Assassinatos seletivos escancaram desprezo dos EUA pelo direito internacional e agravam instabilidade mundial, por Arnaldo Cardoso

O Pentágono declarou que a ação teve por objetivo impedir "futuros planos de ataque" por parte do Irã.

This photo released by the Iraqi Prime Minister Press Office shows a burning vehicle at the Baghdad International Airport following an airstrike in Baghdad, Iraq, early Friday, Jan. 3, 2020. The Pentagon said Thursday that the U.S. military has killed Gen. Qassem Soleimani, the head of Iran’s elite Quds Force, at the direction of President Donald Trump. (Iraqi Prime Minister Press Office via AP)

Assassinatos seletivos escancaram desprezo dos EUA pelo direito internacional e agravam instabilidade mundial

por Arnaldo Cardoso

O assassinato do general iraniano Qasem Soleimani no atentado conduzido pelos EUA ao aeroporto internacional de Bagdá ao reiterar a prática de “assassinatos seletivos” – condenada pelo direito internacional – como instrumento de política de Estado agrava a instabilidade internacional e sela o início do último ano de uma década em que as névoas da guerra toldaram o horizonte.

O uso dos assassinatos seletivos não é invenção de Trump e nas duas últimas décadas só viu seu número aumentar tendo alcançado seu pico no governo do democrata Barack Obama. Num ambiente de crescente deterioração das organizações multilaterais e da ascensão pelo mundo de governantes que depreciam o valor das soluções negociadas para problemas de alcance internacional, o desenvolvimento da tecnologia dos drones – aviões não tripulados – veio completar um quadro que tem colocado o mundo num estado de guerra permanente, como aquele teorizado por Thomas Hobbes, caracterizado não necessariamente pelo uso da força mas pela afirmação da disposição em fazê-lo, sobretudo quando déspotas ocupam o poder.

O Pentágono declarou que a ação teve por objetivo impedir “futuros planos de ataque” por parte do Irã.

Das declarações dadas pelas principais autoridades do Irã, em seus canais oficiais de comunicação e reproduzidas pela imprensa internacional destacam-se as do chanceler iraniano, Mohamad Zarif, que classificou a ação norte-americana como “ato de terrorismo internacional”, “imprudente”, “estúpido” que agrava a tensão na região. O chanceler avaliou também que se fortalecerá a resistência na região e no mundo. Já o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei prometeu vingança.

No atentado foi morto também o vice-chefe da Forças de Mobilização Popular Shia do Iraque, Abu Mahdi al-Muhandis.

Enquanto os governos das principais potências europeias se manifestaram de maneira discreta com declarações formais de defesa da negociação e em favor da paz, os governos da Rússia e da China foram enfáticos na condenação do atentado.

Organizações internacionais de direitos humanos fazem coro na condenação desse tipo de ação. Vale lembrar posição consolidada da Anistia Internacional, desde as ações com drones conduzidas pelos EUA em setembro de 2011 no Iêmen e Paquistão quando a organização afirmou que os “assassinatos seletivos representam execuções extrajudiciais e, por isso, violam o direito internacional e os direitos humanos”.

Embora sejam divergentes os números apresentados pelo governo norte-americano e os de instituições da sociedade civil como o The Bureau of Investigative Journalism (TBIJ) os ataques com drones já mataram cerca de cinco mil pessoas desde 2002, quando esse tipo de operação passou a ser realizada.

O desrespeito a convenções e normas internacionais por nações como os Estados Unidos da América termina por normalizar o uso dos mesmos instrumentos por grupos não-estatais como se viu no ataque por meio de drone em setembro passado à maior refinaria de petróleo do mundo, na Arábia Saudita.

A promoção da anarquia internacional por potências como os EUA pode trazer no curto prazo ganhos econômicos e políticos para alguns, mas certamente traz graves perdas para a maior parte.

Arnaldo Cardoso é cientista político.

Redação

1 Comentário

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  1. Mas alguém explica o que esse general iraniano, o 2º homem mais importante do Irã e chefe da Gestapo Iraniana, a Guarda Revolucionária, que é a milicia que reprime de forma violenta e mata sem piedade as pessoas que protestam contra o regime do Irã, estava fazendo em Bagdá?

    Com certeza, o Carniceiro do Irã como é chamado, não estava lá para admirar os Jardins Suspensos da Babilonia.

    Agora ele está no paraiso com as prometidas 72 virgens, recompensa dada por Alá àqueles que morrem nas guerras santas.

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