Em Paris, Dilma denuncia misoginia de Bolsonaro e pede desculpas

Ao falar das agressões feitas contra Brigitte Macron e Michelle Bachelet, Dilma Rousseff pediu desculpas: "manifesto a solidariedade das mulheres do Brasil"

Foto: RFI
Em Paris, Dilma denuncia misoginia de ataques a Brigitte Macron e pede desculpas
Da RFI

A ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, participou neste sábado (14) da Festa da Humanidade, evento organizado pelo jornal de esquerda L’Humanité em La Courneuve, na região metropolitana de Paris. Em seu debate, o mais aguardado da noite, Dilma criticou os recentes ataques à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, e à ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet.

Ao falar das “agressões” feitas por membros do governo de Jair Bolsonaro, e pelo próprio presidente brasileiro, contra Brigitte Macron e Michelle Bachelet, Dilma Rousseff ressaltou o caráter misógino das declarações. “Peço desculpas e manifesto a solidariedade das mulheres do Brasil”, disse a ex-chefe de Estado.

Ainda sobre Bolsonaro, Dilma destacou que o dirigente trata a questão da ditadura militar brasileira, das torturas e prisões políticas ocorridas nesse período, de forma “ameaçadora”. Segundo ela, o governo atual coloca a Constituição em risco com frases como “Para fechar o STF, basta um cabo e um soldado”, dita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL).

A ex-presidente também ressaltou a homofobia como peça “fundamental” na maneira do atual governo brasileiro “encarar o mundo”. “A diversidade, seja ela de qualquer espécie, que é base do direito de opinião, é desconhecida para ele [Bolsonaro]”.

A questão da Amazônia também foi abordada no debate com o público francês. “Ele [Bolsonaro] tem uma postura muito clara em relação aos direitos sociais e ambientais. Diz ter pena dos empresários porque são explorados pelo Estado e defende a redução dos direitos trabalhistas ainda maiores do que a precarização que já foi feita. Ao mesmo tempo, considera um absurdo a proteção ao meio ambiente, à floresta amazônica e aos povos indígenas”, declarou Dilma.

Crítica às privatizações

Dilma também criticou as privatizações no Brasil, dizendo que isso equivalia a uma perda de identidade e de “desnacionalização”. “A soberania está sendo ameaçada junto com os direitos sociais. Entendendo a soberania como a base da própria nacionalidade brasileira”, afirmou. “A maior empresa brasileira, por qualquer critério, é a Petrobras, que é a sétima companhia de petróleo do mundo. (…) O Brasil é o único país que, tendo uma empresa do tamanho da Petrobras, é capaz de colocar partes dessa empresa à venda”.

Além disso, Dilma defendeu os anos do governo PT, lembrando de programas de combate à desigualdade social. “Nós fizemos o Bolsa Família, que tirou da miséria 36 milhões de brasileiros. No final de meu governo, o Brasil tinha saído do mapa da fome elaborado pela ONU”, ressaltou.

Defesa de Lula

Por fim, Dilma fez a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, grande homenageado da noite, e cuja foto estava estampada em diversos lugares da Festa da Humanidade: “Lula hoje representa a luta pela democracia no Brasil. E, ao mesmo tempo, representa que um outro Brasil, um outro governo, é possível”.

De acordo com a ex-presidente, Lula é símbolo de um governo voltado para a “justiça social, proteção do meio ambiente e uma política que leve em consideração os movimentos das mulheres, dos negros, dos índios”. “Ele representa essas duas questões, a democrática e a social, além da nacional, ligada à manutenção das nossas riquezas econômicas, energéticas e ambientais.”

Participação celebrada

A presença de Dilma foi celebrada por militantes de esquerda que participaram da Festa da Humanidade em 2019. Para Solange, do Comitê Lula Livre de Paris, “Dilma é uma convidada de honra, pois representa um governo democrático, que foi eleito. Ela traz um debate para a política atual do Brasil, que é o da soberania, da constituição, da união da esquerda e a questão da liberdade de Lula e da democracia no Brasil.”

Já Igor Filippe Santos, representante do Movimento dos Sem Terra e do Comitê Lula Livre, afirma que o processo de “retrocesso” do Brasil começou com o “golpe contra Dilma”. “Conversando com as pessoas comuns, com as lideranças dos partidos políticos, dos sindicatos, dos movimentos populares, observamos que aqui na França Lula é uma referência muito importante. O interesse da França no Lula faz avançar a campanha do Lula Livre. Porque a França tem um papel irradiador na Europa e no mundo”, afirma.

O francês Denis Renard, que colaborou no stand “Lula Libre” da Festa da Humanidade, disse que o apoio dado ao ex-presidente petista faz parte do “lado internacionalista” da esquerda de seu país. “A forma como ele foi afastado é uma vergonha absoluta. É a utilização de todas as ferramentas para corromper a Justiça para chegar ao governo atual que já conhecemos. Dilma representa a voz do Brasil. De alguém que foi eleito e fez um trabalho formidável. É uma alegria extrema tê-la aqui”, disse.

Redação

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