Milei incinera regras de convivência econômica e as relações institucionais da Argentina

Mais preocupante que reunião com Musk é a postura subserviente da Argentina aos EUA, além de projeto de militarização do governo, diz Bruno Rocha

Crédito: Divulgação/ Presidência da Argentina

O presidente da Argentina, Javier Milei, se encontrou com o bilionário Elon Musk na última sexta-feira (12), ocasião em que ofereceu ajuda no conflito com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Milei se mostrou bastante encantado com o bilionário sul-africano ao dizer, nas redes sociais, que o encontro teve uma química difícil de descrever. “Era como se houvessem se juntado duas almas gêmeas”, declarou ao Clarín. 

Para analisar o encontro, o programa TVGGN 20H recebeu o jornalista e cientista político Bruno Lima Rocha. Apesar de algumas pesquisas indicarem aprovação do governo Milei de 62%, mesmo diante da disparada da inflação nos últimos três meses, o convidado explica que o presidente argentino não está fritando o capital político dele, mas sim incinerando as regras de convivência econômica e as relações institucionais.

“Milei precisaria de uma circunstância de países que são mais frágeis, como El Salvador, para criar um estado de exceção e governar por decreto. Não vejo este governo Milei ou governo algum na Argentina conseguindo fazer isso”, afirma Rocha, que caracteriza o presidente argentino como a mentalidade de paulo guedes com a capacidade de comunicação do carlo bolsonaro.

Subserviência

Apesar do encontro com Elon Musk, Bruno Rocha considera mais grave a conduta subserviente do presidente argentino aos Estados Unidos. Neste momento, segundo o cientista político, é como se Milei encarnasse na Argentina os chamados ‘barões ladrões’, que proporcionam o avanço de acumulação selvagem de dinheiro e poder. 

“Milei fez acordo de colocar o corpo de engenheiros do comando sul dos EUA dentro do sistema de controle da hidrovia do rio Paraná, que é o principal corredor de exportação do Paraguai e Argentina”, continua o jornalista.

Em vez de uma mídia crítica e independente, os principais âncoras do Clarín e do La Nación se tornaram “papagaio de pirata do Milei”, nas palavras do entrevistado. O chefe do Estado argentino montou ainda, dentro da sede do governo, na Casa Rosada, uma espécie de milícia digital com 30 jovens, responsáveis por trolar programas jornalísticos e espalhar desinformação nas redes sociais. 

“A capacidade de resposta do povo argentino é muito grande, a gente sabe disso. Mas a única liderança com capacidade de operar na institucionalidade e trazer o peronismo consigo é o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof”, emenda o cientista político ao GGN. 

Assim, os argentinos ainda terão de enfrentar muito sofrimento durante o governo Milei. 

Militarização

Além da subserviência, existe um projeto de militarização da Argentina em andamento.  Patricia Bullrich, ministra da Segurança, foi a Rosário e apareceu uma matéria que ela mesma parece ter plantado de que teria sido ameaçada por um dos grupos delinquentes de Rosário. 

“A liberação de capitais e a agilidade em formar empresas digitais permitiram que, de dentro das penitenciárias de Rosário, uma das 37 bandas delinquentes, talvez a mais forte, montasse um conjunto de empresas digitais em duas horas, a partir de um telefone”, aponta Bruno Rocha. 

Em resposta, Patricia Bullrich, as forças armadas argentinas e os Estados Unidos almejam aumentar o grau de repressão no país, mas se não tiverem êxito, a saída será militarizar os setores mais importantes do país.

Confira a entrevista na íntegra:

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Camila Bezerra

Jornalista

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