A frágil, mas não para a Lava Jato, delação de Delcídio contra Lula

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Até que as provas específicas contra Lula apareçam – onde estão os vazadores nessa hora? – o que Delcídio diz na delação foi que ele próprio e seu assessor entregaram dinheiro à família de Cerveró – com quem tem relação de longa data – numa tentativa de evitar que seu nome caísse na Lava Jato.

Jornal GGN – Ontem, o Ministério Público Federal ratificou a denúncia da Procuradoria Geral da República sobre Lula ter tentado obstruir a Justiça “comprando” o silêncio do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, um dos principais delatores da Lava Jato. As informações contra o ex-presidente, negadas com veemência por sua defesa, saíram da delação do ex-senador Delcídio do Amaral.

Vazada em março, a delação mostra que o ex-presidente foi citado inúmeras vezes por Delcídio, mas as implicações estão sempre num contexto de “Lula me disse” ou “Lula me pediu” reservadamente.

No capítulo do pagamento à família de Cerveró, Delcídio diz que sempre manteve “bom relacionamento” com o ex-diretor da Petrobras, a quem conhece desde a década de 1990. Tanto que nos depoimentos que deu ao Senado na CPI da Petrobras, Cerveró esteve acompanhado do assessor de Delcídio, Diogo Ferreira, também alvo da denúncia de obstrução de Justiça.

No auge da crise de Pasadena, a esposa de Cerveró ligou para a esposa de Delcídio pedindo apoio. Houve encontro entre os dois quando Cerveró foi demitido da BR Distribuidora (a delação diz que há provas disso). Aqui, percebe-se, portanto, que Delcídio tinha motivos para temer uma delação de Cerveró.

Quando a coisa ficou feia com o escândalo de Pasadena vindo à tona, Cerveró pediu à Petrobras para pagar os honorários do advogado que o defendia no caso. A estatal, segundo Delcídio, fez alguns pagamentos que se aproximaram de R$ 750 mil, mas congelou os repasses para avaliação. Então Cerveró começou a fazer “abordagens mais diretas”, pedindo ajuda a Delcídio, que não pôde atender prontamente porque estava endividado com a campanha de 2014.

“Lula pediu expressamente a Delcídio para ‘ajudar’ o Bumlai porque, supostamente, ele estaria implicado nas delações de Fernando Soares e Nestor Cerveró. No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró com recursos fornecidos por Bumlai. (…) A primeira remessa de R$ 50.000,00, foi entregue pelo próprio Delcídio, em mãos do advogado Edson Ribeiro, após receber a quantia de Maurício Bumlai, em um almoço na churrascaria Rodeio do Iguatemi em 22/05/2015 (há comprovante de que Delcídio esteve no local na data indicada). As entregas de valores à família de Cerveró se repetiram em outras oportunidades. Nessas outras oportunidades, quem fez a entrega foi assessor Diogo Ferreira (há comprovante de viagens). O total recebido pela família de Nestor foi de R$ 250.000,00. O próprio Bernardo recebeu em ‘espécie’ do Diogo.”

Até que as provas específicas contra Lula apareçam – onde estão os vazadores nessa hora? – o que Delcídio diz na delação foi que ele próprio e seu assessor entregaram dinheiro à família de Cerveró – com quem tem relação de longa data – numa tentativa de evitar que seu nome caísse na Lava Jato.

A verba (R$ 250 mil) supostamente saiu de Maurício Bumlai, filho de José Carlos Bumlai, mas a única prova apresentada sobre isso, à época do depoimento, foi um comprovante de que almoçou no mesmo lugar em que Maurício teria estado.

Delcídio também tentou que André Esteves, do banco BTG Pactual, ajudasse financeiramente, mas este teria pulado fora sem contribuições.

Em tese, as provas já passaram pela PGR, pois Rodrigo Janot garantiu que havia indícios suficientes para apresentar a denúncia de que Lula teria participado dessa tentativa de compra do silêncio de Cerveró.

Mas se estiver abraçada apenas à delação de Delcídio, a fragilidade dessa investida contra Lula ficará escancarada.
 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. Mas, desde sempre, a

    Mas, desde sempre, a “denúncia” do janot(a) mantém o Lula no noticiário-pig. Mantém o mpf (apequenado) na ribalta. E agrada aos golpistas de sempre. Obviamente que não há absolutamente nada contra o Lula a não ser a delação delcidiana. Veja-se, por exemplo, que no telefonema grampeado pelo filho do cerveró (bota ingrato nisso, não?) da conversa com o delcídio, nem uma vez, falou-se em Lula. Falou-se em muitos outros, inclusive, com ilações sobre ministros do stj e stf (sempre apequenados). Portanto, mais e mais factóides com que os janot(as) da vida pretendem “alimentar” a “fome” inquisitória do único juiz-investigador existente no brasil (apequenadíssimo). Corja, diria o Mino.

  2. Como são muitas as

    Como são muitas as informações, a gente vai guardando na memória alguns fatos desses episódios envolvendo Cerveró, Delcídio e Bunlai, este sempre, sempre, citado por toda a imprensa como “Bunlai, o amigo de Lula”, pra que ninguém jamais esqueça o detalhe.

    E de tudo que eu, particularmente, guardo com precisão, é que a cada delação desses homens, nenhuma destaca com veemência, contundência, participação de Lula, senão por ilações, ouvi dizer, tudo indica. 

    Eu só tendo a acreditar, desde muito tempo, que a situação de Lula, perseguido sistematicamente pela imprensa e a justiça, quer, de certa maneira, concluir que o ex-presidente não poderia estar isento dessas conversações, concluindo que a mesma lei que fechou as grades da cadeia de José Dirceu tem tudo para ser a que levará Lula para acompnahar seu amigo de luta.

    Vale ressaltar que Dilma ainda não está blindada. Sempre que podem, arrumam alguma coisa para envolvê-la. Como se nos dissesse que Dilma não tem problemas apenas com relação a pedaladas e decretos ilegais, mas que ela, também, é alvo de outros crimes. Já esmiuçaram tudo, mas tem agora já tentam atingi-la com caixa-2. 

    É muito clara a vontade de prenderem Lula, e se possível, também Dilma, desde que nenhum tenha mais como se defender de tantas acusações desencontradas, mentirosas, e falsas. 

  3. A frágil delação de Delcídio

    Contra Lula qualquer “disse me disse” é prova contundente.  É um vale tudo.

    Já para a tucanagem em geral prova nada significa, são inocentes por definição.

    Em qualquer inquérito que tenha tucano no meio tudo anda a passo de cágado. Gavetas, varas sem juízes, demora nas oitivas, nao localizam os indiciados, inquéritos mal estruturados, é uma complicação só.

    Para petistas já é o contrário.

    Os assim chamados mensalões e seus “julgamentos” são exemplos retumbantes.

    O do PSDB, anterior de alguns anos, ainda não se encerrou em definitivo; desmembramentos e atrasos diversos limparam a barra de muitos envolvidos, quase todos. }Algum está preso ?

    O do PT foi célere, sem desmembramentos com direito a importação de meia teoria judicial, presundção de inocência mandada às favas, provas integradas a outra AP, sigilosa, a Visa passou a ser do Banco do Brasil e por aí foi.

    Confirma-se que o grande pecado de Lula é defender os direitos dos trabalhadores e os mais pobres.

    Aliás, pecados igualmente cometidos por Getúlio Vargas e João Goulart.

    Não por acaso um dirigente da CNI quer 80 horas semanais de trabalho para “melhorar a produtividade”.

    Melhor que a escravidão.

    Temer e seus asseclas prontamente atenderam: vem aí a reforma trabalhista, previdenciária, rigor fiscal e tudo o mais que recaia nos ombros da classe trabalhadora.

    Para os 1% mudanças só para aumentar os ganhos.

     

  4. A testemunha é a prostituta

    A testemunha é a prostituta das provas. 

    Eis um dos aforismos mais citados no meio jurídico. O ex-senador tem que apresentar provas materiais incontestes do que afirma. 

    Por seu lado, o PGR Janot afirma haver INDÍCIOS fortes para fazer a denúncia. Espera aí? Isso está correto? Abrir inquéritos, tudo bem. Bastam indícios. Mesmo porque ainda se está na fase de investigação. Já a denúncia, não. Pelo que sei esta já se reveste de uma acusação lastreadas em PROVAS materiais, e não em indícios. O parquet está jurando de pés juntos que houve o crime ou os crimes e que o(s) autor(es) são os apontados na peça. Uma petição com alto grau de responsabilidade. 

    Vejamos: como um Juiz vai acatá-la, ou seja, iniciar um processo em bases tão frágeis? Na base do “parece”, “é óbvio”, “só pode”, “tudo leva a crer” e coisa parecida.

    Cadê os advogados de plantão para confirmar ou desmentir essas impressões de um leigo enxerido? 

    1. A Fábula Reescrita

      Murilo: pelo pouco que entendo do Direito, você não está errado ou certo. Apenas, desfocado do problema, que não é jurídico, mas infamemente político. E quando a situação se apresenta em tal cenário, culpa ou não culpa é o que menos interessa.

      Aliás, o problema do governo suspenso reside que ele estaria contrariando os ladrões do Congresso, representado por mais de 2/3 daqueles membros, somados a uma maioria empresarial sonegadora e também ladra e um Judiciário lacaio e corrupto, arrastando consigo um MP ávido por aparecer e uma PF engajada politicamente.

      Assim, como na fábula do “Lobo e Cordeiro”, não importa de onde vem ou para onde corre a água. A vítima será devorada de qualquer maneira.

      Até que o rebanho se levante…

  5. Dr Moro e o STF proibiram uma

    Dr Moro e o STF proibiram uma advogada de um dos delatores de ir até a CPI da Petrobras depor sobre a origem de seus honorarios. Não seria isso uma obstrução da justiça?

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