Brasil deve sofrer menos com redução de incentivos nos EUA

Jornal GGN – Um grande clichê, mas totalmente aplicável para os últimos dias das nações emergentes: Turquia, África do Sul e Índia – membros dos chamados Brics e também do Mint, surpreenderam investidores e o mercado elevando suas taxas de juros para evitar a volatilidade do dólar. Bancos centrais dos países em desenvolvimento rapidamente optaram por ações drásticas para interromper o ciclo e reanimar os investidores.

Após a decisão do Federal Reserve de reduzir seu programa de estímulos à economia norte-americana em mais US$ 10 bilhões, e antes mesmo da posse da nova presidente, Janet Yellen, essa possivelmente foi a última medida de seu atual gestor, Ben Bernanke.

No entanto, o índice MSCI (ações da região Ásia-Pacífico) já apresentavam alta na manhã desta quinta-feira (30), exceto o Japão, em 0,95%, após os anúncios do aperto da política monetária nestes países.

No Brasil, que ainda não deve fazer ajustes tão radicais, segundo o Ministério da Fazenda e o Banco Central, o saldo da entrada e saída de dólares, o fluxo cambial, voltou a ficar positivo. Neste mês, o superávit ficou em US$ 1,003 bilhão, 

O ministro Guido Mantega afirmou que os movimentos do dólar no país são transitórios como os que têm acontecido nos últimos meses de alta volatilidade, quando alguns países sofrem mais e outros menos. O Brasil, segundo ele, tem uma posição sólida por conta de suas muitas reservas. Ele complementou que o país tem uma dívida externa pequena, já que tem mais reservas do que dívida, e que a situação é estável e controlada.

“Os efeitos sobre o câmbio estão dúbios: hoje, o real tá subindo 0,98% contra o dólar. Essa retirada de estímulos vai ajudar para a volatilidade. O problema é: volatilidade quer dizer risco, que quer dizer deterioração das expectativas ou do cenário futuro, e tem como tendência a piora dos dados domésticos”, explica André Pereira Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Apesar dessa instabilidade, Perfeito afirma que Turquia e Argentina – países que tomaram medidas mais agudas após o anúncio do Federal Reserve – estão em uma situação distinta da economia brasileira. “Existe uma medida para tentar perceber a solvência de um país, que consiste em saber quantos meses um país consegue sobreviver com as suas reservas. No caso da África do Sul, eles conseguem ficar 15 dias com suas reservas; a Argentina, quatro meses; a Turquia, cinco meses; a Coréia do Sul, oito meses; e o Brasil, 18 meses”.

Quanto ao processo de retirada de capital exercida pela autoridade monetária norte-americana, Perfeito ressalta que os Estados Unidos ainda continuam colocando dinheiro na economia – US$ 65 bilhões. “A questão toda é: ao retirar estímulos, geraria um aumento dos juros mais longos por lá (Estados Unidos, levando o capital para os títulos americanos de um jeito que você desalavancaria os emergentes para os países centrais”.

Diante desse quadro, Perfeito ressalta que o momento é de recuperação dos países industrializados, e não de queda dos emergentes, e pode-se dizer que o momento de volatilidade explica-se pela incerteza do mercado quanto à retirada de capital dos Estados Unidos.

“De 2008 até agora, foram colocados US$ 4 trilhões no mercado. A questão agora é se (o total de estímulos) vai ser de US$ 85 bilhões ou US$ 65 bilhões por mês, mas ninguém sabe quando vai parar. Os Estados Unidos não estão bem, mas estão em um momento de recuperação”. Diante desse quadro, Perfeito mostra-se otimista uma vez que a China, a maior parceira comercial do Brasil, parou de crescer, e está avançando em torno de 7% ao ano, apesar de algumas questões ainda exigirem atenção.

“Tivemos uma janela de oportunidade, e será que o Brasil conseguiu se reinventar? A política monetária do governo pode ajudar a criar os incentivos necessários, mas tem de se traduzir em mudança na nossa capacidade de produção. Não conseguimos tudo, mas registramos alguns avanços”.

Efeito dominó

Nesta quinta-feira, o banco central da Rússia também informou que fará intervenções cambiais ilimitadas caso o rublo, a moeda do país, afaste-se das metas – uma idêntica resposta às vendas generalizadas de mercados emergentes mundo afora, pelas quais passam Turquia, África do Sul e Índia. A autoridade monetária informou que as intervenções serão “ilimitadas em volume até o ponto em que o valor da cesta de moedas retornar à faixa operacional”.

 

 

Redação

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