A jornada de Dallagnol entre Joseph Campbell e Maquiavel, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Com ajuda da mídia, carreira de procurador submergiu dando lugar a uma verdadeira trajetória do herói 
 

Deltan Dallagnol Foto: Luís Macedo/Câmara

 

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

 

Há alguns meses teci alguns comentários sobre o Morodämmerung, no texto O crepúsculo do deus da Lava Jato. Hoje farei algumas considerações sobre o crepúsculo de outro inimigo mortal do PT.

Quando declarou guerra a Lula, Deltan Dallagnol foi apresentado ao respeitável público como um moço religioso, abnegado, honesto e totalmente comprometido com a cruzada contra a corrupção. As entrevistas e fotos dele inundaram a internet. Impossível esquecer a imagem dele ajoelhado sendo ungido por pastores evangélicos como se fosse um hospitalário que colocaria a vida em risco para garantir a rota entre a Europa e Jerusalém conquistada aos mouros.

É evidente que o procurador da Lava Jato deixou de ser apenas um servidor público como outro qualquer. A imprensa o transformou num personagem grandioso e passou a reforçar esta imagem. Em pouco tempo a carreira profissional de Deltan Dallagnol submergiu e deu lugar à uma verdadeira trajetória do herói concebida sob a inspiração da obra de Joseph Campbell:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Monomito e https://www.youtube.com/watch?v=cf4e–7k2i4.

Todavia, o procurador da Lava Jato apenas se tornou um verdadeiro pop-star quando apresentou o powerpoint demonstrando que Lula era o líder máximo de uma organização criminosa. Foi nesta oportunidade que ele disse a frase famosa que começou a destruir sua imagem. Perguntado sobre como havia chegado à conclusão de que o ex-presidente petista era o capo di tutti capi Dellagnol disse:

“Não temos provas, mas convicção…”

A corrupção dos princípios constitucionais de Direito Penal pelo procurador, porém, não foi notada pela imprensa. O acusado não era um dos mascotes amestrados dos barões da mídia. José Dirceu foi condenado porque não provou sua inocência (voto de Luiz Fux), Lula foi denunciado porque a convicção do procurador servia como indício da prova do crime, da autoria e da motivação.

Imediatamente os juristas brasileiros começaram a questionar as estranhas teorias de Dallagnol. Mas a imagem dele não sofreu um grande dano, pois a grande imprensa seguiu reforçando a imagem positiva que criou para ele. Seguro de si, o procurador começou a cometer erros.

O primeiro foi adquirir imóveis utilizando um programa social destinado à população de baixa renda. Dallagnol ganha quase 100 mil reais por mês e não é exatamente um pobrezinho que precisa de subsídio estatal para comprar a primeira casa própria. O segundo erro dele foi bem mais grave do ponto de vista iconográfico. No dia da audiência de interrogatório de Lula por Sérgio Moro, o hospitalário do MPF tirou folga e deixou a espada pendurada na parede. A ausência dele foi interpretada como covardia profissional imperdoável.

E então uma bomba explodiu no colo do procurador mutilando definitivamente sua imagem de bom moço. É fato, Dellagnol está utilizando seu cargo e as informações privilegiadas sobre a Lava Jata que detém para dar palestras em troca de dinheiro. No início do processo as motivações dele pareciam ser apenas religiosas, políticas e ideológicas. No final, o que impele o acusador de Lula é apenas a ganância pelo vil metal.

A saga do procurador da Lava Jato começou como uma jornada do herói descrita por Joseph Campbell e tudo indica que ela terminará como uma paródia da obra de Maquiavel.

O quanto os homens podem facilmente corromper-se

O decenvirato nos fornece um exemplo da facilidade com que os homens se deixam corromper; da presteza com que o seu caráter se transforma, ainda quando naturalmente bom e cultivado pela educação.

Basta considerar como os jovens que Ápio escolhera para acompanhá-lo logo se familiarizaram com a tirania, deixando-se seduzir em troca de umas poucas vantagens. Basta ver Quinto Fábio, membro do segundo decenvirato, homem famoso pela virtude, mas a quem a ambição cegou, sendo seduzido pela perversidade de Ápio e desprezando a virtude para mergulhar no vício, tornando-se em tudo um émulo deste.

São fatos, que examinados maduramente, darão mais motivos ainda aos legisladores da república e dos reinos para impor um freio às paixões dos homens, tirando-lhes a esperança de poder errar impunemente.” (Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Nicolau Maquiavel, editora UNB, Brasilia, 5a.edição, 2008, p. 139)

Além de corromper os princípios constitucionais de Direito Penal ao acusar e humilhar publicamente Lula sem provas, Dallagnol fez a mesma coisa que os corruptos fazem: ele usou o cargo que ocupa para obter vantagens pessoais. O ciclo dele está completo e a imprensa certamente irá descartá-lo. A queda do procurador da Lava Jato é inevitável. Quando for suspenso ou perder o cargo ele poderá finalmente se dedicar mais ao estudo da bééééblia. Mas se ele resolver estudar Direito Constitucional e Maquiavel tanto melhor.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

12 Comentários

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  1. Prezado Fábio
    Esse sacana não

    Prezado Fábio

    Esse sacana não vai perder o cargo, porque já temos provas mais do que robustas (e não “convicção”) de que a instituição mais corrupta e corporativista do Brasil é o ministério público (a justiça consegue empatar, porque juiz pilantra é aposentado com vencimentos integrais)

    O máximo que vai acontecer com este pilantra é o ostracismo (que não machuca o bolso; machuca só a vaidade)

  2. Ainda bem (pra eles) que estão no Brasil….

    Os degenerados creem estarem protegidos por ogum (São Jorge), terem corpos fechados, e que nada os atingirão (facas, lanças, flexas, tiros, bombas etc..) .

  3. Dellangnol e a fogueira de vaidades obtusas.
    Com certeza, convicção, probabilistica, juramentadamente, etc. Os pusilânimes personagens Moro, Dellangnol, Gilmar Mendes, e seu exército de brancaleones, têm reservado uma bela “quinta” em algum lugar paradisíaco nos EUA. É notório que tais agentes sempre estiveram à serviço de forças alienígenas e contam com a proteção e regozijo do Estado americano, pois serviram obstinadamente aos interesses nacionais destes.
    Contra esses infiltrados somente o paredon, cobrando as balas da família.

  4. Teorema de Bayes, – P(B) = [P(B/A) . P(A)] + [P(B/Ac) . P(Ac)]

    Segundo os jornais o Dr. Deltan alegou cláusula de confidencialidade para não informar o nome dos contratantes de suas palestras. 
    Existe a probabilidade de se encontrar entre os contratantes alguma empresa ou pessoa ligada direta ou indiretamente `as investigações da lava jato?
    E se isto ocorrer, o bayesianismo, fundado na atualização de probabilidades condicionais do Teorema de Bayes, – P(B) = [P(B/A) . P(A)] + [P(B/Ac) . P(Ac)] – autorizaria transformá-lo em um suspeito de ações eventualmente criminosas?

  5. Dellangnol e a fogueira de vaidades obtusas.
    Com certeza, convicção, probabilistica, juramentadamente, etc. Os pusilânimes personagens Moro, Dellangnol, Gilmar Mendes, e seu exército de brancaleones, têm reservado uma bela “quinta” em algum lugar paradisíaco nos EUA. É notório que tais agentes sempre estiveram à serviço de forças alienígenas e contam com a proteção e regozijo do Estado americano, pois serviram obstinadamente aos interesses nacionais destes.
    Contra esses infiltrados somente o paredon, cobrando as balas da família.

  6. Quase isso

    Você diz:

    …”impossível esquecer a imagem dele ajoelhado sendo ungido por pastores evangéliicos como se fosse um hospitalário que colocaria a vida em risco para garantir a rota entre a Europa e Jerusalém conquistada aos mouros”

    Quando na verdade acontece:

    “Delaguenol ajoelhado,   untado por cães pastores, com o se fosse um hospedeiro, coloca em risco a vida dos outros para garantir a rota entre USA e Jerusalém, conquistando o Moro.”

    É que os tempos mudaram e o poder embriaga até o cara cair na calçada.

  7. . . . um instituto de pesquisas. . .

    Um dia desses um instituto de pesquisas de Curitiba me ligou fazendo perguntas sobre candidatos a governador, presidente da república, e dava os nomes para que eu escolhesse um em quem votaria,  mas quando foi a vez de senador, deram o nome de Deltan Dallagnol entre outros, eu então falei:   “Esse talvez sirva para ser para ser professor de power point em alguma escolinha de periferia”, mas como senador vocês estão de brincadeira”.

  8. Falta desbaratar contratos milionários de Advogado amigo do Prom

    Promotor e/ou Juiz da causa.

    O sonho do ladrão de milhões do dinheiro público é conseguir um mínimo de condenação contratando para sua defesa e/ou delação um Advogado amigo ou parente do Promotor e/ou Juiz da causa. cujos honorários podem chegar a casa de dezenas de Milhões.

    Bom para ambas as parte e muito caro e péssimo para os contribuintes.

    1. Você sonha ser julgado por

      Você sonha ser julgado por seus inimigos como Lula está sendo julgado pelos inimigos dele? 

      Cuidado.

      Você pode acabar ganhando o que deseja.

      Depois não reclame. 

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