Merlino X Ustra: Memória de um tempo não vivido

Na próxima quarta-feira, 27 de julho, a justiça ouvirá testemunhas da tortura e assassinato do jornalista Luiz Eduardo Merlino. Na ação movida pela família de Merlino, o coronel Carlos Alberto Bilhante Ustra é responsabilizado pela morte, ocorrida em julho de 71. O senador e ex-presidente da República José Sarney está entre as testemunhas de defesa do coronel

Por Tatiana Merlino, da Pública

Sobre a cômoda, ao lado do vaso onde quase sempre há uma flor, há um porta-retrato prateado. Na foto, um jovem de perfil: cabelos negros, pele clara, olhos grandes, óculos de aro escuro. Quando eu ainda olhava o porta-retrato de baixo para cima, com uns sete anos, já sabia que ele era alguém muito importante para a família.

Os anos se passaram, o porta-retrato mudou de casa, mas seguiu junto com a cômoda e o vaso. O homem da foto continuava jovem, olhando insistentemente para o infinito. Outros anos se seguiram, e a dona do porta-retrato e da cômoda morreu. Hoje, o porta-retrato mudou de casa e de dona. E eu o olho de cima para baixo.

O jovem é meu tio, o jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, torturado e assassinado aos 23 anos, em São Paulo, em 19 de julho de 1971, nas dependências do DOI-Codi, centro de tortura comandado pelo coronel reformado do Exército brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Sua mãe, Iracema da Rocha Merlino, dona do porta-retrato, faleceu em 1995 sem que o Estado tivesse reconhecido a responsabilidade pela morte do filho.

Não poderá ver, por exemplo, que no mês em que se completam 40 anos do assassinato do jovem, ocorrerá a audiência das testemunhas de uma ação por danos morais movida contra Ustra por sua ex-companheira, Angela Mendes de Almeida, e sua irmã, Regina Maria Merlino Dias de Almeida, que dão continuidade à luta de Iracema.

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Redação

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