A prisão do coronel que liderou o massacre de Carajás

Da Folha de S. Paulo

Coronel que liderou massacre de Carajás é preso após 16 anos

Justiça do Pará determinou a detenção de Mário Pantoja, que se entregou ontem, e do major José Maria Oliveira
Condenados em 2002 como responsáveis pela morte de 19 sem-terra, eles recorriam da decisão em liberdade

AGUIRRE TALENTO
DE BELÉM

A Justiça do Pará determinou ontem a prisão dos oficiais da policia militar condenados em 2002 como responsáveis pelo massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em abril de 1996 no sudeste do Estado e que resultou na morte de 19 sem-terra.

Um deles, o coronel Mário Colares Pantoja, apresentou-se ontem à tarde a um presídio em Santa Isabel do Pará (47 km de Belém), onde cumprirá pena.

O outro, major José Maria Pereira de Oliveira, deverá se entregar hoje, segundo seu advogado.

Os dois PMs, hoje aposentados, chegaram a ser presos antes, mas conseguiram em 2005 habeas corpus para recorrer em liberdade.

O massacre ocorreu quando os sem-terra iam de Curionópolis a Marabá para reivindicar a desapropriação da fazenda Macaxeira.

No caminho, interditaram a rodovia PA-150, que liga Belém ao sul do Pará.

A PM de Marabá e policiais de Paraupebas se juntaram para desbloquear a rodovia, dando início ao conflito, que resultou também em mais de 60 feridos.

De acordo com o processo do caso, cerca de 1.100 manifestantes foram cercados pelos PMs, que atiraram à queima-roupa. Peritos afirmaram que foram detectados sinais de execução.

O coronel Pantoja era comandante de um batalhão da PM em Marabá e o major Oliveira comandava uma companhia de policiamento em Parauapebas.

Os policiais começaram a ser julgados em 1999.

O coronel Pantoja foi condenado a 228 anos de prisão, enquanto o major Oliveira recebeu pena de 158 anos e quatro meses.

Os 142 PMs que participaram da ação foram absolvidos. Superiores hierárquicos dos PMs, o governador do Pará à época, Almir Gabriel (PSDB), e o secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, não foram responsabilizados.

O episódio é relembrado anualmente no “Abril Vermelho”, que concentra ações promovidas por grupos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra).

A Justiça determinou as prisões após os acusados terem recursos negados em instâncias superiores.

O STF (Supremo Tribunal Federal) enviou a ação à Justiça do Pará no mês passado para o cumprimento das detenções.

OUTRO LADO

Apesar de as condenações terem transitado em julgado (quando não cabem mais recursos), os advogados ainda tentarão livrá-los da cadeia.

Há um habeas corpus em tramitação no STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedindo a anulação do julgamento.

Os advogados dizem que o coronel e o major não ordenaram o massacre e que estavam cumprindo orientações superiores. Segundo eles, a ação dos policiais fugiu ao controle.

“Eles não deram um único tiro”, afirma o advogado Gustavo Pastor, que defende o coronel Pantoja.

Luis Nassif

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