a 1000. 10 segundos depois o garoto veio com 500500. A professora achou que era trote e ele explicou, 1 mais 1000 dá 1001, 2 mais 999 também, e assim por diante, a resposta é 500 vezes 1001. Se você é esperto soma então 1, 2,  4 até 4096. A soma até um dado termo era a anterior mais a nova parcela, mas também era a soma anterior vezes a razão, no caso 2, mais um. Aí ele resolveu a equação simples e tirou a soma da progressão. Soma que é limitada quando a razão é menor que um. A fórmula dele diz que a soma de n termos para uma razão q, e valor inicial I, é I vezes 1-qn, dividida depois por 1-q. O último termo é qn-1, 2 para n e q de 2.

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Porque isto é importante, porque com isto se mostra que quando há eficiência no uso dos recursos públicos e no sistema de arrecadação, volta mais recursos nominalmente ao governo do que o gasto público. No caso do bolsa família, entre 1,8 e 1,9 vezes mais. Mágica? Não, matemática. O dinheiro não usado de imediato vai para os bancos. Assim, mesmo com o pobre gastando tudo, o que tira da série um termo bancária, pois o lojista não gasta tudo, nem o empregado. Para não ter oferta excessiva de dinheiro, o governo não deixa o banco emprestar tudo, recolhe o tal do depósito compulsório, de valor que varia dependendo do nível de atividade econômica. Aí há outra série, a que envolve o compulsório e o gasto imediato, como formadores da razão. Como esta série tem soma de valor superior ao montante inicial injetado na economia, o governo arrecada mais do que gasta em valor nominal se o dinheiro gira na economia. Se q é menor que 1, a soma infinita é 1/(1-q), se tira t de imposto, q é (1-t), aí sem bancos a soma é 1/t que multiplicada por t dá 1. Óbvio, conservação dos recursos. Mas como há empréstimos o governo vai arrecadar mais, e como há vários movimentos por ano, tende a recuperar no mesmo ano o gasto. Isto também quer dizer que se o governo não gastar em nada, todo o dinheiro some e a economia para.

A grande questão não é quanto o governo gasta, mas como ele gasta. Se o dinheiro vai para alguém que não faz todos os hospitais de campanha nem paga os funcionários dos hospitais que fez, divide com políticos, e some no exterior, a arrecadação futura não recupera esta parcela. Se todo mundo sonega, também. Quanto a inflação, se o governo compra quando a safra é grande e solta reservas de alimentos quando a safra é ruim, e mais, faz como fez o agronegócio, comprando safras antes de serem colhidas, via contratos com agricultores que entregam insumos, fiscalizam a execução de atividades e dão antecipações para manutenção das famílias de agricultores e pagamentos de salários, pode-se ter alimentos para garantir que se atenda a procura de um aumento de salário mínimo. Há áreas em que se pode regular a oferta via ação pública e outras onde não. Mas há também a chance de se importar itens, controlando com ele a oferta e preço, desde que se tenha algum controle de câmbio e tarifas de importação. Assim, o segredo da política econômica não é quanto o governo gasta, mas onde ele gasta, como divide seu financiamento em emissões e empréstimos, quanto é o valor do redesconto, e como ajusta tarifas de importação, e como controla o câmbio. Câmbio que tem de procurar a neutralidade média de importações e exportações. Safra de café alta pode derrubar o dólar, tirando ganho dos produtores e fazendo muitos deles não ter incentivo de investir na próxima safra. Quando o câmbio está na média próximo do equilíbrio, que inclui o pagamento de royalties e dívida externa, ele é controlável. A longo prazo, um país balanço equilibrado na questão de dívida e royalties. Tem de ter tecnologia para não pagar mais royalties do que recebe. Tem de zerar a dívida externa ou ter crédito externo. Metas fiscais para ajuste da dívida, com planos de qualidade de gastos públicos, e tetos no ano seguinte, só em caso de falhas deste planejamento que gerem rombos fiscais, e para garantia de que estes rombos não existam, controle fiscal não só no nível federal, mas também junto a estados e municípios, com revisão do pacto federativo para que não haja desequilíbrios intrínsecos entre responsabilidades e arrecadação dos entes da federação, é o que de fato a longo prazo gerará equilíbrio nas contas públicas. Não adianta a União zerar seu déficit e os outros entes gerarem todo o tipo de problema. O caso dos hospitais citado, foi um problema num estado. Não precisa Rei Arthur nem Mago Merlin, é só planejar direito e buscar o bem comum, escapando dos lobbies.

Luís Antônio Waack Bambace – Eng. Mecânico – EPUSP. Doutor em Aerodinâmica Propulsão e Energia – ITA

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Redação

2 Comentários

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  1. Gostei do artigo, obrigado. O problema econômico é de aspecto distinto da engenharia de produção. O primeiro trata da valorização e constituição de riqueza, o segundo, eficiência na gestão dos recursos. Para a economia, diria que a função meio de troca da moeda é condição sine quanon para valor de referência e reserva de valor. Para que a propriedade tenha valor, consubstanciando a riqueza, é necessário que essas propriedades sejam trocadas.

  2. O Engenheiro Bambace apontou com propriedade os fundamentos ecônomicos que garantem investimentos do estado na geração de renda, saúde e emprego. Ou seja, o famoso mercado não precisa se assustar quando se utiliza recursos no social, deve se preocupar sim quando toda uma população passa fome e não tem a quem recorrer e a partir disso vem o caos! Parabéns!

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